CONSTELAÇÃO TRICOLOR
texto: Sergio Pugliese | foto: Guilherme Careca Meireles | vídeo: Rodrigo Cabral
No início do ano, o clube Costa Brava, em São Conrado, foi invadido por uma constelação tricolor. Mais uma obra da dupla Carlos Perez e Helso Teia, que adora reunir os amigos para relembrar os bons tempos!!! Foi o Terceiro Encontro de ex-Atletas do Fluminense e a casa ficou cheia!!! A equipe do Museu apareceu por lá e aproveitou para bater um papo com três de nossos ídolos, Arturzinho, Rubens Galaxe e Paulo Goulart. Matem a saudade!!!!
Paulinho da Viola
FOI UMA BOLA QUE PASSOU EM MINHA VIDA
texto: Sergio Pugliese | foto: Marcelo Tabach | vídeo: Daniel Perpétuo
Quando ele abriu a porta “Tudo se transformou”!!! Impossível descrever a emoção de estar frente a frente com Paulinho da Viola. Talvez tenha sido a mesma vivida por ele ao abrir a porta do camarim do Teatro Clara Nunes, após um show, e dar de cara com Ademir Menezes, o Queixada, lendário centroavante do Vasco, dos anos 50. Olhos arregalados, boquiaberto, só conseguiu balbuciar: “você foi meu botão”. Tímido, não consegui “Jurar com lágrimas” que ainda tenho alguns vinis seus. E tenho mesmo, inclusive o meu preferido: “Foi um rio que passou em minha vida”. Embalou minha adolescência!!! Além da faixa título, ouvia repetidamente “Meu Pecado”. Cá entre nós, meu pecado foi não ter levado o disco para ser autografado. Mas “Para não contrariar você”, afinal “Não quero você assim”, vou parar com essa “Lamentação”, esse “Papo Furado” porque “Estou Marcado” é para falar sobre pelada, “Nada de novo”. Agora que já consegui a gracinha de citar todas as músicas desse discaço, verdadeira obra-prima, posso iniciar a coluna! Ah, faltou “Mesmo sem alegria”? Esquece!!! No Museu da Pelada não tem espaço para tristeza e, seguindo essa filosofia, o mestre Paulinho gargalhou ao lembrar-se do dia em que foi capturado pela polícia e ficou rodando na rádio-patrulha em busca da bola de borracha, uma preciosidade, que vivia quebrando as vidraças das casas da Pinheiro Guimarães, em Botafogo.
– Mas nesse dia a bola entrou na pensão da Dona Laura, que chamou a polícia. O filho dela, o Ivan, jogava conosco – recordou.
A regra entre os amiguinhos era claríssima, jamais revelar o esconderijo da redonda porque quando os “hômis” a capturavam metiam a faca, impiedosamente, e ainda alertavam que lugar de futebol era no Maracanã. Nesse dia, Paulinho rodou no banco de trás da patrulhinha por algumas ruas de Botafogo, tremendo constrangimento, mas não entregou os pontos, no caso a bola. Sem dúvida, sua primeira demonstração de fidelidade e amor à bola, uma relação que nunca estremeceu e até hoje mantém-se acesa. Mas se fosse necessário discutir a relação as resenhas estavam ali para curar qualquer mimimi. Aprendeu a receita com o paizão, o violonista Benedito César Ramos de Faria, o meio-campo Bené, do Amigos Praia Clube, timaço da Praia do Leme, que saía das partidas direto para a Cervejaria Alpino.
– As balizas, que naquela época não eram fixas, ficavam guardadas no subsolo do Alpino – contou.
Daquele tempo, menino, lembra-se do folclórico Baiano, que certa vez salvou uma pelada de forma inusitada. Nenhum jogador teve coragem de retirar do centro do campo um alguidá, pote de barro usado para guardar oferendas, e iniciaram a partida com ele ali mesmo. Mas Baiano chegou, pediu licença aos orixás, resgatou o pote com bebidas, rosa e farofa e aproveitou as ondas para presentear Iemanjá. Bons tempos!!! Sorriso manso, recordou-se de Álvaro, Alemão, Mineiro, o zagueiro que vangloriava-se por distribuir pancadas, Gui, Galinho, Lulu e Zezinho. Aos poucos, Paulinho conquistou uma vaguinha no meio-campo.
“Não era um Paulo Henrique Ganso, mas não fazia feio.”
– Não era um Paulo Henrique Ganso, mas não fazia feio – avaliou-se.
No Amigos Praia Clube ninguém ficava de fora e 20 jogadores para cada lado era habitual. Mesmo assim a divisão era sempre equilibrada. Mas ele lembra-se bem de passar partidas inteiras sem praticamente tocar na bola. Após a ressaca a areia sumia. Tinha um árbitro, mas o nome não veio. Era sempre sábado, às 16h. Ah, tinha os filhos de Gustavo, os gêmeos Arroz e Feijão. Nunca jogavam juntos! O goleiro Gavilan não saía bem nos cruzamentos e, certa vez, num treino, Paulinho aproveitou-se dessa limitação para guardar o seu, de cabeça. Prazer, Paulinho!!! Como numa sessão de regressão, olhos fechados, Paulinho tirou do baú as caminhadas com pai, pela areia, do Posto 6 ao Forte de Copacabana. Inesquecíveis, acolchoadas num cantinho do coração. Poeta, sensível, lembrou-se de Baiano, quase cego, acompanhando as partidas sentadinho na mureta.
– Ia lá para ouvir a pelada, queria estar junto.
Também jogou no Walmap, time do Banco Nacional, e no Xulé, com Nei Murce, o ex-botafoguense Neivaldo, João Araújo, na época presidente da Som Livre, e Dininho, baixista que até hoje o acompanha nos shows. Os jogos eram no campo da Cedae, em São Cristóvão. Era sempre convocado pelo produtor musical Armando Pittigliani para atuar pelo time dos cantores e, certa vez, jogou no Maracanã contra os artistas. Sérgio Chapelin no gol adversário. “Divisão desigual”, alegou: 11 x 1 para eles. Mas orgulha-se de, jogando pela Portela, ter arrancado um empate com a Mangueira, no campo inimigo. Mas tinha Waltelino, Marcílio, Walmir, Anísio, Vandeco, Luiz da Bolinha, Vandeco, Nani e Janmbelê, filho da Vicentina. Lamenta a escassez de campos de pelada e citou alguns de seus preferidos, todos no subúrbio: Rio-São Paulo, Sete de Setembro, Brasil Novo, Nova América, Diana, Monte Castelo, Corações Unidos e Atlético.
“Por que o fotógrafo está tão inquieto?”
– Por que o fotógrafo está tão inquieto? – perguntou Paulinho.
Era Marcelo Tabach circulando pelo jardim da casa do cantor, no Itanhangá. Viajava, imaginava “a” foto quando deparou-se com uma cadeira de balanço na varanda. Pensou em homenagear Walter Firmo, que clicou Pixinginha estirado numa cadeira igual, com seu saxofone dourado. Pixinguinha tocou muito com o pai de Paulinho, tudo a ver!!! Negociação daqui, argumentação dali, Paulinho topou. Sem relógio, chinelos, abraçado com a bola, Paulinho mergulhou no túnel do tempo e na ideia de Tabach. Tabelinha perfeita! De repente, Paulinho lembrou-se de seu time de botão feito por ele mesmo, com casca de coco. Só restara um craque, Eli do Amparo, do Vasco de 50. “Vou pegá-lo!”, disse, enquanto levantava-se da cadeira, saía de cena e corria para o quarto em busca do brinquedo preferido.
Hugo Aloy
heróis do capri
texto: Sergio Pugliese | foto: Marcelo Tabach | vídeo: Guillermo Planel
O ditado policial ensina que o criminoso sempre volta ao local do crime. Nos campos do Aterro do Flamengo, o matador Hugo Aloy liquidou vários adversários, traumatizou alguns, humilhou outros, mas, no apito final, o juiz, hipnotizado por sua arte, sempre o absolvia, o livrava de qualquer pena e, em muitos casos, as próprias vítimas transformavam-se em testemunhas de defesa. “O Hugo era mágico!”, atestou Luisinho, do Embalo do Catete, tradicional rival do Capri, de Santa Teresa, o primeiro campeão do Torneio de Peladas do Aterro, promovido pelo Jornal dos Sports, em 1966. Convidado pelo fotógrafo Marcelo Tabach, do Museu da Pelada, para reviver os dias de glória, em seu templo sagrado, o camisa 10 do Capri engoliu a emoção e topou. Uniformizado! E concluímos que no caso de Hugo, ídolo incontestável, lendário boleiro, mocinho da história, o provérbio mais adequado para aquele singelo momento seria “o bom filho a casa torna”.
– Foto em grama de plástico não tem graça – descartou Hugo.
É verdade, muita coisa mudou de 1966 para cá. A terra batida minguou e no Aterro do Flamengo a grama sintética reina, soberana. Mas um campinho, nos fundos do parque, descoberto por Tabach, ainda mantém o empoeirado charme. Ali, Hugo Aloy, 77 anos, recordou o título histórico. Nasci em Santa Teresa, três anos antes dessa conquista. Aos 33 anos, mudei de ares mas volta e meia dou um pulo lá para matar a saudade do Bar do Arnaudo e dos amigos figuraças Guará e Wilsinho, companheiros do Vamos Nessa, nosso inesquecível time. Era uma seleção! Tinha Marco Antônio, Lilo, Robalo, Siri, Tutuca, meu irmão Bruno e os saudosos Vitinho e Adãozinho. Isso eu vivi e posso afirmar, mas cresci ouvindo histórias sobre os heróis do Capri. Adolescente, participei desse torneio e entendi que vencer ali não era para qualquer um: quase 2 mil times inscritos, sistema mata-mata, empates decididos nos pênaltis, milhares de torcedores e só timaço, muitos reforçados por ex-jogadores profissionais.
– O Capri era 100% amador!! – recordou, orgulhoso, Hugo Aloy, craque ainda em atividade.
Hugo Aloy é um grande amigo e tenho o prazer de assisti-lo, aos sábados, 15h, no campo do INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos), em Laranjeiras. Há 34 anos, sua perna direita não dobra por conta de uma violenta artrose. Na época, os médicos recomendaram trocar o futebol pelo ping-pong. Saiu da consulta, enterrou os remédios na areia da Praia do Arpoador, falou para a mulher que estava ótimo e foi jogar bola.
– Conta sobre a conquista – sugeriu Tabach.
Hugo era o maestro do time, mas Arthur, o camisa 10, emplacou três na estreia contra o Help, da Praça da Bandeira, na goleada de 8 a 0. Foi o artilheiro, com 14. No segundo jogo, Capri 4 a 1 no Silveira Martins e Arthur guardou mais dois.
– Ele tinha cheiro de gol – elogiou.
Mas o centroavante Xanduca, 73 anos, também foi peça decisiva no título e marcou dois gols no Gemini VIII, de Copacabana, terceira partida.
E o quarto jogo? Flávio emplacou três contra o Pombinhos, de Laranjeiras. Que saudade do Flávio! Pena ter ido para o vestiário mais cedo, assim como Gabriel e o incontestável líder Salvador. O oportunista Xanduca deixou mais três na quinta vitória, essa de 4 a 0, no Instituto de Pesquisas da Marinha. O time jogava por música e aos poucos foi despertando a atenção e conquistando mais torcedores. No sexto embate, final da chave, no campo 4, Hugo chegou atrasado porque precisou levar mulher e filhos na casa dos sogros. Furioso, entrou no lugar de Nilo quando estava 0 a 0 e marcou três nos 6 a 0 contra o Cobras do Leblon. Alguém precisava pagar o pato! No jogo seguinte, mais unzinho nos 3 a 2 em cima do Unidos do Aterro. Hora da semifinal contra a Associação Cultural e Recreativa do Amazonas! O Capri perdia por 2 a 1 e faltando cinco minutos a torcida se retirou, arrasada. Mas no último minuto, o inesperado. Hugo bateu o escanteio na cabeça de Rabelo. Golaço!!! Nos pênaltis, Arthur converteu os três e a muralha Augusto defendeu um.
– Santa Teresa desabou quando soube que estávamos na final!!! – lembrou ele.
E que final! O Alvarinho, de Botafogo, era um timaço! Mas a rapaziada do Capri estava mais unida do que nunca! O adversário fez 2 a 0. Reverter o placar era uma missão praticamente impossível, mas não para eles. Numa bola cruzada, Xanduca subiu entre os zagueiros e cabeceou para descontar. Jaú, o zagueirão, segurava a pressão, Hugo, Tony e Reynaldo jogaram demais e o presidente do Capri, Leopoldo Rodrigues, tremia sem parar. A torcida empurrava o time e numa confusão na área a bola bateu, por acaso, no calcanhar de Xanduca e entrou. Explosão geral! Nos pênaltis, Arthur fez todos nas duas séries de três e o time de Santa Teresa sagrou-se o primeiro campeão do Aterro. Teve desfile em carro aberto, foguetório e cervejada no Armazém do Seu Gegório até anoitecer.
– Fica perto da baliza – pediu Tabach.
No fim da sessão de fotos, Hugo, emocionado, cruzou o parque e, olhos fechados, ainda ouvia os gritos de “é campeão”.
O SAMBA DA NAÇÃO
texto: André Mendonça | vídeo: Rodrigo Cabral
Na última terça-feira, a equipe do Museu tirou onda!!!! Fomos convidados pelo craque Adílio, o camisa 8 da Nação, para acompanhar, com exclusividade, a gravação do samba de estreia do bloco Fla Máster, num estúdio da Rua Teodoro da Silva, em Vila Isabel. Isso mesmo, o time formado por grandes estrelas do passado virou bloco!!!! E Adílio, agora, além do time, também preside o grupo de foliões!!! E uma equipe, com Zico, Adílio, Andrade, Julio César Uri Geller e Nunes, que já fez tanto adversário “dançar”, sonhava em presentear o carinho da torcida durante todos esses anos de glória. O Fla Máster selou esse pacto com a felicidade, agora fora dos estádios. Sendo assim, Adílio convocou os bambas Fred Camacho, Francisco Aquino e Dudu Nobre, que compuseram a belíssima canção “Delírio da Nação”, que vai tirar do chão a massa rubro-negra. E se nossa equipe já estava vibrando de felicidade no estúdio, eu, André Mendonça, sambista nato, precisei conter minha conhecida marra quando me vi, numa resenha, para escolher o título da música. Vale destacar que Camacho e Aquino, em parceria com Marcelo Motta, que também participou da gravação, em Vila Isabel, ganharam o samba do Salgueiro deste ano, com outros três compositores, e ainda concorrem ao prêmio “Serpentina de Ouro”, do Jornal O Globo, na categoria melhor samba. Além de Camacho, Aquino e Marcelo, a animada gravação ainda contou com Vinícius Vian e as vozes femininas de Ângela Sol e Deborah Vasconcellos. O desfile do Fla Máster acontece amanhã, dia 30, às 14h, em frente à Barraca do Lelê, no Posto 5, Barra da Tijuca, e reunirá grandes craques do passado! Se você for rubro-negro…
……………
Delírio da Nação
O grito da arquibancada é campeão;
Explode a alegria da massa, que emoção;
Vestindo vermelho e preto;
O manto sagrado em meu peito;
Flamengo eterno no meu coração;
Se você for rubro-negro;
Vem pra cá;
Tengo, tengo sou Flamengo;
O Fla Máster vai passar;
Um punhado de estrelas;
Na história do Mengão;
Rola bola, rola samba;
Pra delírio da Nação.
A PELADA NO SERTÃO
texto: José Evandro de Sousa | fotos: Adriana Soares
de Barra de São Miguel, Paraíba
Caco Velho F.C.
O Esporte Clube São Miguel, time de pelada da pequena cidade de Barra de São Miguel, sertão da Paraíba, a 200 km da capital João Pessoa, resiste ao tempo reinventando-se. Fundado em dezembro de 1966, foi rebatizado em 1972, para Bangu Atlético Clube e agora, ah o tempo… virou Caco Velho F.C.
Passou a ser Bangu quando um dos seus jogadores, o Luís de Biino, foi tentar a vida no Rio de Janeiro, mas voltou após um ano, sufocado pela saudade. Antes, porém, teve a ideia de levar um uniforme novo para o seu time. Passando pela Rua da Alfândega, no centro do Rio de Janeiro, entrou numa loja de material esportivo e o único uniforme que encontrou foi o do Bangu. Gostou e a partir daquele momento o time foi rebatizado.
O craque veterano Luís de Biino, primeiro patrocinador do time paraibano
O Bangu carrega em sua história a essência do peladeiro que nunca desiste, mesmo com o tempo castigando as juntas e rótulas da rapaziada. Conhecido por Ferreirão, o campo era de terra e cercado, de um lado por avelós (planta nativa do sertão) e do outro por uma vista panorâmica da cidade. Ao fundo, a parede do Cemitério Municipal São Miguel Arcanjo. O piso era de terra fofa nas laterais e duro e cheio de cascalhos no meio. O vento sempre prejudicava os adversários. O Bangu era praticamente imbatível, afinal os rivais, além de enfrentá-los, também precisavam desviar-se de cabritos, jumentos e, ora e outra, de um galo de briga, que se sentia o dono do terreiro e atravessa calmamente o largo campo de terra. Padeiro e ponta-direita mais rápido da região, o baixinho Tarugo, além de fugir da violência dos zagueiros, também livrava-se com maestria dos animais. O também veloz Silvio, atacante habilidoso, certa vez ao passar por dois adversários, já próximo ao gol, precisou colocar a bola entre as pernas de um cabrito que surgiu à sua frente e pular por cima dele antes de marcar um gol apoteótico. No time também tinha Preáera, o goleiro de 1,70 que compensava a baixa estatura com agilidade e elasticidade, dando jus ao apelido, pois preá é um rato do mato muito rápido. O jovem atacante Bichinha, que não tinha medo de cara feia, chegou a atuar por alguns clubes da Paraíba, mas resolveu casar e abriu uma fábrica de confecção de calcinha. Xanga Confusão era um meia-atacante que adorava um bate bola, quer dizer bate-boca. Quando não arrumava briga com o adversário, criava confusão com os próprios companheiros. Jogar que era bom…. Cacau, atacante que garante ser o primeiro jogador gay assumido do Bangu, foi contratado pelo Treze, de Campina Grande, e hoje é casado com uma mulher e tem um filho. Tataí, lateral-direito, estilo iôiô, sobe e desce, era muito voluntarioso. Assis era um zagueiro alto, estiloso, que quando a situação apertava, resolvia com o famoso “bola pro mato”. Centroavante, Paulo era aquele peladeiro duro, ruim de cintura, guerreiro, sempre titular e irmão do presidente. Está explicado!
Robgol. Ex-Santos, Náutico e Paysandu
O Bangu orgulha-se por ter revelado Robgol (artilheiro do Náutico, Santos e Paysandu), cria mais famosa e ilustre do time e da cidade. Hoje, aposentado da bola, divide seu tempo entre Belém, onde mora, e Barra de São Miguel, onde tem os seus familiares e os amigos do glorioso Bangu.
Ah, tinha o presidente!!! Na verdade, diretor, treinador, jogador, dono do uniforme e da bola: Baieta, que apesar de seus 95 quilos, ai daquele que não tocasse a bola para ele. Com certeza, na próxima reunião de diretoria, na mesa principal do bar central, lugar de concentração na véspera dos jogos, o “cabra” correria o risco de não ser escalado para a próxima partida.
Me lembro quando tinha 16 anos, estava de férias e fui convidado para jogar pelo Bangu contra uma equipe rival, em uma cidade vizinha chamada Gravatá. Jogo fora para peladeiro é sinal de festa. Contrataram um caminhão e os jogadores iam na carroceria, juntos com torcedores e parentes, quase 50 pessoas!!! E lá ia o caminhão cruzando as estradas de terra do sertão árido da Paraíba. Só alegria!!! Quando chegamos lá me colocaram na reserva do time principal e avisaram que eu entraria no segundo tempo. Durante o jogo observei um jogador do time adversário conhecido por Pedro Pipoco, muito violento! Quando a bola passava, o jogador ficava. Ele tinha essa “habilidade” de desfazer uma jogada, mas também tinha um canhão no pé! Entrei no jogo e logo o Pedro Pipoco me deu um tapão na orelha e fiquei com medo. Então, durante a partida em que o Bangu ganhava por 1 x 0 do Gravatá, aconteceu uma falta quase em cima da linha de cal da grande área. Pedro Pipoco pegou a bola, ajeitou com carinho, tomou distância de pelo menos uns 10 metros e a torcida começou a gritar. Parecia um gladiador prestes a abater o adversário. Pedro Pipoco correu, disparou um balaço e a bola passou por cima da barreira, do muro e acertou em cheio um torcedor que assistia a peleja em cima de um cajueiro, atrás do gol. Com o impacto da bolada, ele caiu e levou outros três torcedores junto. A partir daí, entendi porque Pedro Pipoco era temido pelos adversários e respeitado pela torcida. Ganhamos o jogo, festa na volta e o presidente prometeu bicho pela vitória. Chegando à cidade, após aquela tarde esportiva, ainda sujo de terra, pois não havia lugar para trocar de roupa nem para tomar banho, o presidente liberou cerveja, cachaça e galinha cozida.
Jogo em casa era pressão total e dificilmente o Bangu perdia, pois quando o presidente estava, costumava pressionar os bandeirinhas. Em jogos mais tranquilos, entrava para emplacar seus golzinhos, afinal de contas a camisa 9 era dele!!!
Hoje, uma nova geração brota. Com a saúde debilitada, Baieta, o presidente, passou o bastão para seu filho, Pão. Sua neta, Alice, de 12 anos, também tem futuro e vive dizendo: “prefiro uma bola do que uma boneca”.
Alice, Pão e Baieta
Assim, o tempo passou. Hoje, o velho Ferreirão é cercado com alambrado, uma barreira contra os cabritos. Alguns atletas como Dedé, marrento e habilidoso, estão nas cadeiras cativas do velho cemitério municipal, ao lado do antigo campo. Agora, nasce o Caco Velho F.C., com jogadores do antigo Bangu, aposentados, atrofiados, mancos, com tendinites crônicas, artroses, etílicos, mas vivos. Uma vez peladeiro, sempre peladeiro!