A BOLA E O RÁDIO, JORGE CURI
por Marcelo Mendez
“La vai o Vampiro!!”
Houve um tempo em que a rádio que você escolhia era mais importante que o próprio jogo. E nesse tempo cada emissora tinha lá a sua fera. Hoje, como vamos falar de Flamengo, a fera tinha que ser ele, tinha que ser o cara que parou com essa onda aí de zagueiro de nome Mozer para imortalizar o Vampiro…
Jorge Curi, o canhão da Globo AM Rio, é o personagem do ” A Bola e o Rádio” de hoje.
Curi era mineiro de Caxambu, onde começou sua carreira. De lá saiu para o Rio de Janeiro para fazer um teste na lendária Rádio Nacional, ficando por lá até 1972 quando se transferiu para fazer história na Rádio Globo. Com ele não tinha muito isso de parcialidade nada… nunca escondeu que seu maior amor era gritar gol para seu Flamengo.
Para o dia de hoje, vou aqui relembrar de uma noite de dezembro de 1981 quando a gente lá em casa lutava para virar a antena (em 1981 tinha isso viu, gente? Virar a antena de cima da casa pra acertar a imagem e televisão ainda tinha seletor de canais) pra acertar a imagem do jogo e o super rádio de meu avô, fincado pra caçar a Rádio Globo Rio.
Foi o dia que Flamengão do Curi ganhou o mundo e botou a inglesada pra correr atrás da bola. Segue a narração do Mestre para o dia do 3×0 em cima dos gringos e o Flamengo campeão do mundo.
Washington Rodrigues
SHOW DO APOLINHO
entrevista | Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo e edição: Daniel Perpétuo
“Não adianta ser o melhor aluno da turma, narrar futebol é dom, igual a cantor”. A frase só poderia ser de um radialista premiadíssimo, com mais de meio século de experiência, 11 Copas do Mundo no currículo, muitos bordões inventados e inúmeras narrações históricas. Estamos falando, é claro, de Washington Rodrigues, o Apolinho! O ex-treinador do Flamengo recebeu a equipe do Museu da Pelada em seu belo condomínio, no Recreio dos Bandeirantes, para uma resenha fenomenal e relembrou sua vitoriosa trajetória no esporte.
Com direito a biscoito amanteigado e suco, o papo só começou após Apolinho beber uma mistureba milagrosa para a garganta, servida por Dona Regina. O segredo da voz reúne gengibre, limão, cenoura e mel.
O craque relembrou os tempos em que agarrava no Raio de Sol, time de futebol de salão (Foto: Daniel Perpétuo)
– É mágico, mas é ruim pra diabo! – reclamou o radialista após virar a bebida e fazer cara feia.
Embora o talento para a profissão seja indiscutível, o que muitos não sabem é que o início na rádio foi totalmente por acaso. Quando se recuperava de uma lesão na perna, que o impedia de agarrar pelo Raio de Sol, num torneio de futebol de salão, recebeu o convite da Rádio Guanabara para ensinar as regras do esporte e fazer uma espécie de consultoria.
Apolinho com Deni Menezes, seu principal parceiro na carreira
Após aproximar a rádio dos jogadores e dirigentes do futsal, o talento e o carisma logo chamaram a atenção e Apolinho foi convidado para fazer parte do programa “Beque Parado”.
– A rádio tinha uma baita equipe de futebol: João Saldanha, Jorge Curi, Mário Vianna…
Se já não fosse o bastante, o acaso apareceu novamente na vida de Washington. Depois de uma briga entre Mário Vianna e Bermuda, o diretor da rádio decidiu suspender os dois por 15 dias e pediu para Apolinho quebrar um galho nas partidas que aconteceriam naquele período. Pego de surpresa, o craque, mais do que nunca, provou que narrar é mesmo um dom, e superou todas as expectativas.
Quando os brigões retornaram, Apolinho passou a narrar a partida dos aspirantes, sempre com muita autenticidade.
A convite de Jorge Curi, se transferiu para a Rádio Nacional, uma emissora extremamente formal, o oposto de Apolinho. No início, as gírias do radialista chocaram os ouvintes, mas o diretor Sérgio Vasconcelos fez a aposta e não se arrependeu. Não demorou muito para Apolinho cair nas graças do público.
Com José Carlos Araújo, Telê Santana e Deni Menezes numa das muitas viagens internacionais.
– Na época eu também trabalhava em um banco e o diretor cobriu o salário que eu ganhava lá para que eu ficasse exclusivamente na rádio. Foi aí que me profissionalizei! – lembra.
Até então, ninguém o conhecia como Apolinho. O apelido inusitado surgiu apenas na Rádio Globo. Justamente na época em que foi convidado por Waldir Amaral, a Globo comprou poderosos equipamentos de comunicação que os astronautas utilizaram na missão Apollo 11, coordenada pela NASA. Entre esses equipamentos estava o microfone em que Washington Rodrigues soltava a voz.
Com Marcus Vinícius, o Mr. Bean, atual parceiro de Tupi.
– Lá vai o Washington Rodrigues com o seu “APOLINHO” – dizia Waldir Amaral, se referindo ao microfone.
De acordo com o radialista, os geraldinos achavam mais fácil pronunciar Apolinho do que Washington e, por isso, não demorou muito para o apelido pegar.
Um dos momentos mais marcantes da sua carreira ocorreu em 1970, quando fez sua primeira viagem internacional e viu de perto Carlos Alberto Torres levantar a taça do tri. Segundo ele, só a vitória do Flamengo contra o Liverpool, em 81, foi mais emocionante na sua carreira.
A paixão pelo Flamengo, aliás, é um fato que Apolinho não faz nenhuma questão de esconder e, mesmo assim, todas as torcidas o respeitam.
– Sou Flamengo pra caralho! Todos sabem! Se eu disser que não tenho time, tudo que eu disser depois o torcedor vai ter o direito de achar que é mentira!
Apolinho é tão rubro-negro que, em 1995, ano do centenário do clube, largou o rádio para assumir a equipe em um momento extremamente conturbado. Grande amigo de Kléber Leite, o radialista tinha o costume de se reunir com o dirigente para dar dicas e, em uma dessas reuniões, no restaurante Antiquarius, foi pego de surpresa.
– Eu ia sugerir o nome do Telê Santana quando ele me convidou pra assumir o time! Jamais poderia imaginar!
Sem entender muito de táticas, como ele mesmo admite, se cercou de profissionais de primeira linha na comissão técnica e se preocupou mais em gerenciar vaidades e conflitos para ter o grupo em sua mão.
– Eu dizia, por exemplo, que se alguém saísse na porrada todos teriam que entrar na briga e eu seria o primeiro! – fato que realmente aconteceu quando Edmundo se envolveu numa briga contra um defensor do Vélez Sarsfield.
O curioso é que Apolinho é padrinho de Vanderlei Luxemburgo, que brigara alguns meses antes com Romário, estrela do Flamengo. Após tomar as dores do treinador, o radialista quase saiu na mão com o atacante e ainda não havia resolvido a situação até assumir o clube carioca. Na entrevista coletiva de apresentação, o treinador fez questão que Romário estivesse presente, pois sabia que algum jornalista perguntaria sobre o assunto.
– Assim que fizeram a pergunta eu falei: ‘Romário, ou você me dá um abraço ou a gente sai na porrada agora’. Lógico que ele me deu um abraço!
Outra curiosidade é que o treinador inovou ao colocar uma televisão ao lado do banco de reservas para assistir aos jogos, graças aos amigos da SporTV. De acordo com ele, que sempre analisava a parte do alto das cabines de rádio, do campo era impossível ter a visão do conjunto.
Embora tenha sido vice-campeão da Copa dos Campeões com o Flamengo, retornou para a Rádio Globo e ficou até 1998, quando recebeu outro convite para trabalhar no clube, dessa vez como dirigente. Deixou o cargo em 1999 para trabalhar na Rádio Tupi, onde permanece até hoje, com o programa “Show do Apolinho”, que vai ao ar de segunda a sexta, das 17h às 19h.
Quando o papo chegava ao fim, exclusivamente por conta dos outros compromissos da equipe do Museu, Apolinho fez questão de mostrar a “Gaiola das Loucas”, o campo de futebol da sua casa.
– Sou peladeiro nato! O campinho é todo fechado, são três pra cada lado, tranca com o cadeado, joga a chave do lado de fora e a porrada come! – comentou para a gargalhada de todos!
Resenha Celeste
resenha celeste
edição de vídeo: Daniel Planel
No dia 7 de dezembro de 1966, há exatos 50 anos, o Cruzeiro vencia o Santos por 3 a 2, de virada, em pleno Pacaembu, e se sagrava campeão da Taça Brasil daquele ano. Mesmo podendo perder por até três gols de diferença, visto que tinha vencido o primeiro jogo, em Minas, por 6 a 2, os ídolos celestes não se acomodaram e venceram a equipe de Pelé.
A conquista foi tão marcante que, 50 anos depois, os jogadores se reuniram para comemorar o feito e bater um papo muito bacana! É óbvio que a equipe do Museu da Pelada, junto com os parceiros do Canal 100, não ia ficar de fora dessa resenha!
– Foi o título mais importante do Cruzeiro, porque mudou a história do futebol mineiro – lembra Dirceu Lopes, autor de dois gols no primeiro jogo da decisão.
Goleiro daquele timaço, Raul Plassman não mediu as palavras para exaltar a campanha do Cruzeiro naquele ano. E não era pra menos: Com apenas 45 minutos de decisão, o Cruzeiro já vencia o poderoso Santos por 5 a 0.
– Pegamos Grêmio, Fluminense e fomos atropelando todo mundo, até o massacre no Mineirão – disse, em alusão à goleada no primeiro jogo da final.
Além de toda a resenha lembrando a conquista, os craques ainda assistiram e comentaram os lances daquele massacre histórico, através das belas imagens do Canal 100!
Dirceu Lopes
CRAQUE CELESTE
entrevista: Sergio Pugliese | edição de vídeo: Daniel Planel
Junto com o Canal 100, a equipe do Museu da Pelada participou ontem à noite, no Minas Centro, da festa de comemoração dos 50 anos da conquista da Taça Brasil, atual Campeonato Brasileiro, em 66! Grande destaque da final, contra o Santos, de Pelé, Dirceu Lopes bateu um papo emocionante com Sergio Pugliese!
Tendo vestido a camisa do Cruzeiro por 14 anos, o craque elege o título de 66 como o mais importante da sua brilhante carreira! Além disso, Dirceu afirma que jogar na Raposa foi a maior alegria da sua vida.
– Eu não tenho nem palavras pra expressar a felicidade por vestir a camisa do Cruzeiro por esse tempo todo! Devo tudo a esse clube! Jogar no Mineirão com 100 mil torcedores gritando seu nome não tem preço!
Durante o papo, o ex-jogador revelou um episódio divertidíssimo. Enquanto estava concentrado em um hotel de São Paulo, recebeu a visita de Garrincha, que o elegeu como o maior jogador que viu jogar!
– Eu só não desmaiei porque eu estava deitado na cama quando ele chegou! – disse o craque do Cruzeiro.
A ausência na lista dos convocados para a Copa de 70, sem dúvidas, é a maior frustração de sua carreira. Dirceu, no entanto, afirma que suas glórias e conquistas anulam qualquer tipo de decepção.
– Ouvir do Pelé que eu sou o maior jogador da história do Cruzeiro é muito gratificante!
VINTE ANOS SEM O MAIOR “PELADEIRO” DA IMPRENSA
por André Felipe de Lima
“Se o brasileiro se interessasse por política dez por cento do que se interessa por futebol, esse país estaria salvo”. A frase – convenhamos, com alguma (ou talvez cavalar) dose de sentido – brotou da pena afiada (para uns, obviamente) e nefasta (para outros, naturalmente) do (para incondicionalmente todos) genial Paulo Francis, que hoje, neste sábado quatro, completa vinte anos longe daqueles que verdadeiramente gostam do bom ensaio jornalístico.
Ex-trotskysta, um dos fundadores do Pasquim, nascido em Botafogo, mas torcedor do Flamengo (embora, dizem, jamais tenha ido ao Maracanã), Francis é a marca (provavelmente a última) de um jornalista crítico, ácido e independente… sem amarras.
Foi um grande escritor e um ensaísta devastador, mesmo que sem o devido reconhecimento da inteligentsia tropical. Partiu para Nova Iorque e lá montou seu bunker jornalístico, cuja mira principal era a cultura e política brasileiras. Paulo Francis foi, sem dúvida, uma espécie de anti-herói do nosso jornalismo.
Seu estilo provocativo estimulava o melindre em qualquer desavisado de plantão. Caetano Veloso, por exemplo, tornou pública a desavença com Francis, chamando-o de “bicha amarga”, boneca travada danadinha” e “direitista”. Como definiu Ruy Castro, o entrevero entre os dois gênios foi considerado pela imprensa como a “briga do século”. Piada que Washington Olivetto tratou de rebater com extrema e bem-humorada maestria: “Que país mais chato este, em que os inteligentes brigam e os burros andam de mãos dadas!”
Francis ria quando o definiam como direitista. Foi acima disso ou de qualquer ideologismo de moda. Poderíamos defini-lo como um “peladeiro” das letras e da imprensa, que batia um bolão, mas sofria com os preconceitos de um conservadorismo ideológico que, de certa forma, ainda perdura em muitas redações.
Se estivesse vivo, acharia bacana o que a moçada que estuda jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou em sua homenagem: a Copa Paulo Francis (CPF) de futebol, uma verdadeira pelada bem resolvida. Ah, também há para as moças… a Copa Patrícia Poeta. Francis exclamaria resoluto: “Waaal…”.
Para conhecer um pouco mais sobre a Copa Paulo Francis, vá lá no blog abaixo:
http://copapaulofrancis.blogspot.com.br/