por Rico

Senhores, levantem-se. É noite de gala no velho salão. As luzes amarelas tremeluzem como lamparinas, o rádio chiando ao fundo toca Waldir Calmon, e lá vem ele… Zarani, de camisa para dentro e a alma para fora, pronto pra dançar com a bola no compasso da paixão. Em 1951, tempo de calçadas largas e bondes tagarelas, de moças de vestido florido e rapazes de gomalina no cabelo. O América era mais que um clube – era bandeira pendurada na janela nos domingos de sol, era lágrima e sorriso no mesmo apito final. ZARANI era América. De corpo fechado e coração aberto. Queria jogar no campo do clube do coração, mas o portão estava trancado ao sonho dos meninos. Que fez ele? Rasgou a proibição com dribles e poesia. No estacionamento, entre pedras e carros de chapa brilhando ao sol, a bola rolava como se o mundo dependesse dela. Cordine, o carrão vaidoso da época, virou poste, driblado com malícia e respeito. Mas o chão machucava. E como todo gênio simples, ZARANI viu além: “ Vamos pro salão de festas. “ e o que era improviso virou invenção. Assim nasceu o Futebol de Salão. Num espaço de encontros, gargalhadas e passos apressados, a bola ganhou nova cadência, e os pés, novas histórias. Foi então que ele virou mais que jogador. Foi professor sem diploma, cronista sem jornal, poeta dos passos curtos, arquiteto das jogadas impossíveis. Fundaram a Federação – mas quem fundou o espírito foi ele. Com sua voz mansa, sua paixão eterna, ZARANI desenhou com os pés e as mãos o mapa da nossa saudade. No dia 11 de Maio de 2020, o tempo, esse árbitro severo, apitou sua saída. Mas quem conhece o jogo sabe: os IMORTAIS não deixam o campo, eles viram lenda. Hoje em cada quadra de madeira gasta, em cada criança que sonha com a bola leve, há um pedaço de ZARANI. Há um aplauso em silêncio. Há uma reverência sem fim. A ele os sinos do passado dobram. A ele, o AMÉRICA chora e sorri. A ele, o salão se curva em respeito e ternura. Esse é ZARANI. Esse é IMORTAL.
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