Por Marcos Vinicius Cabral
Edição: Ari Lopes

“Vai estudar, menino! Quero te ver formado em Engenharia ou Medicina na faculdade”, diziam os seus pais Sérgio e Guaraciaba toda vez que viam Zezinho caminhando à procura de um campinho com a bola Rivelino (bola de plástico, chamada dente de leite, fabricado pela Trol nos anos 70) debaixo do braço.
Português, Matemática, Geografia ou História na sala de aula não eram as disciplinas preferidas pelo menino. Ele preferia estudar e treinar os ‘elásticos’, os dribles curtos, e as bombas com o pé-esquerdo que fazia questão de assistir com o professor e primo Rivellino, nas aulas de futebol de salão do Esporte Clube Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo.
Atento, Zé Sérgio era um aluno aplicado. Na verdade, desde cedo o que ele queria era imitar o primo famoso e ser no futebol um craque como ele, aplaudido pela multidão que lotava os estádios de São Paulo, principalmente o Morumbi, o Pacaembu e o Parque São Jorge, nas noites de quartas feiras e domingos nos jogos do Corinthians.
“Era fominha. Meu negócio era jogar bola e chegar perto do que o Riva foi”, relembra José Sérgio Presti, conhecido como Zé Sérgio, um dos pontas mais maravilhosos do futebol brasileiro.
Aos 13 anos, o que Zé Sérgio aprendia com o primo do bigode mais famoso do Parque São Jorge, colocava em prática no futebol de salão no Esporte Clube Banespa. Estamos no ano de 1970, quando a Seleção Brasileira, dirigida por Zagallo, e considerado o maior Escrete Canarinho da história, conquistou o tricampeonato da Copa do Mundo, no México.
A história e os números mostram que Zé Sérgio foi um dos mais habilidosos pontas do futebol brasileiro.Gracas a Deus e aos deuses da tecnologia, quem é da geração pós 1980, e não teve o prazer de vê-lo jogar, pode comprovar o que falo nos arquivos do YouTube e outros arquivos de internet. Zé Sérgio foi eleito o melhor jogador do Brasil em 1980, quando craques como Zico, Roberto Dinamite, Reinaldo, Falcão e Cia desfilavam seus talentos pelos gramados do Brasil a fora. Devastador com a bola nos pés e seus dribles sobre os laterais, o camisa 11 do São Paulo abria defesas consideradas inexpugnáveis.
Leandro, ex-lateral do Flamengo e seleção brasileira, agradece a Deus por não tê-lo enfrentado.”Zé Sérgio foi o melhor ponta-esquerda da minha geração. Driblava para dentro e para fora com a mesma intensidade e categoria. Forte, atrevido, não tinha medo de cara feia. O Telê Santana gostava muito dele e se não fosse a contusão séria que teve no braço, certamente estaria conosco na Copa do Mundo de 82. Graças a Deus que não encarei a fera”, brinca.
Já Luís Carlos Winck, ídolo do Internacional, não teve a mesma sorte. O ex-camisa 2 do Beira-Rio relembra os confrontos com o ponteiro. Para ele, que quase jogou no Vasco com Zé Sérgio, era difícil marcá-lo, já que o drible que ele dava podia ser para qualquer lado com a mesma eficiência.
“Zé Sérgio foi um dos grandes pontas do futebol brasileiro. Era rápido e driblava com muita qualidade, tanto para a direita, quanto para a esquerda. Tive o prazer de enfrentá-lo quando jogou pelo São Paulo e era complicado para nós. Era um futebol mais romântico na nossa época e os times, a maioria deles, recheados de craques. Zé foi um ponto fora da curva”, recorda.
Embora tenha surgido no hiato de Paulo Cézar Caju e Dirceu – jogadores que usaram a camisa 11 nas respectivas copas de 74 e 78 – Zé Sérgio merecia atenção especial dos treinadores.
Para Cláudio Coutinho (1939-1981), a célebre frase de Nelson Rodrigues (1912-1980) que diz que “Toda unanimidade é burra”, fazia sentido. Tanto que ele não via Zé Sérgio como titular no escrete canarinho, em 78, na Argentina. Atuar ao lado do primo Rivellino com a Amarelinha, não passou de um sonho, que Coutinho não permitiu.
Por sua vez, Telê Santana (1931-2006) sabia que Zé Sérgio na ponta esquerda, com Junior de lateral, formariam uma dupla respeitável e temida. Titular no lugar de Éder naquele timaço de 82? Só os treinamentos poderiam responder.
No entanto, o certo é que nesse tabuleiro de peças que é o futebol, o ponteiro são-paulino foi convocado.
Desde que surgiu e buscava de certa forma se descolar da fama de ser o primo sai de Rivellino, Zé Sérgio cortou um dobrado. A rotina de treinamentos, exaustivos, o levava ao limite. A má sorte nas contusões que tanto o prejudicaria na carreira, fazia congestionar os olhos com lágrimas. Era preciso ser forte para não sucumbir à depressão.
“Eu lutava com unhas e dentes para me livrar daquele estigma de ser primo do Riva. Tinha que ser mais eu, se quisesse progredir no futebol”, contou ao Museu da Pelada.
Estrela do título do Paulistão de 77 pelo São Paulo, o que Zé Sérgio queria, de verdade, era fechar os olhos, lembrar dos passeios que fazia com o cão Scooby, dos torcedores tricolores levantando das arquibancadas toda vez que recebia a bola partindo para cima dos marcadores e das conversas mantidas com o primo Rivellino. A paz, buscada pelo ex-camisa 11 do São Paulo e do Santos (trocado por Pita), sempre esteve distante nos momentos mais tensos da carreira.
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