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FOGÃO CAMPEÃO


Na noite da última quarta-feira, o Botafogo venceu o Vasco por 5 a 3 e conquistou o Campeonato Carioca 2016 de Fut 7! Mesmo tendo vencido o primeiro jogo da decisão por 4 a 1, o Fogão não tomou conhecimento do adversário e aplicou mais uma goleada na Arena Akxe, na Barra da Tijuca.

O Botafogo chegou à decisão após ser campeão do primeiro turno da competição. Na ocasião, o adversário também foi o Vasco e, depois de um empate sem gols, o jogo foi decidido no shoot out!

A premiação dos melhores jogadores da competição será na próxima terça-feira, às 20h, na Universidade Veiga de Almeida, na Tijuca. Com o fim do torneio, os jogadores só se reapresentam no ano que vem para o início da pré-temporada!

REI DA PURRINHA

Quinta-feira é dia de recordar! Por isso, postamos um vídeo gravado pela equipe da “A Pelada Como Ela É”, de 2012, sobre Edmundo! Vocês sabiam que, além de craque dentro de campo, o ex-atacante é também um grande jogador de purrinha?

Comentarista da Band, na época, o jogador, que trabalhava em São Paulo, se desdobrava para jogar a Sagrada Pelada de Sexta, no Rio de Janeiro, comandada pelos irmãos Deio e Beto Lucena. De acordo com Edmundo, o futebol era de alto nível e apenas cinco dos quarenta inscritos não eram craques!

– No par ou ímpar pode fechar os olhos e escolher, só tem fera – garantiu Edmundo.


em pé da esquerda para a direita: Chafir, Bê Muniz, Popó, Palmer, Rodrega, Pedro Lord, Zanelli, Studart, Scott, Manga, Fera, Paulão, Robertinho (goleiro do futebol de praia), Davi, Tabajara, Andre João, Octavio e Felipe Testa. Sentados da esquerda para a direita: Fernando Velho, Edmundo, Deio e o filho João Felipe.

Além do ex-atacante da seleção brasileira, participam da pelada o músico Rogê, Robertinho, goleiro do futebol de praia, Ernane, ídolo de Vasco e Ponte Preta, entre outros.

Em relação ao jogo de purrinha, tradicional em diversas resenhas após as peladas, o craque confessou que já jogou até por telefone, quando atuava na Itália.

– O adversário não sabe, mas eu menti o número de moedinhas que tinha na minha mão!
 
 

ABEL E CAIM

por Zé Roberto Padilha



Abel Braga vocês conhecem. Trata-se de um bom zagueiro central revelado pelo Fluminense e que, ao defender o Vasco e preparar o terreno para se tornar treinador de futebol, teve uma ideia brilhante, digna do melhor jeitinho brasileiro: convidou seu Diretor de Futebol, Eurico Miranda, para ser seu padrinho de casamento. E o Vasco, através do seu eterno mandatário, lhe abriu não uma, mas várias portas até que seus gritos à beira do campo, potencializados pela altura e visibilidade das cordas sonoras e suas bases de sustentação, alcançassem o país. E ele atingiu seus objetivos, já aí com méritos, diga-se de passagem, e sem precisar de doações da Odebrecht: foi campeão estadual, brasileiro e mundial.

Mas no livro Gênesis do futebol, corroído de traições e ciúmes, Abel tinha um irmão mais velho, Caim, que se tornou cartola tricolor. Caso o Fluminense o contratasse, cairia sempre com ele. E assim aconteceu no Brasileirão de 2013, Caim (Rodrigo Caetano) e Abel Braga apresentaram diferentes ofertas ao todo poderoso local (Peter Siemsen). O filho mais velho queria resultados imediatos e o mais novo um trabalho de renovação com as ovelhinhas ordenhadas em Xerém. Mas ao perder para o Grêmio por 2×0, completar cinco derrotas consecutivas e deixar o time na zona do rebaixamento (17º lugar), Caim, com o aval do comandante do Éden, demitiu Abel.


Abel Braga conversa com Rodrigo Caetano nas Laranjeiras

Se na Bíblia “o tempo é o senhor da razão”, nos Jardins das Laranjeiras ele, tempo, não passa de um adolescente em pura emoção. Porque a nova versão de Caim e seu criador eleito, apoiados por Peter, traz de volta, menos de três safras depois, Abel para dirigir suas ovelhas. O que leva, então, um treinador demitido há pouco retornar como solução? Mudou o Abel, que vai buscar resultados imediatos, Caim, que vai permitir que o gramado das Laranjeiras receba os meninos e aposente as velhas raposas, como Magno Alves, ou foi o paraíso que de vez se perdeu?


Acabo de abrir os jornais em busca de respostas. E acabaram de delatar todo o Éden. Do presidente e seus comparsas, sem exceção, todos levaram um trocado para manter erguida uma farsa chamada Brasil. Perante tal inferno dantesco seria muito exigir lisura, ética, correção em um mero clube de futebol. Então que venha esta nova versão da gênesis da bola. Pois se Caim matar de novo Abel na primeira rodada da Taça Guanabara e não voltarmos às ruas para retirar estes canalhas do poder, vai ficar provado que por lá habitava não um povo. Mas uma horda de cidadãos e torcedores tão frouxos e passivos como aqueles que empossaram para julgar seu juízo final.

A VÁRZEA QUE CONTRARIA NELSON RODRIGUES

por Marcelo Mendez


Tomado por toda poesia que o futebol é capaz de nos submeter, mestre Nelson Rodrigues escreveu certava vez que “O sublime não se repete, é bissexto, acontece uma vez na vida, outra na morte.”

E com toda a genialidade que tinha o Mestre das Crônicas jamais ele havia de imaginar que nos terrões e arrabaldes das cidades, o futebol de várzea viria para contrariar sua máxima tão bela.

Amigo leitor que aqui me acompanha, vos digo que semana após semana o futebol da bola marrom por puro capricho repete todo sublime possível que está por detrás da chuteira colorida que bate na bola marrom.

São homens de uma decência ímpar, de uma dignidade comovente a correr por um réquiem de grandeza mínima que as coisas do futebol lhes reservam em suas duras vidas de trabalhadores da bola. E tudo isso é multiplicado vezes um milhão de sonhos quando tratamos de uma final de campeonato na várzea.

Vejamos então nesse fim de semana, onde os times do Hélida de Mauá e do Gaivotas de Rio Grande da Serra definiriam a sorte da Copa Lourencini, um tradicional campeonato da cidade de Mauá, no campo do Itapeva na mesma cidade. Rumamos para pauta, Avenida Barão de Mauá afora.

Pelo caminho vimos a cara de interior que o ABCD tem mudando lindamente. De repente, os comércios fechados foram sendo trocados por bares, conversas e um cheiro espetacular de frango assado, típico do domingo para marcar esse dia de várzea.


De imediato, ouvimos os instrumentos de samba a tocar em fúria e os sons da torcida a vociferar seus pagodes, foi o que nos guiou para encontrarmos um campo. Chegamos.

A equipe de ABCD Maior é recebida com sorrisos, pedidos de foto e agradecimentos por simplesmente estar ali. É o momento em que as pessoas da várzea deixam de ser invisíveis para ter um protagonismo que jamais poderia ser negado a esses. As páginas de jornal terão então as presenças dos torcedores dos times, de suas camisas multicoloridas, sua alegria honesta e suas paixões sem comedimento.

Em campo, a coisa seguiu 1×1 até os 39 minutos do segundo tempo, no momento que o técnico Finha, do time do Hélida, ousou tirar o seu camisa 10 do jogo. O menino olhou para o banco incrédulo:

– EU?!

– É, você mesmo. Vem… – respondeu o técnico Finha

O camisa 10 saiu irritado quando viu que em seu lugar entrou o menino Vitinho, 16 anos e craque de bola. Ainda resmungava com Finha, quando a bola chegou aos pés de Vitinho pela primeira vez no jogo.


Como que por encanto, o momento mágico escolheu Vitinho para empurrar a bola com classe para o fundo das redes com o gol que deu o título para o Hélida. E, na beira de campo, o camisa 10 contrariado não reclamou mais.

Abraçou efusivamente o técnico Finha e ambos comemoravam o feito de Vitinho.

Nesse momento, qualquer dúvida em mim se dissipou quanto à escolha do meu personagem da semana, a quem a crônica deveria homenagear. Ora, ela vai para o jogo.

Sim, caro leitor, hoje a crônica da semana vai homenagear o jogo do último domingo num todo. Porque só um jogo de final de campeonato de várzea é capaz de reunir todos esses encantos e essas poesias. E tenho certeza que nem mestre Nelson Rodrigues ficaria triste com a provocação feita por esse pobre e velho cronista ludopédico acerca de sua máxima que então deixa de ser perene.

A várzea, Mestre Nelson, nos contraria por puro charme. Eu ia dizer “que pena que o senhor não conheceu”, mas que nada. Tenho certeza que os senhor está sempre por aí a vê-la.

Tenho certeza…

Luis Pereira

ZAGUEIRO ESPETÁCULO

texto e entrevista: Fernando Kallás | edição de vídeo: Daniel Perpetuo

 

Luís Pereira recebeu o Museu da Pelada na Cidade Esportiva de Cerro del Espino, o centro de treinamento do Atlético de Madrid, na cidade de Majadahonda, a pouco menos de meia hora de Madrid. Era uma típica manhã de outono no subúrbio da capital espanhola. Céu azul e o sol brilhando forte pra dar uma sensação agradável aos 15ºC que marcavam nos termômetros. Um daqueles dias que os madrilenhos dizem que “convidam a sair de casa” e passear, principalmente nas ruas arborizadas desse subúrbio de classe média alta ao noroeste da maior cidade da península ibérica.

Luís chega na hora marcada e com o sorriso de sempre. A voz de baixo profundo e a fala mansa dão ainda mais força a sua figura imponente, de zagueiro que já estabelecia respeito antes mesmo da bola rolar. Mas foi exatamente com ela nos pés que Luís Pereira fez história aqui no país onde ele jogou durante cinco temporadas na década de 70 e decidiu fixar residência há quinze anos.

Numa época em que os zagueiros na Espanha tinham uma função puramente defensiva, Luís Pereira levava as arquibancadas ao delírio com as arrancadas e o futebol fino, vistoso, que lhe deram o status de estrela do Atlético de Madrid quase de imediato. E lhe renderam apelidos como “El Mago” ou o “Zagueiro Espetáculo”.

– A imagem que tenho do Luís Pereira é a do estádio Vicente Calderón de pé todas as vezes que ele arrancava pro ataque ou resolvia driblar um atacante mesmo sendo o último homem. Aquela tensão inicial, seguida de um ‘Ohhhh’ em uníssono quando ele humilhava um atacante, marcou uma época no futebol espanhol. Nunca tínhamos visto isso antes – explica o jornalista Luis Nieto, vice-diretor do Diário As e responsável pelos relatos dos jogos do Real Madrid e seleção espanhola nas páginas do jornal esportivo do grupo do El País.

– Não vou dizer que dava certo todas as vezes. De vez em quando o atacante roubava a bola e marcava um gol, mas aí eu ia pra cima e resolvia do meio jeito -sorri Luís Pereira com um leve sotaque castelhano, se referindo à fama de goleador que também carrega até hoje no legado.

Com 35 gols marcados com a camisa do Palmeiras, ele é o maior zagueiro artilheiro da história do Verdão. Ao longo de sua carreira, o craque marcou mais de 100 gols.

– Eu fazia o que vinha na cabeça e o que eu acho é que o jogador tem que jogar desfrutando, com o espírito do futebol de várzea. Os jogadores de antes jogavam assim e o último que vi fazer isso foi o Ronaldinho Gaúcho, que jogava com um sorriso.

Num bate-papo descontraído durante mais de uma hora com o Museu da Pelada, Luisão lembrou como as arrancadas históricas, que até lhe renderam o apelido “Chevrolet”, levavam o Mestre Oswaldo Brandão à loucura.

– Ele me dizia: ‘Se você passar do meio de campo com a bola eu te tiro do jogo’. Daí eu dava um pique até a linha divisória e no último momento parava, olhava pro banco sorrindo e voltava! – conta Luís Pereira, que lembra com um grande sorriso o dia que o lendário treinador mandou ele entrar em campo com a camisa 9, dando ainda mais corda a brincadeira e provocação entre ambos.

Luís Pereira lembra também das broncas que recebia de outro técnico histórico, Luis Aragonés, quando este o flagrava fumando no vestiário durante o intervalo, da adaptação num futebol espanhol onde praticamente não havia negros e de como o racismo e a provocação nunca o atingiram.

– Um dia no Santiago Bernabéu jogaram uma lata de cerveja que caiu fechada ao meu lado. Eu encostei na trave, abri a lata e tomei, os caras ficaram loucos – lembra com um sorriso no rosto.

Luís Edmundo Pereira é baiano de Juazeiro e nasceu no dia 21 de junho de 1949, mesmo ano em que sua família chegou em São Caetano (SP), para morar em uma casinha simples na Vila Barcelos. Com 14 anos, começou a trabalhar como torneiro mecânico e a jogar futebol no time da empresa, onde atuava de centroavante, mesma posição do seu começo no Barcelona de São Caetano do Sul. Um amigo o levou ao São Bento de Sorocaba no início de 1966, onde encontrou seu espaço no elenco de profissionais jogando de zagueiro ou de volante, já que o titular da zaga central era ninguém menos que Marinho Peres. Ainda adolescente, encarou pela primeira vez o já bicampeão mundial Pelé, que anos depois o definiria como um dos melhores zagueiros que enfrentou na carreira.

Não demorou para que o fenômeno chamasse a atenção dos grandes clubes da capital. Esteve a um passo de jogar no Corinthians mas acabou indo pro Palmeiras com apenas 19 anos, na segunda metade de 1968, quando o clube passava por uma fase de reformulação. Jogadores como Djalma Santos, Tupãzinho, Zequinha, Ademar Pantera e Valdir de Moraes tinham acabado de sair – debandada esta que demarcou o fim da chamada “Primeira Academia”.

No começo aprendeu no banco de reservas atrás do grande Baldochi. Entre 1968 e 1969 foram menos de 20 partidas, mas dois títulos importantes: o Campeonato Brasileiro e o Ramón de Carranza de 1969. A oportunidade veio na Copa do Mundo de 1970, quando o veterano titular foi para o México com a seleção brasileira e rendeu a primeira grande chance ao zagueiro. Depois de 26 duelos consecutivos como titular, o defensor ganhou a posição entre os 11. Em 1971, Baldochi deixou o clube e abriu espaço definitivamente para Luís Pereira brilhar sob o comando do mestre Brandão num time que ficaria conhecido como a Segunda Academia: Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo Mostarda e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu Bala, Leivinha, César Maluco e Nei.

Ganharam o Brasileiro de 1972 e 1973, o Paulista de 1972 e 1974 e o Ramón de Carranza de 1974 e 1975, esse último que chamou a atenção do Atlético de Madrid, que não pensou duas vezes antes de trazê-lo à Espanha junto com o companheiro Leivinha.

Vestindo a camisa colchonera, conquistou em 1976 aquele que talvez seja o título de campeão da Liga Espanhola mais lembrado pelos torcedores do clube. Isso porque o troféu foi conquistado em pleno estádio Santiago Bernabéu, contra o maior rival, Real Madrid.

Hoje Luís Pereira é dirigente das divisões de base do clube da capital, onde é tratado como uma lenda viva e idolatrado por onde passa.

– Aqui os ex-jogadores são valorizados, a memória é preservada e passada para as seguintes gerações. Quando os pais vêem seus filhos entrando no ônibus para uma viagem com ídolo histórico do clube, dá uma tranquilidade que não tem preço! -conta Luís Pereira.