OLHAR DIFERENCIADO!!
Desde que o Museu da Pelada entrou no ar, somos constantemente presenteados com belas fotografias de colaboradores espalhados pelos país, o que é motivo de muito orgulho para nós!! Os registros dessa matéria são de Elida Loureiro, de Maria Paula, Niterói.
Aproveitando que a cidade é sede de grandes campeonatos de pelada, a fotógrafa fez belas imagens da final da Liga Amistosos Niterói de Fut 5, do Torneio dos Eucaliptos e da final do primeiro turno da Série Bronze, da Liga Niterói Fut 7!! Os duelos foram, respectivamente, entre União x Galáticos, Bela Vista FC x Bz FC e Cidiz FC x Bar de Munique FC!
Não temos dúvida que Elida terá um futuro brilhante!!
Valeu, Elida!!
OS PELADEIROS
por Serginho 5Bocas
Para o peladeiro fominha, não tem bola perdida (por Marcos Vinícius Cabral)
Hoje não vou falar de craques do passado, do presente nem tampouco do futuro, vou dar espaço aos quase jogadores, aos peladeiros. São espécies raras que não podem faltar na fauna futebolística dos mais longínquos grotões deste nosso Brasil.
Aqueles caras que vemos sair de casa com roupa de trabalho, mas por debaixo das calças ou dentro da mochila e em alguns casos, até mesmo na mala do carro, sempre carregam o short, o meião e outros aparatos que compõem a vestimenta dele.
Vou começar a homenagem pelo “café com leite”, aquele que de tão ruim, nem conta, chuta pra qualquer lado que vale, normalmente ele tem uma coordenação motora sofrível, tem idade muito abaixo ou acima da média da galera da pelada, ou então tem irmã gostosa e não deve ser contrariado.
Outro que não pode faltar, é o “bom de grupo”, um cara que não joga pôrra nenhuma, mas é maneiro pra cacete, nunca falha na intera para o tira gosto, limpa os coletes, guarda a bola e tem carro grande, que é muito útil quando tem jogo fora.
Tem também o “papagaio”, que é aquele cara mais chato da pelada, fala pra “karaiu”, só ele que sabe jogar, reclama de todos e de tudo, marca com os olhos, apita o jogo e quase sempre estraga a pelada com seu jeito sem noção, tem alma boa, mas é um mala.
Tem o “enganado”, que é aquele cara que já sai de casa nessa condição (me engana que eu gosto), ou seja, a mãe ou a mulher diz que ele tá lindo, pede um gol pra ele, e escuta das coitadas a pior de todas as frases: diz que ele joga bola, pronto! Formô.
O brigão costuma chegar mais forte nas divididas (por Marcos Vinícius Cabral)
Outro que sempre está presente é o “brigão”, aquele cara normalmente policial ou ex-policial, bombeiro, halterofilista, lutador de arte marcial ou somente um brigão de rua mesmo, da antiga, daquela época que ser bom de briga – até surgir a AR-15 – era sinônimo de ter um respeitozinho na rua. Esse quer arrumar problema com todo mundo que é amigo, só não costuma ser brabo contra estranhos em jogos fora, ai normalmente nem aparece, é um final de comédia, mas se não der muito papo, status, ele acaba sumindo, graças a deus.
O “caixa” é aquele cara que todo mundo vaza quando o fim do mês se aproxima, se ele puxa o caderninho, linha de impedimento nele, rala peito Mané, que fu…
Tem o “ruim de bola mesmo” que não serve nem pra “agarrá no gol”, sempre chega cedo e tenta tirar o par ou ímpar, pra garantir vaga, porque senão, um abraço meu camarada, senta no meio fio e chora.
Não pode faltar também o “cachaça”, esse nem quer jogo, senta no engradado mesmo e tá bom demais, está sempre com uma gelada ou um copo na mão, zoa todo mundo e está sempre de bem com a vida, a única contra indicação é que alguns deles quando passam da conta (quase sempre), choram, te abraçam, falam que te amam e por ai vai…é flórida!
O atacante Aloisio não esconde de ninguém sua admiração por cerveja
E não existe pelada sem o “bichado”, que é aquele cara que parece a múmia, porque ama ter preso ao corpo uma joelheira, uma atadura, uma tornozeleira ou uma cocheira e em alguns casos mais graves, carrega com muita honra essa pôrra toda que eu falei de uma só vez, mas quando a bola rola ele esquece tudo e joga, o dia seguinte é que é sinistro, dói até a vista, sempre dá ruim pra ele.
O bichado é aquele jogador que se machuca constantemente
O “cagão” é aquele cara que de tão ruim, só mesmo a bola batendo nele de raiva ou por pura piedade é que ele faz gol. Acontece que ele é aquele mais genuíno exemplo do raio que cai duas, digo, uma porrada de vezes no mesmo lugar, vai cagar assim lá no raio que o parta! Mas diga-se de passagem, que na maioria dos casos é bom ter um desses no seu time, vai que…
Quem nunca conheceu um “fominha”? Aquele que de tão esganado, até dorme com a redonda, mas seu forte mesmo é não passar a bola pra ninguém. Pode estar mal colocado que sempre tenta o chute ao invés de passar para um companheiro melhor colocado e tem sempre uma desculpa na ponta da língua para não dar a bola. É clichê dizer que deveria ter uma bola só pra ele…
E o “sem sangue”? Ah, esse irrita de verdade. É aquele cara que não corre de jeito nenhum, não ajuda quando ataca, muito menos quando o time se defende. O cara é preguiçoso de doer, parece um gato de armazém, mas geralmente fica pra segunda pelada, se o critério for par ou ímpar.
Já ia esquecendo do “fedorento”, que como a alcunha já entrega é um solitário, um verdadeiro Robson Crusoé das peladas, ninguém quer abraça-lo após um gol, pegar seu colete suado? Nem pensar. É que o cara não lava o meião, guarda o tênis abafado dentro da bolsa na mala do carro fechado e tem mal hálito e um cêcê da pôrra, dorme com esse barulho. É complicado ajuda-lo, mas é um boa praça, também se fosse antipático, apanharia ou levava um tiro.
O baixinho Romário fazia sucesso dentro e fora das quatro linhas
Outro que não pode faltar é o “pegador” de mulheres. O cara é um espetáculo, só anda cheiroso e é um exímio contador de histórias. Diz que sempre dá 3 antes do jogo, que se não comer ninguém não joga bem e o escambau, mas realmente ele sai com muitas mulheres ou seres humanos se assim for politicamente correto chamar as criaturas, porque se juntar todas elas e bater no liquidificador com neston e duas bananas para engrossar o caldo, fica faltando um olho, 2 joelhos e uma perna…fala sério matador!
E tem também o “dono da bola”, que em geral é assim desde moleque, pois nunca jogou porra nenhuma, então comprava a bola, o uniforme e tudo que for preciso para garantir uma vaga na pelada. Quando cresce, acostumado com este estilo de vida, costuma se dar muito bem na política, ou em alguma confederação de futebol, pois terá desenvolvido um enorme o “expertise” de corromper os colegas e ai fica fácil com os homens.
O dono da bola geralmente estraga as peladas
Não podemos esquecer da fera da pelada, o “boleiro”, que é o cara que joga muita bola, que quase jogou em clube, às vezes foi federado e na maioria dos casos, apenas peladeiro e todo mundo diz que era pra ter sido jogador, que com essa turma que joga hoje ele brincaria no meio de campo mole e o escambau. No fundo, no fundo, ele agradece, mas sabe que alguma coisa não saiu como deveria. Teve que ajudar nas despesas de casa, os estudos falaram mais alto entre outras infinitas possibilidades que nos mostra como é tênue a linha que sempre separa os homens dos meninos, pois o Jogo é bruto companheiro.
E pra fechar os trabalhos não poderia ficar sem falar do “ex-peladeiro”. Ele não consegue levantar a bola com os pés, ele não faz 3 embaixadinhas sem deixar a bola cair no chão e nem é bom pedir para dar um chute na bola, porque ou ele fura a bola com a unha grande e a falta de jeito ou pode furar o chute e ai, se ele cair no chão, não vai levantar mais. Mas vive contando causos que ninguém é capaz de achar algum contemporâneo para confirmar. Vive repetindo que jogou com Zizinho, Danilo Alvim e Dino Sani, que seu vizinho “zezinho” era o melhor deles todos na rua, mas não tem um recorte de jornal ou revista da época de glórias para ser lembrado. É uma grande figura dos campos de pelada e é um dos meus personagens favoritos, pois mantém acesa a chama da pelada de verdade.
Todos os peladeiros apresentam algumas características em comum, amam a bola do jogo, amam o futebol, amam ver futebol, amam jogar uma pelada, pagam por tudo que falei neste parágrafo e todos tem pelo menos uma historia de glória para contar, senão, nunca foram peladeiros de verdade.
Ah, e antes que eu me esqueça, não tem essa de “vim” pra brincar, esse papo é a mais genuína conversa fiada. Peladeiro fominha que se preza, pode perder o sono, a namorada, o cinema e até o parto do filho, mas de jeito nenhum ele tolera perder o jogo, nem mesmo o par ou ímpar. Brincadeira de tu é rola, valeu?
Honraria Futebol Arte 2016
Na noite da última segunda-feira, durante a sétima edição do CINEfoot, a equipe do Museu da Pelada recebeu com orgulho a “Honraria Futebol Arte 2016”!!!. Segundo Antonio Leal, diretor do festival, “foi a mais recente e brilhante iniciativa no campo cultural em defesa da identidade e promoção dos valores mais preciosos do futebol, genuinamente praticado nos campos e fora das quatro linhas”. Receber um prêmio tão significativo com apenas seis meses de trabalho é algo que nos deixa ainda mais motivados para continuar EM BUSCA DA POESIA PERDIDA!!! Obrigado a todos os peladeiros que enriquecem esse time!
ERA APENAS UM PINTO
por Zé Roberto Padilha
Desde os juvenis que jogadores de futebol tomam banhos juntos, após os treinos, em vestiários sem qualquer privacidade. Um zagueirão, que se tornou treinador, disse lá atrás para seus pupilos, em uma preleção, que “futebol é pra macho!”. Sendo assim, jamais foram construídos boxes para cada um preservar a sua intimidade. Diante deste “espetáculo” diário e ao vivo crescemos sem perceber nos banhos coletivos cores e tamanhos dos dotes de cada companheiro. Faziam parte da paisagem. Esqueci, tirem as crianças das bancas porque cenas fortes serão relatadas por aqui: era treinador do América FC-TR quando, aí sim, hierarquicamente, a Comissão Técnica esperava os atletas tomarem o seu banho quando, ao me dirigir aos chuveiros, uma sucuri, ou cascavel, foi tudo muito rápido, fez a curva pendurada no púbis de um atacante. Tomei, lógico, um susto, disfarcei, o máximo de pista que dei diante daquela cena de “Anaconda 4, a invasão do Tiezão”, foi passar a olhar com dó e compaixão a esposa do jogador. E acho que ela percebeu, ele era titular do time e deveria pensar: “Está com pena de mim porque este técnico ? Meu marido está jogando?”
Bem, eu jogava no Flamengo nesta época e havia um armário com escaninhos no vestiário onde guardávamos chinelos e toalhas para o banho. E bastou completar dois meses de trocas de roupas para um companheiro notar que o vizinho do escaninho ao lado só trocava a sunga escondidinho. Para isto, passou a observar que ele, o investigado, era o primeiro a chegar para o treino e o ultimo a sair dos treinamentos. Para a comissão técnica era um exemplo, mas para uma classe que não tem mais o que fazer, que lia na concentração obras clássicas da literatura como Contigo, Amiga e Tio Patinhas, era um prato cheio de intrigas. E começaram as investigações para saber o que ocorrera com aquele pinto escondido.
A CPI, formada por dois zagueiros, um meio campo e um relator, notou que o portador das asas dentro da sunga (a novela da Globo era Saramandaia e seres alados estavam na moda) descia do setor 4 das cadeiras do Maracanã para os vestiários antes de todo mundo. E combinamos com o roupeiro para trocar a sua sunga com a de numero 5 do Merica, cabeça de área baiano e encrencado. Descemos todos juntos com ele que na chegada gritou: “Quem está com a minha sunga devolva! Tenho que jogar com ela. está rezada pelo Senhor do Bonfim!”. Nosso personagem não trocou, alegou já estar no aquecimento e quase saiu briga. Merica acabou jogando mesmo com a de número…. Ganhamos o jogo, mas o mistério já ganhava proporções. Reuniões foram realizadas, estratégias montadas. Sobrou para mim a tarefa de dividir e investigar o quarto em uma partida em Campinas, contra o Guarani. As apostas se dividiam e ganhavam os bastidores da boca maldita da Gávea: seria enorme que mal caberia na sunga ou imperceptível aos olhos igualmente nus? Quando o suspeito soube que era eu o escalado para dividir o quarto, berrou junto ao supervisor: “Já tenho meu companheiro de quarto, estamos entrosados!”. O supervisor, já dentro do esquema e com apostas feitas e envolvido, disse que era para unir ainda mais o grupo. Nem eu acreditei.
À noite, deitado na cama do Hotel Vila Rica a cobrir os olhos com a coberta até o limite de uma brecha na visão, esperei que saísse do banho e… ele entrou com a toalha e tudo dentro da sua coberta e realizou a troca pelo pijama. Quando cheguei para o café da manhã, uma multidão aguardava o resultado da CPI. Ao relatar o fracasso da missão, fui vaiado e substituído no cargo.
Nosso contrato estava acabando e a última esperança era contratar mesmo uma Maria Chuteira, que ficavam nos esperando na saída, e escolhemos uma daquelas popuzadas. Tipo das preferidas do Adriano. Ela concordou em participar da trama, lhe pediu carona à saída do clube, ele foi gentil e a deixou em casa. Era fiel e ficamos todos sabendo pelo seu relatório no treino seguinte. Saí mais tarde do Flamengo e quando os membros da CPI se encontravam, em clássicos pelo país, a pergunta era a mesma com o passar dos anos e dos clubes: “E aí? Descobriram?”
Tempos depois ficamos sabendo que ele casou, teve filhos, nenhum deles chegou a voar, é feliz e nunca precisou de psicólogos. Enfim, que era normal, ao contrário da gente, jogadores de futebol que aprendemos uma outra lição. Que precisamos estudar, cuidar da própria vida e carreira no lugar de ficar tomando conta das intimidades alheias. Afinal, era apenas um outro pinto que passou nos vestiários de nossas tolas vidas e que a futilidade nos deixou levar.
Afonsinho – O maquinista
o maquinista
texto: Sergio Pugliese | fotos: Marcelo Tabach | vídeo e edição: Daniel Perpétuo
Sentado no sofá de seu apartamento, em Copacabana, o maquinista assistiu à partida entre Botafogo e Juareizense, pela Copa do Brasil. No fim do jogo, sozinho na sala, olhou para o quadro de Garrincha, grande ídolo, e sentiu uma pontada de nostalgia no peito. Começou a revirar as gavetas e estantes em busca de registros do final da década de 60 e início de 70 quando os Beatles fervilhavam, o Brasil penava com a ditadura militar e sua barba começava a brotar e incomodar.
Seu objetivo era achar fotos do Trem da Alegria, time de pelada itinerante criado por ele para manter em atividade jogadores sem contrato, ex-craques, novos talentos e simpatizantes em geral. Essa legião lotou os vagões da locomotiva e, numa época em que as baionetas davam as ordens, os craques viajaram o país de megafone em punho e de estação em estação, gol após gol, conquistaram a Lei do Passe Livre, um marco na carreira dos atletas.
No último feriado de 1 de maio, Dia do Trabalhador, o Trem da Alegria comemorou 40 anos com um rachão no Clube Municipal, em Paquetá. Foi casa cheia e a equipe do Museu da Pelada estava lá! As fotos resgatadas em sua busca foram expostas num mural. A galera matou a saudade e o maquinista, na verdade o médico e ex-jogador Afonsinho, filho de ferroviário e professora, sentiu a confortável sensação do dever cumprido ao lado de seu poderoso exército de rebeldes com causa, entre eles o inseparável Nei Conceição.
“Hoje cada jogador é uma empresa, não se pensa mais no coletivo e as prioridades são outras”
— Hoje cada jogador é uma empresa, não se pensa mais no coletivo e as prioridades são outras – opinou Afonsinho.
Nascido em São Paulo, sua vida sempre foi bola e aos 17 já chamava atenção como meia- direita do Infantil Náutico, de Jaú. Não demorou e foi indicado para Botafogo e Fluminense. Assinou contrato com o alvinegro e teve atuações exaltadas pelo jornalista Nelson Rodrigues, mas a incompatibilidade veio à tona quando Zagallo assumiu a comissão técnica.
Foi desligado e sem espaço para treinar, exercer a profissão, levou para a mesa do bar debates calorosos sobre a função das organizações trabalhistas responsáveis pelos interesses da classe. Nessa época ainda não havia a figura do grande empresário, o futebol era menos mercantilista e os militares estavam infiltrados nas diretorias dos clubes.
“A saída foi montar um time de pelada para abrigar jogadores na minha situação”
Foto: Arquivo
— A saída foi montar um time de pelada para abrigar jogadores na minha situação – lembrou.
A visibilidade foi impressionante, mas Afonsinho conseguiu conciliar o Trem da Alegria com a carreira profissional e a faculdade de Medicina, onde se especializou em Fisiatria. Longe do Botafogo, foi treinar no Olaria. Ao todo, passou quatro vezes pelo time da Rua Bariri, também quando saiu de Vasco, Flamengo e Santos.
No Olaria, deixou a barba e o cabelo crescerem e ficou a cara do guerrilheiro Che Guevara. No retorno a General Severiano, a direção do Botafogo tomou um baita susto com o novo visual e sugeriu uma aparada geral na cabeleira. Ele negou, claro. Desafiar o sistema estabelecido era com ele mesmo.
“Zagallo disse que eu parecia tudo, tocador de guitarra, cantor de iê iê iê, menos jogador”
— Zagallo disse que eu parecia tudo, tocador de guitarra, cantor de iê iê iê, menos jogador – disse, morrendo de rir.
Em pouco tempo vários jogadores imitaram seu estilo e o Trem da Alegria engrenou de vez. Campeões mundiais, como Garrincha, Nilton Santos, Paulo Cesar Caju, Jair Marinho e Altair rodaram o país se apresentando pelo time, assim como os cantores Fagner, Paulinho da Viola, Moraes Moreira e os Novos Baianos. Gilberto Gil na volta do exílio compôs Meio de Campo: “Prezado amigo, Afonsinho, eu continuo aqui mesmo aperfeiçoando o imperfeito….” e os saudosos João Nogueira e Roberto Ribeiro deram voz ao hino do time. O sonho atual de Afonsinho é ter o samba gravado por Diogo Nogueira.
Em Pé: Aílton Pelé, Marcio, Dedé, Fagner, Zorba Devagar, Marcolino (Goytacaz) e Cadô (XV de Jaú). Abaixados: Moraes Moreira, Abel Silva, Paulinho da Viola, Afonsinho, Gato Félix (Novos Baianos) e Cristiano Menezes (jornalista)
Em Paquetá, a festa foi completa. Difícil foi equilibrar os times. Me coloquei ao lado de Afonsinho e a pressão deu certo. Recebi a 14. Nei também caiu no mesmo time.
— Não vai me decepcionar, hein! – brincou Afonsinho, que me escalou na ponta-esquerda.
“Não vai me decepcionar, hein!”
Emoção demais ver Nei e Afonsinho juntos! Velhos amigos de guerra, jogam até hoje. Os olhos de Afonsinho brilhavam ao ver tantos amigos ao redor. Descem da barca e caminham um quilômetro até o campo, como missionários. A cultura da ostentação passou longe daquela turma. Carrões, mansões, cordões. Naquela época, atitude era contestar e usaram a pelada como um instrumento de reivindicação. O Trem da Alegria não foi um modismo como os tantos atuais, mas foi um posicionamento político ousado numa época de repressão.
No campo, ansiedade para o início do jogo contra o time de convidados. O maquinista Afonsinho bateu palmas, reclamou do sol forte e conferiu o posicionamento de seus jogadores. Nei Conceição o encarou com carinho. Tantos anos! Antes do apito inicial, o craque alisou a barba, orgulhosamente intacta e branquinha, carregada de história, e foi à luta.