UM TÍTULO BOM PRA CHUCHU… (ÁGUA DE MACARRÃO)
por Serginho 5Bocas
O que tem em comum, Índio, do Coritiba que fez gol na final do Brasileiro, de 1985, contra o Bangu, César, do Vitória, da Bahia, que fez gol na final do BA-VI, de 1981, Chiquinho que jogou futsal na Bradesco, na década de 80, entre outros tantos ex-jogadores profissionais e craques anônimos? O campeonato de pelada do Melo Tênis, clube da Zona Norte, do Rio de Janeiro.
Lá, onde se joga um dos campeonatos de pelada (ou de várzea) mais disputados que já conheci, eu, Serginho5Bocas, caçador de peladas, não poderia deixar de jogá-lo, não é mesmo? Então vou contar a história de mais um torneio de peladas que participei e, com muito orgulho, ganhei.
Entre todos os campeonatos, torneios, copas que já participei, nunca um deles foi tão inusitado, pelo menos o capítulo final.
Vejam vocês, que passados cinco ou seis meses, sei lá…três turnos, semifinais, muitos gols, expulsões, cartões amarelos, cerveja, água, gelo e, vejam só, quando chegam as duas partidas finais, os caras do time do “Cuiabá”, não apareceram para jogar, isso mesmo, ganhamos o campeonato por WO!!!
Meu time, o “Assim que se faz”, venceu o 1º turno, Portugal venceu o 2º e os caras do Cuiabá, que foram vices dos dois primeiros, venceram o 3º turno, concluindo uma fase classificatória espetacular, pois fizeram mais pontos e foram às três finais.
Obviamente que isso não garante o título, mas é uma excepcional credencial e enche de moral para as fases finais. Nas semifinais, eles passaram pelo time do “Colômbia” que foi o 4º time classificado por força do regulamento, após um empate e uma vitória suada por 3×2, em que jogaram com um homem a mais todo o 1º tempo. Nós eliminamos “Portugal” nos pênaltis, após uma vitória para cada equipe.
Chega à semana da final e Cuiabá informa que só poderia jogá-la se fosse em apenas uma partida, em razão de outros compromissos e pede nossa anuência. Lógico que numa guerra, não se dá armas para o exército inimigo, sem contar que em outras ocasiões quando nós precisamos de alterações nas datas dos jogos, não fomos ajudados, então só nos restava negar o pedido e jogar as partidas. Fez-se cumprir o regulamento e “toca o enterro, mermão”.
E assim Cuiabá cumpriu o prometido: se fossem em duas partidas eles não apareceriam para jogar, e pela primeira vez na minha vida, infelizmente, fui campeão sem final, por WO.
Confesso que não fiquei feliz porque sou um tremendo “fominha” e, além disso, fica um vazio tremendo pela falta de competitividade, de não vencer no campo uma final tão aguardada. Restou o sabor meio com gosto de guarda-chuva da vitória.
Ocorre que houve mais um fato inusitado para mim, mas que é pratica muito comum no futebol, o de trapacear: pois se Cuiabá foi o time mais regular da competição, muito se deve ao fato de ter muita força física para uma categoria de seniores e nesta categoria a idade faz uma diferença muito grande. Só que o que não se sabia é que eles tinham um jogador (quem sabe se não seriam mais…) que era bem mais jovem do que a idade mínima permitida para o campeonato e ai fazia diferença para sua equipe. Ou seja, eles tinham um “gato” às avessas.
Confesso que preferia não saber dessa história antes do fim do campeonato, até porque enfrentei os caras com esse cara (ou mais) e sinceramente achei os jogos muito iguais, decididos em detalhes. Aliás, em nenhuma das partidas fomos massacrado ou eles tiveram todo o domínio da partida, muito pelo contrário, sempre dominávamos os jogos até cansarmos e só aí eles sobressaíam. Talvez aí esteja o segredo, porque eles tinham tanto preparo físico em relação a nós. Mesmo assim, até mesmo perdendo, não tenho raiva dos caras, tenho indiferença, pois jamais utilizaria um expediente desses para ser campeão. Para mim, isso é como um doping, Deus me livre, vencer assim.
Não sei se o cara ia decidir a partida, mas o certo é que eles tomaram uma goleada de ética e de moral fora de campo. Talvez tenha sido melhor eles não aparecerem mesmo, pois fez-se justiça. Também tínhamos time para ser campeão, fizemos jogos maravilhosos contra eles e essas duas partidas prometiam, uma pena!
Agora, que os troféus e medalhas ficaram com gosto de chuchu, de água de macarrão ficaram, ah, se ficaram!
Agora, um breve resumo dos campeões da esquerda para a direita:
Feinho – acrescentou aos seus mais de 60 anos, mais um caneco, agarra muito o coroa;
5Bocas – caçador de peladas, comprovou sua sina, não é um virtuose, apenas um cara difícil de ser vencido, luta na vida e na bola;
Marcio – cornetou tanto que ficou rouco e com calo nas cordas vocais, mas no final valeu a pena;
Luis – o passe preciso, nosso zagueirão que deu show;
Manel – seu futebol é como sua silhueta, finíssimo, sem exageros;
Alfredo – nosso lateral carteiro, começou bem mas depois sumiu, aparece meu amigo!
Jaiminho – nosso guerreiro azarado, jogou muito esse campeonato (como sempre), mas se quebrou demais, primeiro o ombro, depois o tendão de Aquiles, vai se benzer muleke!
Jorge – foi nosso curinga, jogou bem em todas;
Carlinhos – o nosso Fred Astaire esteve bem, mas precisa se cuidar, esse negócio de treino funcional no Cincão quase te mata;
Belmiro – começou no campo e acabou conquistando o título fora das quatro linhas, parceirão;
Cesar – ex-“profissa” que chegou no meio da brincadeira e conseguiu o seu espaço, um cara gente boa e humilde, mas que sabe jogar muita bola;
Manguinha – muito talento na meiúca, ficou um pouco ansioso durante o torneio, mas se recuperou na fase final, é fera;
Gueré – o cara é um maluco beleza, corre o campo todo, parece garoto, mereceu o título;
Betinho – faz gol com imensa facilidade, é fera, também gastou a bola;
Pastel – joga fácil e em dois toques, entrou muito bem no decorrer do torneio e nos ajudou muito nesta conquista;
Grilo – ex-boleiro que jogou pouco por conta de problemas de saúde, mas entrou em muitas ocasiões com êxito e fora de campo era só alegria, mas cuidado com o seu sabonete ou sua toalha, com ele no vestiário….chiiiii
Marco Aurélio – paredão que entrou no final do campeonato e jogou muito na hora em que mais precisamos, é fera.
Faltou na foto o Carlinho, goleiro que agarrou muito e nos salvou nos pênaltis da semifinal, o Jobson que apesar da lesão, nos ajudou muito durante todo o torneio e o Carlyle que nos ajudou muito dentro e fora de campo, com sua seriedade e simplicidade em campo e com seu bom humor, inteligência e ótimas tiradas fora dele, e o Marquinhos que pouco se viu, mas quando aparecia era certeza de qualidade e força.
Obrigado a todos por mais essa conquista.
Faltou alguém? Se faltou foi mal, me avise que eu edito e mando a medalha pelo correio.
BOTAFOGO CAMPEÃO!!!
por Marcelo Rodrigues
Como todos sabem, estou de férias. Nas férias, faço tudo o que mais gosto: fico com a família, jogo peladas, vou para resenhas, assisto jogos das categorias de base e viajo muito. Nada diferente do que a maioria das pessoas.
No último sábado, fui ver a final do campeonato carioca adulto de Futsal. Botafogo/Helênico/Casa d Spaña X ADDP/Cabo Frio. As duas equipes se enfrentaram em Cabo Frio e o resultado foi 2×2 na primeira partida. O time de Cabo Frio reclamou demais de terem sido escalados dois árbitros do Rio de Janeiro na partida de ida, pois o combinado seriam dois árbitros do interior. Aumento de custos, dúvida dos torcedores e dirigentes e um clima ruim criado.
Veio a marcação para o jogo de volta. Surpresa geral: jogo no Olaria. Nem o Botafogo e muito menos a equipe de Cabo Frio entenderam o local. E o horário? 13 horas!!!??? Treze horas, em Olaria, no verão? Só pra quem gosta muito…Mas o pior é a quadra não ter 40m x 20m.
Bem, como estou de férias e sigo fielmente meu planejamento, fui jogar minha peladinha no Caça e Pesca. Peguei leve porque estou fazendo alguns exames e a situação requer certo cuidado. Depois, Praia da Barra (em frente ao clube), com a esposa!!! Passei em casa e saí um pouco atrasado para a missão de carioca salonista, amante do jogo e, claro, como profissional interessado em descobrir novos jogadores, conceitos etc. Cheguei, de táxi, às 13h35, ao Olaria. No clube, por baixo, 43 graus. Na quadra, nesse horário, no mínimo, 47 graus.
Olhei a quadra e vi a mesma toda raspada. O ginásio do clube é muito bom, mas uma final ali, no verão, tem que ser, no mínimo, às 21h. Cheguei ainda na metade do segundo tempo da preliminar: a final do Sub 20, Grajau Country x Piedade. Jogo emocionante. Vitória no tempo normal do Piedade e uma prorrogação marcada por momentos de rara pressão emocional. Veio a prorrogação e o Grajaú fez 1×0 mas sofreu o empate restando 17 segundos para o fim. Esse resultado dava o título ao Piedade, mas o goleiro linha fez o gol de empate restando 9 segundos. Provocações de lado a lado, a pancadaria rolou. Vi uma senhora (torcedora ou mãe de atleta) incitar a violência. Vi os torcedores do Piedade invadirem a quadra e buscarem mais tumulto, vi alguns jogadores de altíssima qualidade, dos dois lados, muito mal educados para a profissão.
Enfim, vários expulsos dos dois lados, paralisação de 20 minutos, muito trabalho para retirar todo mundo, só dois policiais em quadra, péssima arbitragem e bola rolando para os 9 segundos finais. O Piedade ainda teve duas situações de gol e não converteu. O Grajaú tornou-se bicampeão. Comemorações normais, ânimos apaziguados e os jogadores campeões passaram a cantar uma música provocativa e de péssimo gosto. Eu ali temi por outro tumulto. E o pior é que tudo consentido. Mas acabou bem.
Aí, enfim, veio a final do adulto. O jogo começou às 15h, quando já estava na minha terceira garrafa d’água de 500 ml. Dois grandes treinadores: Bocão e Cupim. Duas crias do mais alto nível do Futsal carioca. Os dois também brilharam na Espanha. Jogo de muito bom nível técnico e tático, decidido no segundo tempo, sem violência e sem falhas gritantes de arbitragem. O Botafogo fez 1×0, Cabo Frio empatou, o Botafogo fez 2×1 ainda no primeiro tempo, mas Renato, goleiro linha de Cabo Frio, restando dois minutos, fez um golaço. Botafogo campeão com um grande jogo.
Obs: saí às 17 horas do ginásio.
Opinião: não tenho dúvidas do esforço feito pela Federação para que esse campeonato fosse realizado. Poucos recursos, estrutura em organização, entre muitas coisas. Sempre alguém será contra algo. Isso é fato. Mas não pode bobear em situações simples, como quadras, ginásios, horários, segurança etc. A hora é de abraçar idéias. Não acredito e jamais seria leviano em levantar suspeitas.Vejo pessoas que conheço e respeito, numa entrega absurda para a melhoria do Futsal do Estado. De verdade. Detalhei as falhas porque quero o melhor para o jogo. Estou há 18 anos comentando a Liga Futsal e vou aos clubes mais importantes do mundo estudar e digo: falta educação profissional de atletas na base. Educá-los para o jogo profissional não se limita a ensinar padrões de jogo. Atitude lamentável de ALGUNS ótimos jogadores. Eu indicaria no mínimo sete jogadores no somatório das duas equipes para qualquer equipe da Liga ou no mundo. O Rio é muito forte individualmente.
Conselho: nunca façam besteiras pilhados por quem está pilhado. Dirigente torcedor não vai a lugar nenhum. Vocês tem chance de serem reconhecidos no mercado, mas precisam tirar esse amadorismo da cabeça. Repito. Sei da entrega e vi a situação de incredulidade e tristeza do vice da federação, Luizinho Roux, pelo que estava acontecendo. Pais em quadra, palavrões destes contra os árbitros etc. No Barcelona, pai nem vê o treino. E os jogos em silêncio. Isso na base. Bola para estar lá eu vi vários. E eu ajudo. Com essa postura que vi sábado no sub- 20, vão matar esses talentos e vão viver de história no futuro. E os pais estragam tudo (em 80% dos casos).
Vivemos num estado falido, onde professores são cobrados e não são pagos. Temos uma modalidade que estava falida e hoje respira por aparelhos. Senti durante o jogo (pois assisti atrás do banco, do lado esquerdo, portanto num tempo ouvi o Botafogo e no outro o Cabo Frio), uma preocupação maior do que o próprio jogo em citar os problemas, achar possíveis “armações”, criticar a arbitragem, desespero total (o roupeiro de Cabo Frio foi expulso por atirar um objeto na árbitra), entre outras coisas. Em alguns momentos a equipe estava apta a virar ou esteve melhor e não conseguiu porque os atletas estavam pilhadaços.
Esse tipo de coisa, só atrapalha. Torcida pode. Banco e CT nunca. Vi dois jogadores se xingando no banco. Isso é pilha errada. Reclamar é justo mas é na justiça. Quadra, não. Antes e durante o jogo é tiro no pé.
O Botafogo, do técnico Bocão, jogou muito bem e foi merecedor pelo que aconteceu em quadra. 3×1. Parabéns ao Botafogo e comissão técnica, ao esforço da parceria do Helênico e da Casa d Spaña e a muitos jogadores, já consagrados, que se doaram para essa conquista. Dois goleiraços (André e Miraglia), além de Leandrinho, Cazuza, Fuste, Edu e todos os outros. Mas o destaque absoluto foi o Renato. Que tranquilidade nos dois gols. Sensacional.
Para finalizar. Eu acredito no Rio de Janeiro e acredito que as coisas vão melhorar ainda mais. E acredito nessas pessoas que lá estão, tendo a esperança de que as falhas ocorridas serão avaliadas e nunca mais cometidas. Peço que entendam como construtivas as críticas às carreiras de cada um de vocês. Já passei por todas essas coisas e as coisas não mudaram. Profissionalmente, mudei e acho que vem dando certo. Estarei aqui para ajudar a cada um dos citados desde que desejem ser bem sucedidos. Não sou o dono da verdade, mas busco a excelência em tudo que faço. Muitos me criticam. Mas só ouço os verdadeiros. Os outros querem holofotes. Eu sou de verdade. Tenho certeza que o caminho é esse. Feliz por ter visto dois grandes jogos, ótimos jogadores, grandes profissionais e um pouco chateado por ter visto cenas lamentáveis. Mas isso tem jeito. A única certeza é que com as cenas que aconteceram, ninguém chegará a lugar algum. Com profissionalismo sim. Essa época do ano é feita para reflexão.
Pensemos…
Bocão, feliz pelo seu sucesso!
Cupim, você é o sucesso!
Foi no Fut 7 e ganhou. E vai ganhar muito ainda. Competência monstra.
Sorte a todos, contem comigo e um Natal repleto de paz, harmonia e amor.
É Futsal na veia!
“PELÉ É UM MERDA”
por Lucio Branco
Destaquei, na minha última contribuição à “Futebol Arte”, um trecho da “Nota à 2ª edição” de “O negro no futebol brasileiro” escrito pelo próprio autor, Mario Filho: “Daí a importância de Pelé, o Rei do Futebol, que faz questão de ser preto. Não para afrontar ninguém, mas para exaltar a mãe, o pai, a avó, o tio, a família pobre de pretos que o preparou para a glória”. E emendei: “Complexo. Fica a promessa de uma crônica futura a respeito. Nesta não há espaço”.
Decidi não adiar a promessa.
Realmente complexo o que afirma Mario Filho, também autor de Viagem em torno de Pelé. Quando redigiu essa “Nota à 2ª edição”, corria o ano de 1964, o mesmo em que fora lançada a biografia da encarnação pública – e mítica – de Edson Arantes do Nascimento. Com certeza, o jornalista se sentia muito familiarizado com o biografado para pontificar sobre o que fosse a respeito da sua imagem e da sua carreira. Admito que não a li, por rara que é a sua presença em sebos. Ao que consta, após algumas poucas edições iniciais, ela nunca mais foi publicada. Esse desconhecimento pode comprometer, em parte, o meu parecer. Mas, pelo trecho da “Nota”, não é difícil concluir que o autor defende uma versão particular da negritude do Rei que, muito provavelmente, é a mesma do livro.
Eis um bom teste para os cronômetros: na velha polêmica sobre quem é o “maior jogador de todos os tempos”, medir a velocidade da aparição do veredicto final “Pelé é um merda”. Quase fatalmente ela comparece para castrar qualquer possibilidade de debate. Em seu próprio país de origem, prefere-se não falar por muito tempo sobre Pelé. Corre-se até o risco de acabarem o elogiando como jogador…
Cabe então perguntar: se Pelé é um “merda”, o que é a sociedade que o pariu?
O racismo de fundo encerrado nessa sentença, embora nunca declarado, é fruto de um ressentimento que serve como um desses raros resumos pertinentes do Brasil. Digo resumo, não redução. A imagem do país se tornou indissociável à imagem de Pelé desde que, em 1958, ele o ajudou a pô-lo definitivamente no mapa. Todas as gerações de torcedores que vieram após a sua consagração mundial na Suécia nunca puderam lhe ficar indiferentes. Teria sido ele um astro beneficiado pelo fato de ter coincidido o início da sua carreira com o advento da era da comunicação de massa? Afinal, há quem sustente que Leônidas da Silva e Zizinho, para citar dois craques nacionais de gerações anteriores, só não receberam o mesmo título de realeza porque a repercussão midiática de suas jogadas era inevitavelmente menor. Mal havia TV, o rádio tinha menor alcance, os cinejornais que cobriam o futebol eram mais escassos etc. Mas não foi apenas essa a vantagem de que tirou proveito a sua consagração. No caso do mais popular camisa 10 da história, ser um gênio que se destacava entre tantos outros no Brasil e no mundo contribuiu bastante para a conversão dos fatos em lenda. Ou vice-versa. O vídeo-tape, contrariando o irmão mais novo de Mario Filho, ignora a burrice ao reexibir a sua antologia de feitos que seriam pouco críveis caso não fosse o seu sempre solícito testemunho.
É mais que sabido que Pelé, ao longo da vida pública, cultivou uma persona à sombra do equívoco. Pouco tempo antes do seu recente afastamento dos flashes, ele renovou o seu repertório de ditos que se sairiam melhor se fossem não-ditos. A esquizofrênica polarização entre Pelé e Edson até pode fazer sentido pontualmente, mas também diz muito do seu malfadado senso de autopromoção. Sua condescendência com regimes autoritários e federações desportivas idem não tem como não desabonar a sua reputação. Um entranhado conservadorismo (que Mario Filho involuntariamente detecta na referida glorificação da sua família) é, sem sombra de dúvida, a bússola dos seus descaminhos pelo território da opinião livre. Agora, bater única e exclusivamente nessa tecla, como se faz quase sempre, é outra coisa. Parece mais um exercício bem-pensante isento de autocrítica. Um vício de classe média no seu presumido papel de formadora de opinião. Jogadores brancos com perfil ideológico semelhante, ou até mais sectário, não são tão execrados. O Brasil é o único país em que se odeia Pelé consciente ou inconscientemente em igual medida. Em outros, o seu nome inspira restrições mais refletidas. Até na Argentina se elabora melhor a crítica ao maior do mundo – apesar de, por motivos óbvios, não o reconhecerem nesse patamar.
Pelé e Medici
Num período de maior lucidez, em 1978, Caetano Veloso, numa longa entrevista conjunta com Chico Buarque, Aldir Blanc, Edu Lobo e outros artistas para a Revista Homem, questionou os seus pares sobre a expectativa de genialidade de Pelé também fora das quatro linhas: “Pedir a ele mais que isso seria pedir energia demais a quem já dá energia em demasia” – disse ele. Realmente, esperar que o mundo esportivo gerasse um outro Muhammad Ali é até perverso. Tamanha sintonia nesse grau de potencialidade entre corpo e intelecto não é um fenômeno assim tão assíduo na espécie. Mais inimaginável ainda numa mesma geração. O campeão dos pesos pesados, que sempre fez questão de superlativar a própria excelência, também fez questão de se curvar à majestade de Pelé na sua despedida do Cosmos.
Pelé e Muhammad Ali
Não é desconhecido que há outras obras sobre a vida de Pelé além da biografia de Mario Filho. Entre os filmes, há Isto é Pelé, que repassa a sua carreira para apresentá-lo promocionalmente aos EUA, justamente quando da sua contratação pelo Cosmos. E, mais recentemente, Pelé eterno. Neste documentário, para corresponder ao que estava textualmente no script, Pelé ecoa tardiamente o Mario Filho da “Nota” de 1964: muito convicta e oportunamente, afirma ter orgulho de ser negro. O discurso teve que ser reescrito ao longo do tempo. Não poderia mais repetir aquele evasivamente conciliatório que adotara então no auge da forma e da decorrente e inesgotável conquista de títulos. Mas o tom é velho conhecido, revela-se na clara intenção de calar ou satisfazer a patrulha contra ele, apenas. Antes, declara ter orgulho de ser brasileiro, como se a primeira afirmação atenuasse (ou desculpasse) a segunda. Tudo isso é bem perceptível para quem é atento aos sinais. Anos depois, Pelé regressaria aos braços da “democracia racial” ao desaconselhar a denúncia aberta do goleiro Aranha contra o racismo criminoso da torcida gremista. Mas a tal “democracia racial” não é simples. Suas dimensões são continentais, como as do país que a abriga. Falei em patrulha, anteriormente. Tomo cuidado para não reproduzi-la, eu próprio. Afinal, cobrar orgulho racial de Pelé é como o futebol brasileiro no período amador pesquisado por Mario Filho: um esporte praticado principalmente por brancos.
O fato é que há um racismo autorizado no Brasil cuja senha é Pelé. E pior: além de não ferir a tão cara instituição da “democracia racial”, não é considerado racista quem o pratica. E vou além: a garantia de apoio é imediata, na maioria das vezes. É um incansável apedrejamento público. Nada mais culturalmente legitimado do que canalizar todo o ódio racial contido na nossa formação histórica sobre a sua imagem. Não há Rei cuja entronização pudesse ser mais indesejada por uma tão larga faixa de súditos. Por aqui, a sua deposição é um evento longamente esperado. Em favor da mais pura aversão, o fator local é, inclusive, deixado de lado. Se é Maradona o candidato mais cotado na linha sucessória, que o cetro vá logo parar em suas mãos. É esse o raciocínio que prevalece. A igualmente pusilânime rivalidade Brasil X Argentina passa a contar com a inesperada adesão da nação adversária: fazer o elogio de Maradona, mesmo não pondo muita fé no que se diz, é a melhor forma de desqualificar o Atleta do Século.
Mais perto do fim da carreira, Diego Armando Maradona revelou ter a mesma habilidade de craque num outro domínio onde o seu concorrente brasileiro, apesar do esforço, é um rematado pereba: a autopropaganda. O argentino intuiu que ela é a alma do negócio. Negócio não no sentido do business, é certo, mas de angariar um capital político que Pelé nunca poderia ter – ou, como é notório, mesmo querer. O que é o engajamento à esquerda de Maradona senão o resultado da descoberta da fórmula de encarnar a antítese de um Pelé sempre servil aos interesses mercadológicos que cercam o esporte que o consagrou? Sua consciência contra os arbítrios da FIFA e outras instituições mafiosas é bem tardia. Antes dela, a alienação era a regra da sua condição de nouveau riche do futebol mundial. Sua passagem pelo Nápoles foi o auge do seu deslumbramento. Vamos condená-lo? Seria injusto. Antes de atirar a primeira pedra, seja um gênio precoce catapultado da plebe mais anônima para o mais súbito e cintilante estrelato. Quem está preparado para tanto em tão pouco tempo? Maradona não foi o primeiro e nem será o último. E, vejam: estou falando de Maradona. É humanamente compreensível sucumbir à combinação “juventude & contrato milionário” que agracia alguns raríssimos talentos da bola. Bravamente, ele conseguiu chegar onde muita gente não acreditava que conseguiria: sobreviver. Enfim, é possível haver quem ache que ser Don Diego é fácil?
A questão é que Maradona soube como erigir a sua imagem em oposição a de Pelé. Para melhor construí-la, era melhor, no mínimo, desconstruir a do rival –quando não tentar destruí-la. Os golpes, não raro, foram baixos. Sabedor de antemão da inegável simpatia que a manobra surtiria, procurou se colocar na contramão da trajetória de um jogador que ele próprio definiu como o único em condições de disputar com ele a posição de maior de todos. Os citados Leônidas e Zizinho, mais o seu conterrâneo Di Stefano, e Garrincha, Puskas, Cruyff, Beckenbauer, Zico e outros, automaticamente, foram rebaixados a um outro plano de importância.
Indiretamente, a culpa é de Pelé. Mais poderoso que o seu marketing é o seu anti-marketing. Especialmente quando manipulado pelo seu maior interessado. Muito embora involuntariamente Pelé o promova, invariavelmente alheio da impopularidade de alguns dos seus gestos e falas. Paradoxalmente, “Pelé émarketing” é outra sentença regularmente alardeada no Brasil. Quem a profere costuma exibir uma expressão mais convicta que a de qualquer herói pátrio numa cédula. Isso, como se Maradona também, de outro modo, não se pusesse “à venda” na sua auto-projeção de rebeldia. O craque argentino soube quando e como se postar ao lado de Hugo Chávez no palanque do IV Cumbre de Las Américas, em Mar del Plata, em 2005. Ou como agradecer a medicina cubana por tê-lo salvo da morte, tatuando Fidel e Che. De resto, há quem diga que um idoso Pelé não convence nem mesmo como garoto-propaganda de remédio contra a impotência.
Maradona travestido de Che Guevara
A resistência política em campo e fora dele produziu exemplos de maior envergadura e que não dão margem à suspeita. Falo de jogadores que pagaram o seu respectivo preço pelas atitudes que tomaram conscientemente no auge das suas carreiras, quando tinham muito a perder. Cada um a seu modo, e fazendo jus à escalação no time da dissidência, souberam dar mais e melhor o seu recado: Afonsinho, Paulo Cézar Caju, Nei Conceição, Sócrates, Wladimir, Reinaldo, Nando Antunes, Carlos Caszely, Cristiano Lucarelli, Cantona e outros.
O filão anti-Pelé funciona com muita facilidade. É aí que vem a maior curiosidade: patrícios em nada inclinados ao pensamento progressista compram sem hesitar a versão do “argentino revolucionário que não nega as suas raízes” contra o “negro de alma branca que se vendeu ao sistema”. (Por sinal, o uso indiscriminado desta expressão pode ser bem mais racista que o racismo que pretensamente acusa.)
No Brasil, Maradona passa por branco. Quando se trata dele, nosso complexo colonizado é suspenso: – abre-se mão de condenar as suas origens étnicas não europeias para cair no mais raso julgamento moralista sobre o seu comportamento. Para a ideologia do senso comum que, por estas bandas, é uma profissão de fé, a natureza patológica do vício é voluntariamente descartada. Um preconceito é substituído por outro, assim como se saca um jogador que não se encaixa muito bem no esquema para a entrada de um reserva. Nada mais afeito às regras do jogo – em ambos os casos.
Pelé e Maradona encarnam toda sorte de paixões populares, representações coletivas, expectativas sociais. É uma carga imensa sobre dois homens que também têm a sua dimensão de mortalidade. Queiram ou não, são mitos em vida, condição também reservada a alguns poucos humanos, não se pode esquecer. Foram condenados por força da própria genialidade a ocupar a boca de cena desde antes de completar a maioridade. Trataram de corresponder ao papel que se esperava deles na encenação tragicômica que a indústria do espetáculo produz. É uma fatalidade. Sob todos os holofotes, nunca sairão do palco, território da sua glória e solidão.
Ainda no terreno da representação, há Pelé eterno e Maradona by Kusturica. Os dois filmes pecam pelo excesso de reverência. Evidente que obras desse naipe não poderiam fazer a crítica dos retratados quando são eles próprios os seus colaboradores mais interessados. E, fatalmente, seus valiosos garotos-propaganda de contrato assinado. Ambos os documentários os abraçam a ponto de tentar refletir exclusivamente a sua visão de mundo. Certamente, uma condição também previamente firmada por contrato. OK, a isenção, tanto no cinema como na vida, é uma ilusão. Mas seria necessário que os cineastas em questão (Aníbal Massaini Neto e Emir Kusturica) tomassem um pouco do seu próprio partido. Ou seja, assumissem uma maior liberdade criativa, engajamento primeiro do artista, ao que ainda me consta. Mas talvez seja ingênuo esperar esse mínimo de projetos dessa natureza. (Para não dizer que não falei das flores: o mérito do primeiro é a pesquisa documental e, do segundo, o seu – embora óbvio – senso crítico.)
Para concluir, reafirmo que entre um fazer publicidade de estimulante sexual e o outro posar ao lado de Chávez mandando a ALCA “ao carajo”, não há assim tanta diferença. Envolver-se a sério nessa discussão extra-futebolística acaba, ao final, reduzindo-se a usufruir da “liberdade” reservada ao consumidor diante de uma concorrida prateleira. Ou você compra uma fantasia empacotada de juventude eterna, ou uma militância pouco confiável numa causa nobre. Aos que insistem na polêmica, resta o critério de decidir qual a propaganda menos enganosa. Creio ser bem mais recomendável que suspendam a polêmica e se atenham à bola. Com ela nos pés, ambos só ludibriavam os adversários. Assim, como gênios criadores que foram, ressignificaram a palavra “mito”.
Escrevi o que vai acima com a mesma serenidade que me inspira o tema desde muito cedo na minha relação com o futebol e o mundo onde ele se situa. Já sei que, caso me leiam, serei contestado por muitos logo de saída. Insisto: na grande maioria dos casos, será ainda a decrépita “democracia racial” a ditar essa reação.
É curioso. Numa nação vocacionada para o Barroco como o Brasil, defender o retrógrado Pelé pode ser uma tarefa libertária.
SOS JARAGUÁ
por Marcelo Rodrigues
Estive há dez dias em Jaraguá, assistindo a final do catarinense contra Joinville.
Conversei muito com o Cristiano (um dos do donos da CSM) e vi sua luta em busca de parceiros para manter a equipe.
Soube hoje que a diretoria liberou atletas e CT para negociarem com outros clubes.
É de uma tristeza avassaladora saber que uma equipe com a tradição conquistada por Jaraguá no Futsal possa terminar porque os bilionários ou milionários ou ainda os ricos empresários ou micro empresários não querem cooperar com a CSM em busca de acerto no patrocínio do time.
Ajudei Cristiano a buscar apoio por meio de Incentivo Fiscal dentro dos projetos do Ministério do Esporte (assunto que domino). Mas as empresas procuradas parecem não ter interesse. Liguei para Brasília em busca de auxílio técnico e mostraram-se aptos a nos orientar.
Óbvio que ninguém sabe pra onde o país vai nessa crise absurda. Todavia há soluções como as leis de incentivo que podem, e muito, ajudar, pois as empresas já pagam ou já tem os impostos comprometidos. Portanto me parece que não entendem bem o que representa o Futsal hoje em termos de visibilidade.
O Futsal hoje tem audiências astronômicas trazendo um retorno midiático avassalador para as empresas que o patrocinam. Por que será que Carlos Barbosa e Orlândia mantém seu times?
Tramontina e Intelli sabem o retorno. Entendem a crise mas estão lá.
O que não pode é fechar os olhos para o clamor popular. O povo de Jaraguá vem juntando grana pra pagar e manter o time.
Não sei nem como faz, mas vou participar.
Aplausos para o Cristiano que lutou sozinho para que a equipe se mantivesse, e continua lutando para que se mantenha.
Espero que os muitos empresários (muitos mesmo) entendam que Liga Nacional de Futsal é a competição mais difícil da modalidade no mundo. Vencer não é só ficar com o título. Difícil dizer isso para o dono da empresa ou para o diretor financeiro. Mas o diretor de marketing buscará os meios pra convencer.
Caro é o que não dá lucro e se fizerem a conta de publicidade indireta, podem ter certeza de ter tido uma das maiores visibilidades do mercado.
Desculpas mil eu já ouvi. Só não ouvi ainda a solidariedade ao povo que clama pela manutenção da equipe.
Contem comigo e espero que a situação se reverta.
Eu estou junto nessa luta.
É Futsal na veia!
A PELADA COMO ELA NÃO É
por Pedro Redig, de Londres
Memórias de um brasileiro no reino da bola
Pelada na Inglaterra? Nem na cama! O país que inventou o futebol é também famoso pela frase “No sex please, we are English.” Mas a vida dos boleiros de plantão daqui tem muito pouco a ver com o que nós chamamos de pelada.
A primeira grande diferença: com o terreno pesado por conta do mau tempo, a maioria dos craques amadores joga de chuteira. Com a chuva e o frio, aquele churrasco de congraçamento regado a muito bom humor também não existe.
Numa coisa os ingleses talvez superem os brasileiros: a cervejinha depois do apito final, consumida em copos de mais de meio litro chamados de ‘pints’ – medida imperial antiga que equivale a exatamente 568 mililitros.
Se o Brasil tem mais de 8 mil quilômetros de litoral para bater uma bola, uma cidade como Londres tem centenas de parques. Enquanto a gente joga na areia, terra, cimento e campos artificiais, o que não falta por aqui são gramados naturais, verdinhos – ideais para a prática do velho esporte bretão.
Nos fins de semana, espaços como o Regents Park e Battersea Park no centro de Londres estão sempre cheios de gente que gosta de correr atrás da bola. Muitos destes jogos são para valer e fazem parte de milhares de ligas que existem na Inglaterra.
Com uma presença enorme de estrangeiros, é muito comum ver times formados por gente que veio do mesmo país. No Battersea Park, existe um campeonato exclusivo de latinos: colombianos contra equatorianos, bolivianos contra peruanos, chilenos contra brasileiros e por aí vai.
Em Cherry Tree Woods, o parque que fica em frente à minha casa, o que atrai mais a galera é o futebol em que adultos se misturam com crianças. Pais e filhos, tios, cunhados e primos, suando a camisa num ambiente descontraído e leal.
A pelada em família obedece a requisitos de organização de fazer inveja aos brasileiros. Cones marcam as laterais e bandeirolas de verdade assinalam o local para os escanteios. As traves muitas vezes são feitas de pedaços de cano de plástico enterrados na grama molhada pelo tempo inclemente.
Uma alternativa à tradicional pelada são as partidas disputadas em centros que alugam campos de grama sintética. Um dos maiores é a chamada Power League. A turma divide o dinheiro e aluga o campo por meia ou uma hora no máximo. Um destes espaços funciona, inclusive, do lado de fora do famoso estádio de Wembley.
Outro ritual exclusivamente inglês são as chamadas Sunday Leagues – campeonatos disputados aos domingos, organizados com promoção e rebaixamento por centenas de ligas ligadas aos diversos bairros da capital inglesa.
Quando eu cheguei na Inglaterra em 1986, aderi ao clube da vizinhança chamado Highgate Albion. Vi um anúncio num pub e me entreguei de corpo e alma à causa deste novo time de coração. Foram cinco anos de uma carreira amadora que acabou com uma contusão de profissional: ruptura do ligamento cruzado do joelho esquerdo aos 38 anos, num jogo no oeste de Londres contra uma turma de asiáticos excessivamente empolgados.
Em todas estas ligas, cada partida tem súmula, juiz, bandeirinha, impedimento, linha burra e jogadores nem tão inteligentes. Mas vale a pena. Eu acordava as 7 da matina para nadar e ficar alerta e esperto para a hora do jogo as 11 horas. Era comum pisar os gramados cobertos de gelo com minha chuteira Puma King – um presente do Pelé para o saudoso Armando Nogueira que o filho dele e meu grande amigo Manduka doou para mim.
Cada um destes ‘clubes’ tem vários times, inclusive veteranos. Mas inglês nao é que nem brasileiro que vai envelhecendo na vida jogando sempre com os mesmos amigos – até muitas vezes depois dos 60 anos. A carreira média de um boleiro aqui resiste no máximo até os 50.
Meu futebolzinho modesto de lateral direito ou esquerdo não era lá grandes coisas mas contribui muito para o time. Numa viagem ao Brasil, consegui um jogo de camisas e chamei vários brasileiros que tinham atuado em divisões de bases – até no Santos – para fazer parte do time.
Esta história irreverente do futebol puramente amador não podia acabar sem uma lembrança do que foi a experiência de levar meu filho para uma escolinha inspirada no jeito de jogar brasileiro.
De uniforme azul e amarelo feito a nossa combalida Seleção, ele suava a camisa todo fim de semana num liga mirim do conhecido bairro de Camden Town. O Luca era naquela época um menino esforçado. Mas não conseguiu aturar as constantes mudanças táticas. Às vezes, ele começava jogando, saía no do primeiro tempo, ficava no banco morrendo de frio para voltar no segundo tempo e sair de novo.
Pais neuróticos gritavam à beira do campo e tudo não passava no fundo de uma grande paranóia. Nada de diversão ou deixar os garotos livres para se expressar ou improvisar do que jeito que bem entendessem. Os adultosreplicavam nas crianças o mesmo clima tenso que existe numa partida entre profissionais.
É claro que depois de uns três anos, o meu filho abandonou o time que tentava jogar inspirado no modelo do Brasil mas não chegava nem perto. Hoje com 20 anos, ele ainda disputa uns ‘rachas’ com os amigos ingleses no campo de uma escola que eles usam no fim de semana.
Para este botafoguense de fé, o prazer do futebol continua com a torcida pelo meu clube adotivo Tottenham Hotspur. Em 30 anos na Inglattera, posso concluir que a vida aqui teve dois tempos: o primeiro quando era feliz jogando bola. Neste segundo tempo, por conta do joelho bichado, tenho que me contentar em assistir à margem do campo – ou pela televisão.