VIDA LONGA
por Ruy Castro
Não se passa um dia sem a notícia do fechamento de um estabelecimento tradicional: um sebo particularmente rico de livros em francês, um café que vivia cheio de gente, um hotel que já hospedou uma seleção campeã do mundo (a do Uruguai, em 1950), uma banca de jornais que servia cafezinho aos clientes e até uma poderosa loja de artigos esportivos no quarteirão mais caro de Ipanema. Por trás de cada história, a fuga da clientela e do dinheiro e a quebradeira a que levaram o país.
Ao mesmo tempo, não se sabe do fechamento de farmácias, bancos e templos evangélicos, nem de lojas de colchões, de móveis de carregação ou de artigos de casa e vídeo. Por sinal, são elas que ocupam os espaços onde até há pouco se abrigava aquele comércio tão simpática e necessário. Não que essas novas lojas, tão arrogantes, não possam existir. Mas quem precisa de quatro farmácias da mesma rede num único quarteirão? Em outros países, as prefeituras controlam esse abuso.
Por isso, quando se sabe que uma livraria no Rio está completando 19 anos não é caso apenas de soprar velinhas, mas de soltar foguetes. É o que acontece hoje, dia do aniversário da Folha Seca, na rua do Ouvidor, coincidindo com o de são Sebastião, padroeiro da cidade. Quando Rodrigo Ferreira a abriu, em 1998, sua proposta era audaciosa: uma livraria “carioca”, especializada em livros sobre o Rio, música popular e futebol. Desde quando um país em eterna crise comporta tanta especialização?
Mas Rodrigo se impôs e sua presença injetou a felicidade naquele trecho da Ouvidor, entre 1º de Março e Travessa do Comércio. Surgiram botequins, restaurantes, rodas de samba e de choro, tornando-o um dos quarteirões mais deliciosos do velho Centro.
Não se entende mais o Rio sem a Folha Seca. Vida longa a essa livraria, que faz tão bem à cidade.
Texto publicado original na Folha de São Paulo em 20 de janeiro de 2017.
PELADA MODUS
por Bruno Geovan Lima
Em sua 40ª edição, a Pelada Modus, uma das mais tradicionais do Brasil, realizada no Iate Clube Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, reuniu grandes jogadores e artistas famosos, que encantaram o público com um verdadeiro show de bola dentro e fora das quatro linhas. Como sempre, o evento teve a cobertura de diversos veículos da imprensa esportiva.
Na Seleção de Jogadores Profissionais, como sempre, craques de primeira grandeza como Ibson, Diego Souza, Luan Garcia, Renato Augusto e Sassá fizeram a festa da galera. Além dos já citados, Vagner Love, Wellington Silva e o zagueiro Juan estiveram presente no evento.
No ano em que comemorou quatro décadas, além de reunir um time de craques que atua na Seleção Brasileira e nos principais clubes do país e do exterior, a Pelada Modus também prestou grandes homenagens aos ídolos Renato Augusto, Diego Souza, Luan (Vasco da Gama) e ao eterno capita, Carlos Alberto Torres, falecido recentemente.
Campeã mundial na modalidade, a equipe de Fut 7 do Fla-Iate-Modus jogou de igual para igual com o time dos profissionais no jogo principal, mas foi derrotada por 4 a 3. Já os artistas do Planet Globe perderam para os veteranos do Iate, mas encantaram o público pelo bom futebol, simplicidade e simpatia.
– Só jogo duas peladas de final de ano no Brasil: a do Zico e a Modus, onde sou sempre muito bem recebido. Aqui é a quinta vez que venho e espero vir muitas outras vezes! – disse Renato Augusto.
Toni Garrido, vocalista do Cidade Negra, não escondeu sua felicidade por participar da festa, mesmo após a derrota para os veteranos do Iate.
– Pelada Modus é tradição, é alegria, é muito bom estar aqui. Já participo há muitos anos, agradeço muito ao José Moraes pelo carinho de sempre e pelo convite.”
Artilheiro do último Campeonato Brasileiro, Diego Souza também rasgou elogios à confraternização.
– Aqui no Iate, jogando a Pelada Modus, eu me sinto totalmente em casa. Além de eu ser insulano, tenho muitos amigos aqui no Iate, é um prazer imenso participar dessa 40ª edição.
Por ter conquistado o inédito título para o Brasil de campeão olímpico, o zagueiro Luan, do Vasco da Gama, foi presenteado por José e Andriws Moraes com um troféu especial; Andriws o elogiou pelo fato de que ele, mesmo com todo o sucesso alcançado, continua uma pessoa simples e preferiu seguir residindo em nossa Ilha do Governador
Preocupada com a questão social, a Pelada Modus ainda arrecadou muitos quilos de alimentos não perecíveis para serem doados a uma instituição carente da Ilha. Gol de placa!!
Seleção dos artistas
A PRIMEIRA PARTIDA DE FUTEBOL NO BRASIL
por Vanderlei Tomaz
Recentemente fomos surpreendidos com a notícia veiculada na imprensa mineira sobre a descoberta pelo amigo pesquisador Ernesto Giudice Filho, responsável pelo Arquivo Histórico do Instituto Granbery, de que no dia 24 de junho de 1893 aconteceu no antigo campo de esportes do colégio, na Rua Batista de Oliveira, uma partida de “foot-ball” entre as equipes “gregos” e “troianos”, formadas por alunos.
O fato foi noticiado pelo jornal local O Pharol e está documentado no diário do Professor John McPhearson Lander, norte-americano, então reitor da instituição que viu esta prática na Inglaterra e foi responsável por trazer a bola e as regras do jogo para nossa cidade. O que nós sabíamos até então é que quem introduziu o futebol no Brasil foi o inglês Charles Miller, em 14 de abril de 1895, data do primeiro jogo, na cidade de São Paulo (na Várzea do Carmo, no Brás, entre equipes formadas por funcionários de duas companhias).
O professor Lander e o antigo campo de futebol do Granbery.
Diante dos fatos – fartamente documentados – divulgados pelo professor Ernesto, precisamos rever este assunto e passar a creditar ao Professor Lander, ao Colégio Metodista Granbery e a Juiz de Fora o feito memorável de serem responsáveis pelo primeiro jogo de futebol no Brasil.
MESTRES DO SALÃO
por Sergio Pugliese
“Caro Sérgio, estou indo dormir triste e preocupado. Acabo de ler que o Vila Isabel, simpático clube da 28 de Setembro, está atolado em dívidas e encerrará as atividades. Joguei no Grajaú Tênis por oito anos e enfrentei o Vila por diversas vezes, sempre contra timaços. Fiz amigos, como Mazuta, Zé Mário, Bottino e Marquinhos, sem falar nas lendas Serginho, Aécio, Gizo, Celso, Adilson e outros que formaram o melhor time de futebol de salão de todos os tempos. Quem viu, sabe. Não valeria uma pelada de mobilização?”. A mensagem do amigo Luiz Antonio, o Tonico, camisa 10 do Xavier, acendeu o sinal de alerta e fomos nos aprofundar no tema. A conclusão de nosso farejador Reyes de Sá Viana do Castelo foi a pior possível: com o crescimento dos condomínios os clubes de bairro reduziram drasticamente o número de sócios e para sobreviver muitos desmantelaram seus times principais e outros, sem opção, fecharam as portas. Na década de 60 e 70, os campeonatos estaduais pegavam fogo, o nível era altíssimo e os torcedores lotavam as quadras para babar com o talento de Hugo Aloy, do Fluminense, Julinho, do Flamengo, e Edgar, do Imperial. Eram memoráveis clássicos, mas o charme perdeu o fôlego e Jacarepaguá, Canto do Rio, Mackenzie, Manufatura, Bonsucesso, Piedade, Atlas, São Cristóvão, Helênico, Monte Sinai, Vitória, Grajaú Tênis e tantos outros deixaram seus times pelo caminho.
– O salão era um celeiro de craques e sem qualquer bairrismo os times paulistas, para conquistarem os primeiros campeonatos nacionais, tiveram que contratar cariocas – garantiu o vitorioso técnico Sebastião de Sá-BE TUDO, o Tião Búfalo.
Para debater a época de ouro dos times de salão, a equipe do A Pelada Como Ela É reuniu para uma resenha, na Associação Atlética Banco do Brasil, na Tijuca, seis jogadores fenomenais, verdadeiras lendas e considerados por muitos especialistas insuperáveis em suas posições até hoje: o ala Serginho, do Vila Isabel, o ala esquerdo Álvaro, do Carioca da Gávea, o ala direito Mauro Bandit, do Vasco, os pivôs Tamba, do América, e Paulinho Careca, do Cassino Bangu, todos da década de 60 e 70, e o beque parado Paulinho Shaolin, do Bradesco, da geração seguinte.
– Não há similares no mercado de hoje – atestou Tião.
Três craques do futsal, Sérgio Sapo, Marinho Picorelli e Marcelo Grisalho ajudaram nossa equipe a reunir o grupo. Quando chegamos na AABB, Mauro Bandit já estava lá. Me emocionei ao vê-lo porque já ouvira incontáveis histórias sobre ele durante esse um ano e três meses de coluna: “não há nada igual”, “a bola some em seus pés”, “é um mago”. Mauro Bandit começou no infanto do Carioca da Gávea e passou por Fluminense, Flamengo, Vasco, Palmeiras, Lázio e Ortan, da Itália, Toledo e Interview (pentacampeão), da Espanha, e Maatrich, da Holanda. Aí, estourou o joelho. Em Alicante, criou o primeiro curso de treinadores e se a Espanha hoje é uma potência na modalidade ele é um dos responsáveis. De repente, seus olhos brilharam. Álvaro e Paulinho Careca chegaram!
– Meus Deus, nunca vi jogadores como eles – comentou, baixinho, para ele mesmo.
Álvaro foi eleito o melhor jogador do Brasil várias vezes, atuou pelo Flamengo, Vila, Grajaú Tênis, Municipal e seleções carioca e brasileira. Chegou de mochila porque ia bater uma bolinha depois. Paulinho Careca, o mais escrachado de todos, chegou anunciando que nunca perdera para ninguém ali e que no início da carreira amargou a reserva por três anos para o filho do diretor do Grajaú Tênis. Ali todos eram unânimes. Paulinho Careca, Vevé, do Vasco, Tamba e Hugo Aloy estão entre os melhores pivôs de todos os tempos. E olha que Tamba começou como quarto goleiro do Grajaú Tênis. Paulinho Shaolin chegou e foi saudado como o pioneiro na marcação lateral aos pivôs. Mas quando Serginho do Vila surgiu a reverência foi ampla, geral e irrestrita. Serginho, hoje corretor imobiliário, é uma espécie de guru e o ídolo absoluto de toda uma geração. Aproveitou seu prestígio e fez dois pedidos: para a Prefeitura não deixar os clubes de bairro morrerem e a inclusão do futsal como modalidade olímpica.
Em volta, torcedores da velha guarda não acreditavam no que viam. “Se jogassem hoje todos estariam milionários”, disse o fã Ricardinho. Mas os ídolos também encantavam o menino Gabriel, de 11 anos. Filho de Marcelo Grisalho, ele cresceu ouvindo histórias do pai sobre cada um deles. Quarenta anos depois, ainda ídolos! Não é para qualquer um! Ali, naquela mesa da AABB, estava reunido um time dos sonhos, gente humilde, boleiros de verdade. No fim da entrevista, Álvaro convidou todos para assistirem sua peladinha. Não iam perder essa! Foram em fila, como nos bons tempos. Se apoiaram no gradil e entreolharam-se com enorme admiração. Os mestres do salão estavam em quadra novamente.
Da esquerda para direita: Tamba, Tião Búfalo, Álvaro, Mauro Bandit, Serginho do Vila, Paulo Shaolin e Paulinho Careca.
Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É, no dia 16 de julho de 2011.
NARRA, PEQUETITO!
No dia 30 de novembro de 1966, no Mineirão, Cruzeiro e Santos se enfrentaram pelo primeiro jogo da decisão da Taça Brasil e a “Máquina Azul” não tomou conhecimento do adversário, adquirindo uma enorme vantagem para a partida fora de casa. Com uma exibição de gala do craque Dirceu Lopes, o Cruzeiro, que ainda contava com Raul, Procópio, Piazza, Tostão, Evaldo e Natal, aplicou uma goleada de 6 a 2 na equipe de Pelé, Pepe, Zito, Gilmar e Carlos Alberto.
No jogo de volta, mesmo podendo perder por até três gols de diferença, a equipe celeste venceu o Santos por 3 a 2, em pleno Pacaembu, e levantou de forma incontestável a Taça Brasil de 1966!
Na festa de 50 anos da conquista, Osvaldo Reis, o Pequetito narrou novamente um dos três gols de Dirceu Lopes no Mineirão, levantou a galera e emocionou o craque celeste! Imperdível!!!