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CRAQUES DO CAMPO E DA PRAIA

De óculos escuros e braços cruzados, o “rei da praia” observa do calçadão toda aquela resenha da rapaziada do Areia Leme. Embora tenha sido ídolo do Juventus, grande rival, Júnior não poderia deixar de comparecer na festa de 50 anos de um dos times mais tradicionais do futebol de praia.

– Venho com o maior prazer e satisfação, principalmente porque reencontro amigos que dificilmente vou ver no dia a dia! – disse Júnior.

Outra figurinha carimbada, que não perde uma pelada, seja na praia, na grama ou nas quadras, Jairzinho também marcou presença na festa do Areia. Morador de Copacabana, o “Furacão” estava em casa e não escondia a felicidade pelo encontro.

Além de Júnior e Jairzinho, Gilmar Popoca, ex-camisa 10 de Flamengo, Santos, Botafogo e Ponte Preta, bateu um papo divertidíssimo com a equipe do Museu da Pelada. Ao lado do amigo Brasília, o craque escalou o Flamengo da sua época, lembrou da concorrência com grandes ídolos do clube e falou sobre um jogo histórico nas divisões de base, no Maracanã.

– Eu fiz três gols de falta e ele empatou o jogo aos 45, com um gol de cabeça.

E Brasília reforçou a importância da partida:

– O João Saldanha dedicou sua coluna toda ao ‘jogo da tarde”, a preliminar do jogo de juniores.

O ELÁSTICO DE OLHO

por Mauro Ferreira


(Foto: Reprodução)

Eu não estava no banco tricolor. Não tinha idade – e nem futebol – para tanta pretensão. Mas estava no Maracanã naquela tarde. Eu e meu Velho, “seu Ayrton”, que escolheu ficar no meio de campo, a zona da arquibancada onde você podia torcer por qualquer time sem ser incomodado ou incomodar qualquer torcedor adversário. De lá de longe eu vi a obra ser desenhada, linha a linha.

Rivellino era o frisson de todo tricolor. A estreia contra o Corinthians já servira de aperitivo. Na verdade, um banquete de aperitivo. Três gols. “A Máquina” se consolidava como o apelido daquele time. Não era o apelido correto. Máquinas têm comportamento óbvio, repetitivo. E nada havia de óbvio e repetitivo. Eu não gostava do apelido.

Lá de cima, bem lá em cima da arquibancada, de longe, vi Rivellino parar na frente de Alcir. Um mortal escolheria o passe lateral, manter a posse de bola. Não ele. Não o imortal Rivellino. Em princípio não entendi o que havia acontecido, tamanha a velocidade da ação. Só vi quando, diante do lendário argentino Andrada, Rivellino estufou o barbante. Meu cérebro só interpretou o lance todo depois de comemorar muito, abraçado ao meu pai.

Se eu não sendo boleiro, estava estupefato, imagino aqueles ocupantes do camarote privilegiado que era o banco de reservas. Imagino a cabeça do Zé Roberto tentando entender o inesperado. O não óbvio, o lance além da repetição. Não era uma máquina. Era o improviso além da partitura. A surpresa, o imponderável, o talento que diferencia os gênios dos normais.


Foto: Acervo O Globo

Anos mais tarde, já jornalista, vi outra obra do mesmo gênio. Dessa vez, no Estádio Nacional de Santiago do Chile. Jogo de despedida do zagueiro Elias Figueroa. Daqui da terrinha, partiu uma seleção de veteranos. Félix, Marco António, Búfalo Gil, Luiz Pereira e outros que não lembro. Dessa vez, eu não estava longe. Atrás do gol defendido por Felix, sentado no gramado, vi mais uma obra prima.


Foto: Agência Estado

Ainda no campo de defesa, uns dez metros antes da linha do meio campo, mais próximo da lateral esquerda, Rivellino levantou a bola, olhou para a defesa como se procurasse alguém dela e fez o lançamento para Gil, que corria pela direita e já no campo do adversário. Drible de olho. Elástico com o olhar. Não foi gol, mas o “ó” que saiu da boca de todos naquele estádio lotado foi uníssono e muito alto. Um passe de mais de 50 metros olhando pro lado contrário ao da direção do passe que dera.

De volta ao Brasil, fui o mais rápido possível encontrar com meu pai. Quis dividir com ele o que havia visto. Era uma forma de retribuir o presente dado anos antes. O Velho Ayrton ouviu em silêncio cada detalhe do lance. O olho brilhou e o sorriso de canto de boca denunciou que bebia ávido tudo o que eu relatava.

Só os gênios são capazes de surpreender quando se consegue transferir em palavras, toda a emoção e criatividade de um lance de segundos.


Eu juro: gostaria de saber o que sentiu o pai do Zé Roberto Padilha, ao ouvir o filho contar sobre o tal “elástico” daquela tarde/noite do Velho Maraca. Juro. Conta aí, Zé…

MADRID VENCE UNITED NO LEILÃO DA CHAPE

por Pedro Redig, de Londres

A solidariedade internacional com a Chapecoense ficou mais forte depois de um bem sucedido leilão em Londres para as 71 vítimas do desastre que levou a vida de 19 jogadores e 20 jornalistas na viagem para a final da Copa Sul-Americana contra o Atletico Nacional em Medellin.

A Inglaterra ja viveu drama parecido. Em 1958, um avião trazendo o time do Manchester United sofreu um acidente ao tentar decolar do aeroporto de Munique. O United voltava de um jogo da Copa da Europa contra o Estrela Vermelha de Belgrado. Oito jogadores estavam entre os 23 mortos. O craque Bobby Charlton foi um dos 21 sobreviventes. 


Fernando Duarte, Ana Maria Bierrenbach, Christian MacLaren e Nestor Osório Londono no leilão do Chapecoense


Jornalista e leiloleiro de plantão Fernando Duarte

Correspondente da BBC Brasil, Fernando Duarte comandou a noitada beneficente com um humor que caiu muito bem no gosto britânico, mostrando que pode ser um bom leiloeiro, puxando sempre as ofertas lá para o alto.

“Isto aqui é um celebração,” disse o brasileiro ecoando as palavras do embaixador colombiano Nestor Osório Londono que apoiou o leilão na Canning House, centro de conferências e outros eventos sobre a América Latina no Reino Unido.

Os dois falaram da capacidade única do futebol de unir as pessoas e da solidariedade que contagiou as mídias sociais. Dois belos exemplos são as fotos com as cores da Chapecoense na Torre Eiffel e no arco de Wembley.

Encarregada de Negócios do Brasil no Reino Unido, Ana Maria Bierrenbach lembrou que o futebol brasileiro pode aprender com o sucesso da Premier League e brincou com o público basicamente jovem.

– Os ingleses inventaram o jogo em que nós viramos os mestres, a não ser quando enfrentamos a Alemanha – disse a representante do governo brasileiro.  

O leilão foi promovido por Christian MacLaren, inglês que morou um tempo na Argentina e criou a LAFA, Aliança Latino-Americana de Futebol, para oferecer apoio a latinos que vêm jogar na Inglaterra.

— Nossa conexão com o Brasil traz a responsabilidade de fazer algo positivo. Queremos mostrar à comunidade Chapecoense que a gente se importa e quer contribuir na reconstrução do clube.


Uma camisa do Real Madrid autografada por todo o time bateu o recorde do leilão, arrecadando R$2.720. David Beckham não compareceu, mas mandou uma bola autografada que foi levada por uma elegante inglesa por R$1.150. Uma camisa do Manchester United assinada pelo holandês Daley Blind foi leiloada por R$766.

O objeto mais original foi um par de chuteiras especialmente produzido pela Umbro com o escudo do Chapecoense, arrebatado por R$1.436. Outro item diretamente ligado ao Brasil foi o livro do inglês Andrew Downie sobre Sócrates, vendido com dedicatória do autor por R$300.


O leilão faz parte de uma iniciativa que também inclui doações online para o Chapecoense.  Basta acessar https://www.gofundme/ChapeUK – coisa que você pode fazer aí do Brasil.  
 

UM REI PRESTES A PERDER A MAJESTADE

por Luan Toja


Apresentação de Neymar no Barcelona

Quando Neymar resolveu deixar o Santos para seguir rumo à Barcelona, sua escolha foi criticada por aqueles que previam que o menino da Vila seria ofuscado por Messi, em terras catalães. O que, na verdade, era realmente previsível. “Ainda vai levar um tempo para Neymar assumir o protagonismo de uma das maiores potências futebolísticas do mundo”, dizia o senso comum.

Mas parece que esse tempo chegou e é agora!

Já na temporada passada, houve uma espécie de prelúdio dessa provável transferência de responsabilidade. Pelo Barcelona, eles juntos conquistaram a tríplice coroa espanhola, mas por suas respectivas seleções, a performance de ambos foi bem antagônica.


Messi lamenta pênalti desperdiçado

O argentino fracassou em sua missão de conduzir a Albiceleste à quebra do jejum de 23 anos sem títulos profissionais, ao perder a decisão da Copa América para o Chile. No principal desafio de Messi no ano, o craque desperdiçou, inclusive, sua cobrança na disputa de pênaltis.

Por sua vez, o brasileiro conseguiu atingir seu principal objetivo, liderando a conquista do inédito ouro olímpico da seleção pentacampeã mundial, na Rio-2016. O fato curioso que exacerba o antagonismo do desempenho “patriótico” dos craques, ficou por conta do destino que reservou à Neymar a definição da vitória tupiniquim na decisão por pênaltis da grande final contra a Alemanha, no Maracanã. Final esta pra lá de especial devido a seu ares de revanche do fatídico e inesquecível 7 a 1 da Copa de 2014, também disputada em terras tupiniquins.

O ano de 2016 ainda guardava um confronto direto entre os dois. E mais uma vez o sucesso foi brasileiro. Em novembro, Neymar comandou o Brasil e ainda marcou um dos gols do atropelo por 3 a 0 sobre a Argentina de Messi, em partida válida pelas Eliminatórias da Copa de 2018.


Neymar venceu o duelo contra Messi pelas Eliminatórias

Diante desses fatos, arrisco-me a dizer que a vaga de Messi, entre os três melhores do mundo da FIFA do ano passado, era de Neymar ao lado de Cristiano Ronaldo, em primeiro, e Griezmann, em segundo.

E a partida de ontem só confirmou o presságio da temporada passada. Com Messi apagado, Neymar assumiu o papel principal de uma virada heróica, a maior da história da Liga dos Campeões da Europa.


O Barcelona havia perdido o primeiro jogo do confronto com o Paris Saint-German por 4 a 0. Na partida de volta no Camp Nou, o time catalão abriu 3 a 0, mas aos 17 minutos do segundo tempo, Cavani diminuiu para o time francês, o que obrigava os catalães a vencerem por cinco gols de diferença. Foi aí que Neymar chamou a responsabilidade e operou o impossível. Aos 43, em linda cobrança de falta fez 4 a 1. Três minutos depois, quando o árbitro marcou pênalti de Marquinhos em Suárez, o camisa 11 “tomou o lugar de Messi”, que já havia marcado em penalidade máxima no jogo, e voltoubalançar as redes ao converter a cobrança. E concretizando o milagre, aos 50, após jogada individual, Neymar colocou Sergi Roberto na cara do gol para fazer o tento da classificação histórica.

É amigos… Pelo visto, parece estar chegando ao fim o despotismo argentino na Catalunha.

UM ELÁSTICO PARA A VIDA

por Zé Roberto Padilha


Depois de passarmos por todas as equipes de base, campeões juvenis e de juniores, treinados por João Baptista Pinheiro, revelados por Zagallo e preparados por Carlos Alberto Parreira, finalmente havia chegado a nossa hora. Todos éramos pratas da casa e o Fluminense se preparava para a temporada de 1975, com uma excursão, em fevereiro, pelo eixo Rio-São Paulo.

Eu, Edinho, Cléber, Herivelto, Marco Aurélio, Abel Braga, Nielsen Elias e Carlos Alberto Pintinho enfrentamos o Guarani, a Ponte Preta, o XV de Piracicaba e estávamos na ponta dos cascos para estrear no estadual carioca. No ônibus da volta, em meio a euforia por uma série de bons resultados, lemos no Jornal dos Sports que o presidente Horta, que ficara no Rio e não nos vira atuar, resolvera montar um supertime. No meu caso, como ponta-esquerda, deu até vontade de ficar naquela parada de Itatiaia: contratou os três melhores do país, Rivellino, do Corinthians, Paulo Cézar Cajú, do Olympique de Marselha e Mário Sérgio, do Vitória. E trouxe o Zé Mário para tomar o lugar do Pintinho.

Irritados e inexperientes, voltamos para o banco, que já era conhecido como poltrona de reservas, e começamos, em toda a Taça Guanabara, a ironizar todos aqueles que roubaram a nossa oportunidade. Rivellino, então, pela idade, já tricampeão do mundo, não podia errar um só passe. Como ele não errava, implicávamos com o fato de não correr mais para marcar ninguém.

Aí veio o jogo contra o Vasco. Me lembro como se fosse hoje: nós, aspirantes a jogadores de futebol e jovens corneteiros, sentados no banco do lado direito das tribunas e ele, com a bola dominada, diante do cabeça-de-área vascaíno, o Alcir. Rivellino parou e o Alcir o encarou, naquele tempo dava para parar a bola e ensaiar uma obra de arte. De tão surreal a cena, por segundos nos calamos também. E o Maracanã emudeceu junto. Num gesto inusitado, conduziu a bola pela parte externa do seu tornozelo em direção à esquerda, e num movimento rápido, com a ponta dos pés, trouxe a bola de volta. Esta, caprichosamente, encontrou um espaço entre as pernas do Alcir. Ainda estupefatos, estádio, corneteiros, Alcir e toda a defesa do Vasco, Rivellino aproveitou o movimento da bola, arrancou para dentro da área, deixou para trás o quarto-zagueiro René, de passagem, e entrou na cara do gol. Pelo lado direito, já ao lado da pequena área, só encontrou o goleiro Andrada fechando 95% do seu lado esquerdo e se preparando para saltar para o lado óbvio, o direito, totalmente escancarado. E Rivellino bateu com sua canhota nos 5% restantes do seu contrapé. A bola, como um pincel de Renoir, entrou entre seu pé e a trave, e ele saiu para comemorar um dos mais belos gols que o nosso futebol já produziu.

Olhamos, os ex-corneteiros, um para o outro, completamente sem graça e tomamos, naquele momento mágico, ao vivo, uma lição para o resto das nossas vidas. Porque ele, Roberto Rivellino, o Reizinho do Parque, que se tornou o Príncipe das Laranjeiras, assumiu o leme das nossas carreiras. Não teve mais excursão de ônibus para Campinas, entramos no Jumbo da Air France e fomos jogar o Torneio de Paris.


Deixamos o Hotel das Paineiras, onde concentrávamos, e fomos inaugurar o cinco estrelas Hotel Nacional, em São Conrado. Trocamos a modesta vitrine da Rua da Alfândega para a butique do Barrashopping. Fomos campeões da Taça GB, carioca e nossa equipe entrou para a história como a “Máquina Tricolor”, a original, que foi bi em 1976, ainda com Rivellino, Doval, Edinho e Dirceu.

Após os treinos, nos juntávamos num cantinho do gramado e posicionávamos os cones para treinar o elástico, e à noite era a vez de colocar uma cadeira no corredor para tentar, entre suas canelas finas de madeira, já apelidadas de Alcir, repetir aquele drible incomum. Nos sobrava vontade, mas faltou coragem, pelo menos no meu caso, para executá-lo nas partidas. Quando deixamos o Fluminense, anos depois, cada um buscando seu destino, aprendemos a respeitar aquele cidadão experiente, que desembarca no seu trabalho, é contratado por sua redação e que não vem mais tomar o seu lugar. Porque ninguém toma o lugar de ninguém. Como Rivellino, os mais sábios, experientes e competentes que assumem nossa repartição, não devem ser subestimados ou questionados pelos aspirantes ao cargo que se julgam a bola da vez. Precisam ser fontes de consultas, sugados seus conhecimentos para que quando a oportunidade surgir estejamos preparados para assumir o nosso espaço, construir uma carreira com dignidade e competência.


Aquele elástico, desferido numa sábado à noitinha, há exatos 38 anos, levou o ciúme acumulado e trouxe o orgulho estampado, carregou mágoas, inveja, ressentimentos e trouxe de volta uma magia e respeito que passamos a ter por nossos mestres, nossos ídolos para o resto das nossas vidas. E Rivellino foi para minha geração, ao lado de Gérson e de Zico, um gênio e será para sempre o nosso grande exemplo.