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BEM-VINDO ROBERTO ASSAF!!!!

O Museu da Pelada tem o orgulho de comunicar a chegada de seu mais novo colaborador, que semanalmente nos brindará com alguma história exclusiva!!!! Roberto Assaf é um jornalista e pesquisador preocupado em preservar a memória do futebol, autor de 15 livros e do site www.robertoassaf.com.br


A pelada é anterior ao futebol

por Roberto Assaf

Não seria exagero afirmar, parafraseando Nélson Rodrigues no “Fla-Flu”, que a pelada começou 40 minutos antes da invenção do próprio futebol. O jogo criado pelos britânicos na segunda metade do século 19 já chegou carregado de regras, dentro e fora do gramado, e de posturas táticas que amarravam a imaginação, pessoal e coletiva. A pelada, nem tanto. Afinal, a popularidade de que goza hoje o velho esporte bretão em todo o planeta é fruto da improvisação que o bate-bola dos campinhos improvisados ofereceu. Pois é.

Num dia iluminado, o ser humano descobriu que uma esfera, dois pedaços de pau de qualquer tamanho, e um pequeno terreno livre, não importa o piso, bastavam para a festa rolar. Detalhe: sem equipamentos luxuosos e inacessíveis, e o mais importante, sem que fosse necessário gastar um mísero tostão para a sua prática.

Foi só então que os habitantes do Reino Unido resolveram sofisticá-lo, organizando a bagunça a partir do surgimento dos clubes que representavam bairros e cidades, colônias estrangeiras, escolas, fábricas e sindicatos, e até grupos políticos e religiosos, emprestando-lhe ainda o seu eterno caráter de pátria de chuteiras, principalmente nos países subdesenvolvidos, que costumam transformá-lo, quando vitorioso, em orgulho nacional.

Outro presente que a pelada deu ao futebol foi a sua conservadora imprevisibilidade, raríssima mesmo, quase invisível em outros esportes. Reza a lenda que um time formado por meninos descalços, sem muita técnica, derrotou em algum lugar perdido no tempo e no espaço, uma rapaziada de maior experiência e habilidade, naquele que foi o primeiro racha da história. Ninguém sabe o placar. Tanto faz. Do peladeiro de agora surge o craque de amanhã.

Hoje e todos os dias, ao redor do mundo, e quiçá em outros planetas, milhões de pessoas são mordidas pela chamada mosquinha do futebol. Ninguém consegue enxergá-la, pois ela chega sorrateira, faz o serviço e desaparece sem ser notada. O efeito é imediato. Ato contínuo, a vítima invariavelmente se entrega a essa loucura saudável e carregada de emoções, cujo fascínio ninguém conseguiu esclarecer com perfeição nos últimos 150 anos.

Há quem diga até que o futebol é capaz de estimular paixões ainda mais arrebatadoras que o amor, na sua essência, entre seres humanos. Absurdo? Vá a um estádio sem compromisso e observe com cuidado e neutralidade o comportamento insano das criaturas a seu lado. No entanto, saiba também que o futebol – na várzea ou longe dela – não alimenta apenas fanáticos desprovidos de reflexão ou bom senso, mas igualmente milhões de seres racionais, dotados de juízo e razão, que preferem apreciá-lo como se faz diante de qualquer manifestação de arte.

Alguns ignorantes dizem que é o ópio do povo. Exagero. Pois, na prática, o jogo ainda se presta como agente social, afastando milhões dos caminhos tortuosos que a vida às vezes quer impor, e mais, é capaz de aproximar a convivência entre gente de todas as raças, credos, ideologias e atividades.

Concluindo, e seguindo o raciocínio abordado no começo destas bem traçadas linhas, chamar uma partida de pelada é sobretudo um saudável elogio. Afinal, como se vê, essa sagrada atividade do cotidiano é que deu efetivamente vida ao futebol. E assim continuará sendo, até que a morte, nesse caso absolutamente improvável, os separe. Amém.

Mendonça

O ídolo sem títulos

texto: Maurício Fonseca | ensaio fotográfico: Nana Moraes | Making off e vídeo: Daniel Perpétuo

 

Entre 1968 e 1989 a torcida do Botafogo teve poucas alegrias. Sem títulos para comemorar, vivia momentos esporádicos de euforia. Um deles, para muitos o maior daqueles 21 anos, foi a vitória de 3 a 1 sobre o Flamengo, pelas quartas de finais do Campeonato Brasileiro de 1981. Não pela vitória e muito menos por ter eliminado o então campeão do mundo, mas sim pela forma como o Botafogo venceu e se classificou para as semifinais da competição. Para ser mais claro, o jogo se tornou especial para o torcedor do Botafogo, por causa do terceiro gol, feito por Mendonça, já no fim do jogo. Único craque do time, o meia deu um drible espetacular em Júnior, antes de tocar com  categoria na saída de Raul. O drible foi tão espetacular, que acabou batizado de “Baila Comigo”.

Quem nunca viu pode conferir no vídeo abaixo, com narração do saudoso Luciano do Valle. Tão sensacional quanto o gol de Mendonça!!! O craque recebeu cruzamento do ponta Edson dentro da área, pelo lado direito da defesa do Flamengo, matou “com nojo” a bola no peito, aplicou o “Baila Comigo” em Júnior e, na saída de Raul, tocou com a categoria dos grandes. No fim daquele ano, escalado para escolher o gol mais bonito do ano, Zico, que participara da partida, pediu perdão ao compadre Júnior e escolheu o de Mendonça. Foi realmente uma pintura. Aos 59 anos, com corpinho de 40, Mendonça ainda tem na memória aquele 18 de abril. Não é para menos. O Flamengo era talvez o melhor time do mundo, com Zico, Júnior, Leandro, Luis Pereira, Adílio, Andrade e Tita. Tentava o bicampeonato brasileiro e era favorito absoluto do confronto. Mendonça estava cansado de perder para eles.

 

 

– Foi um dos dias mais felizes da minha vida. O Maracanã estava lotado, mais de 100 mil pessoas. Não tem como esquecer. Depois do jogo, ainda no estádio, encontrei com a Sandra, minha mulher na época. Todo mundo estava falando do gol e ela, que é rubro-negra, me questionou, indignada : “Precisava disso tudo?” – recordou o ídolo, que fez ainda o primeiro gol da vitória.

Fã de carteirinha daquele time rubro-negro, Mendonça brinca com Júnior, a quem considera um dos maiores craques da sua geração.

– Acho que ele (Júnior) também nunca vai esquecer aquele dia. Tenho certeza que toda vez que deita para dormir ele pensa em mim.


Acho que ele (Júnior) também nunca vai esquecer aquele dia. Tenho certeza que toda vez que deita para dormir ele pensa em mim.

Mendonça atuou pelo Botafogo entre 1975 e 1982. Como o clube nada ganhou neste período, muito torcedor não tem a dimensão do quanto jogou Mendonça. Era um meia clássico, daqueles que fazem tanta falta ao futebol brasileiro hoje em dia. Armava o time e chegava à área para concluir. Era exímio cobrador de faltas. O típico camisa 10, apesar de jogar com a 8.

Filho do ex-jogador Mendonça, zagueiro do Bangu que teve a perna quebrada por Didi, em 1951, e abandonou a carreira, Mendonça chegou ao time principal do Botafogo pelas mãos de Telê Santana. O mestre viu o garoto atuando nos juvenis e não teve dúvidas: o levou para atuar com os profissionais. Foram oito anos direito atuando no meio-campo alvinegro. Não foi campeão, mas tornou-se ídolo. Não por caso, seu retrato está ao lado de monstros sagrados como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Jairzinho, Heleno de Freitas e muitos outros. no lindo painel pintado bem em frente à sede de General Severiano.


Não sei porque a torcida do Botafogo gosta tanto de mim. Nunca dei um título a eles.

– Não sei porque a torcida do Botafogo gosta tanto de mim. Nunca dei um título a eles – indaga o craque.

Mendonça, a resposta é simples: além de craque, você jogava sempre com o coração,  como se fosse um torcedor dentro de campo. Quem viu, não esquece. Dona Luzia, mãe da fotógrafa Nana Moraes, viu e quase teve um treco com a pegadinha da filha, que no intervalo do ensaio para o Museu da Pelada, pediu ao craque para ligar de surpresa para ela, alvinegra roxa. Há alguns meses, nas fotos com PC Caju, Nana havia feito a mesma brincadeira com a mãe. Ao saber que os batimentos cardíacos da fã disparara, o eterno galã da estrela solitária alertou: “Olha o coração!!!”.  

Mas Mendonça não fez fãs apenas no Botafogo. Na verdade, ele rodou o  mundo após deixar General Severiano. Jogou na Portuguesa, Palmeiras e Santos antes de ir para o Qatar. Depois perambulou por times do Brasil – Grêmio, Inter de Limeira, Ponte Preta, Inter de Santa Maria e Fortaleza até encerrar a carreira no Bangu, onde começara no dente de leite. Foram 12 anos de futebol paulista. Nenhum título. Mesmo assim deixou boas lembranças. Está no hall da fama do Santos. Marcou sua presença com o futebol elegante e seus gols de placa. Uma vez fez dois golaços de voleio pelo Palmeiras, um com cada perna. O Fantástico que elegia o gol mais bonito do fim de semana abriu uma exceção e premiou os dois, o que jamais tinha acontecido.


Eu tinha uma jogada com o Éder, que botava a bola onde queria com a canhota. Nos escanteios, ia todo mundo para a área e eu ficava na meia lua. O passe parecia com a mão. Neste dia acertei os dois na veia.

– Eu tinha uma jogada com o Éder, que botava a bola onde queria com a canhota. Nos escanteios, ia todo mundo para a área e eu ficava na meia lua. O passe parecia com a mão. Neste dia acertei  os dois na veia – lembrou.

Além do corpo em forma, Mendonça mantém outra característica da época de jogador. Os óculos escuros. Dificilmente sai de casa sem um, que, não raras vezes, usa na testa. Também mantém o prazer de conviver com o torcedor. Adora ser reconhecido e jamais se furta a tirar uma foto ou dar um autógrafo. 


Quando vejo hoje um jogador desembarcando no aeroporto ou saindo do hotel com aqueles fones no ouvido me dá raiva. (…) eles não sabem o que estão perdendo.

– Quando vejo hoje um jogador desembarcando no aeroporto ou saindo do hotel com aqueles fones no ouvido me dá raiva. Isso afasta o torcedor, que só quer ficar perto do seu ídolo. Faz um bem danado, eles não sabem o que estão perdendo.

Não ficou rico, foi convocado para a seleção poucas vezes e não jogou na Europa. Mesmo assim, Mendonça garante que não se arrepende de nada do que fez, das decisões que tomou ao longo da carreira. Mas não perdoa o destino. Apesar de craque reconhecido e de ter atuado em diversos clubes, jamais foi campeão. Bateu na trave algumas vezes, como em 1986, quando o Palmeiras decidiu o título paulista com o Internacional de Limeira. Os dois jogos da final foram no Morumbi e ainda assim o título não veio.

– O pior foi que quando fui jogar no Inter de Limeira, na hora de assinar o contrato o presidente me mostrou uma taça enorme que tinha na sala. Ele me perguntou se eu sabia que taça era aquela. Disse que não, e ele, com um sorrisinho no canto da boca disse que era a do Paulistão de 1986. O diacho da taça era linda, enorme. Deu dó – recordou.

Mendonça leva uma vida calma  em Bangu. Faz parte do time de masters do Botafogo e adora representar o clube em cidades do interior. Só não entende porque jamais o Botafogo organizou um jogo de despedida para ele.

– Queria muito ter sido campeão pelo Botafogo, mas infelizmente não foi possível. O clube bem que podia organizar um jogo de despedida para mim. Acho que mereço dar uma volta olímpica com a camisa do Botafogo ao lado dos meus amigos e dos torcedores.  


Queria muito ter sido campeão pelo Botafogo, mas infelizmente não foi possível. O clube bem que podia organizar um jogo de despedida para mim. Acho que mereço dar uma volta olímpica com a camisa do Botafogo ao lado dos meus amigos e dos torcedores.

 

Família Moraes

PELAS LENTES DO AMOR ALVINEGRO

texto: Sergio Pugliese e Flavia Ribeiro | fotos: Família Moraes

 

Quando a produtora Sílvia Magalhães e a designer Izabel Barreto entraram no estúdio da fotógrafa Nana Moraes, na Glória, acompanhadas de Paulo Cezar Caju iniciou-se o alvoroço. Ele, ídolo, ela, fã, o resultado não podia ser outro: abraços emocionados de “amigos” que não viam-se há tempos. Barba branca, o estilão continuava o mesmo. Ela estava acostumada a vê-lo correndo com a camisa do Fogão e da seleção brasileira. Os cabelos de Nana também embranqueceram, mas o olhar continuava afiado. Na conversa, observava os traços do craque e imaginava o enquadramento, a luz, as poses. Pena a foto não conseguir registrar a deliciosa gargalhada de PC, imaginava, sempre observada pela vascaína Sílvia e a rubro-negra Izabel. “Onde troco de roupa? Vai ter maquiagem?”, brincou PC. Mas antes da sessão, Nana tinha uma missão especialíssima a cumprir. Ligar para a mãe, Luzia, de 79 anos, alvinegra roxa, apelidada de “Vó dos Loucos”, em referência à torcida organizada Loucos pelo Botafogo.   

Ligou. Suspense!!!  Do celular da filha veio a voz grossa, marcante, inconfundível, perguntando como ela estava. Um curto silêncio e a surpresa. PC fora surpreendido pela ex-bailarina e ex-produtora de moda, com quem nunca falara antes: “É Paulo Cezar Caju? Que fez três gols contra o América quando tinha 17 anos e quase me matou do coração?”, perguntou. “Aquele dia, minha estreia no Maracanã, foi lindo!”, vibrou, ao recordar um dos momentos mais marcantes de sua carreira. Os dois tagarelaram até PC desligar com os olhos transbordando de emoção. “Esses momentos sacodem a nossa alma”, suspirou enquanto vestia o blazer preto.

Luzia contou para PC que o marido, Zé Antônio, fotógrafo consagrado do JB e da Abril, o clicou muitas vezes e adorava a dupla que fazia com Jairzinho, no Botafogo, seleção brasileira e no francês Olympique de Marseille. O curioso era que Luzia usava cabelo Black Power igual ao de PC e, certa vez, no aeroporto em Paris, foi abordada por um oficial da alfândega querendo saber se ela era irmã do craque. Na época, PC arrastava multidões aos estádios franceses e era idolatrado por políticos, estilistas e atores, como Jean Paul Belmondo.

O estilo Black Power, por sinal, foi estudado por Nana, uma das profissionais mais requisitadas do país. Dias antes de fotografá-lo também reviu imagens de alguns ídolos do craque contestador, como Martin Luther King, Malcom X e os Panteras Negras, homens que lutaram pela causa negra. Nana não queria errar, afinal decepcionaria toda uma família de botafoguenses. Nana, além de ser filha de Luzia, é irmã do também fotógrafo, Sérgio Moraes, da agência de notícias Reuters, e da produtora de moda top de linha Bebel Moraes. Entre os netos, os dois filhos de Nana – a empresária Lígia e o fotógrafo Ricardo, também da Reuters – e o mais velho de Sérgio – o estudante Pedro – também carregam uma estrela solitária no peito. E uma quarta geração alvinegra já dá seus primeiros passos na família: Rosa, de 6 anos, filha de Lígia, e o pequeno José Antônio, de 1 ano e 7 meses, filho de Ricardo, continuam a tradição iniciada por um outro Zé Antônio lá pelos idos anos 40.

Diante dos flashes, PC parecia um profissional. Suas expressões variavam como assistisse uma partida de futebol. Ele mesclou sorrisos exuberantes com olhares distantes, tensos e tristes. Nana viajava e resolveu arriscar. Pediu para que ele ficasse sem camisa e usasse a amarelinha da seleção brasileira como um cachecol, imagem que representaria seu estilo festeiro, ousado, rebelde e ao mesmo tempo elegante, de lançador de tendências, com o amor incondicional pelo futebol. Quem conhece PC sabe que ele poderia devolver s sugestão com uma resposta ríspida. Mas nesse caso, não. Ele nunca negaria algo que fosse uma bicuda nas regras e nas caretices do mundo atual. “Adorei, vamos nessa!”.

Mas, peralá, a rebeldia do craque não rima com inadimplência. De repente, ele pirou, disse que precisava ir embora, precisava achar uma casa lotérica, pois esquecera de pagar duas contas. “Que horas são?”, perguntou, inquieto, enquanto conferia o dinheiro, contava moedas. Mas Sílvia e Izabel sabem a hora de colocar a bola no chão e pedir calma ao time. “Bebe uma água e acalma, PC”, sugeriu Sílvia. Em cinco minutos pagaram as contas pelo celular. O indomável PC, avesso às tecnologias, acalmou-se e voltou ao campo de jogo.       

 

OSSOS DO OFÍCIO

O premiado Severino Silva, considerado um dos maiores fotojornalistas do mundo, assim que soube da vitória do goleiro Manga para a Seleção Ilustrada, nos enviou essas fotos de sua autoria. 


Depois que parei não teve nenhum goleiro parecido comigo. Era muito valente, não brincava debaixo dos três paus. Joguei mais de dez anos sem luvas. Meus dedos são tortos, quebrados. Não tem nenhum inteiro, mas são motivos de orgulho”

Clique aqui e aproveite para votar na Seleção Ilustrada!

MANGA: o goleiro da Seleção Ilustrada

É rapaziada e, principalmente, botafoguenses: deu Manga na cabeça!!!! Foram centenas de votos vindos pelo Facebook, por grupos de whatsapp etc etc etc. Na última contagem, realizada na manhã de sexta-feira (22), o lendário goleiro tinha 268 votos. Em segundo, Taffarel com 180, e empatados em terceiro, Gilmar e Castilho, com 138. As mensagens mais apaixonadas foram para Castilho, bicampeão do mundo, em 58 e 62, por conta de sua entrega em campo e pela amputação de um dedo. Félix e Marcos também tiveram votações expressivas. E, agora, rapaziada, quem será o lateral-direito desse time???? Não tenho dúvida que a briga se concentrará em dois, mas o voto é de vocês!!!! No próximo sábado, Cláudio Duarte, o papa das caricaturas, apresentará o resultado. 

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