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CINEFOOT TEM RECORDE DE INSCRIÇÕES

texto: André Mendonça | foto: Marcelo Tabach | vídeo: Daniel Perpétuo


Antonio Leal veste a camisa da sétima edição do CINEfoot

Comandado pelo craque Antonio Leal, o CINEfoot terá sua sétima edição entre os dias 19 e 24 de maio, no Rio de Janeiro. Com exibição dos filmes no Espaço Itaú de Cinema , Ponto Cine, Cine Joia e Cinemaison, o festival desse ano recebeu um número recorde de inscrições de diversos países. Foram 162 filmes e os especialistas tiveram a dura missão de escolher apenas 23 para entrarem na disputa pela Taça Cinefoot 2016.

A sétima edição, não por acaso, vai homenagear os grandes jogadores que vestiram a camisa 7 no passado. Aqueles pontas ariscos, habilidosos, que davam trabalho para os zagueiros e são raridades no futebol moderno. Entre eles, obviamente, o grande destaque é Garrincha. Homenagem mais que justa! Como os próprios organizadores descrevem no site, “suas atuações encantadoras, seus dribles desconcertantes e sua descontração em jogar futebol, o elevaram a uma categoria de extraterrestre, gênio, mito”.

A sessão de abertura do CINEfoot 2016 está marcada para o dia 19 de maio, às 20h30, na Praia de Botafogo. Além da homenagem aos camisas 7, neste dia o festival também fará tributo ao craque holandês Johan Cruyff, falecido recentemente.

– Vamos abrir o CINEfoot com uma homenagem simbólica e bastante marcante ao Cruyff, o nosso gênio do futebol. Vamos exibir um filme italiano, de 40 anos atrás, sobre o craque. Foi uma raridade que conseguimos. – revelou Antonio Leal

Como ocorre em todas as edições do festival, o lado cultural do futebol também será abordado. E no meio de tantos craques, o Museu da Pelada terá a satisfação de ser homenageado com a “Honraria Futebol Arte 2016”. No site do CINEfoot, os organizadores descrevem o Museu como “a mais recente e brilhante iniciativa no campo cultural em defesa da identidade e promoção dos valores mais preciosos do futebol genuinamente praticados nos campos e fora das quatro linhas”.


Vale destacar que no dia 23 de maio, às 15h, haverá um encontro para debater o tema “Sem estádio, sem ingresso, sem futebol. Uhhh, cadê o Maracanã? Sumiu!” e ex-jogadores devem fazer parte dessa resenha. 

Para os atrasados e esquecidos, do dia 31 de maio a 4 de junho está programada a tradicional “PRORROGAÇÃO CINEfoot” no Centro Cultural da Justiça Federal, Cine Teatro Eduardo Coutinho e Cinemaison.

Assim como nas outras edições, a entrada para o Cinefoot 2016 é franca. A programação completa do festival pode ser encontrada no site http://www.cinefoot.org/programacao-2016/. 

Confira a seleção de filmes: 

RIO DE JANEIRO / MOSTRA COMPETITIVA DE LONGA-METRAGEM

1) Uma Maravilhosa Época Falida (Dir. Mario Bucci, Itália)
2) Gascoigne (Dir. Jane Preston, Grã-Bretanha)
3) Paysandú 100 Anos de Payxão (Dir. Marco André e Gustavo Godinho, Brasil)
4) Aspirantes (Dir. Ives Rosenfeld, Brasil)
5) Barba, Cabelo e Bigode (Lucio Branco, Brasil)
6) Miller & Friedreich – As Origens do País do Futebol (Dir. Luiz Ferraz, Brasil)
7) Sunakaly (Dir. Bhojraj Bhat, Nepal)
8) Shooting for Socrates (Dir. James Erskine, Grã-Bretanha)
9) Eighteam (Dir. Juan Rodriguez-Briso, Espanha/Zâmbia)
10) O Filho de Deus (Dir. Mariano Fernández e Gaston Giród, Argentina)
11) O Futebol (Dir. Sergio Oksman, Brasil/Espanha)
12) Nossos Filhos (Dir. Juan Fernández Gebauer e Nicolás Suárez, Argentina)

RIO DE JANEIRO / MOSTRA COMPETITIVA DE CURTA-METRAGEM

1) Dois Pés Esquerdos (Dir. Isabella Salvetti, Itália)
2) Espectadores (Dir. Ross Hogg, Grã-Bretanha)
3) Bola Para Seu Danau (Dir. Eduardo Souza Lima, Brasil)
4) O Ladrão do Troféu (Dir. Dave Edwardz, Austrália)
5) Paixão sem Tamanho (Dir. Luiz Claudio Amaral e Fabio Penn, Brasil)
6) Jogo Truncado (Dir. Caroline Neumann, Guilherme Agostini Cruz, Brasil)
7) Paixão Nacional (Dir. Jandir Santin, Brasil)
8) A Culpa é do Neymar (Dir. João Ademir, Brasil)
9) Som das Torcidas – Juventus (Dir. Pedro Asbeg, Brasil)
10) Na Lateral (Dir. Hortense Gélinet, França)
11) As Crônicas de Riascos (Dir. Lobo Mauro, Brasil)
 

LUTAR PARA NÃO CAIR

por Paulo Cezar Caju

Respondam rápido, quem é o favorito para o título do próximo Brasileiro? Podem pensar!!! Continuem pensando!!! Esqueçam, amigos, não tem. Pela estrutura, podemos falar em Corinthians, São Paulo e Inter. Mas ninguém vive mais só de estrutura. Vejam o caso do Flamengo. Gestão profissional e time que não encanta. O Grêmio vinha embalado com Roger e emperrou. O futebol mais bonito é o do Santos, mas muita gente deve ir embora. Os poucos craques não ficam aqui. Esse Brasileiro será a briga para não cair.

Em Minas, o técnico não escalou todos os titulares pensando na Libertadores. Algum presidente de Federação já encomendou uma pesquisa para ouvir o torcedor, saber o que ele pensa. O Estadual não pode ser menosprezado dessa forma. Se os times estão prestes a cair para a Segundona o que pensam em fazer na Libertadores? O Vasco vai investir na Copa do Brasil porque “é o caminho mais curto para a Libertadores”. Papo chato. Meu Deus, o Vasco com esse time não volta para a Primeira e quer fazer o quê na Libertadores???

E o Botafogo, com esse amontoado? Vai acabar fazendo companhia ao Vasco. Sério, o meu Fogão precisa de, no mínimo, uns 10 jogadores. Argel, do Inter, Jorginho e Ricardo Gomes ganham com um futebol medroso, sem surpresas, não ousam. Como o Dorival Júnior, com um time daqueles, moleques abusados, bons de bola, consegue jogar na retranca? Acreditem, a parte de baixo da tabela será muito mais emocionante e quatro considerados grandes podem cair. A esperança é que surja alguma novidade, um Audax da vida, para dar um tempero nessa mesmice.

·       Não gosto desse discurso “Igreja Universal” usado por Jorginho e Zinho. O ideal é deixar as religiões fora de campo.

·       Não tem o famoso “jogou onde?”, que os boleiros adoram? Agora vou lançar o “se reciclou onde?”. Pode se encaixar perfeitamente para os técnicos mais populares do Brasil, Tite e Muricy.

·       Se é para defender, defendo, mas quando é preciso criticar, critico: Jefferson falhou nos dois gols do Vasco.

·       Troquei o Leblon por Florianópolis e, agora, sou vizinho de Renato Sá.

– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 10 de maio de 2016.

RESENHA NA PUC

por Sergio Pugliese


Não pude negar o convite de meu sobrinho bom de bola, Bernardo Pugliese, para contar a história do Museu da Pelada, que iniciou sua história com a coluna A Pelada Como Ela É publicada por quatro anos e meio nas páginas de O Globo. Foi para um trabalho na PUC e me diverti com essa nova geração de jornalistas e publicitários que vem por aí!!! Da esquerda para a direita: Bernardo, eu, a apresentadora Theodora Camara, Pedro Madeira, Giovanna Santoro, Fabrício Machado e Michel Silva, que também edita o excelente jornal comunitário Fala, Roça.

A REGADORA DE SONHOS

por Sergio Pugliese

A casa estava de cabeça para baixo e o som alto da tevê obrigava Cintia a espremer o celular no ouvido com o ombro enquanto temperava o feijão. Na posição preferida do torcicolo, tentava fechar negócio. Por baixo da porta as contas não paravam de chegar. O interfone tocou ao mesmo tempo em que a máquina de lavar pifou. Abandonou a cozinha correndo, recolheu as roupas do varal na área de serviço e despejou a montanha de panos no sofá. O interfone tocou novamente e a panela de pressão apitou. Do banheiro, o filho Luan, de 13 anos, pediu ajuda: “Mãe, cadê o meu short!”. Do bolo, resgatou o uniforme da Portuguesa e vestiu o craque mirim. Pegou o meião, a chuteira dourada novinha em folha da Nike e calçou o moleque enquanto ele assistia o Sportv despejado na poltrona. Desligou o telefone e, “uhuuuu”, comemorou a venda de um seguro. Olhou para o relógio e faltava uma hora para o treino, na Ilha do Governador .


– Chuta, Luan, chuta!!!!!!!!!!!

Deu uma conferida relâmpago no espelho e constatou que precisava pintar a raiz preta do cabelo louro. Desligou todos os botões que viu pela frente, pegou a mochila, a corneta, puxou o filho pela mão e em poucos minutos estava na arquibancada incendiando a torcida organizada, xingando o juiz, discordando das táticas do treinador e incentivando a razão de sua vida.

– Chuta, Luan, chuta!!!!!!!!!!!

No Dia das Mães, a equipe do Museu da Pelada apresenta Cintia Oliveira, securitária, dona de casa, flamenguista, solteira, batalhadora, especialista em lasanha pronta da Sadia e mãe do artilheiro Luan. Acompanhamos sua chegada ao estádio da Portuguesa para o jogo-treino. Ela entrou triunfal, dançando e batendo palmas. Antes de ser liberado para o aquecimento, o filho passou por uma geral: camisa para dentro do short, penteada básica no cabelo e beijo estalado na bochecha. Luan assumiu o constrangimento. Tímido, misturou-se rapidamente aos amigos Hiago, Eisy e William. Nosso fotógrafo e especialista em psicologia infantil, Reyes de Sá Viana do Castelo, também sentiu na pele esse assédio quando treinava basquete pelo Flamengo. Experiente, diagnosticou friamente o caso: “É o bullying materno”. As mães ao lado morreram de rir. A frenética Cintia não estava nem aí. Andava de um lado para o outro e quase invadiu o campo quando o seu menino foi derrubado.


– Pênalti!!!!

– Pênalti!!!! – berrou ela, mesmo a falta tendo sido muuuuuito longe da área.

O árbitro riu porque conhece a fera. Mas quem não conhece Cintia? Ela não perde uma partida do filho, seja em pelada ou nos campeonatos disputados pela Portuguesa. Já era assim, no futsal do Grajaú Tênis e Bradesco. Luan sonha ser Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo, mas sabe que a prioridade são os estudos e às 13h em ponto chega à Escola Francisco Manoel. Ao contrário da garotada dos tempos modernos aposentou o Playstation e só pensa em bola e pipa. Sergio Sapo, antigo técnico da escolinha do Grajaú Tênis, elogiou o desempenho do canhotinho e lembrou que em 2010 o moleque foi artilheiro do torneio interno do clube com 11 gols e certa vez guardou sete num só jogo. O celular de Cintia tocou. Era uma possível venda, então refugiou-se num cantinho na tentativa de abafar o grito da galera. Sentou-se sem desgrudar o olho do pimpolho e minutos depois desligou com ar de felicidade. Toda ajuda é bem-vinda, ainda mais agora com mensalidade nova na área, a do PFC, canal pago esportivo. Precisou trocar a escola particular pela pública.


– Antes meu irmão ajudava nas contas, mas agora mato um leão por dia, sozinha, mas vamos levando a vida em frente e com felicidade

– Antes meu irmão ajudava nas contas, mas agora mato um leão por dia, sozinha, mas vamos levando a vida em frente e com felicidade – comentou.

O jogo-treino estava duro, truncado. Mas a bola sobrou no meio e Luan ganhou a dividida com o zagueiro. Cíntia largou a corneta no chão, segurou firme o alambrado e arregalou os olhos. O menino venceu o desequilíbrio e com o molejo dos ensaboados deixou o segundo adversário para trás. Só faltava o goleiro. A mãe estava rouca e acabara de pegar uma receita mágica com a amiga Rose Marie: gargarejo com caipirinha de lima. Com um biquinho no canto, o artilheiro resolveu a parada. Cíntia ergueu os braços com toda a felicidade do mundo. Do meio do campo, Luan se despiu da timidez, desenhou um coração no ar e apontou na direção da mãe, a parceirona de todas as horas. Ela olhou incrédula para as companheiras de arquibancada e, corpo arrepiado e coração pulsando como um bate-estacas, sentiu a felicidade extrema, o amor exclusivo e inatingível das mães.

 



 

Orlando Abrunhosa


Morreu ontem o fotógrafo Orlando Abrunhosa, autor da foto que virou símbolo da conquista da Copa de 70, feita no primeiro jogo do Brasil contra a Tchecoslováquia. O Museu da Pelada agradece a Orlando pelo registro que eternamente ficará na memória dos amantes do futebol arte.