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OS “PROFESSORES”

:::: por Paulo Cezar Caju ::::


Não há nada mais patético do que a dança de cadeiras de técnicos, no Brasil. São tantos exemplos ridículos que fica até difícil escolher um para comentar. Mas alguém duvida, por exemplo, que o Inter esteja nessa situação porque mudou três “professores” num curto espaço de tempo e efetivou o Celso Roth?

E o Ricardo Gomes que preferiu a “segurança” do São Paulo ao invés da possibilidade de rebaixamento do Botafogo? Resultado: está quase descendo o tricolor paulista.

No meio do campeonato os presidentes autorizam que seus gerentes de futebol convidem outros treinadores, sem a menor cerimônia. Isso não deveria ser proibido? Os presidentes é que deveriam ser substituídos a qualquer momento, isso sim!

E, agora, teve essa do Corinthians tirar o Oswaldo Oliveira do Sport!!! Meu Deus, mas baseado em que???

O Oswaldo praticamente levou o clube nordestino ao rebaixamento!!!! E ainda perdeu para o próprio Corinthians em seu último jogo….e na coletiva, na maior cara de pau, disse que “o Sport tinhas todas as condições de sair daquela situação”. Que ele levou!!!

Vai substituir o Fábio Carille, que era interino, foi efetivado e, garanto, vai voltar caladinho para as funções de auxiliar. Sai, Carille, vai buscar seu próprio espaço ou vai passar a vida como mais uma marionete nas mãos dos dirigentes.

– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 19 de outubro de 2016.      

PELADA SOLIDÁRIA

texto: André Mendonça | vídeo e edição: Rodrigo Cabral

A convite do parceiro Gaúcho, um dos cartolas do Planet Globe, o Museu da Pelada foi até Paty do Alferes para uma pelada beneficente muito bacana! Realizado pela Viva Rio, “organização sem fins lucrativos que atua na formação de comunidades seguras em territórios vulneráveis”, o clássico entre a Seleção Brasileira de Artistas e o time Pérolas Negras, do Haiti, foi uma grande festa, com muitos sorrisos, samba e feijoada!

Vale destacar que a Academia de Futebol Pérolas Negras é um projeto do Viva Rio. No site da organização, os administradores descrevem a equipe como uma oportunidade de formar atletas haitianos, promover os talentos locais em competições internacionais e, sobretudo, promover a inclusão social e a cidadania a partir do esporte.

– A gente trabalha no Haiti desde 2004. Ao longo desses anos a gente foi percebendo que eles são apaixonados por futebol e acho que até mais ligados ao esporte que os brasileiros. A partir daí, vimos que era um bom caminho para a garotada, começamos com peladas de rua, campeonatos e percebemos que tinha espaço para formar um time profissional, de alto rendimento. Isso mostra que os refugiados podem ser uma fonte de talento – explicou Rubem Fernandes, diretor executivo do Viva Rio.

Embora não seja uma equipe profissional, a Seleção Brasileira de Artistas é outro timaço! Na sala de troféus da equipe, a conquista mais importante, sem dúvidas, é a “Art-Football”, a Copa do Mundo de artistas. Realizada na Rússia, a competição contou com 16 equipes e os brasileiros foram campeões invictos.

– O objetivo dessa pelada é confraternizar, trocar cultura e jogar bola! A Planet Globe tem esse caráter beneficente, tentando confraternizar, arrecadando alimentos, mas também somos competitivos. Ganhamos o mundial, um torneio em Buenos Aires e, sempre que possível, fazemos treinos e jogamos amistosos – disse o ator Heitor Martinez.

Apesar de ter sido uma partida disputada, o preparo físico dos haitianos prevaleceu e o Pérolas Negras venceu o Planet Globe por 3 a 0. Vale lembrar que, neste ano, a equipe do Haiti participou da Copa São Paulo de Futebol Júnior e, em 2017, disputará novamente! Jogar o maior campeonato de juniores do Brasil, aliás, é motivo de orgulho para os jogadores haitianos. Durante a resenha, muitos revelaram que o futebol é a grande esperança para uma mudança na vida deles e o torneio é uma grande vitrine.

Boa sorte, rapaziada!

NEYMARRA

por Zé Roberto Padilha


Os coadjuvantes das maiores obras de arte já produzidas pelo futebol brasileiro, embora momentaneamente abatidos pela genialidade da vez, deixaram o esporte sem traumas. De cabeça erguida, penduraram suas chuteiras porque entre eles e a bola havia um pincel de Michelangelo. E nos pés destes o respeito.

O elástico de Rivelino jamais humilhou o Alcir. Foi executado de frente, assim como drible de corpo do Pelé no goleiro uruguaio, Mazurkiewicz. Mesmo a dança de Mané Garrincha sobre seus Joãos, o dois pra lá, dois pra cá, combinava com sua pureza. E humildade. À vítima, prostrada, só restava o consolo de saber que entre suas pernas, da bola que passou ao seu lado e da ginga de um doce e inocente palhaço jamais seriam apagadas. E eles, ao contrário de muitos, não seriam esquecidos no Baú do Esporte pela história de um país sem memória.

O Brasil, hoje, tem apenas um gênio da bola. Mas que consegue empanar cada dose de genialidade com ares de deboche. Pode ser no Maracanã ou no Aterro do Flamengo, casa cheia ou só com o olhar do vigia: a caneta e o lençol efetuados em direção ao gol é um recurso. Para trás é mais que o fim de um contra ataque. É provocação. Quando aplicada e vir seguida daquela risadinha Neymariana, provoca até dos mais disciplinados marcadores a mais violenta das reações.


Perdemos uma Copa do Mundo não durante uma terça-feira no Mineirão, mas porque nosso maior jogador provocou tanto os colombinaos em um sábado anterior, que um deles o acertou. Machucado, cedeu seu lugar ao Bernard, comum como todos os outros de amarelinho, que pouco pode fazer para evitar os 7×1. E tem sido assim ao longo de sua carreira, Neymar encantando, dando show, Neymarra provocando e sendo expulso. Como um ídolo pode ser exemplo, uma referência para crianças e adolescentes como foram Pelé, Gérson, Tostão e Zico, se ele não carrega o respeito aos adversários colado à bola que tanto reverencia?


Messi e Neymar de cabelos pintados

Nossa esperança era que ao ir jogar no Barcelona, ao lado do maior jogador do mundo, o Messi, Neymar seguiria seus passos. O craque argentino só encantava, não reclamava nem provocava os adversários. Mas no lugar de Neymar mudar, quem mudou foi o Messi. Desde a chegada do brasileiro, se encheu de tatuagens, pintou o cabelo de branco e já começou a reclamar com o juiz. Daqui a pouco vem desfilar no Salgueiro. O “diz com quem jogas e te direis quem és”, infelizmente, influenciou o cara errado. E logo agora que o Suarez tinha parado de morder seus adversários.

Fica a grande questão: é melhor vencer a Venezuela sem brilho, mas com respeito, ou ganhar de goleada e ter em campo um atleta que provoca para ser caçado por nossos adversários? Um ídolo é também um embaixador de sua pátria. Durante as Olimpíadas, Usain Bolt nos fez admirar a Jamaica tanto como Bob Marley. E Michael Phelps, com sua gentileza e recordes,  melhorou por aqui o conceito norte-americano. Mesmo através de um craque, será que é este o Brasil, da soberba, da ironia carregada junto ao seu maior símbolo, uma bola de futebol, que queremos nos apresentar ao mundo?

Raul Plassmann

muralha amarela

texto e entrevista: Sergio Pugliese | edição de vídeo: Daniel Planel 

 

Orgulho é pouco para comunicar a parceria entre o Museu da Pelada e o Canal 100, maior acervo cinematográfico do futebol brasileiro!!!! O mais bacana é que o Canal 100 está voltando à cena para, com o Museu da Pelada, contar histórias dos ídolos que durante anos foram registrados por suas lentes!!! Nossa primeira ação foi em Belo Horizonte, num evento promovido pela AGC (Associação de Grandes Cruzeirenses), que reuniu os campeões da Taça Brasil de 66, entre eles Dirceu Lopes, Evaldo e Natal, para comemorar os 50 anos dessa conquista. Nossa ideia é organizar encontros históricos e transformá-los em vídeos e documentários. Hoje, felizes da vida, postamos o primeiro fruto desse “casamento”, uma divertida entrevista com Raul, outro ídolo da torcida cruzeirense e que comandou a mesa redonda com os astros de 66.

Nascido em Antonina, município do Paraná, Raul fez suas primeiras defesas no Atlético Paranaense e, em 1964, se profissionalizou pelo maior rival do rubro-negro, o Coritiba. Sem espaço por lá, o goleiro, aos 20 anos, se transferiu para o São Paulo no ano seguinte. Na equipe paulista foram apenas nove jogos, até ser contratado pelo Cruzeiro, onde sua carreira decolou. 


Apesar da pouca idade, a muralha não demorou a cair nas graças da torcida celeste. Com muita segurança e elasticidade, Raul jogou treze anos seguidos no clube, conquistando nove estaduais, um Campeonato Brasileiro e uma Libertadores.

O curioso é que na sua estreia pelo Cruzeiro, em 1965, contra o Atlético-MG, Raul entrou em campo com uma camisa amarela, de manga comprida, algo inédito no futebol brasileiro e, por isso, virou motivo de piada para os torcedores.

– Muitos não sabem, mas eu era o quinto goleiro daquele time! Todos os jogadores passaram mal e eu tive que ser escalado às pressas! A camisa do goleiro titular não cabia em mim e eu peguei o moletom amarelo emprestado do Neco! Era a única solução!

Com personalidade forte, o goleiro não se abateu e fez uma boa estreia contra o Atlético. A partir daí, aquele uniforme passou a ser uma espécie de talismã da sorte e o goleiro não abandonou mais o moletom amarelo!


O episódio foi lembrado recentemente por conta da punição aplicada pela FIFA sobre a CBF, devido aos xingamentos da torcida brasileira ao goleiro Ospina, da Colômbia, durante um jogo pelas Eliminatórias.

– Eu vou me dar bem pra caramba! Só que no meu caso é retroativo, 50 anos! Até que enfim vou comprar a minha Ferrari! – brincou!

Depois do Cruzeiro, Raul desembarcou no Rio de Janeiro em 78 para jogar no Flamengo. No rubro-negro, defendeu o timaço de Zico, Andrade, Júnior e Leandro até 1983, quando decidiu pendurar as chuteiras!
 

 

O BOTEQUIM DO ALFREDINHO

por Sergio Pugliese


Campos de pelada e botequins são almas gêmeas. Populares, democráticos, palcos de prazer e frustrações, títulos e rebaixamentos. Normalmente maltratados, esburacados e sujos não cogitam plástica, afinal quanto pior, melhor! Bem resolvidos, complementam-se harmoniosamente: um desgasta a rapaziada e o outro abastece o corpo e a alma. Nesses três anos de coluna nos dividimos felizes da vida entre esses dois espaços e na quarta-feira passada não foi diferente. Nossa equipe, quebrada, saiu de um racha direto para o Bip Bip, em Copacabana, reduto de boêmios e dos melhores músicos do pedaço. Alfredinho, o dono, estava lá, cercado de fotos dos bambas Aldir Blanc, Roberto Ribeiro, Nelson Sargento e Carlos Cachaça.

– Jogava bola, Alfredinho? – provocou Ian Sena, pontinha atrevido do A Pelada Como Ela É.

– Tá brincando, menino? Era o camisa 10 do Bossa Nova – devolveu. 

Nascido em Santa Cruz e criado em Cosmos e Bangu, claro que o botafoguense Alfredo Jacinto Melo era bom de bola. Desfilou o talento como meia-armador e ponta-esquerda, no campo do Rosita Sofia. Nessa época atendia por Russinho. O dono do time, Walter Jararaca, vibrava com os seus dribles. Baixinho, entortava os gigantes do principal rival, o Esquina do Pecado. Mas seus companheiros Tião, Dito, Pedro Rola, Orlando Silva, Jorge Farrapo, Jabuti, Hélio Muquira, Totonho e Fefeu também eram ensaboados. Quantas vitórias comemoradas com carne de gato!

– Tempo bom, mas o futebol profissional acabou – desabafou.

Para Alfredinho, mesmo após a goleada para o Bayern, o Barcelona continua sendo o melhor do mundo. E só. Os clientes concordaram e ele emendou reclamando das novas arenas, do beach soccer, do futsal. Quer de volta o Maracanã com a geral, o futebol de praia, o futebol de salão. Mesa de bar é para isso! Os compositores Paulinho do Cavaco e Luis Pimentel pediram os botequins de volta, mas em forma de canção: “…o porre, a paquera, conversa fiada. E a dor de corno que virou piada. Nos meus botequins a vida era engraçada….o ovo colorido enfeitando o balcão. A cerveja gelada tirando o juízo. E os sonhos cobrindo a serragem do chão. E no alto São Jorge matando o dragão…”. A galera delirou! O artilheiro Ian batucava na latinha de cerveja e o quarto zagueiro Pimentel, no tantan.

– Depois de arrasar no jogo, nada melhor do que colher os louros – tirou onda, Ian.

O moleque realmente deitou e rolou na partida contra o escrete de Mangueirinha, colega de trabalho. Fez três gols e distribuiu lençóis e canetas. Alfredinho sente uma pontada no peito quando ouve essas histórias. Estava no infanto do Bangu, dirigido por Domingos da Guia, quando precisou trocar a carreira no futebol por uma corretora de câmbio. Alugou um apartamento em Copacabana com quatro amigos e as noitadas nunca mais o abandonaram. Em 1984, assumiu o Bip Bip, fundado em 1968. É o quarto dono. Era um antigo sonho reunir amigos em resenhas futebolísticas e musicais. Carismático, transformou um espaço de 18 metros quadrados em atração turística internacional. Não tem garçons. Os próprios clientes pegam suas latinhas de cerveja no freezer e cortam o queijo no balcão, o oposto da canção de Paulinho Cavaco e Pimentel sobre a invasão dos botecos de grife: “…é point da moda, não sai dos jornais, cheio de frescuras e artistas globais….”. 

– O Bip Bip é a casa de todos – resumiu, Alfredinho.

Ian Sena estava feliz como pinto no lixo, soltinho como nas quatro linhas. E filosofou citando um pensamento do teólogo Leonardo Boff: “Boteco é um estado de espírito. É uma metáfora da comensalidade sonhada por Jesus, lugar onde todos podem sentar à mesa e celebrar o convívio fraterno e fazer do comer, uma comunhão”. A frase retratava fielmente o momento vivido pela rapaziada. Ian também lembrou do boleiro José Neto, cria do Aterro, e seu blog Drinks & Kibe, no mesmo conceito, bar e bola. Já era tarde. Daphne, namorada de Ian, ligou cobrando presença. Ainda tinha o terceiro tempo! Hora da foto! Alfredinho abraçou a bola e fez cara de sério: “Deixa com o craque!”. Paulinho do Cavaco e Pimentel ajeitaram as golas. Click! Ian partiu quicando a redonda enquanto Alfredinho apontava a geladeira para um turista italiano que ainda não sabia como a banda tocava por ali.

Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É no dia 27 de abril de 2013.