por Elso Venâncio

Pela primeira vez na história, o Brasil está soberano na Copa Libertadores da América, disputada desde 1960. Conquistamos os últimos seis títulos: com o Flamengo, em 2019 e 2022; o Palmeiras, em 2020 e 2021; o Fluminense, em 2023, e o Botafogo, em 2024. Desde a criação da final única pela CONMEBOL, só os brasileiros levantaram o troféu — algumas vezes, decidindo o torneio entre si. O último campeão argentino foi o River Plate, em 2018. São reflexos de um desequilíbrio técnico causado pelo poder financeiro. Até os atletas argentinos preferem atuar no futebol brasileiro, onde as propostas salariais são melhores.
Na atual edição da Libertadores, temos dois confrontos entre clubes do Brasil e da Argentina, com os brasileiros tendo construído vantagem de 2 a 1 no jogo de ida. Agora, o Flamengo vai a La Plata enfrentar o Estudiantes, enquanto o Palmeiras, que vive o seu melhor momento no ano, recebe o River Plate no Allianz Parque.
Desde os áureos tempos da extinta Copa Roca, os hermanos não admitem perder para brasileiros, sobretudo em jogos decisivos. Quando derrotados, costumam partir para a briga. Há ainda armações históricas, como a “água batizada” que o lateral Branco bebeu na Copa de 1990, em Turim, na Itália. No ano seguinte, Flamengo e Estudiantes empataram em 1 a 1 no Maracanã, pela Supercopa dos Campeões da Libertadores. Houve promessa de vingança a e hostilidades no jogo de volta, em La Plata.
Com a missão de acalmar os ânimos, Narciso Doval foi o chefe da delegação rubro-negro na viagem à Argentina. Édson Mauro “Marque o Tempo”, locutor bom de bola da Rádio Globo-RJ, passou o maior sufoco, e eu estava ao seu lado. O operador contratado era argentino e recebeu orientação para nos colocar na arquibancada, no meio dos “hinchas”. Alegou que não havia cabine disponível. Édson, com sua experiência e técnica vocal, narrou baixo e de forma veloz, mas estávamos atentos a qualquer reação contrária. Dentro de campo, Zinho e Gaúcho fizeram os gols da vitória do Flamengo por 2 a 0. Imaginem! Gritar gol no meio da galera argentina! No fim, sobrou para a equipe de arbitragem, que foi agredida.
Na chegada ao Galeão, dia 12 de outubro de 1991, época sem internet, a delegação e os jornalistas receberam a notícia de que o ídolo Doval tinha sofrido um enfarte em Buenos Aires, durante a madrugada. Assim morreu o mais carioca dos argentinos, que naturalizou-se brasileiro em 1976.
Em 1995, uma partida entre Flamengo e Vélez Sarsfield terminou em pancadaria, em Uberlândia. Era mais um confronto decisivo pela Supercopa dos Campeões, e o Fla havia vencido o jogo de ida por 3 a 2, de virada, fora de casa, na estreia do Apolinho Washington Rodrigues como técnico. Na volta, o time rubro-negro venceu por 3 a 0, e Edmundo foi agredido por Zandona pelas costas. A forra veio com Romário, que apareceu de surpresa e acertou uma voadora no lateral do Vélez.
Três meses depois, antes do primeiro jogo da final contra o Independiente, surgiu uma ameaça velada no ônibus que levava a delegação do Flamengo. Um homem, com arma em punho, desceu misteriosamente na entrada do estádio em Avellaneda, demonstrando o clima tenso que cercava o confronto.
Na atual Libertadores, Palmeiras e Flamengo têm boas chances de avançar às semifinais. Mais difícil será a missão do São Paulo no Morumbi, precisando reverter o placar parcial de 2 a 0 para a LDU, do Equador.
0 comentários