por Cláudio Lovato Filho

Se o futebol é como a vida, o estádio representa o mundo.
Mas quem precisa de metáforas para justificar seu amor pelo futebol e pelo estádio que foi transformado em segundo (ou primeiro) lar?
Neste 16 junho completaram-se 75 anos da inauguração do Maracanã, marca para ser celebrada por todos os apaixonados por futebol, no Brasil e no mundo. Lembro bem da sensação de finalmente entrar naquele lugar que eu havia tantas vezes visto na TV e imaginado na minha cabeça de menino. Minha primeira vez no Maracanã foi em janeiro de 1981, levado pelo meu avô materno, criado no Rio, apaixonado torcedor rubro-negro. Eu morava em Porto Alegre e estava passando férias no Rio. Era um amistoso entre Flamengo e Santos. Três a zero para o clube carioca.
Comecei a frequentar estádios muito cedo, com cinco anos de idade, quando ainda morávamos em Santa Maria. Se os “registros familiares” estão corretos, minha estreia foi no Estádio dos Eucaliptos, do Riograndense, cujo arquirrival é o Internacional de Santa Maria. Nessa longa trajetória de arquibaldo, o Maracanã foi o segundo estádio em que mais assisti jogos na vida. Morei 20 anos no Rio, de 1992 e 2012, e à minha paixão pela cidade somou-se o imenso carinho pelo Maraca. Foram muitos jogos no Maracanã: vários clássicos cariocas, algumas apresentações da Seleção Brasileira e, principalmente, é claro, visitas do Grêmio. Fui visitante no Maracanã durante 20 anos. Nessa história tem especialíssimo destaque a conquista da Copa do Brasil de 1997, justamente em cima do clube do coração do meu avô.
A quantidade de vezes em que fui ao Maracanã só é superada pelo número de jogos assistidos no Olímpico (obviamente). O Olímpico foi o meu mundo num tempo em que, para mim, nada poderia se equiparar em importância a tomar o rumo do Bairro Azenha, passar sob os arcos do Largo dos Campeões, ultrapassar as roletas e ingressar naquelas míticas arquibancadas que jamais sairão da minha memória e do meu coração.
Inaugurado em 19 de setembro de 1954, quatro anos depois do Maracanã, o Olímpico, com o término da construção do anel superior, em 1980 – há 45 anos, portanto –, passou oficialmente a se chamar Olímpico Monumental. A reinauguração da casa tricolor, em 21 de junho, teve Grêmio 1 x 0 Vasco, gol de Baltazar. No ano seguinte, o Velho Casarão, como o estádio foi carinhosamente apelidado pela torcida, recebeu o maior público de sua história: mais de 98 mil pessoas presenciaram o embate entre Grêmio e Ponte Preta no jogo de volta da semifinal do Campeonato Brasileiro de 1981.

Mas bem antes de se tornar Monumental, o Olímpico já ocupava um espaço grandioso na minha vida – desde 1972, ano em que nossa família chegou de Santa Maria. Valdir Espinosa, que viria a se tornar, 11 anos depois, o técnico da maior conquista da nossa História, o mundial de 1983, em Tóquio, era o nosso lateral direito. Na outra lateral estava o tricampeão mundial Everaldo. Ancheta era o zagueiro central e Oberti, o centroavante. Um ano depois chegaria ao clube aquele que é um dos meus maiores ídolos no futebol em todos os tempos: José Tarciso de Souza. Eu os via entrar no gramado do Olímpico com os olhos de um menino que jamais me abandonará.
Em 1978, quando toda a base do clube ainda treinava e jogava no Olímpico, eu estava na Escolinha. Tinha 13 anos. Toda quarta-feira à tarde eu pegava o ônibus na Avenida Oswaldo Aranha, no Bom Fim, onde morávamos, e me mandava para a Azenha, decidido a subir mais um degrauzinho na minha escalada para me tornar jogador de futebol. Nosso time foi campeão do grupo naquele ano (os grupos eram divididos por idade) e desfrutei da honra de ter a medalha colocada no meu peito pelo presidente Hélio Dourado, em cerimônia realizada no gramado principal. Hélio Dourado e Fábio Koff foram os maiores presidentes da História do Grêmio. Heróis tricolores. Lendas.
Certa vez, numa daquelas quartas-feiras, eu e alguns companheiros de Escolinha estávamos perambulando pelo estádio, como sempre fazíamos após os jogos e os treinos. De repente, no setor das sociais, avistamos aquele que era um dos nossos grandes ídolos. Ele estava sentado, lendo uma carta. Tomamos coragem, nos aproximamos e pedimos a ele o autógrafo em nossas carteirinhas de presença. Ele pegou a caneta que lhe entregamos e foi assinando, uma a uma, as nossas carteirinhas. Agradecemos e ele voltou à leitura da carta. Éder Aleixo.
Cinco anos depois, vivi uma das maiores alegrias da minha vida dentro daquele amado mundo. Eu estava lá com o meu velho e um dos meus irmãos mais novos quando Mazaropi, Paulo Roberto, Baidek, De León, Casemiro, China, Osvaldo, Tita, Renato, Caio (depois César) e Tarciso venceram o Peñarol e conquistaram a nossa primeira Libertadores. É difícil, até hoje, encontrar palavras para descrever toda aquela felicidade.
Histórias. Há muitas outras, muitas. Gre-Nais. Finais estaduais, nacionais e continentais. Tudo devidamente guardado na memória e no coração.
Hoje o Grêmio tem uma nova casa, a Arena, e o Maracanã está bem diferente daquele que frequentei até 2012. O tempo passa, o mundo se transforma, as histórias continuam se acumulando e nós seguimos em frente.
Assim no futebol como na vida.
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