PARABÉNS, TOSTÃO
texto: Marcelo Mendez | fotos: Revista do Cruzeiro
Eu não vi Tostão jogar.
Li muito mais sobre o camisa 9/10 do que o assisti em campo. Talvez por isso não o imagino quando revejo seus golaços, mas o reencontro em mim, no meu coração e nas minhas memórias afetivas quando leio Marcel Proust.
Não sei qual o motivo.
Talvez pela obsessão em comum, pela sanha em alcançar a substância do tempo para poder se subtrair de sua lei, seja pela sanha de tentar apreender, pela escrita, a essência de uma realidade escondida no inconsciente recriada pelo nosso pensamento, seja pela magnitude de um gol seu, de uma caneta ou uma cotovelada dada em um inglês na hora do passe, seja por tudo:
Tostão é a essência da busca de um tempo perdido.
De um futebol que não se joga mais, de um poema que não pode mais ser escrito, de um verso que não é mais declamado, de um tempo em sonhos que não se pode mais ser sonhado; Tostão em campo ou, na caneta a bordo de sua coluna, de suas crônicas é incessante busca do encanto que se perdeu.
Hoje, ao completar seus 70 anos de idade, muito, mas muito mais do que saudar o grande craque que ele foi, eu venho ao Museu da Pelada saudar o gênio que ele segue sendo. Agradecer a vida por tê-lo em nosso dia a dia, em nosso cotidiano meramente mortal, nos dando a honra de dividir suas letras.
Por tudo isso, saúdo Tostão em seu aniversário, um homem que para mim é muito maior que Marcel Proust, por que oras…
O francês não foi tri campeão do mundo…
Parabéns, craque!
“A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus”. – Armando Nogueira (Foto: Reprodução Internet)
PLANET GLOBE
Liderada pelo parceiro Guaraci Valente, a divertida rapaziada da Planet Globe, a seleção brasileira de artistas, dá show dentro e fora dos gramados! Veja a festa que as celebridades fizeram no aniversário do Flamengo!
Vale destacar que os craques já iniciaram os treinamentos no CFZ para buscarem o bicampeonato mundial! A Copa do Mundo Fut7 de Artistas será realizada na cidade de Hamadã, no Irã, entre os dias 11 e 19 de fevereiro. Os brasileiros foram campeões em 2007, na Rússia, com craques como Marcos Palmeira, Du Moscovis, Silvinho Blau Blau e Heitor Martinez! Pra cima deles!!!
VICE-LANTERNA CAMPEÃO
por Edison Corrêa
Mil novecentos e oitenta e dois foi inesquecível para doze garotos com idades entre 11 e 12 anos que participaram do Campeonato Carioca de Futebol de Salão (sim, ainda era essa a denominação do esporte) daquele ano. Os motivos serão conhecidos abaixo.
Antes da estória propriamente dita, ocorrida há 35 anos, passo a apresentar alguns personagens inesquecíveis do fato que narrarei posteriormente. À época, o presidente do Grajaú Country Clube (GCC) era um grande incentivador dos esportes, notadamente do atual futsal, exercendo o cargo de vice-presidente do clube durantes anos: Paulo Roberto Mello. O Diretor de Esportes, não menos vibrante, era apaixonado pelo ofício: Luiz Leon Haddad, ex-presidente da Federação de Futsal do Estado do Rio de Janeiro e pai de um ex-presidente do clube, Ricardo Leon Haddad. Nosso treinador da categoria mirim no 1º turno do certame ainda jogava profissionalmente na categoria adulta: Edinho, beque parado, meu xará. O técnico do 2º turno, um engravatado representante comercial, também treinava a categoria adulta, mas aceitou o desafio de pegar um time de meninos cabisbaixos, derrotados e tristes: Sebastião “Tião Bufallo”, um ícone dentro das quatro linhas do salão. O massagista do time, Zé Carlos, um negro forte, portador de necessidade especial, que usava uma bengala de ferro para andar e correr (e como corria, mais que qualquer outro em sua função!) a fim de atender os contundidos com aquela “água milagrosa”, além de – pasmem! – preparar suco de laranja e de limão para os atletas numa garrafa térmica azul. “Seu” Ivo e Luizão: técnicos da escolinha do GCC, formadores de atletas das categorias fraldinha, pré-mirim e mirim, base daquele time. Tuninho: o roupeiro, bigodinho fino, magro, jeito malandro de ponta-esquerda, amigo dos jogadores.
Não me alongarei nos pormenores, pois o fato principal foi a reviravolta de um elenco de atletas que não via uma luz no fim do túnel naquele torneio. No final do 1º turno, vencido pelo grande São Cristóvão, de Djalminha (ex-seleção brasileira de futebol de campo), filho do craque Djalma Dias; e de Jessé, um crioulo artilheiro que depois viria jogar justamente no GCC, o Grajaú amargou a vice-lanterna da competição. Pior que isso: as outras categorias do futsal do clube (fraldinha, pré-mirim, infantil, infanto-juvenil e juvenil, menos a adulta) haviam conquistado o turno, adquirindo o direito de ir para os finais do campeonato. Os olhos desconfiados dos boleiros e corneteiros do clube voltaram-se para o inexperiente técnico Edinho que, tal como acontece no futebol de campo, não resistiu à pressão e voltou a ser simplesmente atleta na categoria adulta.
Foi então que, corajosamente, Paulo Roberto e Leon deram uma cartada decisiva, que iria alavancar as vitórias daquele time que, diziam as boas e más línguas, “era excelente, mas brincava demais com a bola nos pés” devido à visível habilidade! Tião, então, pegou o grupo à unha e exigiu seriedade total nos treinos e, principalmente, nos jogos. Treinou técnica e taticamente a equipe, inclusive jogadas de bola parada. Queria chutes certeiros para o gol, não importando se a bola bateria na trave, no goleiro ou entraria. Ao final do returno, o urubu havia virado cisne, já que a conquista da taça de campeão deu a medida exata de onde aqueles garotos poderiam chegar: no lugar mais alto do pódio. Porém, um perigo se anunciava: nas finais, um outro adversário (tão forte quanto São Cristóvão e GCC) havia se classificado pelo maior número de pontos, ficando em segundo lugar nos dois turnos. A sina do vice-campeonato não poderia ter escolhido time mais afeito: o Vasco da Gama, de Luiz Antônio, craque de bola, ex-GCC, maior artilheiro da história da categoria pré-mirim (atual sub-11) com mais de 100 gols num único certame, ex-Fla/Flu no futebol de campo. O artilheiro cruzmaltino conhecia todos os jogadores do oponente, pois havia jogado, em seu primeiro ano na categoria (1981), no mirim do GCC.
As finais foram batalhas inesquecíveis, dignas da narração de um Waldir Amaral. Após empate no jogo Vasco X São Cristóvão, ganhamos o São Cri-Cri por 2 X 1. Enfim, o jogo final iria ser entre o Vasco, do já citado Luiz Antônio e do grande goleiro Hugo, Huguinho para os mais chegados – e nós, que tínhamos o seguinte elenco: Flávio “Cantarelli”, Alexandre e Renato “Pantera” (goleiros), Dudu, André e Marcelo Noronha (beques-parados), Marcelo “Cabeção” e este que vos escreve (alas-direita), Raulzinho e Márcio André (pivôs); Rominho e Jorge (alas-esquerda). Os titulares, todos no segundo ano da categoria, eram mais experientes. Os reservas, ao contrário, estavam apenas no primeiro ano de mirim e sempre entravam em quadra quando as partidas estavam “saindo faísca”, sem negar fogo e com a mesma categoria. Esta partida final foi digna de entrar nos anais deste esporte criado no Brasil.
Porém, me aterei somente ao ato final do jogo, um teatro que Shakespeare nenhum colocaria defeito. Faltando menos de um minuto, talvez trinta segundos, para o término da partida, que estava empatada em 3 X 3 (resultado que garantiria a taça para o Country), o boa-praça Rominho, um dos atuais proprietários do aprazível Bar do Adão, no Grajaú, colocou infantilmente a mão na bola. Naquele momento, tenho certeza absoluta de que o coração de Leon (sem trocadilho!) deve ter batido na casa dos duzentos, pois ele, que já passava todos os jogos do GCC (de todas as categorias!) à beira da quadra fumando seu cigarro desesperadamente e gritando com o juiz, estava de olhos fartamente esbugalhados. Quem iria correr para a bola, claro, era o craque do Vasco, Luiz Antônio. Naquela época de bola dura, que mal quicava, onde o lateral era batido com as mãos e o goleiro não podia “atravessar” a “pelota” de uma quadra para outra, tudo era mais difícil. Inclusive para o batedor, que não tinha como ser facilitado pela abertura da barreira devido ao número limite de faltas – ainda não existia tal regra também.
Bem, amigos, o que se sucedeu a seguir foi prato cheio para crônica do tricolor Nelson Rodrigues: Luiz Antônio bateu para fora, fato raro para este atleta, principalmente pela distância onde houve a punição. Ato contínuo, Leon pulou para a quadra, invadindo o jogo e gritando: “Acabou! É campeão!”. Numa fração de segundos, dezenas, talvez centenas de torcedores, seguiram o diretor do GCC e começaram a comemorar o título. O árbitro do jogo, se não me engano Daniel Pomeroy, ícone do futebol de salão dos anos 80, que apitou os anos 90 no futebol de campo e foi o único a dar um cartão amarelo em toda a minha carreira, apitou o fim do jogo e seguiu para o vestiário. Tapetão? Negativo! Ninguém, nem mesmo a cartolagem salonista da época, tiraria aquele merecido título de 1982 do mirim do GCC, um digno campeão de raça, fibra e, principalmente, superação!
Em pé: Luiz Leon Haddad, Renato “Pantera”, Flávio “Cantarelli”, Alexandre, Paulo Roberto, Rominho, Alexandre (treinador de goleiros), Tião Búffalo, Luis Carlos (Diretor de Esportes); e “Seu” Ivo;
Agachados: Marcelo “Cabeção”, André, Edinho, Márcio André, Jorge, Raulzinho, Marcelo Noronha e Dudu.
(Foto: Edison Corrêa, Senior)
Wladimir
ÍDOLO DA FIEL
texto: Marcelo Mendez | vídeo: Marcelo Ferreira | edição de vídeo: Daniel Planel
A tarde chuvosa em São Paulo não diminuía minha ansiedade…
Na minha vida de jornalista, óbvio que já falei com muita gente, que já entrevistei todo mundo, que vi pessoas que amei na minha vida, tanto quanto as que detestei. A seriedade do ofício me fez respeitar todas.
Mas não posso dizer que entrevistar um ídolo seja igual.
Ídolos não envelhecem, não têm defeitos, não sofrem, não são para os outros, não morrem… Ídolos são nossos.
Wladimir é um desses.
Quando moleque, vendo-o jogar vivi os maiores paradoxos possíveis. Ele era o lateral esquerdo do Corinthians! Como podia eu, Palmeirense, verde até a medula, gostar de um desses do lado de lá?!
Wladimir não foi apenas lateral esquerdo…
Homem culto, engajado, inteligente, bem articulado, fã do Zé Kéti, dançarino de muita classe, lutou por todas as causas sociais pertinentes a sua época enquanto jogador, sempre com o mesmo belo sorriso no rosto.
Artífice da Democracia Corintiana, Wladimir foi uma figura política muito presente naquele começo de anos 80, fundamental para que, eu e outros meninos de 13 anos na época, começassem a entender o Brasil.
Hoje, homem velho, jornalista, não escondo o frio na barriga que me deu antes de falar com ele. Mas quando ele chegou, sorriu e a resenha fluiu. O resultado, você vê agora em Museu da Pelada…
VIDA LONGA
por Ruy Castro
Não se passa um dia sem a notícia do fechamento de um estabelecimento tradicional: um sebo particularmente rico de livros em francês, um café que vivia cheio de gente, um hotel que já hospedou uma seleção campeã do mundo (a do Uruguai, em 1950), uma banca de jornais que servia cafezinho aos clientes e até uma poderosa loja de artigos esportivos no quarteirão mais caro de Ipanema. Por trás de cada história, a fuga da clientela e do dinheiro e a quebradeira a que levaram o país.
Ao mesmo tempo, não se sabe do fechamento de farmácias, bancos e templos evangélicos, nem de lojas de colchões, de móveis de carregação ou de artigos de casa e vídeo. Por sinal, são elas que ocupam os espaços onde até há pouco se abrigava aquele comércio tão simpática e necessário. Não que essas novas lojas, tão arrogantes, não possam existir. Mas quem precisa de quatro farmácias da mesma rede num único quarteirão? Em outros países, as prefeituras controlam esse abuso.
Por isso, quando se sabe que uma livraria no Rio está completando 19 anos não é caso apenas de soprar velinhas, mas de soltar foguetes. É o que acontece hoje, dia do aniversário da Folha Seca, na rua do Ouvidor, coincidindo com o de são Sebastião, padroeiro da cidade. Quando Rodrigo Ferreira a abriu, em 1998, sua proposta era audaciosa: uma livraria “carioca”, especializada em livros sobre o Rio, música popular e futebol. Desde quando um país em eterna crise comporta tanta especialização?
Mas Rodrigo se impôs e sua presença injetou a felicidade naquele trecho da Ouvidor, entre 1º de Março e Travessa do Comércio. Surgiram botequins, restaurantes, rodas de samba e de choro, tornando-o um dos quarteirões mais deliciosos do velho Centro.
Não se entende mais o Rio sem a Folha Seca. Vida longa a essa livraria, que faz tão bem à cidade.
Texto publicado original na Folha de São Paulo em 20 de janeiro de 2017.