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Final

COVARDIA NO MUNDIAL

:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::


Sou do tempo dos clássicos acirrados, repletos de craques em campo, estádios lotados e festa da torcida. Muito por isso, me decepcionei bastante quando fui convidado para assistir Palmeiras x Santos pela Libertadores de 2020, no Maracanã, e presenciei uma das piores finais de todos os tempos. Sem brincadeira, durante todo esse tempo jogando e acompanhando futebol, nunca vi uma decisão tão fraca na minha vida.

Na ocasião, o gol saiu na prorrogação e foi marcado por puro espiritismo do atacante! Classificado para o Mundial daquele ano, o Palmeiras decepcionou e foi eliminado ainda na semifinal. Em 2021, o título veio novamente com um “gol espírita”, dessa vez de Deyverson, após falha de Andreas Pereira.

No sábado, parei para assistir a final do Mundial e juro que tentei ver o que tinha de positivo no time de Abel Ferreira, afinal o treinador vive sendo idolatrado pela torcida e pela imprensa. Mas o que pude ver foi um time extremamente acovardado, acuado, jogando para não perder e torcendo para Dudu, o único que apresenta uma lucidez, resolver com uma jogada individual.

Acho que a preocupação do português era não levar uma goleada, mas a verdade é que o Chelsea também não é lá essas coisas e jamais seria capaz de fazer uma chuva de gols. Também não gosto do estilo de jogo do Thomas Tuchel, do Chelsea, e não por acaso o zagueiro Thiago Silva foi eleito o melhor do torneio.

O que me deixou mais assustado foi ver a torcida vangloriando Abel Ferreira no desembarque em São Paulo! Sério isso? Na minha época o sarrafo era outro e nem quando a gente levantava a taça o treinador saía com tanta moral! Os tempos mudaram e eu preciso urgente achar um novo esporte para assistir!

De quebra, ainda vou me livrar do “futebol reativo com arsenal de modelos e ideias de jogo para os zagueiros e volantes brucutus fazerem ligação direta buscando o atacante agudo, que ataca a segunda bola com o objetivo de chapá-la na bochecha da rede”.

FUTEBOL: UMA METÁFORA DA VIDA

por Leandro Ginane


Historicamente as finais do Flamengo no Maracanã sempre atraíram muito mais gente do que o suportado pelo estádio. Em todas em que estive presente, houve invasão de torcedores e o número de pessoas dentro do estádio superava em muito o que era suportado e divulgado na mídia. Foi assim em 1992 numa final de campeonato, quando uma grade que sustentava a torcida cedeu vitimando centenas de pessoas.

Quem é Flamenguista e frequenta o estádio há pelo menos quinze anos sabe do que estou falando e anteontem não foi diferente. O que mudou é que a exclusão social proporcionada pelas novas arenas “hightech”, ingressos a preços exorbitantes e a segurança falida do estado do Rio de Janeiro foram o cenário ideal para as cenas terríveis de brutalidade que estão sendo exibidas por todos os lados.

Uma frase que li me marcou bastante e reforça o senso de exclusão dessas pessoas que saíram de casa para invadir o estádio: “Maracanã vai virar baile de favela, tropa vai invadir TJF”. Tudo isso atrelado a um contingente de policiais truculentos de apenas 650 pessoas.


Esse ambiente de medo se espalhou pelas ruas em torno do estádio e uma multidão de novos frequentadores que não estão acostumados com isso se desesperou em um corre corre frenético para fugir das balas de borracha e do gás de pimenta da polícia. A fumaça e o barulho das bombas estourando também contribuíram para o cenário de guerra.

Por trás dessa tragédia anunciada, porém, há uma questão muito mais complexa sobre exclusão social e o fim de uma de uma das mais prazerosas diversões do pobre: ir ao estádio ver seu time ser campeão. Isto precisa ser discutido com atenção por clubes de futebol, pela grande mídia que investe nos campeonatos e os Estados, para que um novo caminho de inclusão social seja criado no futebol sob pena de novas tragédias acontecerem nos próximos anos.

A força e a energia do povo precisa ser direcionada e não contida, como estão tentando fazer.

UM CERTO DOMINGO NA VÁRZEA…

por Marcelo Mendez


E então vamos ao relato futeboleiro dessa semana para falarmos do que houve no Estádio Bruno José Daniel em Santo André.

Nele, os times do Nacional e do Jardim Utinga disputavam a decisão da Copa Santo André de futebol de várzea da Cidade.

A crônica da vaca fria da resenha ludopédica, se seguisse os padrões viciados das redações das obviedades ululantes, falaria aqui de maneira absurdamente rasteira do 1×0 mínimo que deu o título da Copa para o time do Jardim Utinga.

Foi um jogo ruim, onde nada aconteceu, pouco foi criado até a feitura do gol e acabou. Oras…

Caro leitor eu lhe afirmo que é completamente impossível que haja na várzea um jogo onde nada acontece. Seja pelo viés que for, seja como em um filme de Samuel Fuller, ou, em um desbunde surrealístico de um Luis Bunuel, absolutamente tudo acontece em volta de uma final de futebol de várzea.

Encontrei Andris Bovo e sua barba milimetricamente aparada na beira do campo e começamos a conversar de amenidades quando observamos umas coisas estranhas na cancha de jogo.

Vimos que o campo estava recheado de cones de trânsito, e logo na subida das equipes ao gramado descobrimos o porque. Foi feita uma espécie de trilha por onde as equipes deveriam seguir. Ao som da música da Champions League, perfiladas as equipes, tal e qual uma coreografia de figurantes de filme do Cecil B. Mille, entraram para se posicionar em cima de um tapete vermelho e ali cantar o Hino Nacional e o Hino da Cidade de Santo André.

Cumprido o cerimonial, começou o jogo.

De cara o estranhamento…

Diferente dos terrões, dos morros duvidosos e buracos sazonais dos campos que tornam épica a várzea, dessa vez a final foi disputada em um gramado ótimo, como de fato está o campo do Bruno Daniel. Um tapete, onde a bola rola, onde o passe chega, onde o chute não tem desvio, onde o fôlego é necessário por demais. A cancha é enorme, bem maior que os sonhos poucos e que as curtas ilusões daqueles 22 abnegados que logo cansam de tanto correr naquela imensidão verde. O jogo fica lateral, não acontece as jogadas agudas, o tempo não passa, a paciência de quem assiste se esgota e então começo a ver as coisas em volta do jogo.

Percebi uma movimentação dos organizadores da peleja; Há algum problema com o troféu. A mocinha da secretaria traz a notícia com cara de susto. Nada demais. João, o bom funcionário da Liga de Santo André vai ao vestiário, de lá volta soberano e comenta conosco:

– Tudo resolvido! – de fato, o troféu chega intacto e imponente.

Enquanto isso no campo, o jogo caminhava para os pênaltis em um momento onde nada parecia acontecer. Mas eis que contra toda a obviedade que engessa o verbo, uma bola chega aos pés de Mosquito, atacante do Jardim Utinga. Ele a recebe na risca do meio campo e caminha resoluto em direção ao gol do Nacional. No caminho, ignora marcadores, dificuldades e outras táticas. Dribla quem vem pela frente, até chegar de frente com o goleiro. Com uma ginga de samba, balança o ombro, joga-o para um canto e mete a bola do outro lado.

Um gol! Mais do que isso:

A bola que balança a rede na várzea e muito mais que um gol. E uma desorientação de sentidos. Uma catarse, uma enxurrada de poesias e odes empiricamente épicas.

Título para o Jardim Utinga. Gol para o domingo. Um domingo novamente agraciado pelo que há de mais belo através da várzea.

O boa e velha várzea. Sempre…