RESENHA NA GÁVEA
vídeo e edição: Daniel Perpétuo | foto: Marcelo Tabach
A equipe do Museu da Pelada marcou presença na festa de aniversário do Flamengo, na Gávea, e bateu um papo muito divertido com ídolos da torcida rubro-negra e craques da Planet Globe, a seleção brasileira de artistas, comandada pelo parceiro Guaraci Valente.
Durante o evento, os torcedores puderam matar as saudades de Nélio, Júlio César Uri Geller e Adílio, que bateram uma pelada no campo principal da Gávea. No campo ao lado, de grama sintética, artistas como Heitor Martinez, Sylvinho Blau e Marcelo Mello fizeram a festa dos fãs e demonstraram a simpatia de sempre.
Heitor Martinez, aliás, não escondeu sua admiração pelo artilheiro Nunes e cravou:
– Só não ganhamos a Copa de 82 porque ele não foi!
Vale destacar que os famosos já se preparam para a Copa do Mundo de Artistas, que será realizada neste mês, entre os dias 11 e 19, no Irã.
Boa sorte, rapaziada!!
A BOLA E O RÁDIO, OSMAR SANTOS
por Marcelo Mendez
Os rádios de pilha eram amigos inseparáveis dos torcedores
Houve um tempo em que não havia jogos transmitidos ao vivo.
Aliás, houve um tempo que a vida era vivida, que ninguém ficava com a fuça enterrada numa tela de celular ou de TV, as pessoas se freqüentavam, se abraçavam, não havia essa interatividade toda e vejam, ainda assim todo mundo se ajeitava muito bem.
Por esses tempos, para nós que gostávamos de futebol, tinha o rádio, a boa e velha Rádio AM para cuidar de nossas emoções e nos guiar rumo ao gol do outro time, para jogar de zagueiro quando éramos atacados e afins.
Para homenagear esses tempos e esses caras, estamos aqui a começar a coluna “A Bola e o Rádio” e relembrar desses momentos onde o gol não seria tão gol se não fossem esses caras.
Então vamos começar os trabalhos…
OSMAR SANTOS, O PAI DA MATÉRIA
De moleque eu me recordo do Osmar…
Osmar Santos
Em São Paulo, nos anos 80, não poderia ter futebol se não tivesse o Osmar Santos a narrar os jogos pelo canhão que era a Rádio Globo 1100 AM. Sempre acompanhei as suas milhares de gags, suas tiradas sensacionais, sua velocidade para narrar e toda a emoção a milhão que ele passava.
Não demorou para a gente protagonizar nossa história…
O ano era 1986.
O meu Palmeiras amargava o décimo ano de uma fila que começava a incomodar e ali, com aquele nosso time que tinha entre outros Eder, Jorginho, Wagner Bacharel, Edu e Edmar, havia a possibilidade de acabar com isso. No meio do caminho, na semifinal, nosso maior rival; Corinthians. Um time bem ruim, com jogadores como os zagueiros Edivaldo, Paulo, os meias Cristovão, Biro Biro e afins.
No primeiro jogo, eles venceram o Palmeiras por 1×0 em uma arbitragem desastrosa de um maldito de nome Ulisses Tavares da Silva, que entre outras coisas deu escanteio em uma jogada que o zagueiro do Corinthians espalmou um chute de Mirandinha pela linha de fundo!!
Mas tudo bem…
Quando o jogo acabou meu pai veio a meu quarto e falou; “Quarta feira, vamos ao jogo”.
Opaaa!!! Era questão de honra e fomos!
No Morumbi lotado até as tampas, o jogo começou. Palmeiras em cima e Carlos, goleiro da seleção pegando tudo. Ficamos na numerada inferior com todo mundo junto e um corinthiano me enchendo o saco até a hora que Mirandinha entrou. Daí pra frente, ele deitou em cima da zaga corinthiana, meteu gols e bom, agora é com o Osmar.
Segue a narração do Pai do matéria, para imortalizar o que seria só um jogo de bola, mas virou, então, “O Clássico da Justiça”
INICIATIVA LOUVÁVEL
por Marcelo Rodrigues, de Barcelona
Uma das mais inteligentes iniciativas que vi no mundo. A Federação da Catalunha promove e executa o Projeto “Zero Insults a la grada” ou “Zero insultos na platéia”. Pensando no grande desenvolvimento de entretenimento do jogo, bem como na educação esportiva sadia de seu povo, esse projeto visa interromper partidas por um minuto quando há xingamentos de pais e torcedores aos árbitros. Na segunda vez há mais um minuto de paralisação. Na terceira vez a partida é suspensa e o comitê de disciplina julga o mérito do jogo.
No Barcelona os pais dos atletas são terminantemente impedidos de assistir a qualquer treino de qualquer categoria e assinam termo de responsabilidade em caso de indisciplina em jogos da equipe, podendo ter seu filho posto fora de qualquer das equipes.
Isso seria um belo exemplo para alguns pais no Brasil que querem que seus filhos sejam aquilo que jamais foram. Com isso, xingam, fazem vexame, promovem o caos e até sabotam o treinador em muitos casos. A base é pra primeiro formar caráter e depois pra formar atletas.
Como seria bom ver algo parecido no nosso país. Não quero que o jogo seja de padre e nem de santo mas de gente que vença pelo trabalho e pela luta, jamais por atitudes equivocadas, violência ou na força do medo.
Aqui não é só campanha, aqui é lei. Educação!
PEIXE NA FOLIA
Ontem, dia 29 de janeiro, foi aniversário de Romário e, por uma falha imperdoável, não homenageamos o craque! Por isso, relembramos hoje o dia em que o artilheiro acabou com o Real Madrid e ganhou uns dias de folga para curtir o Carnaval no Rio de Janeiro.
De acordo com o saudoso Johan Cruyff, treinador do Barcelona na época, foi feita uma aposta e se Romário marcasse três gols contra o maior rival ele ganharia os dias de folga. Após marcar o terceiro gol, imediatamente o Baixinho pediu substituição:
– Treinador, meu avião sai em menos de uma hora! – e saiu às pressas para o aeroporto.
Até hoje a história não foi confirmada, mas alguém duvida do gênio da grande área?
Marco Antônio
O LATERAL DE 70
texto e entrevista: Sergio Pugliese | fotos: Marcelo Tabach | vídeo e edição: Daniel Planel
O tricolor Evaldo Santana interrompeu o café da manhã light de nossa equipe, croquete e pão com linguiça, na Casa do Alemão, para avisar que nosso entrevistado chegara meia hora antes do combinado. Pagamos a conta e saímos voados! Afinal, um campeão do mundo de 70 não pode esperar!!! Eu, Marcelo Tabach e Daniel Planel entramos no carro, e fomos seguindo Evaldo e Julinho, colaboradores do Museu da Pelada. No curto trajeto pensei como deve ser grandioso poder falar “sou campeão mundial de 70!”. Sei que em 58 tínhamos Pelé, Garrincha e Nilton Santos, mas 70 foi 70. Quantos choram até hoje o corte em cima da hora….Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Eduzinho Coimbra, Natal, Silva Batuta. O lateral esquerdo Marco Antônio, 20 anos, titular absoluto, garantiu a vaga sem sustos, mas amargou a reserva às vésperas da estreia do Brasil. Entrou Everaldo, mais marcador, mais experiente.
Com a blusa dos ex-atletas de Ribeirão Preto, Marco Antônio segura uma camisa oficial da Copa de 70
– Não é ele ali? – perguntou o atento Tabach.
E era. Sentado, sozinho, no Bar da Padilha, no bairro Agostinho Porto, em São João de Meriti, onde mora há alguns meses e diverte-se jogando carteado com amigos. Quando entramos levantou-se rapidamente, estufou o peito e ajeitou a camisa talvez para mostrar que continua sem barriga e mantém a mesma elegância dos áureos tempos de Vasco e Fluminense. Respirei fundo e pensei: “Caramba, estou diante de Marco Antônio!”. Para mim, ele não era apenas campeão de 70, mas campeão de 77 pelo meu Vascão! Mazzaropi, Orlando Lelé, Abel, Geraldo e ele, Zé Mário, Zanata e Dirceu, Wilsinho, Roberto Dinamite e Ramon. E, olha, que não sou como os pesquisadores Milton Neves, Paulo Vinícius Coelho e Roberto Assaf, que sabem as escalações até do Íbis de 64. Essa é uma das poucas que decorei. Cansei de ver Marco Antônio cruzar e Dinamite estufar a rede.
– Muito prazer, Marco Antônio!
Peraí, um campeão de 70 não deveria se apresentar, dar o nome, essas formalidades, nem mesmo Baldocchi, reserva de Brito e talvez o mais desconhecido de todo dos convocados de 70. Para mim, bastaria falar “prazer, campeão de 70”. Campeão de 70 não tem nome, campeão de 70 é campeão de 70!!! Mas, naquele momento, minha maior curiosidade era saber que camisa ele estava usando, que time era aquele???
– É dos ex-atletas de Ribeirão Preto. Jogam Guina, Mauricinho….. – revelou.
– Meu Deus, Guina e Mauricinho!!! É demais para o meu coração!!!! E você ainda bate uma bolinha? – perguntei.
– Depois do AVC não deu mais…..
Há alguns anos, Marco Antônio enfrentou bravamente um AVC. A única sequela é a dificuldade para erguer a perna esquerda. Fisioterapia até resolveria, mas cadê a paciência? Duas sessões bastaram para irritá-lo. Sem poder correr, virou técnico do Fazenda, de São João de Meriti, atual campeão da região. Nosso colaborador, Evaldo Santana, do União Esportivo Coelho da Rocha, maior rival, contentou-se com o vice-campeonato, mas, resignado, levou uma camisa para o amigo autografar. Também levamos uma original da seleção de 70, da coleção de Victor Raposo, que o lateral usou durante a entrevista.
– Como é ser campeão do mundo, campeão de 70? – insisti, na esperança que ele pudesse me transmitir essa sensação mágica.
– Normal, passou, acabou. Hoje sou campeão do Fazenda….
Búfalo Gil numa de nossa conversas um dia soltou: “da pelada viestes à pelada voltarás”. Nada mais certo!!!! E Marco Antônio nunca se iludiu, nunca foi rico, nunca tirou onda. No primeiro dia no Brasil após conquista do título mundial, no México, nem quis ficar no buxixo de Copacabana, onde morava, e correu para a casa da namorada, em Quintino. É tão discreto que o árbitro José Marçal Filho nem viu o empurrão dele no goleiro Ubirajara Motta, no gol de Lula, na final do Carioca de 71, que deu o título ao seu Fluminense por onde também foi campeão brasileiro. Antes da gravação, porém, gargalhou e assumiu o empurrão, mas com a câmera ligada fez ar sério e negou.
– Coloque o pé sobre a bola – pediu Tabach, o genial fotógrafo.
Naquele momento ficou claro que o campeão não deveria ter abandonado a fisioterapia. Forçou a perna, mas ela não respondeu, só com a ajuda das mãos. Na seção de fotos posou em frente a centenas de engradados de cerveja. Assume que a bebida sempre o acompanhou desde os tempos de Vasco, quando bebeu demais, dormiu no carro, chegou atrasado ao treino e quase foi barrado por Orlando Fantoni. O presidente do clube, Agarthyno da Silva Gomes, interferiu e garantiu sua escalação para a rodada de domingo.
– Joguei e fiz dois gols.
Mas na Copa de 70 não teve presidente que garantisse a sua vaga de titular. Poucos dias antes da estreia do Brasil, conta que Gerson liderou um movimento para barrá-lo. Organizaram uma reunião secreta e quando Félix saiu do quarto que dividiam foi junto. Achava que o goleiro fosse fumar, sempre fumavam juntos, mas Félix o advertiu: “vou numa reunião, você fica”.
– Eles tiveram um momento de trairagem, mas amo todos eles. Fomos campeões e é o que importa.
Mas ficou clara a decepção pela forma com que o grupo conduziu sua barração. Olhar distante, como se voltasse no tempo, mudou de assunto, preferiu explicar o nó tático que deu no adversário na conquista do título do Fazenda….“escalei três zagueiros”. Levantou-se com dificuldade e caminhou até a mesa onde estava seu maço de cigarros. Estava seco para fumar. Colocou os óculos, soprou a fumaça, olhou pela janela do boteco e comentou com Evaldo….“o Fazenda vem forte esse ano”.
Julinho, Marco Antônio, Evaldo Santana, Sergio Pugliese, Daniel Planel e Marcelo Tabach