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UMA PAIXÃO DE 36 ANOS

por Marcos Vinicius Cabral


Acho uma leviandade quando alguém se intitula torcedor de um time desde nascença, querendo justificar sua forte ligação para o clube que torce.

A maioria dos torcedores apaixonados é assim e Maurício Fernandes Vasquez, de 56 anos, morador de Niterói, é um ponto fora da curva, corroborando com o ditado de que ‘toda regra tem sua exceção’.

Não seria difícil imaginar que qualquer clube seria a paixão deste professor universitário de Jornalismo, menos o Flamengo: “Vasquez, em espanhol, quer dizer ‘filho de Vasco’. Sinceramente, acredito que isso vem daquela mania estranha de se trocar o V pelo B e que o correto seria ‘filho de basco’. Mas meu pai foi remador do Vasco da Gama e o capitão da equipe que Lamartine Babo eternizou no hino deles. Ele era capixaba e remava no Saldanha da Gama antes de vir para o Rio de Janeiro”, explica fazendo questão de frisar que não tem qualquer ligação com a equipe cruzmaltina.

Em seguida, o América teria uma interferência na vida daquele garoto que, aos seis anos de idade, ganhara das mãos calejadas do pai o uniforme completo do ‘Diabo Vermelho’, com a flâmula e a bandeira, numa alusão as cores do Saldanha da Gama (clube tradicional, fundado em 1902, em Vitória, no Espírito Santo, nas cores vermelha e branca e que hoje tem futsal e basquete em seus quadros tendo inclusive revelado Anderson Varejão, que brilhou por 12 temporadas entre 2004 a 2016 jogando pelo Cleveland, na NBA).

Sua conversão ao ‘Mais Querido’ deu-se em um Fla-Flu, aos sete anos de idade. Ele e o primo Felisberto foram levados pelo tio Túlio e ficaram nas cadeiras azuis do estádio, exatamente no meio da mulambada, apelido da torcida rubro-negra:

– Lembro que cada vez que tinha um ataque, fosse do Flamengo ou fosse do Fluminense, eu cobria os olhos. Não vi muito do jogo, mas ali virei rubro-negro – diz tentando lembrar-se, em vão, do placar da partida.


Dois anos após essa metamorfose vermelha e preta, com 11 anos, ganhou um uniforme completo: calção preto, camisa rubro-negra, meiões e uma chuteira de travas, embora fosse uma negação com a bola sempre sendo preterido na escolha dos times nas peladas.

Não se embrutecia, apenas aceitava a triste sina de ser ‘perna de pau’ e sempre lhe restava o gol que, modéstia à parte, saía-se razoavelmente bem. Mas sempre que abria uma brecha pedia para jogar um pouquinho na linha.

Morando em Icaraí, bairro classe média de Niterói, o garoto queria ostentar o manto rubro-negro e as chuteiras novas. Em 1971, sem saber a razão, foi passear em São Gonçalo com um amigo. Deslizou nas calçadas úmidas e sujas na cidade temendo um escorregão ou algo pior.

Foi a única vez que usou as chuteiras.

Enfim, o tempo passou e certa noite foi a uma rodada dupla no Maracanã, com um amigo. O primeiro jogo era do Fluminense e o segundo do Flamengo. Na época, 1976 ou 1977, os jogos começavam às sete da noite e tendo rodada dupla terminavam perto da meia-noite.

E pelo Flamengo conseguiu a proeza de na mesma noite, após ter errado o caminho para pegar o ônibus, ser assaltado e ter o dinheiro da passagem devolvido pelo mesmo assaltante:

– Saímos pela entrada do Bellini e, ao invés de virar para a direita, viramos para a esquerda, dando quase que uma volta completa pelo estádio, já vazio àquela hora. Fomos interpelados por cinco pivetes. Entrevi, no bolso de um deles, todos menores que nós, a coronha de um revólver. Não quis nem saber se era de verdade ou não. Calmamente, paramos e nos deixamos ser rapinados. Na verdade, não tinha muita coisa para se levar. Eu tinha um cordão que era brinde da revista Pop, que foi muito popular na época. No meu bolso estava o rádio de meu colega, que levaram, também assim como o dinheiro dele de passagem. Eu estava sem dinheiro, tinha só o das nossas passagens, que segurava na mão, com um saco de churros por cima. Quando pegaram a carteira do meu colega nem nos lembramos de que o da passagem já estava salvo. Ponderamos com eles que não podíamos ficar a pé, já que morávamos em Niterói. Eles perguntaram quanto era a passagem e nos devolveram cinco cruzeiros novos! – conta e emenda: “os assaltantes daquela época eram mais amigos”.

Mas nem isso fez com que seu entusiasmo com o Mengão ou de ir ao ‘Maraca’ arrefecesse.

Assim como o primeiro assalto ninguém esquece, imagina a primeira e única vez na Geral do estádio?

Estádio apinhado de torcedores brasileiros, na sua maioria rubro-negros. Estar lá dentro era uma façanha digna dos verdadeiros torcedores, os que amam o futebol, afinal o jogo foi num domingo de calor insuportável: “Foi num jogo contra o Peru, comemorativo do Dia do Trabalho. Deve ter sido em 1978. Cheguei ao Maracanã e não havia mais ingressos para a arquibancada. Comprei para a Geral. Achei estranhíssimo o ponto de vista. Tudo o que dava para ver bem era um pedaço mínimo do campo. O resto ficava tão longe que não se via nada! E, de repente, uma bola é lançada para o ponta peruano, que corre atrás dela pela lateral esquerda. E lá de longe, surge Toninho, lateral do Flamengo, para disputar a bola. E Toninho vem correndo e quanto mais perto vai chegando da bola, maior vai se tornando para os geraldinos. E quanto mais perto, maior. Até que ele alcança a bola e a isola e nós, geraldinos, procuramos nos proteger daquele tanque humano, que, para nós, parecia que ia nos atropelar, como se estivéssemos num filme 3D”, conta o catedrático, lembrando que sempre foi fã do polivalente lateral da camisa 2 e que naquele escrete canarinho havia também um certo Zico e Nunes, chamado de João Danado (apelido dado pelo radialista Washington Rodrigues, o Apolinho).

Na época que ainda era solteiro passou por algumas ‘saias justas’ e fazia questão de mesmo assim demonstrar todo amor ao ‘Mais Querido’, mesmo nas situações mais inusitadas que viveu no Estádio Mário Filho, vulgo Maracanã. Entre uma aqui e outra acolá, prefere lembrar de uma em especial: “Eu e meu querido primo Felisberto assistimos a um Flamengo X Vasco na torcida cruzmaltina! Quando chegamos não encontramos lugar na do Flamengo e resolvemos ir para a torcida adversária. Ficamos quietos e combinamos que, se interpelados, diríamos que éramos mineiros visitando o Rio pela primeira vez. E não é que um vascaíno chega perto e comenta:

– Esse jogo está emocionante, né?

Na maior cara de pau, respondo: – É! Lá em Minas não é assim!”.

Como ele permanecia junto de nós, resolvi me mostrar ainda mais sonso e perguntei:

– O que são essas estrelas todas na bandeira?

Ele me disse que eram títulos invictos do Vasco, ou coisa que o valha. No que eu emendei:

– Puxa, então o Botafogo só tem um título?

Aí, ele desistiu de nós e pudemos assistir ao resto de jogo mais ou menos sossegados.

Frequentador assíduo das arquibancadas por onde o Flamengo jogasse, começou a guardar por hobby os ingressos sempre que a equipe ganhava ou empatava e os colava na porta interna do armário.

Alguns teriam lugares de destaque nas colagens como no tricampeonato em dois anos (1978/1979/1979) e os da final do Brasileiro de 80 e os da Libertadores de 81, estes dois últimos, que segundo o próprio torcedor, foram especiais.

Mas a vida de Maurício Fernandes Vasquez seguiria seu rumo normal e com o casório à vista, o já degradado armário ficaria no passado do mesmo jeito que o celibato. Até que, sabe se lá porquê, resolveu comprar uma camisa rubro-negra com o número 10 às costas, no mesmo ano da conquista do primeiro título, em 1980.

Havia esperança naquela camisa e quiçá naquele time. Sempre retirada das gavetas com cheirinho de naftalina – com exceção do Brasileiro de 80 o Flamengo só havia ganhado títulos cariocas e inexpressivos – a ansiedade daquele torcedor era do tamanho da nação rubro-negra: gigantesca!


Mas com o título da Libertadores de 1981, que lhe concedeu o direito de jogar o Mundial daquele ano contra os ingleses do Liverpool, a relação mista entre Maurício – que trabalhava no Banco do Estado de Santa Catarina na época – com sua camisa se tornaria mais afetiva a ponto de batizá-la de ‘Invicta’, sendo utilizada em ocasiões especialíssimas.

Enquanto os 40 milhões de flamenguistas espalhados pelo país consideram o Mundial como divisor de águas na história do clube, Maurício faz coro com a massa rubro-negra:”Aliás, o Mundial foi algo surreal! Assisti ao jogo em casa, e quando acabou o jogo fui, com minha namorada, para a Praia de Icaraí. Foi incrível ver a praia cheia, a aglomeração da torcida em frente ao Bier Strand, às duas horas da manhã de uma segunda-feira que ainda iria surgir”, diz salientando que a ‘Invicta’ só sai da gaveta em jogos finais o que comprova sua eficiência tamanha invencibilidade.


Já nos idos de 90, teve a oportunidade de acompanhar seu irmão Pedro Vasquez – repórter e fotógrafo de mão cheia – numa entrevista para a extinta revista Três, no Recreio dos Bandeirantes, na sede do CFZ (Centro de Futebol Zico) com o Galinho.


Na ocasião – a única vez que esteve com o maior ídolo do Flamengo -, teve motivos de sobras para não deixar o momento passar incólume sem pedir autógrafos e um em especial:”Comprei por lá duas camisas do CFZ para ele autografar, uma para minha mulher, outra para meu filho. Levei também a Invicta e ela ostenta hoje, além das marcas do tempo, o autógrafo do Galinho junto ao escudo do Mengão. Aliás, o duplo autógrafo, pois levei uma caneta especial, de tinta permanente ou coisa parecida e, na primeira lavada, o autógrafo passou também para as costas!

– Há anos não caibo mais dentro dela, mas nunca cogitei me separar dela – diz um apaixonado há 36 anos pela camisa.

Vampeta

REI DA RESENHA

texto e entrevista: Marcelo Mendez | foto: Zanone Fraissat vídeo: Marcelo Ferreira | edição de vídeo: Daniel Planel 

 

Falar com Vampeta é tratar de um tempo que não existe mais. E resenhar um futebol que também não existe mais. Um tempo e um futebol… Tempo que os jogadores se freqüentavam mais, se falavam, gostavam do tempo que tinham pra conviver e falar de amenidades necessárias para tornar a vida agradável.

E além de tanta bola que jogou, do tanto que venceu, foi isso que mais Vampeta fez: tornar a vida agradável. Entre títulos conquistados, países conhecidos, amigos feitos, versos transformados em cambalhotas e tanta história para contar, Vampeta viveu sua vida no futebol e o sorriso que estampa no rosto quando ele fala disso explica muito do que ele pensa sobre o futebol.

Para essa entrevista no Museu da Pelada, chamei ele pra prosa e foi ótima como sempre. Fiquem agora, portanto, com o último romântico do futebol.

Senhoras e senhores, com vocês, Vampeta!

 

A BASE REALMENTE É O FUTURO?

Mateus Ribeiro


Imagine que hoje Pelé fizesse sucesso (e muitos gols) na base de qualquer clube, e conseguisse o sonho de subir para o profissional. Feito tal exercício de imaginação, agora mentalize que o garoto mineiro fez duas boas partidas no time profissional contra times inferiores. Pronto, o coquetel do deslumbre está preparado: dezenas de entrevistas mostrando a vida do jovem rapaz, matérias em jornais, sites e revistas. Aliado a isso, um enorme número de contratos surgem, e viram do avesso a cabeça do então talento a ser lapidado.

Se isso acontecesse apenas com Pelé, estaríamos bem. O problema é que analisando fria e profundamente, esse triste fenômeno acontece praticamente todo dia no futebol brasileiro. Basta um lance mais rebuscado, e pronto, temos uma nova JÓIA! Normalmente esse processo de supervalorização não costuma trazer bons frutos, a não ser que se trate de um talento diferenciado, caso de Neymar (em que pese o fato de que a blindagem da imprensa é um ponto que favorece muito o jogador do Barcelona).


As coisas ficam mais tristes quando analisamos que isso tudo acontece desde a base. Quantos jogadores com quinze, dezesseis anos já estão com a cabeça na lua, seguindo os ensinamentos de uma mídia que só quer vender? Nunca fizeram tabela com um profissional, não sabem nem o nome do maior artilheiro do time que defendem e já querem ir para o Barcelona, para o Real Madrid, ou encher o bolso em qualquer canto do mundo. Quando chegam ao profissional, já chegam seguindo o modelo do jogador da atualidade: comportamento de integrante de boyband, o rei na barriga, tatuagens até nos lábios, e uma prepotência de dar inveja. Sem contar os nomes de Deputado Estadual que os jogadores recebem hoje. Esqueça Pelé. Ele seria Edson Arantes.


Quando Renê Simões disse que estavam criando um monstro ao falar de Neymar, ele não estava mentindo. Criaram. Só que ele é um monstro que conseguiu cativar uns e outros, e sua arrogância virou personalidade na boca da imprensa e no ouvido do pobre público. Gabriel Jesus, jogador extremamente talentoso, segue o mesmo caminho.

O caminho não é dos mais claros. Jogadores mimados, com o nariz empinado, sempre dispostos a estar no centro do mundo, mesmo sem motivo. As conquistas podem até aparecer dentro de campo. Porém, tão legal quanto ter conquistas, é ter ídolos. E esses moleques metidos a ídolos não me representam. E nunca me representarão.

CABEÇAS DE CAMARÃO

por Fábio Lacerda


A tão desejada taça da Copa Libertadores

Conmebol anuncia selvageria no calendário da Libertadores impactantes nas federações sul-americanas. E a Confederação Brasileira de Futebol, mais cagada que pau de galinheiro, consegue novas vagas para o futebol nacional. A bagunça é total! Agora são sete clubes brasileiros com vagas na Pré-Libertadores e fase de grupos da competição Interclubes mais difícil do planeta. E para deixar clarividente a credibilidade de nossos dirigentes futebolísticos, não é ironia do destino as sete vagas. O sete é o número que conota trambiques, trapaças, ajustes sem critérios, benefícios em detrimento ao prejuízo dos outros. Sete vagas para o futebol brasileiro. Muito sugestivo, não é verdade Marco Pólo Del Nero, Marin, Ricardo Teixeira, e outros tantos que fazem da Confederação Brasileira o escritório da riqueza ilícita.


Todos sabemos que antes de usarmos o camarão para alguma saborosa iguaria é necessário tirar a cabeça do crustáceo repleta de merda – desculpa a força da expressão tão popular e disseminada por aí. E parece ser preciso arrancar as cabeças dos dirigentes da Conmebol. E por que não dos dirigentes brasileiros também? Diante da subjetividade das interpretações, elimino quaisquer conotações violentas contra esses cartolas com face de cédulas.

A dificuldade de adequar o calendário sul-americano ao europeu, embora alguns países adotem o modelo, como a Argentina, é determinante para muitos outros desmembramentos negativos. Não conseguem nem construir uma jogada, muito menos finalizar a gol. Assim a entidade máxima do futebol sul-americano, e a entidade máxima do futebol brasileiro atuam no calendário futebolístico. 


A descabida proposta de aumentar o número de clubes participantes na Libertadores, competição que passaria a ocupar dez dos 12 meses do ano é um crime contra o futebol e seu potencial mercadológico mesmo no continente em que o PIB dos países continua sofrendo com a economia global.

O que a Conmebol precisaria fazer era uma adequação do calendário para a Copa Sul-Americana, assim como acontece com a Copa Libertadores da América, Liga dos Campeões e Europa League. Um calendário planejado que permite uma interação dos clubes com jogos internacionais mediante a um critério imutável por muitos anos. As respectivas classificações dos clubes diante de uma fórmula nacional que vou sugerir a partir do parágrafo abaixo. A ganância dos olhos dos dirigentes da Conmebol pode dar um contorno pessimista para a combalida credibilidade dos mandatários do futebol no continente.


Sorteio dos grupos da Copa Libertadores

No Brasil a vergonha é maior. Ostentar o título de maior campeão de Copas do Mundo e apresentar números irrelevantes para este futebol admirado, respeitado, porém não mais temido, é resultante de descuido. A farra começa desde as diversas e oficiosas logomarcas para as competições nacionais criadas pelas emissoras de televisão até a cara de pau feita aos clubes através de convites. A Copa do Brasil é o maior exemplo disso. E é a partir dela que é possível moldar um critério básico para tentar induzir a valorização dos Estaduais: A segunda competição nacional mais importante do país será elaborada somente com 54 clubes sendo estes os campeões e vice-campeões de cada estado da federação. Assim sendo, os regionais podem voltar a ganhar sua admiração. O Carioca, por exemplo, considerado e declarado ao vento, ainda carrega a honraria de “o mais charmoso do Brasil”. Será que esse mesma caracterização pode ser confrontada com o título internacional de “Cidade Maravilhosa”? Já pararam para pensar que a faixa para ser carregada de “Cidade Maravilhosa” precisa de um futebol forte novamente? Claro que sim! Acirrar as disputas por apenas duas vagas garantidas para a Copa do Brasil pode trazer benefícios técnicos em campo, comercial, marketing e encostar na parede os dirigentes que gostam de avacalhar os Estaduais. Pensar no fim deles é estirpar parte da cultura.

Quanto ao Brasileiro já deveria estar sendo disputado por 18 clubes há muito tempo! Abriria-se espaço para a reposição e preparação adequada da logística do futebol com o tempo sendo um aliado ao invés de amaldiçoado.

Do primeiro ao quarto, vaga na Libertadores da América. Do quinto ao oitavo, somado ao campeão da Copa do Brasil, todos na Sul-Americana, e assim feito, ambas as competições sul-americanas com 32 clubes divididos em oito chaves de quatro. E a temporada do Brasil seria aberta com casa cheia fazendo o jogo inaugural entre os campeões do Brasileiro e da Copa do Brasil para disputarem o troféu de Supercampeão do Brasil.

O texto está bem explicado, didático e desenhado ao mesmo tempo. Basta executar para que o torcedor se programe. Para que os clubes se programem para valorizar o maior produto de emoções do mundo: o futebol.

A valorização do mérito no campo de jogo e as cabeças de camarões parecem destoar para um futebol sul-americano mais empolgante do que já é. Diferentemente da Liga dos Campeões, a Libertadores é certeza de surpresas entre os semifinalistas. Algo muito improvável no Velho Continente. Como um país de dimensões continentais, está na hora do Brasil tomar vergonha na cara e fazer do futebol um instrumento positivo e de credibilidade inspirando a sociedade, seja nas práticas esportivas, mas sobretudo nas ações, reações e valores cívicos.

SONHO MEU

:::: por Paulo Cezar Caju ::::

Famoso por minha rabugentice, volta e meia me perguntam: “Mas PC, do que você gosta?”. Poderia devolver a mesma pergunta: “Do que você gosta?”. Está fácil gostar de alguma coisa? Não!!!! Para facilitar, adianto um ping-pong. Gosta da seleção, que ganhou dois joguinhos bem mais ou menos? Não!!!

Do Flamengo, que subiu no salto alto e tomou do Palestino? Não!!! Do futebol chileno? Sim!!! Da volta do Renato Gaúcho e do Celso Roth? Não!!! Do Cuca? Sim, desde que não se acovarde como os outros “professores”. O Palmeiras é um timaço? Longe disso!!! Quem merece ser rebaixado? Qualquer um! Quem merece subir? Ninguém!


Gustavo Scarpa vive um excelente momento

E o Gabriel Jesus? Tem que fugir da máscara! E seu Fogão? Por enquanto é Foguinho! Neymar? Craque, mas precisamos de outros! Renato Augusto? Tem vários da mesma forma, sem sal. Quem gosta de ver jogando? O lateral-esquerdo do Botafogo, Diogo Barbosa, e Gustavo Scarpa, do Fluminense, o maior craque em atividade.

Há dois ou três anos, assisti, em Laranjeiras, uma final dos juniores entre Fluminense e Botafogo, que venceu com um gol do Tanque. Mas só o Scarpa me chamou a atenção. Me lembrou o Rivellino começando a carreira. E, agora, até bigodinho ele tem. Só não tem as orelhas grandes do Riva, apelidado de Dumbo, kkkkkk. Será realidade ou delírio de um rabugento que sonha com a volta do futebol-arte?

– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 6 de outubro de 2016.