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andré felipe de lima

MAZZOLA, O MELHOR ‘ITALIANO’ QUE VESTIU A AMARELINHA

por André Felipe de Lima


Quem o levou para o Palmeiras, no dia 25 de julho de 1955, foi Idilio Gianetti, sócio na Viação Piracicabana e um apaixonado torcedor alviverde. A ida para o Parque Antarctica foi um presente de aniversário para o então jovem José João Altafini, o Mazzola (apelido que recebera devido à semelhança com Valentino Mazzola, que comemorara o aniversário um dia antes da ida para o Verdão. Dali em diante a carreira do jovem craque evoluiu (e muito!). Tornou-se ídolo da torcida palmeirense e foi convocado para a Copa do Mundo de 1958. Era titular até o técnico Vicente Feola decidir mudar drasticamente o time, escalando, sobretudo, Pelé e Garrincha. Na estreia do Brasil, Mazzola mostrou que estava em plena forma. Marcou dois gols na vitória de 3 a 0 sobre a Áustria. Ninguém gosta de ser barrado. Ainda mais quando se está em uma Copa do Mundo. Mas o craque Mazzola, que tinha apenas 19 anos, conformou-se, mesmo jogando o fino na ocasião:

– Sou uma pessoa com pés no chão. Depois de fazer os dois gols, estava satisfeito com o que estava rendendo. Na verdade, acabei torcendo o tornozelo e não estava 100% para jogar. Não era tão fácil se recuperar como hoje. Por isso, não joguei tão bem com a Inglaterra e depois do empate o Feola precisou revisar o time. Por isso ele colocou o Vavá.

Após aquela Copa e o título conquistado, Mazzola decidiu mudar de vida. Inclusive de nacionalidade. Foi para a Itália, onde, inicialmente, defendeu o Milan, e tornou-se ídolo por lá. Tão ídolo que o clamor dos italianos para que vestisse a camisa da Azzurra convenceu-o a buscar a dupla-nacionalidade. Mazzola tinha a plena consciência do que o aguardava. Disputou a Copa do Mundo de 1962, no Chile, pela Itália e ouviu impropérios da torcida e imprensa brasileiras. Acusado de “traidor”, Mazzola incomodou-se no início, mas, distante do Brasil, foi acostumando-se com as críticas, que aos poucos perderam a intensidade.


Logo que deixou o Brasil e assumiu-se italiano, Mazzola respondia às insistentes perguntas de que lado ficaria se o Brasil decidisse a Copa com a Itália. Respondia invariavelmente enfezado: “Torno a repetir: numa peleja assim, não ficarei inibido. Se houver oportunidade de assinalar o gol da vitória da Itália, mesmo que esse tento custe o bicampeonato ao Brasil, não passarei a bola para nenhum companheiro de equipe. Eu mesmo farei o gol.”

Mazzola tocou a vida. Foi bicampeão italiano (1957 e 59) e campeão da Liga dos Campeões (1963). Naquele ano foi vaiado ao voltar ao Brasil para disputar a final do Mundial Interclubes, contra o Santos. A arquibancada do Maracanã foi impiedosa com Mazzola. Virou um dos maiores artilheiros da história do Milan, com 216 gols. Entrou, portanto, para a história do Calcio como um dos maiores jogadores que o clube “rosonero” já teve e ainda brilhou em outros clubes da “Vecchia Bota”, dentre os quais a Juventus, mas jamais escondeu o amor que nutria (e até hoje nutre!) pelo Palmeiras, como declarou ao repórter Rodrigo Farah, em 2008:


– Meu coração é verde. Minha passagem pelo Palmeiras foi curta, mas foi muito marcante. Queria ter jogado mais pelo time, pois me dá muita emoção lembrar essa época. Tive uma identificação muito boa com a torcida e é até engraçado. Fiquei surpreso com isso já que não fiquei muito tempo por lá. Continuo seguindo o Palmeiras. Vi que eles ganharam o Paulista com o Luxemburgo e fiquei muito contente.

Mesmo amando o Brasil e o Palmeiras, Mazzola fez da Itália sua morada. Jamais deixou a terra na qual é idolatrado até hoje.

FILLOL, O ESCOLHIDO DO ‘DEUS’ MARADONA

por André Felipe de Lima


Quando o assunto é estritamente futebol, a palavra de Maradona é quase uma oração. Pelo menos para os argentinos, que o levam tão a sério a ponto de fundarem uma “igreja” para o craque. E se o camarada é “santo” para eles, respeitemos. Não se questiona a “fé” alheia. Uma vez perguntaram ao Maradona sobre o que achava dos goleiros. Isso, creio, por volta de 2000. Virada do milênio, todo o mundo com o pé atrás… sei lá. Maradona dirigiu-se ao repórter e devolveu a pergunta: “E você, quer ser goleiro?”. O cara sempre os desprezou. Mas há uma exceção para Maradona: Ubaldo Matildo Fillol, que completa hoje 67 anos. “O único goleiro normal”, referia-se o “deus” Maradona ao Fillol. Coberto de inquestionável e “sacrossanta” razão. Fillol é, pelo menos aos meus olhos (pela TV ou livros) o melhor goleiro que os argentinos produziram. Foi espetacular. O Flamengo teve a honra de tê-lo no time.

Chegou à Gávea em novembro de 1983. Não conquistou nenhum título expressivo com o Flamengo. Apenas uma Taça Guanabara (primeiro turno do Campeonato Carioca) e uma Taça Rio (segundo turno). Mas isso foi apenas um detalhe. Estreou em janeiro de 1984, contra o Palmeiras. Fechou o gol e garantiu a magra vitória de uma a zero. Mas era uma época sem Zico, sem Júnior. O Flamengo, embora ostentasse um bom time sem as feras citadas, não era mais o Mengão “papa-tudo” do comecinho da década de 1980. O time da hora era o Fluminense, de Assis, Washington, Romerito e Cia., craques que perturbaram (e muito!) o Fillol nos Fla-Flus.


Mesmo permanecendo apenas um ano no Flamengo, a torcida o idolatrava. Ocorreu com Fillol um fenômeno mais ou menos parecido com o de outro argentino, Oscar Basso, mas só que no Botafogo. Basso disputou pouco menos de 20 jogos pelo alvinegro, em 1951, porém o suficiente para ser considerado um dos mais brilhantes zagueiros da história do clube. Muitas décadas depois, Fillol, para muitos rubro-negros, é um dos melhores arqueiros que já pisaram na Gávea.

Mas quando falamos do grande arqueiro, vem imediatamente à nossa mente a Copa do Mundo de 1978. Nela, Fillol foi soberano. Estupendo. Recordo as grandes atuações naquela Copa. Tanto quanto os craques Kempes, Luque, Ardilles ou Passarella, foi Fillol, para mim, o melhor dentre os argentinos naquela campanha.


Quem descobriu Fillol foi outro grande ídolo do futebol argentino, o mago Renato Cesarini, que também entrou para a história do futebol italiano pelas impecáveis atuações com a Juventus de Turim. Como jogador, Cesarini foi excepcional. Um dos melhores nas décadas de 1920 e 30. O mesmo sucesso obteve como treinador, principalmente do River Plate. Em 1964, quando regressou à Argentina, Cesarini resolveu, certo dia, parar em um restaurante de San Miguel del Monte, um pouquinho mais distante da cidade de Buenos Aires. Mirou com incômoda fixação um rapaz, com presumíveis 14 anos de idade e mãos enormes, que trabalhava ali como garçom. Olhou paras as mãos do menino… olhou, olhou… e emendou para o garoto: “Serás, ‘chico’, um grande arqueiro!”. Tudo começou ali, com o vaticínio de Cesarini, que entendia um pouco e muito mais de futebol.


Fillol, que rivaliza com Amadeo Carrizo no posto de maior goleiro da história do River Plate, defendeu 26 penais pelo escrete argentino. Somente o exótico Gatti, ídolo do rival Boca Juniors, fez o mesmo. Mas os dados estatísticos são imprecisos. Há registros de que Fillol jamais foi superado por quem quer que seja embaixo das traves da seleção argentina. Concordo com o empirismo, e às favas as estatísticas! Fillol, o “El Pato”, foi genial. O maioral!

ANCHETA, UM DOS MELHORES BEQUES DA HISTÓRIA GREMISTA

por André Felipe de Lima


Estava cansado. E tinha motivos de sobra para chatear-se com os cartolas do Nacional. Afinal, chegara ao tradicional e campeoníssimo clube de Montevidéu com apenas 15 anos. Cresceu e, com a tradicional camisa branca, ajudou o Nacional na conquista de quatro campeonatos uruguaios [1966, 69, 70 e 71] e de uma Taça Libertadores da América [1971] e, de quebra, era titular absoluto da seleção uruguaia. Nada mal para quem era ídolo da torcida e um dos melhores zagueiros de seu tempo e o melhor do mundo em 1970. Mas como tolerar quatro meses sem receber um salário de apenas 1100 cruzeiros, ninharia para sua época? Prêmios por vitória, os chamados “bichos”? Ah, aquela dívida era monumental, algo em torno de 120 mil cruzeiros. Ancheta, definitivamente, cansou. Pediu as contas e decidiu que no Nacional, que devia cerca de 5 milhões de cruzeiros na praça, não ficaria mais.

Se for para ser ídolo, seria em outro lugar, ganhando o que realmente merecia um craque de sua estirpe. Foi assim que, em outubro de 1971, o Grêmio herdou do Nacional aquele que faria de sua trajetória nos campos brasileiros um dos melhores jogadores da história gremista.

Se o Grêmio teve dificuldade para comprar o passe de Ancheta? Nenhuma.
Quem aparecesse com dinheiro na sede do Nacional levava qualquer um dos craques do time. Que tal um Cubillas? Ou um Artime? Quer o Montero Castillo e o “cobra” Espárrago? A “feira” uruguaia era farta. Mas os cartolas gremistas só tinham olhos para Ancheta. E botaram preço.

Luís Silveira Martins e Luiz Carvalho [grande ídolo do passado Tricolor] ofereceram 250 mil cruzeiros, o passe de Chamaco [comprado ao River Plate, em março de 71, por 100 mil] e a renda de um jogo em Porto Alegre que garantisse, no mínimo, 200 mil. A soma de 550 mil foi muito em conta. Ancheta, um craque, à preço de banana. Melhor, impossível. Negócio da China para o Grêmio e um grande alívio para Ancheta. Nem mesmo a disputa do Mundial de clubes, no mês seguinte, contra o grego Panathinaikos, comovera-o. Muito menos a chiadeira da imprensa uruguaia. O El País estampou a manchete “Ancheta, o melhor jogador do futebol uruguaio vai embora”. Já o El Día intimou a Associação Uruguaia de Futebol pra que evitasse que mais ídolos locais debandassem. “Olha, eu tinha direito a 20% sobre o preço do passe. Mas abri mão para facilitar o negócio. Também aceitei receber apenas a metade do que o Nacional me devia em prêmios. Era o único jeito de sair de lá.”

O Nacional acabou campeão do mundo. E Ancheta? Estava muito feliz com a nova casa, em Porto Alegre.

O Inter, quando soube que o Grêmio comprara o passe de Ancheta, então o melhor zagueiro do planeta, tratou de acelerar a vinda do antagonista do uruguaio: o defensor Elias Figueroa, chileno e um dos ídolos do Peñarol, arqui-rival do Nacional.

NA VAGA DE UM ÍDOLO


Atilio Genaro Ancheta Weiguel nasceu no dia 19 de julho de 1948, na cidade de Florida, no Uruguai. Sua primeira experiência futebolística foi aos sete anos de idade, na sua cidade natal, no Clube San Lorenzo, e seu ídolo, desde pequeno, era o zagueiro Emílio Alvarez, do Nacional.

Quando completou quinze anos, foi convidado por um amigo para fazer um teste no Nacional, onde ingressou nas categorias de base como centromédio. Gostava tanto da posição que recusou várias tentativas de o escalarem na zaga. Só se convenceu de que deveria recuar ainda mais quando percebeu que Montero Castillo, grande ídolo do Nacional e titular na zaga da seleção uruguaia, estava em fim de carreira.

Em 1966, já se destacava como um zagueiro seguro e de futebol refinado, incapaz de chutões ou entradas violentas nos atacantes. Após se destacar pela seleção uruguaia na Copa do Mundo de 1970, no México, como um dos melhores zagueiros da competição, ao lado do italiano Cera e do alemão Franz Beckenbauer, Ancheta seguiu para o Grêmio, em 1971.

Fez boas temporadas, mas nada de títulos para o Tricolor, que caía sempre diante do rival, o Internacional de Falcão e Figueroa, ganhador de tudo o que era troféu que via pela frente. Se era de prata e brilhava, o Inter ia lá e papava. Para o Grêmio nada sobrava. Mas para Ancheta, o reconhecimento viria em 1973 — e em dourado —, com a “Bola de Ouro”, da revista Placar , de melhor jogador do Brasil. Nem mesmo os dolorosos cálculos renais impediam-no de jogar. Curvava-se de tanta dor, mas não dava moleza para atacante algum.

No ano seguinte, o melhor zagueiro do planeta queria disputar novamente a Copa do Mundo, mas o Grêmio não queira liberá-lo para a seleção do Uruguai. “Então os dirigentes uruguaios ficaram irritados comigo e disseram que eu não era patriota. Quando fui a Montevidéu para explicar, ninguém quis me ouvir, não me deram microfones nem espaço nos jornais”. Somente três anos depois do episódio, Ancheta comentou o imbróglio entre os cartolas do Uruguai e do Grêmio.

Em 1975, quando o rival conquistou o primeiro título nacional de sua história, o Grêmio quase entrou em colapso e Ancheta com ele. O jogador vivia às voltas com uma série de lesões. Ficou até 90 dias fora de ação e por pouco não venderam seu passe ao Fluminense. A imprensa especulava e a torcida também. Diziam que Ancheta pedia para não jogar e que o seu caso estava mais para um psiquiatra que para um técnico de futebol. Havia exagero? Evidentemente que sim, mas Ancheta realmente trocou uma ideia com um psiquiatra. O próprio craque confirmou, na ocasião, a história, dizendo-se amigo do médico, mas sem sequer saber o nome do camarada. Há explicação para — se é mesmo que existe — a teoria do ato falho? Freud talvez explique. Ancheta tratou, porém, de encontrar solução caseira para suas contusões, que o perturbavam desde os tempos de Nacional, como a calcificação óssea na coxa direita que o obrigou a uma cirurgia.

A quem garantisse que o tal “problema psicológico” de Ancheta começou quando ele perdeu a bola para o ponta Valdomiro, que acabou marcando o gol do título estadual do Inter, em 1974. Ou seja, Seria o Gre-Nal o maior tabu na carreira de Ancheta?

Sua fibra em campo nunca foi questionada, mas o jogador começou, nos primeiros meses de 1976, a enfrentar um novo problema físico que muito o incomodava: uma insuportável dor nos quadris. Como era magro, os constantes choques com jogadores adversários provocavam dores na região. Por conta disso, ficava fora do time por alguns jogos seguidos. Para contornar a situação, chegou a usar uma grossa faixa de espuma na cintura durante as partidas e até treinos.

Parece que a solução de Ancheta dera certo. Para ele e todo o time do Grêmio, que, no dia 28 de julho, acabou campeão do primeiro turno do Campeonato Gaúcho para cima do Inter. Seria aquela vitória o começo do fim do jejum de títulos estaduais?

Naquela partida, Dario, o “Dadá Maravilha”, centroavante colorado, elogiou Ancheta. O zagueiro retribuiu a gentileza: “Gostei do Dario. É um cara sensacional”. Mas a recente amizade — se realmente podemos afirmar que há alguma entre um zagueiro e um centroavante — acabaria prematuramente em outro Gre-Nal, do qual o Inter saiu vencedor e, de quebra, campeão do segundo turno. Talvez a vitória não compensasse o estado em que Dario se encontrava quando deixou, mancando, o campo. O saldo foi um olho inchado e a orelha esquerda inchada. O clássico, que de clássico não teve nada, foi uma verdadeira guerra. Hermínio e Falcão, do Inter, e Eurico e Alcino, do Grêmio, foram expulsos, onze receberam cartão amarelo e Dario prometeu vingar-se de Ancheta, que, segundo o centroavante, chutou-lhe, com vontade, a bunda. “Já se viu disso? Senti a dor mais terrível da minha vida. Cansei de apanhar e bati nele. E tem mais: ele não perde por esperar. Depois dessa, posso afirmar que nunca senti um título tão perto.”

Dario cumpriu a ameaça e o Inter levantava novamente o caneco de campeão gaúcho. Ancheta, eu detestava que o comparassem ao chileno Figueroa, zagueiro e ídolo colorado, teve de engolir seco. Um dia haveria de ir à forra, mas como campeão. Quando Figueroa chegou ao Inter, ingressou em um time que já era campeão e que conquistaria o Brasil. Definitivamente, o melhor time nacional dos anos de 1970 foi o Inter de Falcão, Figueroa e companhia. Já Ancheta veio para um Grêmio sempre atrás do rival. Não foi fácil para ele aturar as comparações com o craque do Inter, que existiam desde o duelo entre ambos, quando defendiam Nacional e Peñarol.

Mesmo sem conquistar títulos com o Grêmio, o clube proporcionou a paz de espírito e a grana necessária para que Ancheta fizesse um bom pé de meia. Na mesma época das seguidas contusões, acabara de comprar uma mansão e três casas no Uruguai e trocara um apartamento em Camboriú, no litoral catarinense, por um posto de gasolina.

Custou a ser campeão pelo Grêmio, o que aconteceu somente em 1977, ao erguer o troféu do Campeonato Gaúcho. Apesar de ser um dos homens de confiança do treinador Telê Santana, Ancheta não disputou o jogo que garantiu o título ao Grêmio. Até hoje especula-se que o zagueiro foi sacado do time na final, dando lugar a Cassiá, por tremer em Gre-Nais. Maldade. Ancheta nunca tremeu contra o Inter. Dario que o diga.

Após o título de 77, o zagueiro, que se naturalizou brasileiro em 1976, conquistou os campeonatos estaduais de 1979 e 80, este último na reserva do jovem Newmar.


Após nove anos no Olímpico, Ancheta deixou o Grêmio sob uma indisfarçável amargura. “Não pelo Grêmio, que tem um ambiente sensacional, mas pelo que perdi financeiramente. Hoje sei que poderia ter ganho 50 por cento mais se tivesse saído antes”. Ancheta deixou o Grêmio para defender o Milionários, da Colômbia, em 1980. No ano seguinte, voltou ao clube que o projetou: o Nacional.

Não foi uma estada amena. O clima com o técnico Basile azedou e Ancheta mostrou-se disposto a sair novamente do Nacional. Dono do próprio passe, Ancheta recebeu proposta do São Paulo, em agosto de 1982, com aval do treinador do Tricolor paulista, Poy.

A situação no Nacional foi contornada e Ancheta permaneceu no clube de seu coração para lá encerrar, em dezembro de 1982, uma extraordinária carreira de craque e de ídolo do futebol uruguaio e, por que não, brasileiro. Retornou a Porto Alegre em 1983. Tornou-se empresário até 1987, quando resolveu ser auxiliar técnico, no ano seguinte, do Clube Avaí de Florianópolis, onde se consagrou campeão estadual. Em 1996, começaram as reverências ao legado esportivo de Ancheta: colocou os pés na calçada da fama do Grêmio e recebeu um troféu de “Gaúcho Honorário”. No ano seguinte, outro troféu de reconhecimento por ter sido o melhor zagueiro central da seleção uruguaia nos últimos 25 anos. Em 1998, o Nacional o considerou um dos melhores atletas de sua história. Com a camisa da celeste olímpica, Ancheta entrou em campo 20 vezes.

Aposentado, o ex-zagueiro “descobriu-se” cantor de boleros. E o faz até hoje em clubes e churrascarias. Já gravou, inclusive, alguns CD’s, mas não deixou o futebol de lado. Administrou uma escolinha no clube Força e Luz e arrumou um “bico” na TV Pampa, canal 4, de Porto Alegre, como comentarista esportivo.

Ancheta tornou-se uma lenda do futebol gremista. Quem o viu em campo, garante: uma zaga de sonhos seria Ancheta e Aírton Pavilhão. Realmente seria extraordinário. Sonhar, afinal, não custa nada.

***

Esta é a biografia de Ancheta, um dos maiores ídolos gremistas, que está no primeiro volume (a letra “A”) da enciclopédia “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, que será lançado até dezembro, pela Livros de Futebol.com, do editor Cesar Oliveira.

FRIEDENREICH, O QUE JOGAVA COM O CORAÇÃO NO PEITO DO PÉ

por André Felipe de Lima


“Arthur Friedenreich jogava futebol com o coração no peito do pé. Foi ele quem ensinou o caminho do gol à bola brasileira”, escreveu o cronista Armando Nogueira. Foi o introdutor da finta curta, do passe improvisado e dos “floreios barrocos” de que sempre falava o sociólogo Gilberto Freyre. Seu drible era curto, com os pés e com o corpo. O chute? De indizível efeito. Se me permitam a ousada tese, talvez tenha sido o precursor da folha seca de Didi.

Friedenreich mostrou ao Brasil o verdadeiro desenho do futebol dos trópicos, metade europeu, metade africano, mas “brasileiro por inteiro”, como frisou João Máximo. Até o começo dos anos de 1950, cerca de dez anos antes de não ser reconhecido por aqueles meninos do mercado municipal, poucos no Brasil eram reverenciados como Friedenreich. Reportagem da revista O Globo Sportivo descrevia logo nas primeiras linhas: “Muitas vezes tem-se dito que Arthur Friedenreich foi dos mais populares homens do Brasil. Sim, mesmo mais conhecido do que muitas figuras célebres da política e de outras atividades. Foi ele, sem dúvida, uma bandeira, um exemplo. Foi uma figura, enfim, nacional, desde aquele célebre campeonato sul-americano de 1919 […] Fried tornou-se um dos maiores beneméritos do esporte em nossa terra.”


Pena que lembravam pouco do ídolo do passado. Em 1970, durante entrevista ao repórter Paulo Mattiussi, dona Joana, companheira de Fried durante 57 anos, lamentava: “Ele foi muito esquecido e ninguém nunca se lembrou que tinha sido o El Tigre, rapaz de futebol perfeito, elegante, melhor até que Pelé. Vi poucas vezes Fried jogando. Mas assim mesmo lembro que era um futebol diferente: mais elegante, humano. Não era tão violento como dos jogos dessa Copa [Copa do Mundo de 1970, no México] […] Na Revolução [Constitucionalista] de 32, ele foi como sargento, voltou como tenente e herói. Comandava o pelotão dos esportistas e subiu um morro debaixo de tiros para tomar a posição. Nos últimos anos, eu e meu filho notamos que Fried estava sentindo muito o esquecimento em que vivia. Quando havia futebol na televisão, virava o rosto ou fingia dormir. Não gostava de comentar nada. Só uma vez, em 65, foi assistir a um jogo de futebol, do Santos.”


Incômoda lembrança da sra. Fried. O craque teve de pagar ingresso para entrar no estádio e só conseguiu sentar-se na tribuna de honra após muita confusão. Ninguém reconhecera El Tigre. Isso o amargurava, relembrou dona Joana: “Fried não gostava de falar, mas, pelo fato de nunca ter recebido dinheiro para jogar, não aceitava a profissionalização do esporte. Dizia que assim tudo perdia o amor. Ele nunca pensou, ou admitiu, que a gente pudesse andar por aí pedindo ou lembrando o seu passado para conseguir alguma coisa. Certa vez, quando trabalhava na Antarctica, Fried foi a Brasília, em 62. Como era muito amigo de Juscelino [presidente Juscelino Kubitschek], recebeu convites do presidente para ir mais vezes a Brasília e até mesmo para trabalhar lá. Mas Fried nunca aceitou. Nesse tempo, até fins de 62, Fried ainda tinha disposição para tudo. Vivia intensamente em cada viagem ou serviço que tinha de fazer. Mas, depois, quando a arteriosclerose começou a atacá-lo, ele mudou. Dizem que as pessoas que têm essa doença não sofrem. Acho que é verdade mesmo. Fried não demonstrava ser um homem doente, pelo contrário. Aos 77 anos usava touca de meia para ainda tentar alisar os cabelos rebeldes e encaracolados. O que ele demonstrava era que se sentia esquecido. E como aqueles troféus não tinham importância para ninguém, passaram a não ter para ele também.”

***

O texto acima é um pequeno trecho da biografia sobre Friedenreich, que consta do VI volume de “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2018. Em breve teremos no mercado os dois primeiros volumes, as letras “A” e “B”. A enciclopédia, que consiste em 18 volumes, está sob a edição do querido Cesar Oliveira, que gentilmente me convidou para ajudá-lo na organização da autobiografia de Friedenreich, que está na ponta da agulha para também chegar às livrarias.

Hoje, dia 18 de julho, comemoramos o nascimento do maior jogador brasileiro da era amadora e um dos maiores em todos os tempos: Arthur Friedenreich, “o ídolo que não foi de barro”, como estampou, certa vez, a revista O Globo Sportivo.

VÍDEOS RAROS DE FRIEDENREICH

 

 

BALTAZAR ANDA COM FÉ… E GOLS!

por André Felipe de Lima


No início da década de 1980 uma geração de jogadores proclamou-se “representante digna da fé religiosa” nos gramados. Eram os “atletas de Cristo”. Um dos expoentes chama-se Baltazar, o centroavante presbiteriano que marcou época no Grêmio e foi um dos protagonistas da conquista do primeiro campeonato brasileiro do tricolor gaúcho, em 1981. Nenhum jogo seria ganho, reforçava o artilheiro “pastor”, caso não houvesse uma “intervenção divina” graças às leituras dos “Salmos”. Jogos, títulos, troféus… tudo tem, afinal, o “dedo de Deus”. “Quando não faço gols, é porque Deus não quis. Quando marco, é porque estava em Seus planos. E olha que fui artilheiro do Campeonato Goiano. Tudo começou a acontecer quando descobri Deus […] Tornei-me titular, meu salário aumentou, fui artilheiro, o Grêmio me quis. Puxa, isso diz tudo!”, declarou, em maio de 1979, Baltazar, ainda jovem craque, que acabara de chegar ao Grêmio, convicto de que entraria para a história do clube gaúcho. Fé e, sobretudo, muito trabalho o garantiram no panteão de ídolos imortais do tricolor.

Baltazar Maria de Morais Júnior nasceu no dia 17 de julho de 1959, em Goiânia. Converteu-se graças à influência dos pais, seu Baltazar e dona Conceição. “Um dia, entrei no meu quarto, ajoelhei-me diante de uma imagem de Cristo e pedi, com muita fé, que Ele me ajudasse, que desviasse minha mente de namoricos e festinhas. Senti que havia um grande vazio no meu coração e só Deus poderia preenchê-lo.”

O ainda menino Baltazar deixou de lado o carteado das concentrações dos juvenis, as festinhas e os namoricos. A fé veio junto com o sucesso no futebol, com um alvissareiro começo de carreira no Atlético Goianiense, em 1978, time de sua cidade natal, Goiânia, aos 17 anos. Logo no primeiro ano como profissional, foi artilheiro estadual, marcando 31 gols no campeonato, um recorde até hoje imbatível no futebol goiano.


No mesmo ano em que explodiu no Atlético Goianiense, Baltazar cursava Matemática. O sonho era ser engenheiro, mas o talento com a bola parecia seduzir-lhe mais que os números e equações. Em maio do ano seguinte, na maior transação da história do futebol goiano, o centroavante seguiu para o Grêmio, que pagou três milhões de cruzeiros para tê-lo no Olímpico. No clube gaúcho, conquistou, de cara, campeonato gaúcho de 1979, marcando 19 gols em apenas 20 jogos. Logo após o título, a Federação Goiana de Futebol reconhecera o valor de Baltazar, premiando-o com cinco mil cruzeiros, pelos 31 gols do campeonato goiano do ano anterior. O craque doou todo o dinheiro à sede goiana do Movimento de Recuperação de Viciados em Tóxicos.

Em 1980, Baltazar seria “bi” gaúcho e artilheiro principal da competição, com 28 gols. Seus gols garantiram uma vaga nas seleções brasileiras das categorias de base. A fé e, sobretudo, os gols de Baltazar foram exaltados também no Palmeiras, Flamengo e Celta de Vigo, na Espanha.

Todo gremista que viu Baltazar vestir a camisa tricolor vibrou com seus gols. O único lamento era, porém, a escassez de gols do artilheiro em clássico Grenais. Durante os anos em que esteve no Olímpico, Baltazar marcou apenas três gols contra o Internacional. O saudoso Luiz Carvalho, outro ídolo gremista e maior artilheiro tricolor contra o Inter, pedia, em outubro de 1981, às vésperas de mais um embate encarniçado contra o arquirrival, paciência aos torcedores mais exaltados. Dizia que Baltazar, embora goleador nato, nada poderia fazer se não tivesse um bom “garçom” a lhe servir bolas à vontade para estufar as redes coloradas: “Ele precisa de alguém que o ajude, porque sozinho não dá”. Os meias Paulo Isidoro e Vilson Tadei, companheiros de Baltazar em 1981, rechaçaram a opinião do ídolo Luiz Carvalho e garantiram que a sorte estava era mesmo do lado do paraguaio Benitez, goleiro do Inter. Foguinho, outro ídolo imortal do panteão gremista, alertou para uma insegurança de Baltazar diante do Inter: “O problema é que Baltazar não tem uma personalidade marcante. Por isso, sente as críticas e perde a segurança. Eu o aconselho a ter mais confiança nele mesmo”.

O conforto de Baltazar ficava por conta de Myrna, a dedicada companheira do craque, tanto nos momentos mais felizes ou nos duros da carreira do grande atacante. De Myrna, Baltazar nunca se separaria, e com ela, teve dois filhos.

TUDO PELA FÉ

A credulidade exacerbada de Baltazar rendeu algumas histórias, no mínimo, surreais e lendárias. Ainda no Grêmio, o craque artilheiro se preparava para embarcar com a delegação do time para o Rio de Janeiro, onde haveria um jogo contra o Flamengo pelo campeonato brasileiro. Ele se recusou a embarcar por que teria esquecido sua bíblia em casa. A situação foi extremamente desconfortável e o chefe da delegação teria oferecido ao centroavante a sua bíblia particular. Baltazar recusou. “Tenho que buscar o Livro de Deus. Nem que seja para pegar o vôo seguinte, pagar a passagem do meu próprio bolso, e me encontrar com vocês lá no Rio”, teria dito o craque.

Ao desembarcarem, os companheiros compraram imediatamente uma bíblia para Baltazar, que aceitou mais por educação do que por convicção. Prenúncio de “tragédia” no Maracanã? O Grêmio realmente jogou muito mal no primeiro tempo, Baltazar idem. No segundo tempo, porém, há algo no ar. O “Artilheiro de Deus” retornou ao gramado renovado. E não foi por causa da preleção do técnico. “Foi Deus”, teria alegado.

Marcou o gol da vitória do Grêmio e garantiu que a mão divina estava nos seus pés, graças ao “perdão obtido por ter esquecido a bíblia em Porto Alegre”. Jogo terminado, Baltazar concedeu as costumeiras entrevistas no campo e seguiu para o merecido banho no vestiário. Ao remexer sua bolsa, a surpresa: A bíblia… a sua bíblia estava ali, diante dele, como uma espécie de milagre. O autor? Deus? Que seja, mas a colaboradora de Deus no milagroso transporte do texto sagrado foi a esposa de Baltazar, que após conversar com o centroavante pelo telefone, horas antes do jogo, pegou um avião imediatamente rumo ao Rio, desceu no aeroporto e, de táxi, chegou rapidamente ao Maracanã. Autorizada pelo roupeiro do Grêmio, entrou no vestiário e colocou a bíblia de Baltazar na bolsa do craque minutos antes do final do primeiro tempo. Correu para a arquibancada e ainda presenciou o feito do renovado marido durante o segundo tempo. Estava consumado o milagre do Grêmio, dos pés de Baltazar, da perseverança da esposa do ídolo e, vá lá, com mão do chefe lá de cima.


Mas a carreira de Baltazar sempre esteve muito acima de milagres. Seus gols nada tinham de metafísicos ou subjetivos. Eram reais, para a alegria do futebol nacional. Foi dos pés do craque que o Grêmio iniciou sua trajetória de títulos para além dos pampas. Na final do campeonato brasileiro de 1981, contra o São Paulo, no lotado estádio do Morumbi, um golaço de Baltazar, após uma jogada que começou com o lateral direito Paulo Roberto, passou por Renato Sá, que, de cabeça, levantou na área para a “matada” de bola seguida por um chute certeiro de Baltazar contra a meta de Waldir Peres. A “Máquina” do Morumbi caiu diante do tricolor gaúcho.

Em agosto de 1982, o jogador, sem um bom clima no Grêmio após a perda do título estadual de 81, foi transferido, por empréstimo, para o Palmeiras [para onde regressou no segundo semestre de 1983]. Sua passagem, que durou até dezembro, foi, no entanto, curtíssima e aquém do seu farto futebol. Nas duas fases em que esteve no Verdão, disputou 70 jogos, venceu 26, empatou 28 e marcou 25 gols. Antes de se transferir para o futebol espanhol, vestiu ainda as cores de Flamengo, em 1983, após um troca-troca entre os clubes envolvendo também o meia Tita. Na verdade, Baltazar tinha chances de permanecer no Palmeiras, mas a diretoria gremista queria o craque do Flamengo a todo custo. “O que eu não queria mesmo era voltar para o Grêmio, porque me sentia rejeitado pela diretoria que acabara de assumir. Como eles estavam loucos atrás do Tita, acabaram melando minha contratação pelo Palmeiras para poderem fazer a troca com o Flamengo.”

Ao lado de Zico e Júnior, Baltazar ajudou o rubro-negro a conquistar o tri-campeonato brasileiro, em 83. Poderia ter ficado mais tempo no Rio de Janeiro, mas, logo que chegou à cidade, assustou-se com o verão carioca, como descreveu a repórter Maria Helena Araújo: “Passeando pelas areias quentes de Ipanema, Baltazar parece tão à vontade quanto um torcedor do Fluminense perdido no meio da galera flamenguista, em pleno Fla-Flu. A brancura de sua pele o deixa encabulado e produz um contraste chocante com o bronzeado dos corpos seminus que desfilam diante dos seus olhos. De súbito, como que fareja algo estranho no ar, ele franze o nariz e indaga: ‘Que cheiro estranho é esse?’ O cheiro era inconfundível e vinha de um cigarro de maconha que corria de mão em mão, num grupinho de pessoas ao lado. Baltazar balança a cabeça num gesto de reprovação e vai embora.”

E foi mesmo, um ano depois, após a segunda e curta passagem pelo Palmeiras, no segundo semestre de 83, para o Botafogo, com o qual foi artilheiro do campeonato estadual de 84, com 12 gols, ao lado de Cláudio Adão, do Bangu.

Do Rio à Espanha, Baltazar chegou a Vigo em agosto de 1985 para defender o Celta. No ano seguinte, no dia 21 dezembro, em jogo válido pela segunda divisão espanhola, sofreu uma grave contusão após involuntariamente chocar-se com o goleiro Gallardo, do Málaga, que sofreu uma comoção cerebral e morreu dezoito dias após ficar internado, em coma. Muito abalado, Baltazar o visitou duas vezes no hospital. Na temporada seguinte [1986/87], enfim, a volta por cima. Baltazar recebeu elogios e a reverência da torcida e crítica espanholas, ajudando ao Celta a retornar à primeira divisão, com 34 gols, um recorde da segundona italiana, que perdurava desde 1969. Baltazar era chamado de “El rei”, pelos fanáticos torcedores.

Baltazar gostou do “milagre”, e quis mais. Em outubro de 1988, já pelo Atlético de Madrid, a revista Don Balón — que o batizou de “El Diós del gol” — concedeu a ele o prêmio de melhor jogador estrangeiro na terra do flamenco. Não era para menos. Os 35 gols assinalados na temporada 1988/89 garantiram ao “Artilheiro de Deus” o troféu “Chuteira de Ouro” do futebol europeu, desbancando o mexicano Hugo Sanchez, ídolo do rival Real Madrid, principal artilheiro espanhol nos três anos anteriores. Sua missão estava cumprida na Espanha: marcou 53 gols em duas temporadas. Do Brasil, o técnico da seleção brasileira, Sebastião Lazaroni, não ignorou o feito e o convocou. Mesmo na reserva de Romário, Baltazar esteve presente na conquista da Copa América em 1989, realizada no Brasil.

O ex-goleador anunciou, em outubro de 1990, ao presidente do Atlético de Madrid, Jesus Gil, que deixaria o clube. Baltazar trocou a Espanha por Portugal. No Porto, jogou em 91. Não se adaptou e foi para o Rennes, onde permaneceu até 1993. Regressou ao Brasil em 1993 para defender o Goiás. Foi campeão goiano em 1994, realizando o sonho de levantar um troféu em sua terra natal, e deixou o clube no ano seguinte, seduzido pelo futebol japonês. No Goiás, Baltazar percebera que a idade já lhe comprometia a carreira. Simplesmente, o treinador do time era mais novo que ele. Era o sinal.

O craque terminou a carreira em 1996 no Kyoto, evidentemente longe do brilho de outrora, mas com uma marca invejável de 412 gols ao longo da jornada nos gramados.

Na seleção, apesar do sucesso nas divisões de base, raramente era lembrado. Telê Santana foi quem mais deu oportunidades a ele. Já aposentado da bola, Baltazar tornou-se empresário de jogadores e presidente da “Missão Atletas de Cristo do Brasil”.

Quando Baltazar abandonou os gramados, sofreu, como todo jogador, com o fim da carreira: “Orei pedindo uma direção, foi um tempo difícil. E me recordei que, quando jogador, participei sem cobrar nada de transferências [de outros jogadores] para a Europa. Tive satisfação em ajudar e resolvi experimentar de novo, desta vez profissionalmente”. Um dos craques que Baltazar levou para a Espanha, nos tempos em que ainda era um “empresário amador”, foi o amigo Donato, que na época brilhara no Vasco. Donato tornou-se um dos maiores ídolos do futebol espanhol em seu tempo. E Baltazar continua inesquecível, como um dos melhores atacantes que o Brasil produziu nos anos de 1980.

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