A VOLTA DO ÍDOLO
por Elso Venâncio

A contratação do Romário, repatriado pelo Flamengo após a conquista do Mundial pela Seleção Brasileira em 1994, nos Estados Unidos, é considerada por muitos jornalistas a maior da história do nosso futebol. No auge, com 28 anos, o Baixinho planejou e trabalhou sua negociação.
Na pequena Los Gatos, uma vila da Califórnia, ao lado de São Francisco, o Brasil se concentrava para tentar o título da Copa do Mundo, que não conquistava havia 24 anos. Num hotel de cinco andares, sendo os três últimos reservados à Seleção, estava hospedado Luiz Augusto Veloso, presidente do Flamengo, que soube dos planos de Romário. Conversou com ele e prometeu que, se fosse reeleito, iria tentar contratá-lo.
— É fácil, presidente! Ambev, a empresa de chuteiras que tenho contrato, o fornecedor de camisas do Flamengo e o Governo do Estado. Cada um dá um milhão — explicou o astro do Barcelona, entusiasmado.
A ousada ideia surgiu num período de força do real, que empatava em valor com o dólar. Após o título mundial, Romário chegou a dar declarações demonstrando o seu desejo de atuar pelo Flamengo. Como parecia apenas um sonho, o fato passou despercebido pela imprensa.
De acordo com o estatuto do Flamengo, as eleições para presidente do clube acontecem no primeiro decênio de dezembro. No pleito de 1994, o empresário e radialista Kleber Leite venceu a disputa com Veloso. No calor das comemorações, foi perguntado se contrataria pelo menos um tetracampeão mundial. “Coloca no plural”, rebateu no ato.
Um pool de empresas se formou. Paralelamente, Romário afirmou que não jogaria mais pelo Barcelona. Estava aberto o caminho para que o Flamengo contratasse o então maior jogador do mundo em 1995, ano do seu centenário. Outro personagem do tetra, o lateral Branco também foi apresentado como reforço.
De uma hora para outra, jornalistas de todo o mundo passaram a desembarcar no Rio. Queriam saber que clube brasileiro era esse, capaz de tirar o craque da Copa do futebol europeu. Nas arquibancadas, um canto mostrava a expectativa pela estreia do Baixinho. O cantor Nelson Gonçalves estava no meio da galera e soltou a voz: “Olê-lê, olá-lá! Romário vem aí e o bicho vai pegar…”. Antes entoada pela Raça Rubro-Negra com o nome da torcida organizada, a música adaptada passou a ser cantada por todos,
Com o Maracanã fechado, o Flamengo atuou por um período na Gávea e também mandava jogos fora do Rio. Era tanta gente da imprensa cercando o Baixinho que surgiu a entrevista coletiva, causando ciúmes no técnico Vanderlei Luxemburgo: “Comigo, agora é só coletiva”.
No ano de 1995, Romário não era só a maior personalidade do futebol, mas sim a maior personalidade do país. O biógrafo rubro-negro Marcos Eduardo Neves assim definiu o retorno do ídolo: “Romário voltou para ser o Chatô, o Rei do Brasil”, numa alusão ao influente Assis Chateaubriand, maior nome da imprensa nacional entre as décadas de 1930 e 1960.
FLUMINENSE 50: MUITOS FLUS
por Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor
Uma pequena brincadeira na madrugada, pra aliviar as atuais tensões do Fluminense.
Que tal montar alguns times imaginários com jogadores tricolores dos últimos 50 anos? E nem todos campeões, mas reconhecidamente talentosos.
Sem o menor objetivo de impor os melhores de todos os tempos, mas apenas lembrar de tantos e tantos nomes que brilharam com a camisa tricolor, independentemente do tempo de atuação.
Vamos lá.
Um time: Felix, Gabriel, Régis, Torres e Branco; Jandir, Deco e Mário; Romerito, Fred e Zezé. Treinador: Mário Travaglini.
Outro: Renato, Aldo, Válber, Luis Eduardo e Lira; Zé Mário, Felipe, Carlos Alberto e Thiago Neves; Romário e Cláudio Adão. Treinador: Nelsinho.
Paulo Goulart, Rubens Galaxe, Gum, Ricardo Gomes e Marinho Chagas; Pintinho, Gilberto e Rivellino; Mário Tilico, Washington e Paulinho. Treinador: Didi.
Wendell, Edevaldo, Nino, Edinho e Eduardo; Deley, Renato e Bobô; Wagner, Ézio e Magno Alves. Treinador: Muricy.
Cavalieri, Ronald, Miguel, Vica e Marco Antônio; Aílton, Djair, Luiz Henrique e Assis; Robertinho e Tato. Treinador: Abel.
Fernando Henrique, Getúlio, Lima, Sorley e Paulo César; Leomir, Cleber e Paulo Cezar Caju; Doval, Dodô e Mário Sérgio. Treinador: Cuca
Quanta gente boa! E quanta gente sensacional ainda ficou de fora? Muitos, muitos e muitos, prova inquestionável da nossa força.
MORTE E ENTERRO
por Rubens Lemos

O rebaixamento do ABC expõe algo de comportamental. Jamais um resultado foi tão cínico quanto o deste ano, posto que a diretoria apoiada pela torcida terminou responsável pelo maior vexame do clube em quase todos os 110 anos de fundação. O ABC passou vergonha, não ganhou uma só partida em casa e cai por absoluto ridículo.
Em 1981, aos 11 anos, vi o ABC fora da Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro por conta de uma derrota cabulosa para o Baraúnas de Mossoró por 2×1 quando quase a cidade cai em lágrimas por não saber o destino do time.
Resultado: naquela época os cardeais alvinegros, que pareciam senadores romanos reuniram-se para tirar a diretoria do clube e impor alguma ordem ao que parecia uma desarmonia total. Uma liminar na Justiça manteve os mandatários de então e evitaram o afastamento da diretoria que nada tinha de desonesta, mas de absolutamente amadora diante dos americanos malandros.
Em 1982, essa diretoria continuou e o ABC manteve-se coerente ao não participar sequer da Série C ou Taça de Bronze, vendo de camarote o América sagrar-se tetracampeão invicto com um timaço diante de uma massa lacrimejante. O ABC patinava enquanto o principal adversário explodia em categoria e gols.
O ABC renasceu com o presidente Rui Barbosa em 1983 e, jogado às traças, recuperou-se com o seu melhor time da história moderna conquistando campeonato estadual e readquirindo o sentimento de alma absolutamente resgatada. Ao abecedista, não basta ser torcedor, é preciso ter vibração e fé.
O ABC vingou-se e plantou goleadas no América de 3×0, 4×1 e 4×2 mais de uma vez com três homens absolutamente espetaculares: Dedé de Dora, Marinho Apolônio e Silva, que triangulavam jogadas ancestrais de lançamentos, toques e dribles curtos que sacudiam a estrutura concreta do Estádio Castelão(Machadão).
O ABC, que teve brios para superar os insucessos ridículos, voltou a ser time de verdade com Lulinha; Alexandre Cearense, Joel, Alexandre Mineiro e Dudé; Nicácio, Dedé de Dora e Marinho Apolônio; Curió, Silva e Djalma ou Reinaldo Xavier.
Quem esteve naquele estádio em 1983 vai morrer ou já morreu sabendo que a tocha em preto e branco nunca iria ser apagada por derrotas ou crises ocasionais. Aquele time era uma cachaça para abrandar as crises da vida. O ABC era o time dos pobres, daqueles que filavam uma cana no umbral das gerais.
A lição do time de 1983 para os de antes e para os sucessores foi a de que o ABC é grande e vigoroso. Não adianta usar o seu uniforme, principalmente se for o branco estilo Santos de Pelé, para receber humilhações dentro de casa.
Dos primórdios do Estádio Juvenal Lamartine, de Jorginho, ate o Castelão de Alberi, o ABC enfrentou situações dramáticas e soube ser passional transformando-as em vitórias épicas. Quem já esteve naquele colosso de Lagoa Nova saberá que da grama arrancada restam as poesias feitas por Alberi de 1972 até o ano em que ele usou a camisa pela última vez, 1985 em amistoso sem uma alma viva no templo que lhe consagrou Rei.
O ABC está rebaixado para a Série D sem que lhe fosse imposta uma só desmoralização. O ABC se pintou de ridículo, se travestiu de clube bisonho ao não vencer nenhuma de suas partidas em casa. O ABC está pintado pelas tinturas da vergonha desde que a atual diretoria assumiu, algo que a torcida não pode reclamar porque nela votou em peso, sem prever as consequências.
O ano acaba para o ABC na expectativa de outro cada vez mais pobre, porque está claro que a continuar a forma de administrar de hoje, será difícil recuperar a hegemonia estadual, disputar a Copa do Nordeste e encarar a Copa do Brasil, derrotas anunciadas este ano e que não serviram de alerta para o caos total. O ABC está quase um cadáver. Cabe aos seus homens de boa vontade evitar a morte e o sepultamento.
Texto publicado originalmente no jornal Tribuna do Norte
CONFLITO DE INTERESSES
por Idel Halfen

A expressão que dá título ao artigo é uma das mais negligenciadas e ignoradas no mercado corporativo.
Ainda que negligência e ignorância possam parecer sinônimos, a ideia da utilização de ambas no texto é diferenciar simploriamente algo feito em “não conformidade” com os códigos de ética – um de forma consciente, o outro impensada.
Não saberia dizer qual das situações é mais preocupante, pois, se a negligência atesta negativamente o caráter de quem comete atos imorais de forma proposital, a ignorância evidencia uma sociedade pouco aculturada com princípios e valores dignos.
No que tange à ignorância, é preciso reconhecer que existem linhas tênues de interpretação sobre certas situações, muitas delas “normalizadas” pela frequência com que ocorrem, daí a importância da existência de códigos de conduta bem elaborados, divulgados e acessíveis.
Preâmbulo concluído, lanço a pergunta:
O que vocês acham de um time ter como patrocinador a mesma marca que patrocina o campeonato que ele disputa?
Para evitar elocubrações, rechaço veementemente qualquer “tese” que venha lançar suspeitas sobre influências na arbitragem, elaborações de tabelas mais favoráveis ou quaisquer outras teorias que venham colocar em discussão a lisura da competição. Claro que numa sociedade tolerante a fake news e recheada de teóricos conspiratórios, as postagens sobre fatos que justifiquem as infundadas suspeitas serão, infelizmente, viralizadas, o que é ruim para a marca e para a própria competição, independentemente de as suposições não passarem de mentiras torpes.
Meu ponto é outro, ele diz respeito a um dos conceitos que rege o esporte, no qual se preconiza a igualdade de condições de oportunidades para que as competições sejam mais justas e, consequentemente, mais atrativas.
Evoluindo nessa premissa, quando vemos uma marca patrocinar um clube aportando valores extremamente superiores ao que os concorrentes recebem de seus patrocinadores, poderíamos, de alguma forma, alegar que tal investimento contribui para o desequilíbrio da competição.

Visto de forma isolada, tal alegação não faz o menor sentido, afinal, cabe aos demais clubes desenvolverem estratégias para se tornarem mais valorizados aos olhos dos potenciais patrocinadores.
Evidentemente, essa busca pela “maior atratividade” deveria considerar os benefícios e malefícios em termos de branding da associação da marca do clube com a da empresa patrocinadora, porém, o atual grau de maturidade da indústria do esporte faz com que os clubes foquem principalmente a busca por receitas de curto prazo, enquanto as marcas priorizam a mera exposição.
Há, no entanto, uma faixa que deveria servir de limite para que a busca pela divulgação não venha trazer reflexos negativos à marca, que é o que pode acontecer quando se está em duas propriedades como o patrocínio ao clube e o title sponsor da competição que o clube disputa de forma simultânea.

Então quer dizer que as confederações não deveriam comercializar o title sponsor de suas competições?
Quando se tratar de confederações/ligas com boa saúde financeira, tendo a responder que “não deveriam”, pois, além de dar margem a ataques contra a credibilidade do campeonato, o title sponsor desvaloriza as propriedades patrocináveis dos clubes, vide a desproporção no volume de exposição. Ressalto que a Premier League, desde a temporada 2016-17, não tem patrocinador intitulando seu campeonato, mesmo diante de propostas milionárias para tal.
Responsabilizar os gestores de marcas e das confederações/ligas pelos possíveis conflitos de interesse não me parece o mais adequado. No meu modo de ver, esses problemas poderiam ser mitigados através da adoção de um código de conduta que seja elaborado sob as óticas de compliance, planejamento estratégico e marketing.
Por fim, cabe esclarecer que a coincidência de patrocínios não se dá exclusivamente no Brasil.
NOTTINGHAM FOGO
por Wesley Machado

Há um tempo atrás o amigo Felipe Corvino achou engraçado o fato de eu ter ficado em dúvida entre torcer na Inglaterra para o Arsenal ou para o Crystal Palace, este último time que também era de John Textor, assim que o mecenas havia adquirido o meu Botafogo.
Não virei Crystal Palace e continuei torcendo para o Arsenal na Inglaterra. Da mesma forma que não vou passar a torcer para o Nottingham Forest, equipe pela qual simpatiza Corvino.
Explico: o Botafogo tem feito negociações com o Forest, para onde foram jogar primeiro o centroavante Igor Jesus e o zagueiro Jair e, agora, o goleiro John e o lateral esquerdo Cuiabano.
Como se costuma dizer no futebol, o Forest virou uma filial do Botafogo, que trouxe do clube inglês o volante Danilo.
O investidor do Forest é o bilionário grego Evangelos Marinakis, que pode aportar recursos no Botafogo.