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A BOLA E O RÁDIO, ROBERTO QUEIROZ

por Marcelo Mendez


Roberto Queiroz

A coluna “A Bola e o Rádio” de hoje sobe até o Pernambuco para trazer um narrador lendário.

Locutor da Rádio Clube de Pernambuco, Roberto Queiroz é o homenageado da semana e a narração é de um momento épico da história do Sport.

Era o bagunçado ano de 1987.

O futebol brasileiro, que andava uma zona, teve lá uma reformulação partindo da elite, pelo tal do Clube dos 13, organizando o futebol em dois módulos; Módulo Verde, onde jogavam 16 clubes grandes e, módulo amarelo, onde jogavam os 16 que seriam uma espécie de segunda divisão.


Zé do Rádio, torcedor símbolo do Sport

E tudo isso junto era a Copa União daquele ano.

O torneio substituia o combalido e bagunçado Campeonato Brasileiro. Ficou acordado, no entanto, que ao término dos módulos haveria um cruzamento entre os dois melhores de cada módulo para que tivéssemos os representantes do Brasil na Libertadores e o campeão definitivo da papagaiada toda.

Mas esse cruzamento não rolou. Os motivos são para outro dia e outro momento. Não os discutirei aqui.

Agora vamos homenagear esse homem, o grande Roberto Queiroz.

Ao lado de seu irmão Mané Queiroz, no plantão, e de Ralph de Carvalho, nos comentários, Roberto botava as arquibancadas de Pernambuco para balançar!

Segue aqui sua narração para o gol de Marco Antonio contra o Guarani, o gol que deu o título ao time da Ilha do Retiro.

Todo resto não vale muito, perto da voz poderosa de Roberto Queiroz…

 

TRÊS ANOS SEM BELLINI

por André Felipe de Lima


Três anos sem um dos nossos maiores zagueiros. Três anos sem um galante herói nacional. No dia 20 de março de 2014, Bellini seguiu viagem para o andar de cima e sua partida deixou menos brilhante o nosso futebol. Hoje, mais que merecidamente, reverenciamos aquele que foi o nosso primeiro grande capitão a levantar a taça de campeão do mundo, a imortalizar um gesto que seria repetido por outros capitães décadas depois. Que será repetido, sempre, por todos os futuros capitães campeões do mundo.

A seguir, um trecho da biografia de Bellini, que está no volume da letra “B” da enciclopédia Ídolos-Dicionário dos craques”, que será lançado ainda neste semestre pela Livros de futebol . com, do editor Cesar Oliveira:


“O menino do interior paulista fazia do futebol um sonho impossível. Torcedor do Corinthians — embora fosse apenas um detalhe porque anos mais tarde muitos clubes caberiam em seu generoso coração de ídolo —, o garoto pegava — geralmente escondido da mãe — as meias na gaveta do armário e delas nasciam bolas. Dos sapatos, “traves”. Era um apaixonado por futebol. Todos os domingos, estava lá o menino em meio aos amigos na praça central da provinciana Itapira para acompanhar pelo rádio os clássicos que levavam milhares de santistas, corintianos, palmeirenses e são-paulinos ao estádio do Pacaembu. Terminada as pelejas na capital, desligavam o rádio e faziam da praça o seu “Pacaembu”. O menino cresceu na rua Padre Ferraz, número 884, em Itapira, ouvindo — e idolatrando — Domingos da Guia, o maior de todos os zagueiros do Brasil. Quis também ser zagueiro. O destino se incumbiu disso, mesmo que sobrasse força de vontade para compensar a pouca técnica.


“Nunca deixou de sonhar, até o dia em que foi responsável por imortalizar um gesto que muitos repetiriam. Foi assim que Hideraldo Luis Bellini, o nosso eterno “capitão” da bola de meia, ergueu a taça Jules Rimet em 1958, na Copa do Mundo da Suécia, para consolidar definitivamente o Brasil como o país do futebol. ‘Não pensei em erguer a taça, na verdade não sabia o que fazer com ela quando a recebi do Rei Gustavo, da Suécia. Na cerimônia de entrega da Jules Rimet, a confusão era grande, havia muitos fotógrafos procurando uma melhor posição. Foi então que alguns deles, os mais baixinhos, começaram a gritar: ‘Bellini, levanta a taça, levanta Bellini!’, já que não estavam conseguindo fotografar. Foi quando eu a ergui.’”

Bellini é eterno!

ZÉ CARLOS FEZ DO BAHIA O MAIOR DO BRASIL EM 88

por André Felipe de Lima


(Foto: Reprodução)

Hoje, 20, é aniversário do Zé Carlos, o meia-atacante decisivo para o Bahia na conquista do bicampeonato brasileiro de 1988.

Zé Carlos teve uma infância difícil e começou a trabalhar aos 13 anos para ajudar a família: “Tenho o orgulho de dizer que passei fome, mas nunca mexi em nada de ninguém, nunca apelei para a marginalidade. Sempre acreditei na honra e no trabalho honesto. É isso que procuro ensinar para as escolas de futebol em que atuo.”

O ingresso no futebol foi tarde. Zé tinha 18 anos, quando o juvenil do Tricolor de Aço baiano o acolheu após uma peneira com mais de mil garotos. Tiro certeiro dos olheiros do Bahia. O rapaz, embora muito magrinho e com quase 1,80m, era bom de bola pra chuchu. Em 1985, foi peça fundamental para o título estadual de juniores. Para não o dispensarem, fazia exercícios contínuos pendurado no travessão para tentar ganhar musculatura. Nem precisava disso. Zé batia um bolão. Após a boa fase na base do Bahia, já entre os profissionais, foi tricampeão baiano e, a maior de todas as conquistas, campeão nacional, em 1988.

O rapaz bom de bola fez tanto sucesso que o treinador da Seleção Brasileira, Sebastião Lazaroni o convocou para amistosos contra Arábia Saudita e Portugal, em 1989.

Com todo aquele futebol, não há dúvida: os Orixás sempre deram uma força bacana para o craque e ídolo Zé Carlos. Axé, mestre! E, claro, feliz aniversário!

 

ELSON E SEU GOL DE BICICLETA NA VÁRZEA

texto: Marcelo Mendez | fotos: Fabiano Ibidi


Marcelo Mendez

Era uma manhã chuvosa na várzea…

Uma manhã de chuviscos e ventos, aquela hora do dia que Chico escolheu para cantar que “Eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã”. Aquele dia em que o barulhinho dos pingos da chuva respinga em sua janela, criando assim uma sonata pra te acordar e depois vai embora.

Por capricho aparece, por magia se vai. E o dia começa. No piso que outrora foi árido, seco e duro, por esses dias, molhados pela chuva dengosa, tornam-se fofos, um tanto escorregadios e em algumas partes, pesado. Por alguns cantos da cancha, poças são espelhos a refletir narcisos que o habitam munidos por chuteiras coloridas que dentro em breve, marrom serão.

O torcedor na arquibancada improvisada, esta atento. Olhos e guarda chuva apostos para qualquer eventualidade e a bola adentra para ficar lindamente suja.

Era esse o cenário do no campo do DER em São Bernardo onde o time da casa enfrentava o Nacional da Vila Vivaldi. As coisas seguiam dentro de uma normalidade corriqueira até em determinado momento, uma bola foi chutada para o alto. Eram jogados alguns minutos não se sabe quantos…

O tempo na várzea é o que define o espaço necessário para que se crie o verso.

São muitas as coisas que acontecem enquanto a bola viaja pelo céu que cobre o futebol que se joga pelos terrões dos arrabaldes do Brasil. Sonhos, visões, aspirações, um gole de cerveja, da tempo de muita coisa enquanto a bola marrom faz seu vôo. Na viagem que aquela bola fez pelo céu do DER, tudo isso aconteceu e o seu pouso não podia ter uma sorte melhor…

Acomodada por um peito que, muito mais que um conforto, lhe fez um afago, a bola marrom encontrou Elson e sua camisa 11 do DER. Acarinhada como a amante que surge na tarde vazia que antes era só solidão, a pelota se sente em paz, feliz, realizada. Ela então se ajeita para ajudar o atacante que tão bem lhe quer. O zagueiro do Nacional olha, tenta fazer algo, afinal está ali para ser o vilão da cena. Mas meio que hipnotizado pelo que a arte reservava para o episódio, pouco faz e então, com a leveza de um bailarino, Elson joga as pernas para o alto e mete uma bicicleta, mandando a bola pra o fundo das redes do Nacional. Que golaço!

O estádio em festa, os copos de cerveja pra o alto, os instrumentos de samba em fúria, a torcida em êxtase, o cronista feliz; Tínhamos então um gol de bicicleta! Depois disso, tivemos um segundo tempo bom, bem jogado, disputado, o Nacional fez boa figura, tentou uma sorte melhor, mas não se falava de outra coisa na manhã de chuviscos em São Bernardo:

Teve um gol de Bicicleta!

Caros amigos leitores, eu entendo… Respeito os que preferem as pinturas de Goya, a força neo-realista do cinema de Michelangelo Antonioni em seu ótimo filme “A Noite”. Mas os afirmo sem medo de errar, que, perto de um gol de bicicleta na várzea todas essas coisas nada mais são do que pastiche! Nada… Nem Antonioni é maior que o gol de bicicleta marcado por Elson na várzea. Elson nosso herói, portanto!

Gilson Gênio

XÔ, BAIXO ASTRAL

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | foto: Marcelo Tabach | vídeo: Simone Marinho | edição: Daniel Planel  

 

De acordo com o dicionário, gênio é um espírito inspirador de uma arte, virtude ou vício; uma pessoa com um talento criativo fora do comum e uma grande capacidade mental. Para a torcida do Fluminense, no entanto, genialidade se resume a Gilson Wilson Francisco, o grande Gilson Gênio. O craque precisou de poucos jogos para infernizar os marcadores com sua velocidade e habilidade, cair nas graças da torcida tricolor e ganhar o apelido que virou quase sobrenome em sua carreira.

Após a indicação do parceiro Zé Roberto Padilha, ponta da Máquina Tricolor, a equipe do Museu da Pelada pegou a estrada e partiu para Itaguaí, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, onde mora o Gênio das Laranjeiras. Além do capitão Sergio Pugliese, Simone Marinho, Marcelo Tabach e André Mendonça, levamos, de surpresa, nosso padrinho PC Caju, que viveu grandes momentos com o Gênio e foi essencial na sua adaptação na equipe profissional.

Ponta veloz, habilidoso e inteligente, Gilson é uma espécie de dinossauro do futebol. Exerceu com maestria a função em uma posição que está praticamente extinta nos dias atuais. Com um largo sorriso no rosto e uma bela camisa laranja do Fluminense, nos recebeu e ficou surpreso com a presença de PC Caju, seu grande ídolo e parceiro na Máquina Tricolor. Se não fosse o bastante, PC ainda levou uma carta escrita por Afonsinho para o Gênio das Laranjeiras.

– Que felicidade! PC é meu ídolo! Saía de Itaguaí para o Maracanã só pra o ver jogando no Maracanã pelo Botafogo! – confessor o tricolor.

Naquela época de torcedor, mal sabia Gilson que, alguns anos depois, seu ídolo se tornaria companheiro de equipe no Fluminense e seria peça fundamental na adaptação dos mais jovens na equipe profissional. Após conquistar a Copa de 70, no México, e atuar pelo Olympique de Marseille, na França, PC Caju chegou às Laranjeiras em 75 com status de ídolo, roupas estilosas e carro da última geração, o que despertava ainda mais a idolatria do Gênio e dos demais garotos.

– Eu era um cara muito brincalhão, fazia a maior festa no meu quarto nas concentrações e a garotada ficava sempre junto comigo! A geração que subiu junto com o Gilson era muito talentosa! – lembrou Caju.

Depois de confirmar a humildade de PC mesmo após ter sido campeão do mundo e ter atuado na Europa, Gilson revelou qual era o sentimento de atuar na mesma equipe que o craque:

– Ele jogava e a gente vibrava. Era um cara muito autêntico e a gente admirava isso. A reportagem da Europa vinha entrevistá-lo no clube e aquilo chamava a nossa atenção. – disse Gilson, enquanto a equipe do Museu assistia, praticamente sem piscar os olhos, àquela resenha histórica.

Na época que ainda não era conhecido como gênio, Gilson saía de Itaguaí, ao lado do irmão e também grande jogador Gilcimar, de fusquinha, para treinar nas Laranjeiras. Com vergonha dos carrões dos jogadores profissionais e já consolidados, o craque revelou que costumava parar fora do clube e ia andando até as Laranjeiras para não ser motivo de chacota na resenha.

O mesmo aconteceu quando foi receber a Bola de Ouro, prêmio concedido ao melhor jogador da categoria júnior do Brasil. Para ir até a sofisticada cerimônia, no Hotel Intercontinental, o jovem recorreu novamente ao fusquinha.

– Fui junto com um amigo e paramos muito longe! Imagina só, eu todo arrumado, de smoking, para uma cerimônia daquela, chegando de fusquinha! Tá doido? – contou para a gargalhada de todos.

Com a ajuda de PC Caju, Gilson Gênio logo se adaptou àquele elenco repleto de estrelas, que mais tarde seria chamado de “Máquina Tricolor”. Com tantos craques juntos, o garoto, na época, admirava do banco cada movimento de Rivellino, PC Caju, Carlos Alberto Torres, Pintinho e até mesmo de Dirceu, de quem era reserva imediato.

Em uma das primeiras oportunidades como titular, no duelo contra o Vasco, o baixinho Gilson Gênio deitou e rolou em cima da zaga liderada pelo xerife Abel Braga e a garotada tricolor aplicou uma sonora goleada no Maracanã. Um lance, no entanto, ficaria marcado pra sempre.

– Recebi um lançamento muito longo e deixei o Abelão chegar antes na bola, porque ele era muito mais forte e não tinha como eu disputar no corpo com ele. Ele estava protegendo a bola na linha de fundo e eu, baixinho, passei por baixo das pernas dele, e roubei a bola!

A atuação de gala e, especificamente o lance em cima de Abel, resultaram em uma grande faixa, com letras garrafais, esticada pela torcida tricolor na partida seguinte: GILSON GÊNIO. O apelido pegou e o craque até hoje é reconhecido dessa forma. A exibição contra o Vasco fez também Gilson virar a sombra de Dirceu, um ponta que não ia muito à linha de fundo e, por vezes, despertava a ira da torcida.

– Quando a galera começava a pedir para o técnico me colocar eu ficava com vergonha! – revelou.

Em 1979, após quatro anos disputando a titularidade com grandes craques na Máquina Tricolor e dois campeonatos estaduais conquistados, o Gênio decidiu que era a hora de buscar novos ares para se firmar de vez no cenário nacional e se transferiu para o Bahia. Logo assim que chegou, foi protagonista da conquista do Campeonato Baiano de 79, se tornando a estrela do time. Uma entrada criminosa, no entanto, arrebentou todos os seus ligamentos e o afastou dos gramados por um longo período.

Depois do Bahia, foi aplicar seus dribles no América-RJ, comandado pela fera Eduzinho Coimbra, onde também soltou o grito de campeão. Mas foi pela Inter de Limeira, em 1986, que o Gênio fez história e entrou de vez para o cenário nacional. Com grandes exibições, a Inter surpreendeu no torneio, bateu o Palmeiras na final e se tornou a primeira equipe do interior a conquistar o Campeonato Paulista.

Antes de se aposentar e virar treinador, jogou ainda no Santa Cruz e no Cerro Porteño, onde, segundo ele, foi o time em que mais apanhou durante toda a carreira.

Quando a resenha chegava ao fim, Pedro, o filho mais novo de Gilson, apareceu na sala e fez questão de demonstrar sua paixão por dinossauros. Além de mostrar toda a sua coleção dos répteis e dar uma verdadeira aula sobre os animais, o garoto de cinco anos cantarolou com uma talentosa voz a música que tinha acabado de escutar num filme:

– Faz muito tempo que os dinossauros não vivem mais (…) Os dinossauros não voltam mais… – cantava, sem parar, o garoto.

Tem coisas que só acontecem com o Museu da Pelada… Seguimos em busca da poesia perdida e dos “dinossauros” do futebol, na eterna esperança de que a espécie evolua!


PC Caju, Gilson Gênio, Sergio Pugliese, Pedro,Simone Marinho, Marcelo Tabach e André Mendonça