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CHELSEA E TOTTENHAM DOMINAM COM 3 ATRÁS

por Pedro Redig, de Londres


Quem acompanha o Campeonato Inglês de perto já reparou. Os times que estão na frente são os que atuam com três jogadores atrás. São eles o virtual campeão Chelsea e o Tottenham, num distante segundo lugar.

Nunca fui chegado a escrever sobre táticas mas a maneira como estes dois times jogam é fascinante demais e merece ser esmiuçada. O Chelsea trocou a base sólida de Ivanonic, Cahill, Terry e Azpilicueta por um time que joga agora num flexível 3-4-3.

David Luiz comanda o centro da defesa junto com Cahill e Azpilicueta. Os alas Moses e Marcos Alonso voltam quando o time é atacado e a linha de três de repente vira uma barreira de cinco, além do incansável Kanté batalhando na frente da defesa. Quando o time sai com a bola, Azpilicueta cai na lateral direita e avança junto com Moses. Alonso faz o mesmo pelo lado esquerdo.


David Luiz e Cahill também arriscam suas arrancadas sob a proteção extra de Kanté. Os dois zagueiros de área já marcaram gols preciosos para o Chelsea. A formação inspirada no sistema defensivo conhecido como ‘catenaccio’ e aprimorada pelo técnico italiano Antonio Conte tornou o Chelsea praticamente imbatível. Pedro, Hazard e Diego Costa na frente também são apoiados pelos alas e Alonso aparece muitas vezes como um verdadeiro ponta.

O Tottenham tem um sistema de três no meio da defesa ainda mais excitante do que o do Chelsea. Dier, Vertonghen e Alderweireld atuam com Kyle Walker na ala direita e Justin Rose na esquerda. Quando o time ataca, os alas se mandam para a frente, num verdadeiro rolo compressor.

O sistema é diferente do Chelsea – um 3-4-2-1 com Wayama e Dembele patrulhando o meio campo e Erkisen e Ali criando chances para o matador Harry Kane.

Walker tem um vigor físico impressionante e estaria sendo observado pelo Barcelona. Rose anda machucado mas é sólido na defesa e chuta bem de longe. A cultura dos alas é tão forte que até o reserva de Walker, Kieran Trippier, impressiona. Ele tem mais técnica do que o titular e fornece cruzamentos para muitos gols. Quando o time perde a posse de bola, Trippier muitas vezes pressiona os centrais adversários antes de correr de volta para a posição original na lateral direita.


O sucesso do Chelsea e do Tottenham é uma prova de que o sistema de três atrás pode funcionar porque torna os times mais flexíveis, permitindo ocupar mais espaço no futebol corrido de hoje em dia. Jogando com três atrás, os dois times são os que sofreram menos gols na temporada. Do jeito que atuam, parece que tem sempre mais gente na defesa e mais gente no ataque. 

O ala foi uma invenção consagrada pelo brasileiro Nilton Santos. E o Brasil teve sucesso com três no centro da defesa. No time que venceu a Copa do Mundo de 2002, Edmílson partia para o ataque para fazer gol. Júnior era lateral esquerdo mas ia sempre à frente pelo Flamengo e a Seleção. E o que dizer de Marinho Chagas, Nelinho, Leandro?

O ala de hoje em dia é mais complexo porque opera num sistema que envolve todo o time. Antigamente, partir para cima era mas uma iniciativa de laterais aventureiros. Cafú e Roberto Carlos também servem de exemplo para estes europeus que atravessam o campo feito locomotivas, consagrando o futebol de três.

CRAQUE DAS LENTES

texto: André Mendonça | fotos: André Durão


André Durão

Depois de um longo tempo, a equipe do Museu da Pelada apresenta mais um “Craque das Lentes”. A fera da vez é André Durão, fotógrafo do portal Globoesporte.com há mais de 10 anos, que, gentilmente, nos enviou uma bela galeria de fotos sobre futebol. Apaixonado pela fotografia desde os 13 anos, André nos contou um pouco sobre a brilhante carreira e a relação com o esporte.

Embora não tenha sido um craque dentro das quatro linhas, o fotógrafo tratou de se destacar na beirada delas. Em 1982, fez sua estreia no Maracanã, ainda como estagiário, auxiliando o fotógrafo Ari Gomes, e se encantou com a atmosfera do estádio. No ano seguinte, começou a carreira profissional no Jornal do Brasil e passou a ganhar destaque por conta dos cliques na beira do gramado.

– Ainda trabalho nos gramados e minha ideia é nunca parar. Se o Globoesporte.com deixar, quero ficar até não conseguir mais fotografar. Espero que esse dia demore muito a chegar!

Aos 13 anos, após muito insistir ao pai, foi matriculado em um curso na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (ABAF) e passou a ter dificuldades para conciliar as aulas com as peladas e os treinos de basquete, esporte preferido no qual se destacava na juventude. Federado no esporte da bola laranja por 16 anos, desde a categoria infantil, André precisou tomar uma decisão difícil, e abandonou os treinos do basquete para se dedicar exclusivamente à fotografia.


Apesar de, na época, ter sido um duro golpe para o garoto, não temos dúvida que foi uma decisão extremamente sábia, o que pode ser comprovado pelo vasto currículo de coberturas do fotógrafo: Copa do Mundo, Olimpíadas, Copa das Confederações, Copa América, Mundial de F-1 e mundiais de vários outros esportes pré olímpicos.

– Acho que foi a escolha certa! Me dedico muito ao que faço. Quando saio para fotografar, não vejo como um compromisso e sim como uma oportunidade de brilhar e fazer uma bela foto, que é o que mais gosto – disse André, que também ressalta a importância do respaldo familiar para se alcançar o sucesso.

Estudioso, o fotógrafo revelou que costuma analisar os jogadores antes das partidas para se posicionar da melhor forma possível e fazer os mais belos registros. Admitiu, no entanto, que assim como o bom goleiro, o bom fotógrafo precisa de sorte.

– Vejo qual é o lado que o jogador costuma correr para comemorar, qual jogador chuta de longe, qual faz mais gols de cabeça etc. O resto é ficar prestando atenção na partida e esperar um lance bonito. Só quem adivinha o que vai acontecer é a Mãe Dinah – brincou.

Se as competições em que cobriu já não fossem o bastante para comprovar o êxito na profissão, podemos falar ainda dos estádios que foram palco dos cliques do fotógrafo. Tendo fotografado em quase em todos do Brasil e alguns do exterior, como San Siro, na Itália, o craque elege o palco da estreia como o mais especial.

– O Maracanã, sem dúvidas é meu estádio preferido. Também gosto muito de fotografar jogos da Libertadores fora do Brasil, pois a pressão da torcida deixa você mais ligado nos lances!

No fim, ao ser perguntado se é melhor com a câmera ou com a bola, André foi taxativo:

– Pergunta pra galera do Globoesporte.com. Me chamam todo dia para fotografar, mas para a pelada só fui chamado uma vez! – finalizou, de forma divertida.

BIGUÁ, O PRIMEIRO ‘DEUS DA RAÇA’ RUBRO-NEGRO

por André Felipe de Lima


Torcedores rubro-negros na faixa dos 40 anos cresceram vendo o zagueiro Rondinelli, o que marcou, de cabeça, o gol do título estadual de 1978 sobre o Vasco, como o “Deus da raça” do Flamengo. Mas, na década de 1940, outro defensor rubro-negro, o ex-lateral-direito Biguá, merece a primazia sobre o apelido. Até o surgimento de Leandro, foi ele o mais emblemático lateral-direito que passou pelas hostes da Gávea. Hoje, dia 22, Biguá faria 96 anos.

Mario Filho foi um dos que reconheceram a disposição do guerreiro Biguá: “Era tido como um índio. Se não fosse o cabelo de boneca japonesa seria tomado por preto. Era baixo, atarracado, de pernas grossas, de poltrona. Mas, tocando no chão, subia feito uma bola de tênis. Quando se enfurecia parecia um daqueles indígenas dos poemas de Gonçalves Dias. Ou melhor, um apache ou sioux de fita americana, de machado em punho para escalpelar um pale face [pele branca – referência a luta dos indígenas nos Estados Unidos].”

Moacir Cordeiro — assim se chamava o ídolo — nasceu em Irati, interior do Paraná, em 1921. Tinha personalidade. Foi marcador implacável, mas não era técnico. Ao lado de Modesto Bria e Jayme de Almeida formou uma eficiente linha média do Flamengo dos anos de 1940. Para o extraordinário ponteiro-esquerdo Félix Lostau, da “La máquina” do River Plate, nos anos de 1940, Biguá foi o seu melhor marcador.

Biguá teve um grande amigo dentro e fora dos gramados, o ponta-esquerda Chico, do Vasco. E, no próximo sábado, 25, haverá clássico entre Vasco e Flamengo. Os dois craques do passado são símbolos históricos de que o futebol permite paz entre rivais.


O grande Biguá foi titular absoluto nas equipes do Flamengo que conquistaram o primeiro tri-campeonato carioca para o clube em 1942, 43 e 44. Quem o admirava era o zagueiro Domingos da Guia, que já em final de carreira no Corinthians convidou Biguá para trocar a Gávea pelo Parque São Jorge. Biguá quase aceitou. Prevaleceu, contudo, a paixão pelo Flamengo. “E no dia em que o Corinthians jogasse contra o Flamengo, como é que eu ficaria?”. Amava tanto o Flamengo que, do banco de reservas, chorou ao ver os mais jovens conquistarem o campeonato estadual de 1953, que abriria o caminho para o segundo “tri” do Rubro-negro.


O jogo de despedida de Biguá, contra o Botafogo, no dia 3 de novembro de 1953, foi uma das passagens mais bonitas da história do Flamengo. Pegou uma bola e chutou para torcida guardá-la como emblema daquele dia inesquecível. A torcida o aplaudiu efusivamente.

Após uma volta olímpica no gramado do Maracanã, o craque entregou suas chuteiras ao novato meia Carlinhos, o futuro “Violino”, como seria chamado ao longo da década de 1960. Após Biguá “passar” a chuteira para Carlinhos, o craque tentou chutar uma bola para a arquibancada, mas foi tão sem força que a pelota caiu na geral.

De tão emocionado, Biguá correu em direção ao primeiro túnel que viu. Era o do Botafogo. Carlito Rocha, o folclórico cartola alvinegro, apertou-o contra o peito e disse: “Pena que no futebol haja poucos iguais a você”.

O SUPER JACARÉ

por Victor Kingma

Em seus tempos de jogador de várzea, Jacaré foi um craque, emérito cabeceador e com excelente visão de jogo. Aposentado, vivia a relembrar suas glórias e, após umas cervejinhas, invariavelmente acabava exagerando “um pouco” na lembrança de seus feitos.

Liminha era seu amigo e companheiro de trabalho. Mas tinha uma característica peculiar: detestava mentiras. Nada o aborrecia mais do que ouvir alguém mentindo.

E Jacaré naquele dia estava impossível. Contava que certa vez seu time foi jogar contra o maior adversário, de uma cidade vizinha, e ele, com o joelho machucado, não pôde ser escalado.

Ao final do primeiro tempo, seus companheiros já perdiam por 3 x 0. Após o intervalo, a coisa piorava a cada instante: aos 30 minutos o placar apontava 5 x 0 para a equipe da casa. Foi quando o técnico o chamou:

– Meu ídolo, eu sei que você não está em condições de jogar, mas preciso que entre para evitar um vexame maior.

E o nosso herói começou a contar para os amigos, mais uma de suas proezas:

– Aos 35 minutos, escorei um córner de cabeça e fiz 5 x 1.  Aos 37, entortei o zagueiro e de virada diminuí para 5 x 2. Aos 40, arrematei de voleio: 5 x 3…

– Ia narrando o antigo craque, embalado pelas “louras geladas”.

Em um canto, impassível e aparentemente dormindo, Liminha apenas ouvia.

– Aos 43, de bicicleta,  fiz 5 x 4…

E Liminha parecia mesmo cochilar.


Charge de Eklisleno Ximenes.

– Aos 45, quando o juiz já se preparava para terminar a partida, peguei a bola na intermediária, passei por três zagueiros, invadi a área, fintei o goleiro…

Mas antes que o nosso craque concluísse o lance, Liminha interrompe a narrativa, levantando aos berros:

– JACARÉ! Se você empatar este jogo eu lhe enfio a mão na cara!

 

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JAIR ROSA PINTO: ‘FUI CRAQUE, SEM QUALQUER FALSA MODÉSTIA’

por André Felipe de Lima


Jair Rosa Pinto foi, oficialmente, o primeiro “camisa dez” famoso do futebol brasileiro. Antes de adotarmos por aqui, no final dos anos de 1940, números na camisa dos jogadores, eles já estampavam as blusas dos clubes ingleses há, pelo menos, 50 anos antes de Jair ostentar o “dez” nas costas. No Rio de Janeiro esteve a passeio o time do Arsenal, em 1949. A onda por aqui dos números começou ali, sob influência dos britânicos, que enfrentaram o Flamengo de Jair. Veio a Copa do Mundo no ano seguinte e o nosso “camisa dez”, bem antes de Pelé imortalizar o número, foi ele, Jair Rosa Pinto, que nasceu no dia 21 de março de 1921, em Barra Mansa, interior do Estado do Rio de Janeiro, para a alegria do futebol brasileiro.

O pé era relativamente pequeno — calçava número 38 —, mas a bomba que aquela canela fina e canhota certeira proporcionava era surreal. Detestava que o chamassem de Jair “da” Rosa Pinto. Jamais teve no nome a intrusa contração da preposição com o artigo. Até os seus últimos dias lia ou ouvia aquilo que considerava um acinte ao seu nome. Acostumou-se, contudo.

Foi ele um dos primeiros e mais bem-sucedidos ciganos do futebol. Por onde passou, deixou um rastro de brilho, glórias e encantamento com seu futebol de dribles curtos e rapidez, tornando-se ídolo de muitas torcidas. A primeira delas, a do Madureira, onde formou o inesquecível trio “Os três patetas”, com Lelé e Isaías. Os três craques migraram juntos para o Vasco e repetiram o sucesso em São Januário. Jajá foi para o Flamengo. Fez sucesso lá também, embora a saída da Gávea tenha sido turbulenta após uma derrota para o Vasco, que virou um placar adverso de 2 a 0 para 5 a 2. Quando o score estava favorável ao rubro-negro, Jair perdeu um gol feito. Seria o terceiro e o fim das pretensões vascaínas no jogo. “Foi uma tristeza. Houve um boato, na época, que a minha camisa havia sido queimada em campo. Isso doeu mais que a derrota para o Vasco, que acabou campeão invicto. São coisas da sorte e do futebol”, disse Jair muitos anos depois. Mas, ao contrário do que sempre negara, a camisa teria sido realmente queimada. Não uma do Flamengo, mas outra qualquer como ato simbólico da irritação da torcida contra Jair. O culpado pelo gesto insano de alguns torcedores tem nome e sobrenome: Ary Barroso. Foi ele, rubro-negro fanático, que ao microfone da rádio insuflava a torcida a queimar a camisa de Jair, um “covarde”, segundo Ary, que não merecia jamais ter vestido o manto do Flamengo.


Da Gávea, partiu para o Parque Antarctica e, com o Palmeiras, foi campeão da Copa Rio, uma espécie de “mundial de clubes”, realizado em 1951. A passagem pelo Verdão — sobretudo após o fiasco na Copa do Mundo de 50 —representou um período mágico na carreira de Jair, que está — pelo menos até 1982, após uma enquete da revista Placar com cronistas, ex-jogadores e cartolas — no “time dos sonhos” da história do Palmeiras. Jair foi curtindo o futebol paulista e, nele, defendeu também Santos, São Paulo e Ponte Preta.

Glória e desilusão são siamesas no universo do futebol. Jair é exemplo disso. Principalmente quando o assunto é justamente “Copa do Mundo de 50”. Jajá estava no “Maracanazo” que nos sequestrou o sonho naquele fatídico 16 de julho de 1950. Tocou a vida pra frente, ouvindo uma piada aqui, outra acolá. Igualmente ao que teve de aturar após a virada vascaína para cima do Flamengo. Como sempre, acostumava-se.


Passava boa parte do tempo cuidando dos passarinhos que criava e batendo longos papos com amigos da velha guarda na Praça Saens Peña, a principal da Tijuca, na zona norte do Rio, bairro em que morava e onde treinou garotos do morro do Borel para brilharem no futebol. Isso por volta dos primeiros anos da década de 1980. “Não troco esta experiência pela de técnico em nenhum clube. Aqui, eu escalo, dirijo e treino meus jogadores. Nos clubes grandes, há sempre muita política”. Jair Rosa Pinto sabia das coisas.

Certa vez um repórter perguntou ao Jair, que treinava na ocasião o Santos, em 1972, o que ele achava se um bom técnico deveria ter uma aparência que o distinguisse dos demais. Vejam a reposta: “Claro! E é por isso que sou técnico. Se alguém chegar lá fora e perguntar: ‘Quem é o técnico do Santos?’, vão responder: ‘É o Jair’. ‘Qual Jair? Aquele da Copa de 50? Puxa vida’. Isso impressiona, ninguém se esquece de quem foi craque. E eu fui craque, sem qualquer falsa modéstia.”

Humildemente, jamais duvidei disso, Jajá.

***

Jair está na letra “J” da enciclopédia “Ídolos – Dicionário dos craques”. Um ídolo como o saudoso “Jajá” faz muita falta ao nosso combalido futebol brasileiro.

Abaixo, vídeos sobre o ídolo do passado.