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REFLEXÕES E NÚMEROS DO ATLETIBA

por Leo Schreier


Antes de começar a leitura desse texto, eu sugiro que você faça a seguinte pergunta para cinco crianças entre 6 e 10 anos de idade: “O que você quer ser quando crescer?”. Na minha época, eu teria respondido que queria ser jogador de futebol, mas hoje eu sei que a maioria das crianças vão responder que querem ter um canal grande no Youtube. E antes que você me chame de coroa, eu acabei de fazer 29 anos.

Pois bem, meus amigos, os tempos mudaram. Os centennials (nascidos entre 1996 – 2010) tomaram conta do entretenimento digital. Estamos ficando ultrapassados diante de uma geração conectada, decidida e disposta a fazer a diferença. Uma geração pragmática, que sonha e ter seu próprio negócio ao invés do emprego dos sonhos, que produz conteúdo, faz uploads e compartilha memes. Eles estão habituados a informação rápida, a vídeos curtos e interativos e não querem esperar dia e horário para assistir o que gostam. E como o futebol brasileiro se fortaleceria diante desta nova geração que tem como ídolos e super heróis, grandes influenciadores digitais e não jogadores de futebol?

O fato é que o futebol brasileiro atual possui poucos ídolos. Se em outros tempos tivemos craques de videogame como Neymar, Seedorf, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Romário, Adriano, Kaká, entre outros, jogando o Campeonato Brasileiro, hoje temos pouquíssimos ídolos de representatividade mundial e uma das explicações pra isso é a falta de recurso dos clubes brasileiros. Temos que analisar o modelo tradicional de mercado. Por que as marcas estão investindo cada
vez menos no futebol brasileiro? Qual a relação custo x benefício que ela tem em estampar a camiseta de um clube?

De fato, a crise financeira faz com que as empresas diminuam a verba publicitária. Hoje, dificilmente uma empresa se sente atraída em estampar a sua marca no peito dos atletas de um grande clube de futebol. A mídia espontânea nunca foi tão baixa, o jogador brasileiro tira a camisa pra comemorar o gol, escondendo o patrocinador dos cliques. Me aponte um clube no Brasil que faz ações de marketing com o seu sócio torcedor para ativar o patrocinador de sua camisa com o seu público. Aliás, esse é um assunto que gostaria de falar em outro momento. Mas me causa perplexidade em ver que os programas de sócio torcedor no Brasil, ao invés de ter status de clube de vantagens, ainda funcionam como caridade do torcedor para com o time do coração.

A transmissão de um grande clássico via Youtube e Facebook pode sim trazer grandes marcas de volta ao futebol, afinal, para uma marca que investe pesado em um grande evento esportivo ou em um clube de futebol, é muito mais vantajoso saber a audiência real que se tem durante a transmissão, do que depender dos pontos de ibope da TV. E quando eu menciono audiência real, eu me refiro naquela audiência em que o indivíduo está atento, visualizando a informação e interagindo com ela. Não a audiência superficial, onde o indivíduo tem a TV como segunda tela, pois está nas redes sociais e grupos de WhatsApp interagindo com outros torcedores. Vale lembrar que o Youtube acabou de lançar nos EUA o serviço de TV por assinatura, pois eles concluíram que seu público prefere consumir as informações em um único lugar.

No jogo Atlético PR x Coritiba, tivemos uma audiência total de 3,157 milhões de visualizações. Esse dado representa a soma do número de visualizações dos canais oficiais do Atlético PR e do Coritiba no Youtube e no Facebook. Mais do que isso, é importante observarmos o analytics dos canais dos clubes durante e logo após a partida. O analytics me dá dados mais detalhados como pico máximo de visualizações, número de comentários e alcance. Nunca um clássico paranaense gerou tanto buzz nas redes sociais com abrangência nacional. Hashtags no Twitter, textões no Facebook, diversas notas em grandes portais. Quem diria que um Atletiba seria mais comentado que um Flamengo x Vasco ou um Corinthians x Palmeiras? Sem mais delongas, mostro alguns números:

Youtube Atlético PR
Pico máximo: 80.931
Minutos assistidos: 7.460.000
Comentários: 33.400
Visualizações: 385.000
 
Facebook Atlético PR
Pico máximo: 41.909
Minutos assistidos: 3.145.381
Visualizadores únicos: 1.749.675
Alcance: 8.074.835
Interações: 518.277 

Youtube Coritiba
Pico máximo: 48.830
Minutos assistidos: 4.923.000
Comentários: 21.000
Visualizações: 286.000

Facebook Coritiba
Pico máximo: 18.433
Minutos assistidos: 1.297.816
Visualizadores únicos: 736.105
Alcance: 3.153.467
Interações: 208.163 

Esses números são interessantes, mas, por enquanto, é impensável que Youtube ou Facebook irão montar uma equipe para fazer a cobertura e transmissão de eventos esportivos ao vivo, basicamente porque Youtube e Facebook, além de serem concorrentes, são plataformas e não produtores de conteúdo. Ganha o torcedor, ganha o mercado que, a partir desse novo modelo, tem a chance de investir menos para explorar mais e ter resultados melhores sobre um grande evento, além de saber em tempo real os números. O futebol enxerga uma boa chance de entreter a nova geração, mas claro, do jeitinho dela.

OS ASTROS DE EVARISTO

por Sergio Pugliese


Bandeiras do Grajaú Tênis Clube

Em respeito à morte de Dauquir Assunção Nunes Gomes, o Dr. Dauquir, craque do 18, as bandeiras do Grajaú Tênis Clube estão a meio-pau. Relembramos, então, um texto bacana sobre o timaço do 18, fundado por Evaristo de Macedo, Dr. Alfredo Bocão e Nilton Parafita em 1966.

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Na resenha, o genial Evaristo de Macedo foi devastador.

– Joguei no Barcelona com Ladislau Kubala, no Real Madrid com Alfredo Di Stéfano e Puskás, e na seleção brasileira com Garrincha e Nilton Santos. Encerrei no 18, do Curupaiti, com Zeca Diabo e Tião Búfalo. Ninguém merece!

A galera desabou de rir! Evaristo de Macedo é assim, ácido e divertido, ranzinza e amável. Mas ele pode tudo! Levou o nome do Brasil aos cinco cantos do mundo, barbarizou em gramados europeus e conseguiu o improvável: ser endeusado pelos fanáticos torcedores dos maiores rivais da Espanha. Nesse quesito, zero briga, catalães e merengues assumiam-se Evaristo F.C.!

– Vou falar o quê? O homem jogava muito mesmo – resignou-se Zeca Diabo, no encontro organizado pelos antigos parceiros de pelada em homenagem ao mestre.

Criado no Grajaú, Evaristo participava de rachas no Grajaú Tênis Clube e no Confiança, em Vila Isabel. Carreira meteórica, em 1950 começou no Madureira, dois anos depois transferiu-se para o Flamengo e de cara conquistou o tricampeonato carioca 53/54/55.

– Ele ganhou uma infinidade de títulos, tabelou com grandes craques mas sabe que no 18 só tinha fera – defendeu-se Tião Búfalo, consagrado técnico de futebol de salão e comentarista esportivo.

Evaristo concordou, mas não perdeu a chance de provocar o amigo, lateral direito ofensivo, e lembrou quando ele avançou até a linha de fundo, cruzou mas a zaga rebateu. Evaristo irritou-se e gritou “errou, agora volta!”. E o fôlego? Campo de onze, Tiãozinho já passava dos 40, a solução foi pegar emprestada a bicicleta de um torcedor e “voar” atrás do pontinha. A galera esbaldou-se. São centenas de histórias! O 18, em homenagem a Seu João 18, garçom do Grajaú Tênis, foi fundado em 1966 por Dr. Alfredo Bocão, Nilton Parafita e Evaristo, um ano após ter encerrado a carreira no exterior e papado mais um tricampeonato, 63/64/65, esse pelo Real Madrid.

– O Evaristo inaugurou o Camp Nou, em Barcelona, mas divertia-se da mesma forma jogando no Confiança e depois no Curupaiti, em Jacarepaguá – garantiu Betinho Carqueija, estrela da companhia.

Sem dúvida, ele divertia-se, mas aborrecia-se também. Betinho contou que numa partida contra o Americano, do Méier, Evaristo, cansado de apanhar do zagueiro Pelé, levou o brucutu ao chão após uma disputa pelo alto e enquanto aplicava-lhe uma gravata desafiava: “Se quer me bater, aproveita agora”. O árbitro, Seu Leleu, fez vista grossa. Parar Evaristo, mesmo veterano, não era tarefa das mais fáceis. Marinho Picorelli, centroavante arisco do 18, confirmou a valentia do craque e divertiu-se ao lembrar uma frase repetida por ele nas resenhas: “Depois que consigo entrar na área com a bola não saio de lá de jeito nenhum”. Na rodinha de amigos e familiares, Picorelli também recordou a bronca que levou de Evaristo após errar um passe: “Tem que chegar no pé, craque não corre”.

– Esse conselho, o Marinho, por se achar craque, levou ao pé da letra e até hoje joga paradão – provocou Sergio Sapo, outro craque do 18 junto com os goleiros Nivaldo e Reginaldo, Ivo, Valdir, Edson, da seleção olímpica, Jadson, Jairzinho da Rosa Pinto, Ercílio, Zulmar, Doutor Dauquir, Tarcis, Iran, Luís Antônio e Ney Pereira, atual técnico da seleção brasileira de futsal.

Na beirinha dos 80 anos, Evaristo estava cercado de carinho! Os filhos Pepe e Chamaco, os netos Luisinho e Dudu, a mulher Norma e bons amigos, boleiros do Grajaú e da cervejada no Bar do Fernando! Ê tempo bom!!! Feliz da vida, ouviu sobre os golaços de Picorelli e as antecipações precisas de Betinho Carqueija. Ali, seus 103 gols pelo Flamengo misturavam-se aos outros tantos marcados no Confiança. Se participou da inauguração do Camp Nou, fundou o 18!!! Se conquistou pelo Barcelona dois campeonatos espanhóis e três UEFAS, que nos perdoem Di Stéfano e Puskás, mas ele também registrou seu nome no mural da fama do Curupaiti, ao lado de Zeca Diabo e Tião Búfalo.


Betinho Carqueija, Tião Búfalo, o saudoso Zeca Diabo, Evaristo de Macedo e Marinho Picorelli.

Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É, no dia 7 de agosto de 2015.

ZICO, A ‘FLOR COM CHEIRO DE GOL’

por André Felipe de Lima


Nesta sexta-feira, dia 3, é aniversário do Zico, o maior dentre todos os grandes ídolos do Olimpo Rubro-negro. Zico era a magia, a arte que tanto amamos no futebol. Zico era capaz de fazer da bola uma “flor com cheiro de gol”, como escreveu o cronista e botafoguense Armando Nogueira.

Zico foi mesmo um craque capaz de despertar a admiração e o respeito de torcedores de clubes rivais. “(…) quando você fazia uma das suas e chutava aquelas bolas que tocavam na rede e batiam em cheio em nossos corações. Em compensação, nós, que tanto amamos nossos clubes quanto o futebol, estaremos com as nossas tardes de domingo mais pobres. E, aí, veja que ironia, teremos saudades de você”, escreveu o vascaíno Sérgio Cabral, jornalista e escritor, quando Zico abandonou o futebol.


E o que dizer sobre o tricolor Nelson Rodrigues, para quem Zico “Foi o maior jogador do mundo”? Zico é um herói do futebol brasileiro acima de qualquer paixão clubística.

Parabéns, Galinho, pelo seu aniversário e obrigado por ter tornado mais alegre o nosso futebol e, especialmente para a torcida do Flamengo. Com os gols do Zico, mais felizes eram as tardes de domingo no Maracanã.

ASSISTA ALGUNS VÍDEOS SOBRE O ZICO:

OUÇA A NARRAÇÃO DE GOLS HISTÓRICOS DO ZICO, NAS VOZES DE WALDIR AMARAL, JORGE CURI E JOSÉ CARLOS ARAÚJO: http://migre.me/oQpvN

 

 

ENTORTADOR DE CORPOS

por Serginho 5Bocas


Na minha época de menino, quis ser goleiro e ponta esquerda, posições logo abandonadas, a primeira por uma bolada que literalmente amassou e inchou meu dedo dentro da luva e a segunda por influência decisiva de meu pai, que dizia que jogar de ponta esquerda era furada, pois ficava perto da linha lateral e do treinador e na hora de substituir era sempre o sacrificado. Sábio seu Domingos, meu pai, que Deus o tenha em ótimo lugar.

Lenda ou verdade, naquele tempo ainda havia a figura do ponta esquerda e entre os melhores que vi jogar se destacam: Joãozinho, do Cruzeiro, João Paulo, do Santos, Zé Sergio, do São Paulo, Edér, do Atletico Mineiro e o Júlio César (Julinho) “Uri Geller”, o entortador de corpos do Flamengo.

Julinho era o ponta nato, partia para dentro e queria o drible em todas, fez muito sucesso no Flamengo de 1979 e 80. Era uma verdadeira atração nas excursões a Europa, os gringos ficavam doidos, pena não ter vídeos para comprovar, eu só tenho a narração do Garotinho da Rádio Nacional para testemunhar suas peripécias e o Jornal dos Sports para ampliar as diabruras.


Em 79 estava escangalhando os beques e a sua convocação através de Coutinho não demorou. Lembro que a manchete do Jornal dos Sports dizia que seria Julinho e mais 10, sem nenhum exagero, tal era a sua boa fase. No Rio, a torcida do Mengão mal podia esperar para vê-lo em ação com a amarelinha, mas veio uma contusão que não sarava e Julinho perdeu a sorte e o bonde da felicidade.

Perdeu o bonde da seleção, pois Coutinho foi substituído por Telê, que não era muito fã de dribladores, mas ainda deu tempo do craque ser campeão brasileiro de 1980 pelo Mengão. Depois foi negociado ao Talheres da Argentina.


Zico e Uri Geller aniversariam juntos

Na Argentina arrebentou. Foi considerado o melhor jogador do campeonato argentino naquele ano, superando inclusive o astro Maradona, e chegou a ser convidado a se naturalizar por Menoti, mas não aconteceu.

Carreira “curta” e de muitas porradas duras no campo e fora dele, mas prefiro ficar com as lembranças dos jogos nos torneios europeus de verão que curtia em meu inseparável radinho de pilha, dos jogos do Brasileiro de 80, dos dribles no lateral Márcio, do Atlético-MG, no amistoso das chuvas em 79 com a companhia real do Pelé, do drible de cinema em Uchoa, do América-RJ, dos inúmeros dribles em Orlando Lélé, entre outras lembranças maravilhosas.

O cara era a alegria do povo, foi uma das minhas maiores alegrias e inspirações de moleque e pena que vi pouco, deixou saudade boa.

Cansei de rezar literalmente para a bola ir para o lado dele no campo, só para ver o que ele faria com o lateral (qualquer um) do outro time. Sinceramente, não me lembro de nenhum lateral que tenha tido vida boa naqueles curtos dois anos de alegria.

Julinho pode não ter sido tudo que eu acreditava que ele era naquela época, não sei se foi uma “Chuva de verão”, um erro de julgamento de uma criança em seus 10, 11 anos, mas sei que fez parte decisivamente do meu imaginário, e das minha melhores lembranças de futebol arte. Foi meu herói e minha alegria nos campos de pelada, foi botão preferido (ao lado do Zico) na mesa verde e inspiração para partir pra dentro dos adversários nas peladas. Pena que foi tão efêmero…

PARABÉNS, JULINHO!

O ATLETIBA E O SONO TRANQUILO DO UTOPISTA DE BERMUDAS

 

por Marcelo Mendez


(Foto: Reprodução)

“Mulherada problema: Lugar de mulher é onde ela quer”.

O jogo entre Atlético Paranaense x Coritiba já começou lendário:

Na partida que vai entrar para história das comunicações no Brasil, como o mais importante, como o divisor de águas, como o primeiro a ameaçar o monopólio, de cara, na transmissão via Youtube, a torcedora do Atlético Paranaense, tinha essa frase escrita em seu cachecol na arquibancada.

Algo impensável de se ver nas transmissões esportivas no Brasil, porque a dona do esporte via televisão não compactua com essas manifestações, livres, civilizadas, democráticas, não; Faz o contrário…

Em um universo elitista, onde cada vez menos o povo pode freqüentar estádios, onde cada vez mais a repressão o amassa, autoridades tolhem, pisam em cima e sufocam o direito do cidadão se manifestar. A dona do esporte no país faz coro com isso.

Corta, edita, não mostra, finge que não viu… Não importa para um monopólio qualquer tipo de manifestação que agrida o pote de ouro. “Venham quem puder e quem não puder dentro dos preceitos monopólatras, que ligue a TV, que se enterre no sofá, que veja o jogo como nós aqui, os donos, queremos que seja visto.”

Ontem foi diferente.

A partir das 20h, o Brasil pode acompanhar um jogo de futebol sem nenhum tipo de chancela das Organizações Globo de televisão. Atlético-PR e Coritiba fizeram seus corres para transmitir cada qual em seu canal via Youtube, como aliás já deveria ter acontecido no ultimo dia 19 de fevereiro. Dessa vez não teve como ter nenhum tipo de estratagema, não teve carteirinhas proibidas, nada. O jogo aconteceu.

Sei que nada disso talvez tenha acontecido por uma postura de rebeldia, por pensar no povo que torce, que um desacordo entre clubes e Rede Globo por uns milhões a mais, permitiu que se abrisse esse precedente. Mas é um grande precedente na luta que virá pela frente.

Afinal, não são poucas as ameaças contra a liberdade de informação. São várias as tentativas de taxação.

Netflix, Youtube e todas as outras plataformas de streaming estão na mira do governo. Lutar contra o que esses clubes começaram a incomodar é uma tarefa inglória, mas pelo menos por enquanto, quero aqui comemorar.

Pelo menos por 90 minutos eu pude ver o monopólio perder. E isso fez meu sono muito mais tranqüilo.

Pelo menos ontem…