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A ORDEM DOS IDEAIS ALTERA A NOSSA ALEGRIA

por Zé Roberto Padilha


Dunga lamenta a eliminação do Brasil (Foto: Reprodução)

Não brinque com o futebol, Dunga, ele é a paixão maior do povo brasileiro! Enquanto os galáticos do Real Madrid, campeões da Champions League, no auge de suas formas, motivados e valorizados, estão dando show na Eurocopa (Gareth Bale fez o gol da vitória do País de Gales, Modric o da Croácia sobre a Turquia e Kroos fez a assistência do primeiro gol da Alemanha sobre a Ucrânia), nosso treinador insiste em não convocar o Marcelo. Deixa de fora o maior lateral-esquerdo em atividade no planeta e escala Filipe Luis, de futebol tão previsível, que você encontra milhares de canhotinhos hábeis e limitados como ele jogando pelada no campinho do Aterro do Flamengo. E aceita deixar o Neymar de fora com a distorcida idéia de poupá-lo para os jogos olímpicos.


Messi comemora o golaço de falta (Foto: Reprodução)

Sexta, a Argentina sofria para derrotar o Panamá. Hoje, qualquer time limitado, para se fortalecer na marcação, escala jogadores fortes e altos para cortar os cruzamentos sobre a área, porque não há mais pontas se infiltrando pelas beiradas. E blindam com três gladiadores frente à grande área a conter tabelas sem inspirações porque o camisa 10 desapareceu pela estrada. Só são encontrados em retrospectivas e no Baú do Esporte. Mesmo assim, o melhor jogador do mundo, Messi, foi levado pelo seu treinador para a Copa América. Quando foi chamado, aos 20 minutos do segundo tempo, o estádio se levantou. O torcedor argentino, então, parecia o torcedor brasileiro em estado de êxtase quando Pelé, Zico, Garrincha e Romário se preparavam para nos conceder um recital. Foi o momento mais bonito da competição, de emocionar todos os amantes do futebol. Nos 25 minutos que esteve em campo, Messi não errou um só passe, fez dois gols deslocando o goleiro com extrema categoria e, o terceiro, em uma cobrança de falta que nem os engenheiros da Sony alcançaram quando conceberam o Playstation da FIFA: uma trajetória perfeita em sua concepção rumo ao gol, com a bola passando raspando o cabelo do segundo homem da barreira e se alinhando na última dobra alta da rede distante de qualquer goleiro, ao vivo ou no joystick, pelo mundo.

Quem poupou o Neymar para os jogos olímpicos, e nos concedeu o vexame de uma precoce eliminação da Copa América, desconhece os valores pelos os quais o Barão de Cobertin, um francês apaixonado pela pedagogia e pelo esporte, reviveu os jogos olímpicos da era moderna. Competir, acima de ganhar, era este o lema de quem acreditou que se o esporte fora capaz de estabelecer uma trégua entre as cidades gregas que viviam em guerras, seria capaz também de unir, e desarmar, povos que se destruíam entre as duas grandes guerras. A tocha olímpica que roda o país, e concede distinção aos seus heróis locais, carrega a chama da confraternização. Existem valores nas Olimpíadas tão importantes quanto subir ao pódio e ganhar uma medalha. Uma pena a CBF não alcançá-los e, pior, trocar as bolas:  Felipão concedeu espaços, gentilezas e liberdade em nosso território aos alemães quando deveríamos lutar para ganhar a Copa, e Dunga poupou o Neymar para vencer jogos em que precisamos, acima de tudo, competir. Neste caso, a ordem dos ideais altera nossa alegria. E desvaloriza cada vez mais o nosso futebol deixando nossa segunda-feira com cara de segunda-feira.

NOS ILUMINE, DIDI!!!


Contra o Peru, Didi apresentou a folha-seca ao mundo, aquela batida de falta, venenosa, sobre a barreira. Depois, foi contratado para ensinar sua arte aos peruanos e os classificou para a Copa de 70. Antes, inovávamos, surpreendíamos, ensinávamos, brincávamos de jogar futebol. O próprio Didi criou a expressão “jogar bonito”. Nos ilumine, Didi!!!!

Nelinho

histórias de nelinho

texto: Sergio Pugliese | entrevista: Sergio Pugliese e Letícia Cançado Magalhães | vídeos e fotos: Washington Alves

 

Um dia PC Caju me listou os melhores contadores de histórias que conhece: o goleiro Raul, Vampeta e o lateral Nelinho. E acrescentou que durante alguns anos, ele, Raul, Nelinho e o saudoso Sócrates rodaram os bares do Brasil contando causos num projeto chamado “Toque de Classe”. Queria muito ter assistido unzinho!!!! E nada melhor para um bom contador de histórias do que a gargalhada do PC. Ela faz você sentir-se realizado, um Jerry Lewis, um Jim Carrey. Quando surgiu uma viagem para Belo Horizonte pedi os contatos de Raul e Nelinho para PC. Raul estava enrolado, mas Nelinho topou receber a equipe do Museu da Pelada. Para quem ama futebol e idolatra os craques de verdade tocar a campainha e ser recebido pessoalmente por Nelinho é marcante, inesquecível, gratificante.

– Acharam fácil? Vamos entrando?

Mesmo se tivéssemos demorado a achar, qual seria o problema? Vale tudo para encontrar o ídolo!!! De cara, automaticamente, olhei para os seus pés. Não é possível que seus pés fossem iguais aos nossos! Aquele golaço contra a Itália, que nos garantiu o terceiro lugar na Copa do Mundo de 78 nunca saiu da minha cabeça!!!! Que curva foi aquela??? E acreditam que no Wikipedia está assim: “após tentar um cruzamento pela direita, a bola fez uma curva inesperada”. Cruzamento???


Treinava horas e horas, exatamente aquele chute. O roupeiro avisava que estava indo embora, deixava meu sabonete e o meu tamanco num canto e se mandava. Ficava sozinho no clube chutando, chutando e chutando. Os goleiros não conseguiam me acompanhar e também iam embora, mas eu ficava.

– Treinava horas e horas, exatamente aquele chute. O roupeiro avisava que estava indo embora, deixava meu sabonete e o meu tamanco num canto e se mandava. Ficava sozinho no clube chutando, chutando e chutando. Os goleiros não conseguiam me acompanhar e também iam embora, mas eu ficava.

Hoje os médicos proíbem o excesso desse tipo de treinamento para evitar o desgaste da musculatura. Mas Nelinho não estava nem aí e, para provar que os problemas na coluna eram fantasmas do passado, provocou a imprensa e disse que seria capaz de chutar uma bola para fora do Mineirão. A equipe do Fantástico topou o desafio e o pegou de surpresa num dia em que já treinara e preparava-se para ir embora.


Não ia dar pra trás, né?

– Não ia dar pra trás, né?

Voltou ao vestiário, trocou de roupa e deu mais de 30 chutes até conseguir. A coxa inchou e quase ficou fora do jogo de domingo. Outros tempos! 

Essa foi apenas uma das tantas histórias contadas pelo carioca Nelinho, ídolo dos rivais Cruzeiro e Atlético. Nelinho começou a carreira no Bonsucesso, passou pelo Barreirense, de Portugal, América, Remo, Cruzeiro, onde foi campeão da Libertadores, em 1976, e Atlético. Lamenta a perda do Brasileiro de 74 para o Vasco.


Fomos roubados!

– Fomos roubados! – dispara.

Mas a irritação foi abafada pela sequência de divertidas histórias, como a do voucher, do apelido e a do roubo da cortina, todas registradas em nossos vídeos, que vocês podem assistir agora! Divirtam-se!!!!

 

XÔ, CERVEJA!!!!

Dando continuidade ao programa “Xô, cerveja”, que tem como um dos objetivos deixar os boleiros “voando” na pelada, o Museu, em parceria com o Projeto Facão, apresenta o segundo treino de recondicionamento físico!! Depois de acompanhar a atividade do atacante Júlio Cesar na semana passada, Sergio Pugliese participou ativamente do treino dado pelo professor Pablo para João Carlos, brasileiro naturalizado belga, que atua há 13 anos no futebol europeu!! Apesar do tempo fechado e do frio que tem feito no Rio de Janeiro, aqui não tem espaço para “migué”!! Vamos deixar a preguiça de lado, peladeiros!! Sábado que vem tem mais!!

OS MARCOS DO BRASIL NAS COPAS DO MUNDO

por Serginho 5Bocas

Em sete marcos distintos, tentamos explicar como a seleção brasileira de futebol saiu de uma posição de mero coadjuvante, ascendeu à estrela principal do maior espetáculo esportivo da terra e caminha a passos largos para o ocaso no mundo do futebol.

O texto é um misto de reconhecimento a quem foi importante neste processo e de críticas com verdades incômodas aos que sempre usaram a seleção canarinho como se fosse dono para enriquecimento em detrimento de nossa historia.  


Domingos da Guia se destacou na Copa de 1938

Está aí um bom motivo para repensarmos o futebol brasileiro o quanto antes…

_______1938

Os desbravadores (Lêonidas, Domingos da Guia, Tim, Romeu,…)

Era a época da inocência, levamos um grupo muito bom, mas éramos desorganizados dentro e fora de campo e sem a mínima noção de nossa própria capacidade técnica. Após a derrota para a Itália, na semifinal, sem Leônidas em campo, ficou um gostinho amargo de decepção e asensação de que poderíamos ter ido mais longe. Estava aberto o caminho para as conquistas…

 

_______1950

Os Imperdoáveis (Zizinho, Ademir, Jair, Danilo, Barbosa, Bauer…)


Foi talvez a nossa maior decepção futebolística da história, um grupo de altíssima qualidade e sério candidato a melhor seleção de todos os tempos. Perdemos dramaticamente na final em casa. Ficaram feridas abertas que nunca cicatrizaram, aqueles homens morreram sem ter o perdão dos torcedores e da mídia, mas deixaram lições aprendidas muito úteis que nos deu a “casca” necessária para forjarmos os futuros campeões. Faltava pouco para a glória…

_______1958

Os Escolhidos (Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Djalma Santos, Vává, Gilmar…)


Aqueles homens, conduzidos por Pelé e Garrincha, não precisaram de psicólogos para acabar de vez com o complexo de inferioridade que tanto nos perseguia, conquistaram o mundo fora de casa, dando espetáculo e apresentando uma nova ordem no futebol. Foram escolhidos para nos dar a inédita conquista tão esperada e colocar um ponto final nos nossos fantasmas. Agora era consolidar a fama…

_______1970

Os insuperáveis (Pelé, Tostão, Gerson, Rivelino, Jairzinho, Carlos Alberto…)


Já tínhamos a noção exata do nosso valor, mas aquela seleção conduzida por Pelé chancelou nossa qualidade para os olhos do mundo inteiro. Pela primeira vez ao vivo na TV, todos puderam comprovar que era possível ganhar e jogar bonito sem perder a competitividade. Deixaram a sensação e a quase certeza de que nunca mais poderíamos fazer aquilo de novo. Ficamos anestesiados e soberbos e isto custaria caro…

_______1982

Os inesquecíveis (Zico, Falcão, Sócrates, Cerezo, Junior, Leandro…)


Foi um sonho lindo que durante cinco partidas maravilhosas, um grupo de notáveis nos livrou das amarras e mostrou um futebol solto, alegre, belo, requintado e poderoso, que nos levou da certeza da glória à tristeza profunda e improvável, marcando negativamente toda uma geração de jogadores e torcedores de uma forma que nunca mais voltou a acontecer. A derrota mudou a ordem do futebol, tornando-o mais feio e pobre…

_______1994

Os predestinados (Romário, Bebeto, Aldair, Dunga, Taffarel, Jorginho…)


Era um grupo que conhecia o caminho da vitória desde os mundiais de juniores e trouxeram de volta a glória perdida há 24 anos. Venceram com eficiência mesmo sem ser tão brilhante como outrora. Mas nem por isso faltaram jogadores de qualidade. Ficou marcada pela dureza e pragmatismo empregado em todas as partidas até o título. Tiramos um peso enorme dos ombros…

_______2002

Os últimos moicanos (Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Cafu, Roberto Carlos,…)


Saíram daqui desacreditados e voltaram nos braços da galera, pois dos pés de dois jogadores machucados (Ronaldo e Rivaldo) conseguimos garantir a última glória futebolística do País. Novamente faltou brilho e, desta vez, adversários à altura, mas serviu para consagrar o fenômeno Ronaldo e nos garantir a supremacia mundial. Não tínhamos ideia do que estava por vir…

_______2014

Os banalizados (Kaka, Robinho, Adriano, Julio Cesar, Thiago Silva, Neymar,…)


Nas últimas três Copas do Mundo fomos eliminados sem choro nem vela. Nós brasileiros fomos nos acostumando a perder sem que isso nos causasse indignação. Banalizamos as partidas e as derrotas. É lugar comum dizer que agora não tem mais bobo, que o futebol está nivelado. O triste é não ter um horizonte, uma geração brilhante para apostar no futuro. Feliz é aquele torcedor que ainda se agarra ao passado recente de glórias. Pelo visto, não aprendemos nunca a lição…