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TREINAR PELA MANHÃ? PARA QUÊ?

1 / junho / 2025

por Cassyus Marcellus

A ciência já provou: o futebol brasileiro precisa mudar

Enquanto a maioria das partidas da Série A, Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana acontece no fim da tarde ou à noite, muitos clubes ainda mantêm treinos regulares pela manhã. O que parece hábito, tradição ou disciplina é, na prática, uma decisão técnica desalinhada com as evidências científicas do esporte de alto rendimento.

A fisiologia, a neurociência e a cronobiologia esportiva demonstram, de forma robusta, que o horário de treinamento impacta diretamente o desempenho, a recuperação e a prevenção de lesões.

O corpo humano funciona em ciclos biológicos que regulam variáveis como temperatura corporal, coordenação motora, excitabilidade neuromuscular, potência muscular, tempo de reação e foco cognitivo. Estudos indicam que o desempenho atinge seu pico quando os treinos respeitam o princípio da especificidade, ou seja, estão alinhados com as exigências reais da competição, incluindo o horário dos jogos. Assim, o organismo está em sua máxima capacidade motora, de força e clareza mental, favorecendo a melhor adaptação do treino para o jogo.

Treinar sistematicamente pela manhã, quando o corpo ainda está em fase de ativação, com temperatura mais baixa e menor atividade do sistema nervoso central, fere esse princípio e prejudica a transferência para o contexto competitivo. Quando a rotina ou a logística se sobrepõem à fisiologia, os prejuízos são claros: aumento do risco de lesões, fadiga acumulada e queda de desempenho.

Por outro lado, clubes que estruturaram suas rotinas respeitando a cronobiologia, com treinos intensos no mesmo período das partidas, reportam redução nas taxas de lesão, maior consistência de rendimento e mais longevidade física dos atletas.

A hora certa de treinar: quando o corpo está pronto para render
A performance no futebol depende de variáveis fisiológicas reguladas pelos ritmos circadianos. Por isso, treinar nos mesmos horários dos jogos — geralmente à tarde ou à noite — otimiza a adaptação neuromuscular, a tomada de decisão sob estresse e a transferência do treino para a competição. Além disso, respeita o ciclo natural de ativação fisiológica, maximizando força, potência e clareza mental.

Em contrapartida, sessões pela manhã exigem esforço elevado quando o organismo ainda está em transição, comprometendo rendimento e aumentando o risco de lesões. Adaptar os horários de treino à realidade competitiva não é apenas uma decisão operacional, mas uma estratégia científica para preservar a saúde, aumentar a longevidade e melhorar o desempenho dos atletas.

Treinar bem não é treinar pela manhã: é treinar com inteligência
No alto rendimento, o treinamento deve priorizar a performance e a integridade física, e não se submeter a convenções ou facilidades logísticas. A cultura de treinar cedo precisa ser revista à luz das evidências científicas. Não se trata de treinar mais ou parecer mais disciplinado, mas de treinar com inteligência, especificidade e conexão com as demandas competitivas.

Treinos matinais podem ser utilizados de forma pontual e estratégica — por exemplo, para sessões de recuperação ativa ou reabilitação — mas não devem ser regra para os treinos principais. Alguns clubes já adotam boas práticas, como reservar as manhãs seguintes aos jogos para sessões regenerativas com crioterapia, equipamentos de compressão, contraste térmico, mobilidade, fisioterapia e trabalhos individualizados. Ainda assim, há casos de sessões inadequadas nesse período, com riscos evitáveis.

Futebol melhor e jogadores com carreiras mais longas
O futebol brasileiro precisa de mudanças estruturais, e a adequação do horário de treino é uma delas. Estudos comprovam que alinhar treinos aos horários dos jogos reduz lesões, amplia a longevidade dos jogadores e melhora a qualidade técnica do futebol.

Essa mudança é um dos pilares de um modelo mais moderno e eficaz de desenvolvimento esportivo. Respeitar ritmos biológicos, investir em estratégias de recuperação e aplicar treinamentos baseados em evidências são atitudes indispensáveis para o futuro do futebol nacional.

Está mais do que na hora de o futebol brasileiro ouvir a ciência, abandonar práticas ultrapassadas e investir em um modelo em que rendimento e saúde caminhem juntos. Porque, no fim das contas, o espetáculo dentro de campo começa fora dele — com planejamento, conhecimento e coragem para evoluir.

Cassyus Marcellus
Pós-graduado, Profissional de Educação Física, Curso superior em Treinamento Físico, ex-jogador de Futebol.

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1 Comentário

  1. Rodrigues da Fontoura

    A ideia é cientificamente muito boa. O problema é que relatos ouvidos em alguns clubes que adotaram esses horários de treino à tarde e noite é que o período de “gandaia” de alguns dos jogadores, de noitadas, churrascadas,etc, durante a semana aumentou consideravelmente, piorando o desempenho geral. Alguns dos atletas profissionais brasileiros ainda têm sérios problemas de maturidade, prejudicando a adoção de novos métodos.

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