E CONTINUA DANDO AS ORDENS NO TERREIRO…
DE VOLTA AO PASSADO
por Zé Roberto Padilha
Dr. Emmett Brown, que no épico De Volta para o Futuro, de Steven Spielberg, levou Martin McFly em seu DeLorean de volta para o passado, poderia fazer um favor ao futebol brasileiro se repetisse a viagem e embarcasse, desta vez para o ano de 1982, o Ganso. Ele desembarcaria no Estádio Sarriá e seria escalado na meia-esquerda da seleção brasileira ao lado de Toninho Cerezzo, Falcão e Zico. Telê Santana avançaria o Sócrates para formar o ataque ao lado do Éder. E a máquina do tempo traria Serginho de volta ao presente do nosso futebol, onde mal sentiria a mudança. Nosso grande centroavante jogaria como titular em qualquer equipe. Já o Ganso, não.
Sua classe, habilidade e cadência, definitivamente, não são compatíveis com a correria desenfreada e impensada que se estabeleceu atualmente naquela faixa nobre do campo. Neste filme, dos melhores sonhos dos amantes do futebol-arte, Paulo Rossi não seria protagonista. Seria apenas um coadjuvante que enfrentou a equipe que mais simbolizou em campo a arte do futebol brasileiro. Faltou-lhe apenas o título. Se tivesse o Ganso, quem sabe?
Ganso recebe muitas críticas por ser considerado lento (Foto: Reprodução)
Ontem, durante a transmissão de Flamengo x São Paulo, o futebol refinado de Paulo Henrique Ganso, de toques suaves e passadas cadenciadas, que parecia que alguma criança na sala apertava a tecla Slow Motion toda vez que a bola chegava aos seus pés, não agradava aos comentários do Edinho. No SporTv, o comentarista exigia que ele fosse mais participativo na partida. Um carrinho, por exemplo, como os do Sheik, seria sinal de luta. As roubadas de bolas do Marcio Araújo, então, simbolizaria a glória. A mediocridade jogada tem sido irradiada através das cabines de rádio e televisão, e ela tem contaminado locutores e comentaristas e alcançado dia seguinte às bancas de jornais. Ganso, jogando na década de 80, mereceria toda semana uma crônica de Armando Nogueira no Jornal do Brasil. E outra do Nelson Rodrigues no Jornal dos Sports. Mas os cronistas literatos desapareceram junto à arte do nosso futebol. No seu lugar, ficaram colunistas que por mais que tentem, seus textos não são mais inspirados nas jogadas dos grandes craques, mas produzidos junto a garra e a luta de alguns gladiadores. Os cada vez mais quilômetros percorridos pelos fundistas que insistem em correr mais que a bola.
Ganso, que parece atuar de smoking, não foi escalado para jogar a Copa América porque não há no comando da seleção um treinador com o bom gosto de Telê Santana. Para jogar no time do Dunga, e do Felipão, o meio-campista tem que marcar, baixar a cabeça, correr e trocar passes com seus zagueiros. Luiz Gustavo, Fernandinho, Elias, Godzila, Homem de Ferro e Volverine crescem à frente dos telespectadores e do ataque adversário. Mas não evitam que voltemos mais cedo para casa para ver a Argentina se exibir inteirinha na tela presente.
Aos 20 minutos do segundo tempo, Ganso caiu de mau jeito na área do Flamengo. Quando o massagista chegou, torcemos para ele tirar daquela bolsinha Iodex, ou um tubo de Balsámo Bengué, aquele com salicilato de metila. Até Gelol, do Pelé, nos daria esperança. Seriam símbolos dos anos 80. Dr. Emmet Brown já teria conseguido transportá-lo. Mas o massagista do São Paulo, e o médico que o atendeu, tirou um tubo com anestésico de ultima geração de aerosóis e borrifou em suas costas. Estávamos mesmo de volta ao presente. Mas se Spielberg recuou McFly no tempo para mudar a vida dos seus pais, levar o Ganso de volta ao passado, a idade em que ele merecia ter nascido e jogado, mudaria seu destino. E do próprio futebol brasileiro.
Felipe e Lucas
O ESPELHO
texto: Sergio Lobo e André Mendonça | fotos: Marcelo Tabach | vídeo: Rodrigo Cabral
A semelhança com o pai salta aos olhos. A posição da mão enquanto conduz a bola e os dribles curtos, rápidos, são inconfundíveis. A equipe do Museu da Pelada foi conferir o treino de futsal de Lucas Loureiro, o filho mais velho do craque Felipe, eterno ídolo do Vasco. Integrante da equipe sub-11 do Bradesco, Lucas, que não demorou muito a ser reconhecido por nossa equipe, sonha em seguir os passos do paizão. Sonho compartilhado pelo craque, que acompanha o filho em todos os treinos e orienta o jovem passando um pouco de sua experiência.
“Eu ouço mais o meu pai do que o treinador.”
– Eu ouço mais o meu pai do que o treinador – revelou a promessa.
A declaração não surpreende, afinal o pai do moleque foi um dos jogadores mais habilidosos que já surgiu no futebol brasileiro. Com uma canhotinha endiabrada, Felipe entortava os adversários e fazia muitos marcadores terem pesadelos. A facilidade do craque em driblar era tanta, que alguns chegaram a fazer comparações com ninguém menos do que Garrincha.
Conhecido por todos, o drible clássico aplicado por Felipe raramente era interceptado pelos defensores. O motivo era simples: a habilidade e a agilidade adquiridas nos tempos de futsal faziam o craque pensar muito mais rápido do que os marcadores. Resumindo: o marcador sabia qual drible seria dado e mesmo assim não conseguia evitar. Felipe reconhece que o futebol mudou muito de sua época para os dias atuais, mas ainda vê semelhanças.
“Na minha época, o futsal não era tão corrido como hoje, mas ainda acho que é um excelente caminho para quem quer ser jogador. ”
– Hoje em dia, os jogadores são muito mais exigidos. Na minha época, o futsal não era tão corrido como hoje, mas ainda acho que é um excelente caminho para quem quer ser jogador. Além de ser importante para a parte técnica e tática do jogador, dá muita agilidade.
Embora jovem, Lucas tem plena consciência da importância do futebol de salão para a formação do jogador. Diferente da grande maioria dos garotos da sua idade, que preferem jogar em campos maiores, o menino se sente bem mesmo é nas quadras.
Além dos trejeitos do pai, Lucas também atua como ala-esquerda e, por vontade própria, escolheu vestir a camisa número seis. Vale lembrar que o número foi muito bem representado por Felipe, principalmente quando o craque surgiu na equipe do Vasco, em 1996, como lateral-esquerdo. Com exibições convincentes, Felipe não demorou muito a cair nas graças da torcida vascaína e despertar o interesse de clubes europeus. Apesar de todas as semelhanças já citadas, uma diferença chama a atenção: Lucas é destro, mas nem por isso menos habilidoso.
“Ele tem meus trejeitos. Se ele vai jogar igual a mim, só Deus sabe.”
– Ele tem meus trejeitos. Se ele vai jogar igual a mim, só Deus sabe. Ele leva jeito, mas é um caminho muito difícil. Eu explico para ele que na minha época de futsal somente eu e Pedrinho tivemos sucesso e conseguimos chegar ao profissional.
Felipe garante que não coloca qualquer tipo de pressão no filho e que a vontade de se tornar jogador de futebol partiu do próprio garoto. Segundo o ex-jogador, o importante é a criança se divertir jogando futebol. Para fazer o que mais gosta, no entanto, Lucas precisa fazer por onde.
“A educação e o estudo estão sempre em primeiro lugar e depois vem o lazer, que é o futebol!”
– O estudo é a prioridade. Se tiver mal na escola, a gente tira o futebol. Meu pai fazia isso comigo e deu certo. A educação e o estudo estão sempre em primeiro lugar e depois vem o lazer, que é o futebol! – afirmou o ex-jogador.
Aposentado dos gramados desde 2014, Felipe não consegue ficar longe da bola. Aos 38 anos, o craque busca uma chance para ser treinador e joga futevôlei diariamente com os amigos, na Praia da Barra, enquanto é observado por Lucas, que só não entra em quadra por um motivo:
“Eu sei jogar, mas meu pai ainda não me liberou para brincar com eles.”
– Eu sei jogar, mas meu pai ainda não me liberou para brincar com eles – resmungou.
Se o Lucas vai se tornar um jogador profissional ninguém sabe, mas se jogar metade do que o pai jogou…
MAURO GALVÃO PRESTIGIA PETROVASCO
vídeo: Rodrigo Cabral
Mauro Galvão esbanja classe (Reprodução)
Saudade de um bom zagueiro? Batemos um papo com Mauro Galvão. Franzino, ele é a maior prova de que o posicionamento é tudo contra os atacantes mais fortes. Suas antecipadas precisas deixam saudade. Do seu lado até o vigoroso Odvan ganhou visibilidade e foi parar, vejam vocês, na seleção!!!!!
O craque marcou presença na festa de cinco anos da Torcida Petrovasco, no clube de empregados da Petrobrás, na Barra. Como o próprio nome sugere, é formada por funcionários da Petrobrás apaixonados pelo Vasco. Criada em 2011 por Rodrigo Saavedra, a torcida conta também com o “Peruca do Vasco”, figurinha carimbada nos jogos da equipe.
Durante a festa na Barra, Rodrigo Saavedra, Peruca e os outros membros da torcida disputaram uma pelada contra um time de alto nível, formado por grandes jogadores que passaram pelo Vasco: Acácio; Paulinho Pereira e Mauro Galvão; William, Donizete Pantera e Sorato! Que covardia!! Mas a resenha foi boa demais!!!
DIVERTIMENTO QUE RESISTE À MODERNIDADE
por Victor Kingma, de Minas Gerais
Toda hora surge no mercado uma grande variedade de brinquedos, com as mais modernas tecnologias. Os jogos desenvolvidos para serem utilizados nos computadores, celulares e similares, então,estão cada vez mais sofisticados.
Entretanto, existe um divertimento que apesar de todos os avanços tecnológicos e mudança de costumes consegue, ainda hoje, mais de um século após ter surgido, causar o mesmo fascínio na criançada: o velho e sempre atual álbum de figurinhas.
No Brasil, os primeiros álbuns surgiram no final do século XIX, quando os fabricantes de cigarros lançaram os cromos para divulgar os seus produtos.
Quando Charles Miller trouxe o futebol para o nosso país, em 1894, esse esporte logo se tornou uma paixão nacional. Vários clubes foram surgindo e, consequentemente, os grandes ídolos também. Na década de 30, foram lançados os primeiros álbuns com as fotos dos jogadores de futebol. E colecionar figurinhas virou uma febre entre os torcedores.
Isso, porque, através dos cromos os amantes do futebol puderam ser apresentados aos ídolos dos seus times de coração, os quais, muitas vezes, só conheciam no imaginário, através das narrações esportivas dos famosos locutores do rádio.
Em época de Copa do Mundo, então, onde as paixões e rivalidades entre os torcedores eram deixadas de lado em prol de um objetivo comum, a vitória da seleção, os álbuns de figurinhas sempre fizeram o maior sucesso.
Um detalhe importante no costume de colecionar e trocar figurinhas é que incentiva a interação e o relacionamento entre as crianças e jovens, fato não muito comum em tempos de solitários jogos eletrônicos
Recordo-me bem que, no início dos anos sessenta, cheguei a andarvários quilômetros, de São Mateus, bairro onde morava em Juiz de Fora, Minas Gerais, até um bairro distante, atrás da figurinha de Djalma Santos, que faltava para eu completar o meu álbum da Copa de 1962, no Chile.
Aliás, trocar aquela figurinha repetida ou disputar no “bafo” por alguma que faltava no seu álbum, era o maior barato e agitava a molecada do bairro naqueles tempos. Quando alguém conseguia alguma figura carimbada, as mais difíceis do álbum, tirava a maior onda.
Hoje em dia, os cromos são autocolantes, mas, no passado, muitas vezes nós mesmos tínhamos que fazer a cola (grude) para colar as figurinhas no álbum, utilizando a velha receita de levar ao fogo um pouco de maizena com água. Bons tempos!
Passados tantos anos de seu lançamento, esse saudável divertimento continua fazendo a alegria da criançada. Que bom vê-los reunidos nas proximidades das bancas de jornal, às vezes até com os pais e avós, comprando ou trocando suas figurinhas, em época de lançamento de algum álbum de sucesso, como agora, no inicio do Brasileirão.