ADEUS, MEU CRAQUE
por Zé Roberto Padilha
É um sentimento de resistência natural às adversidades do ser humano: torcer para os mais fracos. Cansei de sair do cinema entristecido porque o bandido morria no fim. Ninguém é bandido por acaso, mas na telinha era representado um ator menor, que ganhava menos do que o mocinho e era menos bonito para ter direito a beijar a rainha de Hollywood. Às vezes dava certo, como Robin Hood, mas a orientação do autor, o grito do diretor, é sempre matá-los no fim.
Domingo todos nós, que não somos palmeirenses, torcemos pela Chapecoense. E eu, particularmente, por Cléber Santana. E falava já há algumas rodadas para meus filhos: poucos meio campistas atingiram o patamar que ele alcançou. Às vezes só notamos isto quando eles jogam contra o time da gente. Na virada da Chapecoense contra o Fluminense, que nos tirou a invencibilidade dentro do Estádio do América, por 2×1, ele não errou um só passe. Tão impressionado fiquei que conferi até no vídeo tape. Daí passei a acompanhá-lo em todos os jogos. E a Chapecoense cresceu sob a sua batuta.
A profissão de jogador de futebol é como outra qualquer. Você nasce com um dom, aprimora seus fundamentos e vai praticando. Se você não se machucar, e se cuidar, a cada dia vai conhecendo mais os atalhos percorridos pela bola. É ela que passa a correr. Não mais você. E a lentidão que o torcedor, o narrador lá de cima, imagina em craques que alcançam tal nível, nada mais é do que o exercício do saber, da inteligência, de posicionamento. Com o tempo, vem o raciocínio de que um passe perdido será um contra ataque que precisaremos correr em dobro. E ele, Cléber Santana, como Robinho, Diego e Zé Roberto, atingiu o auge quando encontrou o equilíbrio e a maturidade para praticar o melhor do futebol.
Estava devendo-lhe uma homenagem porque excetuando o Moisés, do Palmeiras, ninguém foi melhor do que ele no Brasileirão a desfilar talento por aquela faixa de raciocínio onde poucos raciocinam. E ainda batia faltas com precisão e categoria. Enfim, hoje foi uma manhã muito triste para todos nós, que amamos o futebol. Foi como perder uma família que estaríamos amanhã, na final da Copa Sul Americana, torcendo ao seu lado por atingir um feito poucas vezes alcançado por equipes de menor poder aquisitivo.
Vi Náufrago, o avião caiu e Tom Hanks voltou daquela ilha muito tempo depois. Assisti O vôo e Denzel Washington conseguiu virar a aeronave e salvar muitas vidas. Neste momento, gostaria que um diretor consagrado escrevesse um roteiro que trouxesse aqueles heróis chapecoenses de volta de uma ilha qualquer da América do Sul. Pode ser até Lost. Porque o Oscar de melhor ator deste Brasileiro eu queria ter a honra de assistir ser entregue, ao vivo, em vida, por uma questão de justiça, a quem nos proporcionou as melhores cenas em campo deste semestre: Cléber Santana. Descanse em paz, meu craque. E seus companheiros também.
FORÇA, CHAPE
Fundada em 10 de maio de 1973, com o intuito de restaurar o futebol na cidade de Chapecó, a Associação Chapecoense de Futebol ganhou projeção nacional em 2013, quando conseguiu o acesso inédito para a Série A do Campeonato Brasileiro justamente no aniversário de 40 anos do clube. Apesar de muitos acharem que o rebaixamento seria questão de tempo, o time de Santa Catarina provou o contrário e, neste ano, além de ter feito uma campanha segura no Brasileirão, chegou à final da Copa Sul-Americana depois de eliminar, de forma heroica, grandes times. A empolgação era nítida e a Chape virou o Brasil na segunda competição mais importante da América do Sul.
No caminho para a Colômbia, palco da primeira decisão contra o Atlético Nacional, o avião que levava os guerreiros da Chapecoense e grandes nomes do jornalismo caiu, num dos mais graves acidentes do futebol mundial! Segundo autoridades locais, 76 pessoas morreram e, dentre os jogadores, apenas os goleiros Danilo e Follmann e o lateral Alan Ruschel sobreviveram ao impacto. Além dos três atletas, um jornalista e uma aeromoça foram resgatados com vida.
Por causa do acidente, a Conmebol suspendeu a final da Copa Sul-Americana e a CBF adiou a decisão da Copa do Brasil por tempo indeterminado.
Como diz o hino da Chape “nas alegrias e nas horas mais difíceis, meu furacão tu és sempre um vencedor”!
O ORÁCULO DO MÉ
por Serginho5Bocas
Naquele ano, se tivesse Copa do Mundo, o Zico seria o artilheiro. O homem estava com à capeta, só no Mengão foram 81 gols em 70 partidas, sem contar os gols pela seleção.
Naquela tarde, seu Zé, o pai do “digaré”, entrou no bar e gritou “mengô,,,, mengô,”, quase levou um pau do seu tião, o dono do estabelecimento. Sebastião, ou apenas Tião, era um senhor sem muita instrução, meio ignorante, mas com um enorme coração. Só tinha um probleminha, era botafoguense doente, e não suportava a ideia de alguém entrar no seu bar e falar bem do Zico ou do Flamengo.
Seu Zé, já muito “chapado”, queria só se divertir, e aí “botava pilha” no seu Tião com provocações. Mas naquele dia abusou, disse que estava com vontade de ganhar um dinheirinho fácil do pessoal do arco-íris, e então lançou o desafio:
– Sou Flamengo, dou quatro gols de vantagem e só vale gol do Zico!
Caramba, aquilo soou como uma bomba no ouvido do seu Tião, que imediatamente retrucou:
– Boto uma caixa de cerveja, seu “prego”! Ficou maluco? Aposta que eu quero ver agora!
Seu Zé, sem perder a pose, aceitou na mesma hora. Não sei se conscientemente ou somente para não dar o braço a torcer:
– Fechado! Concordou com um aperto de mão bem apertado.
Estava feito, agora era esperar o jogo e saber quem seria o vencedor da aposta.
Chegada a hora do jogo, não me lembro se foi contra o Serrano ou ADN (Zico fez o mesmo número de gols nos dois times), o Flamengo enfiou um sonoro 6 a 0, e Zico fez simplesmente todos os gols da partida, com direito a gol que o Rei Pelé tentou na Copa de 1970 sem sucesso, driblando o goleiro sem tocar na bola. Dá pra imaginar a cara do seu Tião quando recebeu a notícia?
Pois bem, logo pela manhã eu, Manel e outros colegas fizemos ponto no bar, só para ver como o Zé iria cobrar o seu Tião. Demorou um pouco, mas depois do almoço, chegou o seu Zé. Vinha com um ar de ironia, uma certa soberania no olhar, acho que por dentro explodia em gargalhadas, gargalhadas sonoras e contidas pra não humilhar.
Então pede no balcão:
– Tião! Bota uma gelada pra mim!
Seu Tião sem falar uma palavra, traz a cerveja e coloca no balcão, junto com um copo.
Zé bebe uma, duas, três e finalmente na quarta, após um longo e angustiante silêncio, quando nós já não aguentávamos mais, solta a pérola:
– Tião, traz agora uma com gosto de pato…
Não deu nem tempo de completar a frase, voou um abridor de garrafa que passou tinindo pela cabeça do Zé, e uma tremenda confusão se formou. Depois de muito deixa disso, a situação se normalizou e nós rimos muito com as piadas do Zé.
Acho que aquela caixa de cerveja foi a mais saborosa que o Zé já tomou, e também a mais dolorosa que o seu Tião já pagou. Naquele dia o Galo fez um oráculo do MÉ se dar bem, e um botafoguense tomar mais bronca dele ainda.
Club de Regatas Vasco da Gama!
por Eduardo Semblano
Mais uma mancha de um capítulo que já dura 16 anos, este livro que está sendo escrito desde 2000 e, de lá pra cá, após a virada épica sobre o Palmeiras e o fechamento do ano em janeiro de 2001, com o fatídico título do Brasileiro (Copa Joao Havelange)!
O Vasco fez nesse tempo a MAIOR mancha dentro de campo de um gigante na história desse país (outros tem bem maiores com ajuda de arbitragem e etc), falo isso com muita tranquilidade. O Flu foi à 3ª divisão, mas em um tempo mais curto e com uma forma diferente de disputa, um surto em sua história. Também fez vexame, mas o do Vasco é pior.
O que será do Vasco???
O torcedor hoje tem a certeza que brigará pra não cair em 2017, só esse sentimento já mostra tamanha vergonha e “apequenamento” que os envolvidos na direção do Vasco tem feito ao longo desse sombrio período!
O Vasco da Gama tem 118 da história, de vanguarda, de batalhas contra os mais favorecidos, de diversos esquadrões, de brilhos em todas as décadas, e não só lampejos de determinados times ou gerações. O Vasco foi enorme desde de sua gestação e fundação, a cada virada de ano a angústia era pra saber o que ganharia, quem revelaria, que nova página linda seria escrita… O Vasco é isso!
Seu estádio outrora de vanguarda hoje se definha, está velho, obsoleto e encolheu por segurança. Sua piscina de glórias e torneios enormes até ontem não tinha água, seu ginásio de maternidade de tantos craques que no futsal surgiam foi reformado por uma vaquinha da torcida, seu CT, que de CT não tem nada, também parou no tempo, está largado! Sua camisa, que tanto vale há anos, não tem as maiores empresas mundiais produzindo, até confecção própria já vimos! Uma briga descabida e sem medir consequências com a maior “patrocinadora” do Brasil, a TV Globo, eleições fraudulentas e motivo de inserções polícias a cada ano de eleição. Uma dívida enorme que parece impagável, o respeito que se foi, a simpatia que se perdeu e mais do que isso, o vexame e vergonha de seus torcedores em ver o clube nesta situação e não poder fazer nada!
Ao Vasco da Gama CAMPEÃO de terra e mar fica apenas a torcida para que quem dirigiu e coordenou o clube nesses 16 últimos anos suma de lá, que nunca mais pise na colina histórica e que o Vasco não seja das bravatas e atrocidades em todas as esferas, que o Vasco volte a ser do povo, dos negros, brancos e portugueses, de todos os brasileiros espalhados por todo planeta que em seu peito, junto ao coração, carregam a cruz mais famosa do MUNDO, a Cruz de Malta do CLUBE DE REGATAS VASCO DA GAMA!
Fui CLEAR????
HERÓIS DA RESISTÊNCIA
por Sergio Pugliese
CUBA – O general Fidel Castro Ruiz pode ser considerado um dos maiores símbolos de longevidade e resistência ideológica da história. Grande combatente e anti-imperialista até o último fio de barba não há como negar que El Comandante também enfrentou seus momentos de fraqueza e, ainda menino, rendeu-se aos encantos do beisebol, esporte originalmente criado pelos americanos. O fascínio aumentou ano a ano e ele praticamente transformou-se num garoto-propaganda da turma dos tacos. Viajando pelo interior da ilha de Fidel em busca de um campo de pelada, missão praticamente impossível, pois o futebol também perde em preferência para o vôlei, box, basquete, xadrez, pelota de mão etc etc etc, a equipe do A Pelada Como Ela É localizou, na histórica cidade de Santiago de Cuba, Raciel Sarmento, professor de uma escolinha e o verdadeiro líder da resistência cubana, pois jamais se dobrou aos encantos do yankee beisebol e diariamente, contra tudo e contra todos, reforça seu “exército” com mais e mais peladeiros-mirins-socialistas. Isso, sim, uma verdadeira revolução!
– Venceremos essa guerra e um dia Cuba se dobrará ao futebol – divertiu-se ele, funcionário da escola primária Clodomira Acosta.
A missão não é fácil. Pelas ruas e bares, os nomes mais falados são os de Industriales, Havana e Santiago de Cuba, times de beisebol que fazem a cabeça dos habitantes da ilha. E jogadores como Norgeluis Veras, Alex Ceibel, Quinderán, Pacheco, Contrera e Hermán Mesa sacodem o coração dos cubanos. O taxista Rogelio Evangelista Machado, que funcionou como guia de nossa equipe, demorou a encontrar um campinho de futebol e o primeiro foi no Centro Recreativo Ciroa, onde Raciel Sarmento treinava a garotada. Mesmo assim as melhores quadras do espaço eram usadas para basquete e pelota de mão.
– O futebol vem se tornando um grande foco revolucionário dentro desse país de fortes ideologias esportivas – brincou Sarmento, enquanto posava com o time para o fotógrafo e documentarista Guillermo Planel.
Num estalo, o motorista lembrou-se de outro campo e Fidel ganhou alguns pontos quando chegamos ao local, na verdade, o Quartel de Moncada, principal referência da revolução cubana. Moncada foi a primeira grande tentativa de Fidel Castro tomar o poder no país, em 26 de julho de 1953, junto com 165 homens. Fracassou e foi preso por dois anos. É neste cenário, um batalhão crivado de balas, que hoje abriga uma escola primária, onde a resistência revolucionária de nossa pelada encontra seu espaço máximo, num dos lugares mais visitados de Cuba. Mas, fora isso, campos de futebol são artigos raros por lá. De grama sintética, então, nem se fala. Algumas peladas que encontramos eram jogadas com bola de basquete e improvisadas em áreas destinadas ao beisebol.
Voltamos ao campo de Raciel Sarmento.
Quase no fim do treino uma bolinha de pelota perdida foi parar no campo de pelada. Antes de devolvê-la ao dono, o menino Bairon iniciou uma série de embaixadinhas e fez diversas firulas com maestria. Fez lembrar os malabarismos de nosso Robinho, mas declarou-se fã de Ronaldinho Gaúcho. No fim da exibição foi aplaudido pelas “galeras rivais” e encheu o professor de orgulho. Os pequenos revolucionários partiram e deixaram vazio o campinho careca. Frank, Rolando, Ricardo, Ernesto, Victor, Fran, William e Michel, apesar de dois nomes de origem norte-americana, são frutos dessa saudável resistência esportiva. São os pequenos heróis de uma luta continental, que tem Ronaldos, Romários e Zidanes, como ídolos universais, e o sonhador Raciel Sarmento, anônimo mas determinado professor de escolinha, como símbolo maior de persistência.