O FLA-FLU DA ROCINHA
texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Rodrigo Cabral
“Praia, Futebol, Cerveja, Amizade e RESPEITO! SE IDENTIFICOU? Então venha participar, será MUITO BEM-VINDO”. É dessa forma que os boleiros do Pretão Futebol Clube se descrevem na página do time, no Facebook. Com mais de 20 anos de bola rolando, a galera é uma das mais conhecidas da Praia de São Conrado e tem craques de todos os níveis técnicos e diferentes classes sociais, sem discriminação. Além do respeito e da cordialidade, outra característica da “Família Pretão” é a impontualidade: marcada para às 9h, a pelada só começou por volta de 12h30, no auge do calor. Resultado, a equipe do Museu ficou no maior bronze!!!
– Já estamos acostumados a jogar nesse sol! Eles sempre atrasam, mas hoje estão passando dos limites! – reclamou Cacau, o primeiro a chegar.
O atraso fora do normal tinha uma justificativa: na noite anterior, os aniversariantes André Albit e Roberto Dias fizeram uma festa que varou a madrugada. O aniversário deles, aliás, motivou o grande duelo que ocorreria naquele sábado. Como Albit é tricolor doente e Dias não sai de casa sem sua camisa do Flamengo, a “Família Pretão” decidiu fazer um clássico Fla-Flu nas areias de São Conrado.
Aos poucos, os peladeiros foram chegando. Depois do rubro-negro Cacau, foi a vez do tricolor Wagner Lima chegar. Ex-morador da Rocinha, o boleiro, agora de Jacarepaguá, não consegue ficar longe da Família Pretão e, apesar da distância e do trânsito, sempre é um dos mais pontuais. Preocupado com a falta de quórum, o atleta preferiu se prevenir.
– A rapaziada é fogo! Se não rolar a pelada, pelo menos já dei minha corridinha no calçadão. Só não dá é para ficar parado! O Pretão já virou uma família. Quando não rola futebol, tem churrasco, cerveja e a resenha é muito boa!
O sol estava tinindo!!! As bandeiras do Flamengo e do Pretão Futebol Clube já estavam hasteadas desde cedo, mas a do Fluminense estava guardada na casa do atrasado André Albit. As balizas também estavam montadas e os boleiros pontuais se aqueciam dando chutes para o goleiro tricolor Cláudio “Chilavert”.
A ideia era montar dois times de 11. Diante da dificuldade, no entanto, foi necessário começar a partida com apenas oito na linha. O Flamengo foi escalado com Júlio, Fofão, Claudinho, Cacau, Sena, André Maestro, Luciano, Coelho e Marcos Villar. E o Fluminense entrou em campo com Cláudio “Chilavert”, Paulo, Givanildo, Wagner Lima, Michel, Luan Marujo, Thiaguinho, Betinho e Vitinho.
Cansados de esperar pelos aniversariantes, que enviavam seguidas mensagens anunciando a chegada, os fominhas posaram para as fotos sem as duas atrações principais e decidiram começar a partida, por volta de 12h30. O sol, que castigava o repórter e o cinegrafista, parecia não incomodar os peladeiros.
O duelo começou truncado, com poucos lances de perigo e muita igualdade. O Flamengo saiu na frente com um gol do oportunista Marcos Villar. Logo depois, o aniversariante tricolor chegou carregado de cerveja e carne, para a alegria da rapaziada. Mas sua primeira preocupação foi fincar a bandeira do Fluminense ao lado das outras duas. Embora estivesse totalmente debilitado por conta da farra no dia anterior, demonstrava confiança e disposição.
– Vou entrar no segundo tempo e fazer um gol de barriga a la Renato Gaúcho!
Sua presença parece ter dado sorte ao Fluminense. Poucos minutos depois, o tricolor chegou ao empate em um chute cruzado do habilidoso Thiaguinho. E o primeiro tempo terminou empatado, 1 a 1.
Durante o intervalo, por volta de 13h, o aniversariante flamenguista chegou. Também com a cara amassada, completamente do avesso, Dias foi muito “cornetado” pelo atraso de incríveis quatro horas.
– Caraca! Você me deixou bêbado ontem, Albit! Acordei hoje achando que era de manhã cedo ainda! – lamentou o flamenguista, para gargalhada geral.
Ao contrário do primeiro, o segundo tempo foi um massacre! Estimulados por Albit, que prometeu cerveja de “bicho”, os tricolores partiram para cima do Flamengo! Com três gols de Vitinho e um de Paulo, com assistência do aniversariante, o Fluminense goleou por 5 a 1! Albit correu para a galera!!!!
– Ganhei meu dia! – gritava o tricolor!
– Vai ter revanche! Já pode marcar! – respondeu Dias.
A rivalidade, no entanto, ficou dentro de campo. Após o apito final, flamenguistas e tricolores curtiram um churrasco com muita cerveja e resenha, que durou até altas horas da noite. Por volta das 21h, Albit mandou uma mensagem para o repórter: “Ainda estamos curtindo o churrasco aqui na praia! O mais importante é a amizade! Mais uma vez, me desculpe pelo atraso!”.
Não tem nada que pedir desculpa, amigo! A Família Pretão é o exemplo a ser seguido por todos os grupos de pelada! A festa foi bonita demais!
VISTO ASSIM DO ALTO….
texto: André Mendonça | fotos: Custodio Coimbra
Custodio Coimbra
Assim como os primos craques de bola, Zico e Eduzinho, Custodio Coimbra nasceu com um talento fora do normal. Apesar de ser um pontinha enjoado, sua habilidade maior não é com os pés, mas com as mãos. Fotógrafo de O Globo desde 1989, Custodio é considerado por muitos como o Zico da fotografia. Com grande talento com a sua Nikon 60, o craque coleciona brilhantes registros ao longo de sua carreira.
Recentemente, Custodio enviou ao Museu da Pelada um ensaio magnífico de fotos aéreas de diversos campos de futebol espalhados pela cidade, desde terra batida até gramados de alto nível. Vale destacar que, apesar de complicados, os registros aéreos são uma especialidade dele e as fotos dos campos não foram planejadas.
– Sempre que faço esses voos fico atento a tudo e registro aquilo que me chama a atenção. Os campos de pelada no meio de uma favela, em um prédio, chamam a atenção. Eu não vou atrás deles, eles que passam no meu campo de visão entre uma matéria e outra.
Criado em Quintino, Custodio sempre foi apaixonado por futebol e jogava peladas com o primo Zico. Com o passar do tempo, aquele que seria o futuro camisa 10 do Flamengo despertou um talento excepcional e passou a jogar com os adultos. Alguns anos mais velho, Edu já treinava para se tornar jogador profissional. Posteriormente, os irmãos bons de bola tiveram a ideia de criar um time de pelada para se divertir nos finais de semana e montaram o Juventude. Um timaço! Com menos talento do que os primos, Custodio fazia parte apenas do segundo time, o que estava longe de ser uma vergonha.
– Eu era aquele que chamam de reserva do reserva. Pela consideração, o Edu me garantia uma vaga no segundo time do Juventude. Eu entrava no fim do jogo para atuar como ponta-direita. Mas o time era muito bom, eu estava bem abaixo do nível deles. O Edu me dava essa moral! – lembrou o fotógrafo.
Se o talento com os pés não se pode comparar com o dos primos, o mesmo não se pode falar das mãos. Com dez anos, foi “mascote” de um clube de fotografia em Quintino e se apaixonou pela profissão que exerceria alguns anos depois. Na época, fazia-se o registro, a foto era revelada e, posteriormente, ampliada. Como mascote, preparava a química no laboratório e se encantava quando a foto aparecia “magicamente” na câmara escura. Logo começou a fotografar e não parou mais.
Como virtudes de um bom fotógrafo, Custodio destaca a calma, a lucidez e agilidade. Sobre a última característica, o craque revelou que a adquiriu quando fazia registros de jogos de futebol. Por ser uma atividade extremamente dinâmica, acaba exigindo um alto grau de agilidade do fotógrafo. Custodio, no entanto, conhecia bem o ambiente dentro das quatro linhas e tirou de letra o desafio. Além de cobrir a Copa do Mundo de 90, na Itália, o craque das lentes, como um bom rubro-negro, registrou inúmeros jogos do timaço do Flamengo de 81, liderado por seu primo.
– Para registrar o futebol é preciso estar com os dois olhos abertos. Um olho fica no foco da câmera e o outro atento ao deslocamento dos jogadores. Quando eu via um cara se deslocando, apontava a câmera para ele, pois sabia que ia receber o passe. Em 90% das vezes ele recebia mesmo. É aquela máxima: só recebe quem se desloca. Eu apliquei isso ao meu trabalho.
Calma e lucidez, as duas outras virtudes, são necessárias porque o fotógrafo precisa saber lidar com a situação em que se encontra independentemente da gravidade dela. Diante de um incêndio, por exemplo, o fotógrafo não pode se desesperar. Segundo Custodio, “tudo acontece” e é preciso ter calma e atenção para não perder a oportunidade de fazer um bom registro.
– A fotografia é como uma onda. Ela vai se formando e você vai fotografando sucessivamente. O momento de maior tensão, e também o de maior beleza, ocorre na hora que ela vai estourar. Esse momento é que faz uma foto ser diferente da outra.
Foi juntando todas essas técnicas que o fotógrafo conseguiu fazer os registros mais importantes da vida dele. Com muitos momentos marcantes na vitoriosa carreira, o craque aponta a cobertura do velório de Tancredo Neves, em 85, como o mais especial. Não pelo velório em si, mas pela confusão que ocorreu no evento. Os policiais demoraram a abrir o portão do Palácio da Liberdade, em Minas Gerais, e a multidão derrubou a grade de contenção. Cinco pessoas morreram e dezenas ficaram feridas. Por acaso, Custodio era o único fotógrafo que estava na área em que ocorreu a tragédia e, consequentemente, foi o único a registrá-la.
– Foi um momento trágico, mas super marcante. Eu era um cara novo e passei a ser reconhecido por muitos fotógrafos após esse trabalho. O Jornal do Brasil deu três fotos desse meu material na primeira página e mais quatro páginas dentro só com foto-legenda.
Vale destacar que, em conjunto com a mulher, a jornalista Cristina Chacel, o craque está prestes a lançar o livro “Guanabara Espelho do Rio”. A obra vai contar a história da Baía de Guanabara, desde a construção dos fortes até a inauguração do Museu do Amanhã. De acordo com Custodio, são quase 400 anos de história resumidos em 20 anos de trabalho.
RESENHA DE CAMPEÃO
vídeo: Rodrigo Cabral
No último mês, a Índia foi palco de um torneio de futsal internacional, o Futsal Premier! Com grandes lendas dentro de quadra, como Ronaldinho Gaúcho, Giggs, Crespo, Cafu e Falcão, do futsal, a competição reuniu seis times.
Vale destacar que, fora das quatro linhas, os times também estavam muito bem representados. Dos seis, três eram treinados por ídolos brasileiros no esporte: Ney Pereira, Bocão e Sérgio Sapo.
A equipe do Museu da Pelada reuniu os treinadores para uma divertida resenha no Caldeirão do Albertão. A ausência ficou por conta de Sérgio Sapo, que foi representado pelo pai.
– Modéstia à parte, eu jogava muito mais do que ele! – comentou, para a gargalhada de todos.
Campeão, Ney Pereira já foi eleito o melhor treinador de futsal do mundo pela Revista Futsal Planet! Bocão é ídolo na Espanha por incansáveis golaços e Sérgio Sapo já foi bicampeão mundial.
O craque Bocão foi o técnico do time de Ronaldinho Gaúcho
CAMISA HISTÓRICA
por André Mendonça
Do lado direito, Rogério tieta Falcão com a camisa do Madureira
Uma camisa com pedidos esgotados logo no primeiro mês, exportada para 14 países, com recorde de vendas! Barcelona, Real Madrid, Chelsea? Madureira, o Tricolor Suburbano! Graças à ideia genial do designer Rogério Nunes, o clube carioca ganhou repercussão mundial em 2013 por conta de uma camisa que estampava o rosto de Che Guevara, em homenagem aos 50 anos de uma excursão da equipe para Cuba. Se para a grande maioria o sucesso foi surpreendente, quem desenhou a camisa já sabia que estava fazendo algo histórico.
– Se eu falar que não imaginava esse sucesso é mentira! Eu estava juntando o futebol, com uma figura pop, que é o Che Guevara. Tudo isso em um clube que não sofre rejeição nenhuma! Se fosse camisa do Flamengo, os vascaínos não comprariam, por exemplo! – explica Rogério.
Jornalista e sócio do site do FutRio, que dá visibilidade principalmente aos clubes de menor porte do Rio de Janeiro, Rogério apresentou o projeto da camisa a Carlos Gandola, gestor do Fut 7 Madureira, para ser utilizada nos jogos da equipe. De acordo com ele, o site é o que contribui para o bom relacionamento com os diretores.
Apaixonado por camisas de futebol desde criança, Rogério só começou a desenhar profissionalmente em 2012. Justamente por conta do site, tinha a liberdade de bater na porta dos clubes e oferecer o projeto. Dessa forma, desenhou belas camisas para o Gonçalense, Angra, Bonsucesso, Portuguesa da Ilha, entre outros. Todas elas, no entanto, tinham uma particularidade: história.
Fã de Che, Maradona posa com a camisa do Madureira
– Na minha cabeça, a palavra design não significa simplesmente desenho. Desenho, em inglês, é draw. Não são apenas traços ou uma coisa estética, tem que ter uma história por trás, por isso é sempre um projeto.
E a história dessa camisa do Madureira é linda! Após a revolução de 1959, Cuba passava por um momento conturbado e o Tricolor foi o primeiro clube de futebol a desembarcar no país, em maio de 1963. A excursão para a ilha comunista não poderia ter sido melhor. Em cinco jogos disputados, foram cinco vitórias, derrotando até o Industriales, campeão nacional. O último amistoso da equipe contou com a presença de ninguém menos que o guerrilheiro Che Guevara.
– A camisa não tem nenhum cunho político. Mesmo não sendo tão fã de futebol, o Che presenciou um jogo do Madureira. O objetivo foi lembrar aquele momento histórico. Dava pra ver a felicidade estampada no rosto do Che! Aquela foto é uma das poucas em que ele aparece sorrindo.
Falcão jogando pelo Fut 7 do Madureira com a camisa histórica
Antes mesmo da estreia do uniforme dentro das quatro linhas, o sucesso já se desenhava. Através do Twitter do FutRio, Rogério postou a foto da camisa, gerando um grande alvoroço e muitos compartilhamentos. Se o design inovador da camisa já não fosse o bastante, o craque Falcão, do futsal, disputou um campeonato pelo time de Fut 7 do Tricolor Suburbano na época, o que contribuiu ainda mais para o êxito. Por conta da grande repercussão, Elias Duba, o presidente do clube, decidiu utilizar o uniforme também nos jogos da equipe profissional de futebol.
Em homenagem à viagem foram dois uniformes com o rosto de Che estampado. Um grená e o outro da bandeira de Cuba, com as cores azul, branca e vermelha. De acordo com Rogério, as duas tiveram um sucesso parecido.
– As pessoas mais velhas, que vivenciaram aquela época, gostavam mais da grená, que é uma cor revolucionária. Mas a molecada se amarrava na colorida. Ficou bem dividido! Até hoje vejo as pessoas usando.
Para dar uma noção de números, o Madureira vendia, em média, quatro camisas por mês. Depois do lançamento desse uniforme, em setembro de 2013, passou a vender 30 por semana. Somente no primeiro mês, foram 15 mil pedidos e, obviamente, o clube não deu conta. Segundo Rogério, o sucesso poderia ser ainda maior se a empresa de material esportivo fosse uma Nike ou uma Adidas.
No ano seguinte, em outubro de 2014, Rogério desenhou outra camisa para o Madureira. Dessa vez, em alusão à excursão da equipe para a China comunista, em 1964, que completava 50 anos. Depois da recepção de Che em Cuba, os jogadores do Tricolor foram recebidos por Mao Tse Tung na China. A excursão ficou conhecida como “a viagem proibida”, já que os jogadores ficarem presos no país e só puderam voltar em troca dos 12 chineses que estavam apreendidos no Rio.
– Não teve o mesmo sucesso da camisa do Che, mas foi bom! Rolou uma dificuldade para lançar a camisa, não ficou pronta no tempo previsto e talvez isso tenha prejudicado um pouco. Se fosse lançada no dia do Golpe Militar ela teria um sucesso maior!
O trabalho de Rogério, tanto na confecção de camisas, quanto no site FutRio, é fundamental para os clubes de menor porte ganharem a visibilidade que tanto precisam.
– No site, cobrimos jogos do Serrano, Volta Redonda, Madureira, entre outros. Muitas vezes, somos o único veículo do Rio que marcamos presença nos jogos fora de casa!
JORZINHO
Hoje é aniversário do técnico Jorginho! Ao lado de Zinho, o ex-jogador foi fundamental para o crescimento do Vasco neste ano! Sabia que o entrosamento da dupla também sobressa nas peladas?