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PELADA, CHURRASCO E RESENHA

Por Wesley Machado

Uma pelada que não aconteceu mudou meu destino

No dia 16 de fevereiro de 2005, decidi ir na rua onde eu morei por muitos anos para agitar uma pelada – sempre fui um grande agitador de peladas. Não conseguimos jogadores suficientes para tal. Mas o reencontro com os amigos de infância motivou uma saída para lanchar, num bairro mais distante onde tinha uma maionese famosa. Do lanche, marcamos de nos encontrar novamente no dia seguinte, aniversário de um dos amigos, para sairmos para farrear. Fomos num forró, onde me apaixonei à primeira vista pela minha esposa, Nilcea, com quem tenho duas filhas lindas, Luiza e Júlia.

Jogando de All Star

Contei esta história para justificar que 11 anos depois, neste sábado, voltei à mesma rua, onde encontrei com o amigo Juninho, o aniversariante do dia em que conheci a mulher da minha vida. Enfim conheci a filha dele, Amanda. E ele me falou que teria uma pelada neste domingo. Fiquei animado e agitado. Não estou mais em forma para jogar bola e sim em forma de bola. Enferrujado, quase um ano sem jogar, mas fui. Sem um tênis apropriado, o que eu tinha abriu e não comprei outro ainda, coloquei um All Star mesmo. Fui o primeiro a chegar ao grande campo público de gramado sintético na praça dos Ciganos, no bairro Nova Brasília, perto da minha casa, onde jogaria pela primeira vez. Logo chegou o Rodrigo. Depois chegaram Robinho, Juninho e o irmão dele, Ralph. E depois Zezé e o filho dele, Vinicius.

Quem fizer ganha

Éramos sete. Ainda faltavam três para completar dois times com quatro na linha e um no gol. Alguém teve a ideia de jogarmos meio campo, golzinho fechado, sem goleiro. Chega um garoto. Tirado o time, ficamos eu, Rodrigo, Juninho e Vinicius de um lado; e do outro Robinho, Ralph, Zezé e o garoto, que depois descobriríamos se chamar Caio. A partida terminou 6 a 5 de virada para eles no “Quem fizer ganha”, com direito a um gol meu e de canhota. Partimos para o local mais próximo onde poderíamos primeiro tomar uma água e depois… Pasmem, Coca Cola. Isto mesmo! Ninguém ali bebia álcool. Robinho disse que parou há três anos. E eu estou tentando parar pela enésima vez.

Sexo no Godofredo Cruz

Acompanhando as Cocas, porque foram mais de uma – Robinho é um viciado em Coca… (Cola) – um churrasco misto composto de carne de boi, linguiça de frango e costela com aipim. Sentamos na grama, esta de verdade, em frente ao campo, e como num piquenique petiscamos enquanto colocávamos a conversa em dia. A resenha, considerada o ponto alto de toda pelada, teve assuntos impublicáveis. Muita tiração de sarro. Boas lembranças, boas histórias. E uma grande causo de um dos Antigos Craques, como será chamada a partir de agora a pelada, que acontecerá todo domingo de manhã. Ele contou que transou com uma colega de trabalho em uma cabine de rádio do extinto estádio Godofredo Cruz, do Americano Futebol Clube. E viva a resenha!


Os peladeiros da Antigos Craques

Os peladeiros da Antigos Craques

Tita

Eagle ou É gol?

texto: Sergio Pugliese e André Mendonça | fotos: Marcelo Tabach
vídeo: Simone Marinho | edição: Daniel Planel

 

A grama verdinha, bem aparada, tênis de travas, bandeirinha tremulando ao fundo, e Tita, o cracaço Tita, alternando o olhar entre a bola e o alvo. Concentrado, dá alguns passos para trás, respira fundo e dispara com a mesma precisão dos áureos tempos. Com os olhos, acompanha o trajeto da bola e, e, e, e… bingo!!!!!!!!! Braços erguidos, corre em direção da torcida, no caso, a equipe do Museu da Pelada, e, alucinado, grita: “É gol!!!, É gol!!!!!!!”. Estão achando que ele batia uma peladinha, né? Erraram feio. Era golfe e o grito não era de gol, como imaginávamos, mas “Eagle!!!! Eagle!!!!”, uma jogada de mestre, que consiste em, explicando toscamente, acertar um buraco, de uma determinada distância, em três tentativas das cinco estipuladas. Na comemoração, só faltou cobrir o rosto com a camisa, como fez, pioneiramente, na final do Carioca, de 87, no gol do título contra o Flamengo, no Maracanã lotado.


Não conseguia fazer um Eagle há 15 anos, vocês me deram sorte!!!

– Não conseguia fazer um Eagle há 15 anos, vocês me deram sorte!!! – berrava.

A minha sensação era exatamente a sentida nos segundos que antecedem a uma cobrança de falta, uma de suas especialidades no futebol. Mãos cerradas e uma reza silenciosa. Tudo porque a videomaker Simone Marinho posicionara a câmera próximo à bandeirinha. Vai que… seria demais se ele encaçapasse (sou um homem da sinuca!)  aquela bolinha e registrássemos!!!! Capricha, Tita!!!! Concentração e tac!!!! Acompanhamos a redondinha deslizando na grama e sendo engolida pelo alvo!!!! Me senti no estádio quando o mesmo Tita deu o título do Carioca, de 87, ao Vasco em cima do Mengão, seu ex-clube. É surreal porque na final de 79 Tita me fez perder uma aposta e tive que voltar andando do Maracanã até Santa Teresa, onde morava. Ele fez, de cabeça, o gol da vitória de 3 x 2 do Flamengo no Vasco.

– Poucos atletas tiveram o privilégio de decidir finais, com gols, jogando por arquirrivais – comentou, orgulhoso.


Poucos atletas tiveram o privilégio de decidir finais, com gols, jogando por arquirrivais.

Como exemplo citou Edmundo e Bebeto, que, segundo ele, fizeram mais sucesso no Vasco do que no Fla, e Petkovic, que só fez gol do título pelo Mengão. O segredo de Tita? O craque era caxias, determinado, se entregava em campo e nos treinos. Essa disciplina o levou ao quinto do ranking carioca de golfe amador. Ele passa até oito horas treinando. Nos encontramos no Itanhangá Golf Club e, de carona no típico carrinho, ele nos contou sobre o Flamengo rolo-compressor dos anos 80, sobre a dificuldade de adaptação no alemão Bayer Leverkusen, onde, papão de títulos, conquistou a Copa UEFA de 88, sobre sua melhor fase física e técnica da carreira, no Grêmio, campeão da Libertadores, de 83, sobre a brilhante passagem pelo León, do México, clube pelo qual fez tantos gols de falta que até hoje seu nome é gritado pela torcida quando algum jogador prepara-se para a cobrança, na entrada da grande área. É ou não é para tirar muita onda?


Me dediquei tanto aos times, que muita gente, por exemplo, tem dúvida se sou Flamengo ou Vasco.

– Me dediquei tanto aos times, que muita gente, por exemplo, tem dúvida se sou Flamengo ou Vasco.  

– E você, é o quê? – quis saber.

Tita gargalhou e deixou claro que o coração é uma mistura de paixões vascaínas, rubro-negras, gremistas, “leonistas” e “bayerleverkunistas”. Preferi não insistir porque acho bacana esse mistério, mas se tivesse que chutar arriscaria Vasco da Gama pela forma carinhosa com que falou sobre sua passagem por São Januário. Também teve seleção brasileira, claro! Aos 32 anos foi convocado para a Copa de 90, na Itália, mas, na reserva, não disputou nenhuma partida. Também falou sobre a mística camisa 10, sua preferida. Quando Zico foi para a Udinese, na Itália, ele assumiu o posto. Na seleção, também chegou a vesti-la. Mas o polivalente Tita revelou algo surpreendente: prefere a carreira de treinador a de jogador.


Como técnico você cuida do todo, pensa na estratégia, em cada detalhe, e quando o resultado chega você sente a sua mão ali.

– Como técnico você cuida do todo, pensa na estratégia, em cada detalhe, e quando o resultado chega você sente a sua mão ali – resumiu.

Citou Paulo César Carpegiani como o seu melhor técnico. Tita treinou Vasco, Volta Redonda, Olaria, Remo, América (RJ), Tupi, León e Urawa Reds, do Japão, e, ontem, estava em ação dirigindo o Macaé contra o Friburguense. Perdeu de 1 x 0. Deve estar de cabeça quente porque “perder” não faz parte de seu vocabulário. O golfe talvez sirva para amenizar o seu estresse e é inegável, conquistou o seu coração, mas o futebol, ah, o futebol está na alma e não o abandonará nunca.  

 

COLABORADOR DE LUXO

texto: Sergio Pugliese | charge: Claudio Duarte


Homenagem de Claudio Duarte ao craque PC Caju.

Homenagem de Claudio Duarte ao craque PC Caju.

O Museu da Pelada está comemorando a entrada de mais um colaborador de luxo: o ilustrador, caricaturista e artista múltiplo Cláudio Duarte, que acaba de lançar o site www.ocabide.com.br. Confiram!!!! Sua estreia aqui é com uma homenagem ao padrinho do Museu, PC Caju. Cláudio é um dos traços mais requisitados do Brasil. No Globo, sua arte passou por todas as editorias, mas também ilustra livros, camisetas e o que mais surgir pela frente!!!! O cara é fera!!!!!!!! Além de tudo é um boleiro clássico, bola no chão, olhar periférico, estilo puro!!!! Enfim, Cláudio é um amigo daqueles que nos orgulhamos ter por perto!!!!!!!! Volta e meia ele surgirá no Museu com seu estilo único. Bem-vindo, amigão!!!!!!!!!!!!!

www.claudioduarteilustracao.com/