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AZIZ, BOM DE PARADA

por Sergio Pugliese


Celso Bueno, Aziz Ahmed e Alberto Ahmed

Quem conhece Aziz Ahmed sabe a figura que ele é! Lenda do jornalismo e goleiro aposentado do Caldeirão do Albertão, no Grajaú, onde permaneceu invicto por várias temporadas, há 10 anos ele desfila na Parada de Sete de Setembro, acompanhado do grupo de ex alunos do CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), e há 10 anos ele sai do evento direto para o campo. Claro que sua chegada sempre é uma farra e todos querem uma foto ao lado do segundo tenente da reserva.

– Mas em campo sempre fui titular! – garante.

E várias testemunhas podem confirmar, entre elas o jornalista Ricardo Boechat, presa fácil do goleiraço, e os adversários Celso Bueno e Alberto Ahmed, seu irmão e dono do campo.

– Quando ele estava no dia dele realmente não passava nada! – atesta Celsinho.

O que importa é que Aziz Ahmed pendurou as chuteiras, mas continua comandando a resenha e disposto a retomar a presidência, cargo ocupado hoje, desastrosamente, pelo esforçado ponta Viquinho.

– Na minha época era mais organizado, tinha café da manhã recheado de frutas, cerveja gelada e mensalidade mais barata. Acho que preciso voltar – anunciou.

Caso se confirme, a galera, assim como o parceirão Viquinho, prestará continência ao fundador e nome mais respeitado do Caldeirão!

SORTE DO VOTO, AZAR DA BOLA

por Zé Roberto Padilha


Sede do Entrerriense F.C.

São duas experiências vividas que desnudam o quanto o poder econômico pode desequilibrar, e tornar desigual, uma disputa dentro e fora das quatro linhas. Em 1988, candidato a prefeito em minha cidade, seguia com meus vereadores para o comício em um bairro na nossa Kombi com alto falantes cheios de ruídos. E a multidão seguia em direção oposta para assistir o showmício do Neguinho da Beija-Flor num Trio Elétrico em outra pracinha. No intervalo, o candidato que detinha a máquina, que sempre traz a reboque suas Odebrechts, mandava o seu recado. E na hora do voto vinha aquele eco na cabeça do eleitor: “Olha o oligarca da vez aí gente!”.


Zé Roberto foi ponta da Máquina Tricolor

Nos sinais, expunham meninas de shortinhos entregando panfletos, e eu subia o morro com minhas petistas de óculos que a população não enxergava qualquer beleza interior. Mesmo carregando bandeiras da cor que parava aquele sinal. Isto desestimulava seguidos idealistas a postular um cargo e punha o valor na etiqueta na disputa: para vereador, 100 mil, para prefeito, 1 milhão. Tão seguro deste desamparo, nossos políticos se deram ao luxo de nenhum candidato a governador nos visitar nas eleições passadas. Enviaram a Três Rios a grana e o marqueteiro que a todos os rincões bastava.

A outra foi no futebol. Treinador do Entrerriense FC no Campeonato Carioca de 1995, classificado entre os oito melhores do estadual, enfrentamos o Fluminense a uma rodada do fim. Era o ano do centenário do Flamengo e o Fla-Flu que decidia o título ia ser no domingo seguinte. Meus atletas recebiam salários mínimos e enfrentariam, entre outros, Renato Gaúcho, que sozinho ganhava mais que todo o grupo, a comissão técnica, o estádio e a sede social do clube carijó.


Pouco conseguimos treinar durante aquela semana. Diante de tamanho desnível financeiro, o temido homem da mala, de ambos os lados, rondou os meninos. Ao portador da mala para vencer, cedi até o vestiário e mandei buscar biscoitos e cafézinho. Qual o problema um estímulo a mais para buscar a vitória e diminuir a desigualdade salarial durante os 90 minutos?

Mas o da mala para perder, soube depois, conseguiu uma audiência do lado de fora. Como moradores de um bairro desassistido, sem água, luz ou coleta de lixo, ficaram expostos a uma compra de votos. Ela só ocorre quando a disparidade financeira, e a luta por condições melhores no trabalho e nos gramados, chegam ao seu limite. E os poderosos se acham no direito de bater em nossas portas a comprar a desesperança.

Hoje, na política, não pode mais ter o showmício e a grana está curta, e tabelada, como os shortinhos que desapareceram dos sinais. Assim como as placas de propaganda, os outdoors, os comitês eleitorais. Agora, os candidatos vão ter que colocar o Pezão na estrada se almejarem se aproximar do eleitor.


Campo do Entrerriense F.C.

Mas no esporte, o Entrerriense não joga mais. Está licenciado da FERJ por falta de apoio e patrocínio. Criaram arenas e expuseram os limitados, e afastaram os alambrados de Pau Grande onde surgiu um gênio ilimitado. Sumiu o Serrano e o gol do Anapolina. O América FC-TR e o Pião, que fez um gol que tirou o selo de invicto do título do Botafogo. De onde saíram os maiores jogadores do futebol brasileiro, como o Ferreira, Vinícius Righi, Denílson, permaneceram os “Gums” jogando e ganhando 200 mil.

Quanto aos meus jogadores, que resistiram à mala e lutaram até o fim naqueles 3×0 para o Fluminense, muitos abandonaram suas carreiras. Alguns se tornaram vendedores, outros voltaram a estudar. Sorte da política quando estimula políticos melhores rumarem a Brasília, azar do futebol quando fecham as estradas dos laboratórios de terra batida, das traves de bambu, bolas de pano, meninos de canelas finasque sempre conduziram a arte de seu improviso ao Maracanã. E nos tornaram cinco vezes os melhores do mundo.   

PAI DA BICICLETA

Leônidas da Silva completaria hoje 103 anos de idade! O atacante foi o inventor da bicicleta, um dos lances mais plásticos do futebol! Cria do São Cristóvão, o craque jogou em grandes clubes como Vasco, Flamengo e São Paulo, além de ter defendido a seleção na década de 30. Após penduras as chuteiras, se aventurou na carreira de treinador!  

O MENINO QUE JOGAVA SORRINDO

por Victor Kingma


Sorriso era um moleque daquela pequena vila, que tinha uma habilidade impressionante com a bola nos pés. Nas peladas no pequeno e irregular campinho de terra batida, não havia nenhum outro menino que conseguia escapar de seus dribles desconcertantes. 

Descoberto por um desses olheiros do futebol, foi levado para a escolinha de um grande clube. No primeiro treino, assim que recebeu a bola, a meteu no meio das pernas do grandalhão vitaminado que o marcava. Veio o segundo marcador e o serelepe de pernas finas jogou a bola por um lado e pegou do outro. E foi assim até o final, para desespero dos marcadores e delírio dos poucos torcedores que assistiam ao treinamento. 

Terminado o teste, eufórico, dirigiu-se sorridente até o técnico, um desses “professores” de futebol, na certeza que tinha abafado. Então veio a primeira decepção: 

– Você tem habilidade, mas precisa soltar mais a bola. Não pode driblar tanto assim. Futebol é jogo coletivo. Não é pra ficar brincando desse jeito. 

Nos treinos seguintes, sempre a mesma coisa. Toda vez que o menino se excedia nos dribles vinha a repreensão:

– Solta a bola! Joga sério! – “ensinava” o professor.

Num jogo da categoria, inconformado com a ousadia do moleque, que desobedecia as suas ordens e teimava em driblar em vez de passar a bola de primeira, o técnico, aos berros, não só o substituiu como proferiu a bronca que seria definitiva na carreira do garoto: 

– Já te falei várias vezes que isso aqui é futebol, não é circo pra ficar de brincadeira! Daqui pra frente, toda vez que não jogar SÉRIO vou te tirar do jogo. 

Foi a última partida do menino Sorriso. Ele, que aprendeu a driblar por intuição, que ganhou o apelido por jogar sempre sorrindo, talvez por sentir prazer em ver os adversários caídos e sem ação, nunca mais apareceu no clube. Resolveu voltar pra sua terra e, assim, poder se divertir de novo jogando bola nos campinhos de pelada. Não queria mais participar daquele jogo sem graça. 

Até porque, de todas as instruções que seu “professor” de futebol lhe dera, aquela ele definitivamente jamais poderia cumprir: jogar SÉRIO. 

GOL DE PLACA

Hoje é aniversário do craque Leonardo!! Com passagens por Flamengo, São Paulo, Milan e seleção, o ex-lateral marcou um dos gols mais bonitos da história quando atuava no futebol japonês!