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QUANDO UM ÍDOLO VAI EMBORA

15 / julho / 2025

por Zé Roberto Padilha

Quando você perde um ídolo, e foi assim, em meio a uma reverência concedida ao Rei Pelé, em seu palco iluminado, o Maracanã, seja em uma dramática despedida pela TV, a Ayrton Senna, em Ímola, em um domingo pela manhã, a gente perde mais que um sentimento de idolatria.

A gente perde o que o esporte reúne de mais fascinante. Nossos ídolos, como Eder Jofre, João do Pulo, Paula e Hortência, foram os Deuses que nos permitiram, mesmo na poltrona, alcançar o Monte Olimpo.

Sem ter quem nos conceda arte, emoção, um elástico, contra o Vasco, uma pole-position em Interlagos, um tricampeonato em Roland Garros, uma vitória no basquete contra os quase imbatíveis americanos, a nossa vida esportiva seria um lugar comum.

O esporte, um porre.

Como ficar a a aguardar, durante toda uma temporada, um gol do Lima? Do Samuel Xavier?

Aquela raridade alcançada pelo Guga, que de tão inesperada foi aquela bomba Rivelino, de fora da área, que fez, com toda justiça, aquele momento ser único em sua carreira.

Foi o último a sair de campo, a dar entrevista, a tomar um banho e chegar em casa. Se chegou.

Fora isso, nossos jogadores tricolores representam um grupo de excelentes profissionais, competentes, disciplinados, mas que são incapazes, pelo previsível conjunto de suas obras, nos levantar da cadeira.

Ficar 90 minutos aguardando que o Ganso encontre um atalho entre um mar de pernas, e que o Keno receba a bola sozinho diante do goleiro. E que o Everaldo reviva, por um voleio sequer, a precisão das conclusões do Flávio. O Minuano.

John Arias era nosso arco, e quando a flecha se encolheu, tratou de ser arco e flecha também. Dono de um domínio absoluto de bola, equilíbrio raro como atleta, só caía quando o cartão amarelo era apresentado a quem “utilizava força desmedida” ao interceptar suas jogadas. Nunca em direção às laterais, todas em direção à meta.

Ele cruzava uma bola como ninguém. Descobriu a arte de sua trajetória que não permitia ao goleiro adversário sair. Ou que sua zaga se antecipasse. Toda a defesa contrária ficava no meio do caminho. E era aí que nossos adversários entravam pelo Cano.

Já que toda a nossa recente idolatria será congelada, e o desejo do nosso ídolo de sair e ser feliz seja respeitado, que pelo menos o Fluminense nos permita encher o Maracanã. E agradecer a ele.

Antes que parta em silêncio, como partiram Nino e André, sem receber a nossa gratidão. O agradecimento pelo que nos permitiram alcançar o paraíso das Américas.

Eles, que deixaram o Galeão nos braços da família, não foram capaz de perceber o quanto nos ajudaram a ser felizes. Que seja, com John Arias, diferente.

Porque ele merece por ter sido, ao lado do Fábio, depois do Fred, os últimos dos nossos ídolos.

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