BIGUÁ, O PRIMEIRO ‘DEUS DA RAÇA’ RUBRO-NEGRO
por André Felipe de Lima
Torcedores rubro-negros na faixa dos 40 anos cresceram vendo o zagueiro Rondinelli, o que marcou, de cabeça, o gol do título estadual de 1978 sobre o Vasco, como o “Deus da raça” do Flamengo. Mas, na década de 1940, outro defensor rubro-negro, o ex-lateral-direito Biguá, merece a primazia sobre o apelido. Até o surgimento de Leandro, foi ele o mais emblemático lateral-direito que passou pelas hostes da Gávea. Hoje, dia 22, Biguá faria 96 anos.
Mario Filho foi um dos que reconheceram a disposição do guerreiro Biguá: “Era tido como um índio. Se não fosse o cabelo de boneca japonesa seria tomado por preto. Era baixo, atarracado, de pernas grossas, de poltrona. Mas, tocando no chão, subia feito uma bola de tênis. Quando se enfurecia parecia um daqueles indígenas dos poemas de Gonçalves Dias. Ou melhor, um apache ou sioux de fita americana, de machado em punho para escalpelar um pale face [pele branca – referência a luta dos indígenas nos Estados Unidos].”
Moacir Cordeiro — assim se chamava o ídolo — nasceu em Irati, interior do Paraná, em 1921. Tinha personalidade. Foi marcador implacável, mas não era técnico. Ao lado de Modesto Bria e Jayme de Almeida formou uma eficiente linha média do Flamengo dos anos de 1940. Para o extraordinário ponteiro-esquerdo Félix Lostau, da “La máquina” do River Plate, nos anos de 1940, Biguá foi o seu melhor marcador.
Biguá teve um grande amigo dentro e fora dos gramados, o ponta-esquerda Chico, do Vasco. E, no próximo sábado, 25, haverá clássico entre Vasco e Flamengo. Os dois craques do passado são símbolos históricos de que o futebol permite paz entre rivais.
O grande Biguá foi titular absoluto nas equipes do Flamengo que conquistaram o primeiro tri-campeonato carioca para o clube em 1942, 43 e 44. Quem o admirava era o zagueiro Domingos da Guia, que já em final de carreira no Corinthians convidou Biguá para trocar a Gávea pelo Parque São Jorge. Biguá quase aceitou. Prevaleceu, contudo, a paixão pelo Flamengo. “E no dia em que o Corinthians jogasse contra o Flamengo, como é que eu ficaria?”. Amava tanto o Flamengo que, do banco de reservas, chorou ao ver os mais jovens conquistarem o campeonato estadual de 1953, que abriria o caminho para o segundo “tri” do Rubro-negro.
O jogo de despedida de Biguá, contra o Botafogo, no dia 3 de novembro de 1953, foi uma das passagens mais bonitas da história do Flamengo. Pegou uma bola e chutou para torcida guardá-la como emblema daquele dia inesquecível. A torcida o aplaudiu efusivamente.
Após uma volta olímpica no gramado do Maracanã, o craque entregou suas chuteiras ao novato meia Carlinhos, o futuro “Violino”, como seria chamado ao longo da década de 1960. Após Biguá “passar” a chuteira para Carlinhos, o craque tentou chutar uma bola para a arquibancada, mas foi tão sem força que a pelota caiu na geral.
De tão emocionado, Biguá correu em direção ao primeiro túnel que viu. Era o do Botafogo. Carlito Rocha, o folclórico cartola alvinegro, apertou-o contra o peito e disse: “Pena que no futebol haja poucos iguais a você”.
O SUPER JACARÉ
por Victor Kingma
Em seus tempos de jogador de várzea, Jacaré foi um craque, emérito cabeceador e com excelente visão de jogo. Aposentado, vivia a relembrar suas glórias e, após umas cervejinhas, invariavelmente acabava exagerando “um pouco” na lembrança de seus feitos.
Liminha era seu amigo e companheiro de trabalho. Mas tinha uma característica peculiar: detestava mentiras. Nada o aborrecia mais do que ouvir alguém mentindo.
E Jacaré naquele dia estava impossível. Contava que certa vez seu time foi jogar contra o maior adversário, de uma cidade vizinha, e ele, com o joelho machucado, não pôde ser escalado.
Ao final do primeiro tempo, seus companheiros já perdiam por 3 x 0. Após o intervalo, a coisa piorava a cada instante: aos 30 minutos o placar apontava 5 x 0 para a equipe da casa. Foi quando o técnico o chamou:
– Meu ídolo, eu sei que você não está em condições de jogar, mas preciso que entre para evitar um vexame maior.
E o nosso herói começou a contar para os amigos, mais uma de suas proezas:
– Aos 35 minutos, escorei um córner de cabeça e fiz 5 x 1. Aos 37, entortei o zagueiro e de virada diminuí para 5 x 2. Aos 40, arrematei de voleio: 5 x 3…
– Ia narrando o antigo craque, embalado pelas “louras geladas”.
Em um canto, impassível e aparentemente dormindo, Liminha apenas ouvia.
– Aos 43, de bicicleta, fiz 5 x 4…
E Liminha parecia mesmo cochilar.
Charge de Eklisleno Ximenes.
– Aos 45, quando o juiz já se preparava para terminar a partida, peguei a bola na intermediária, passei por três zagueiros, invadi a área, fintei o goleiro…
Mas antes que o nosso craque concluísse o lance, Liminha interrompe a narrativa, levantando aos berros:
– JACARÉ! Se você empatar este jogo eu lhe enfio a mão na cara!
JAIR ROSA PINTO: ‘FUI CRAQUE, SEM QUALQUER FALSA MODÉSTIA’
por André Felipe de Lima
Jair Rosa Pinto foi, oficialmente, o primeiro “camisa dez” famoso do futebol brasileiro. Antes de adotarmos por aqui, no final dos anos de 1940, números na camisa dos jogadores, eles já estampavam as blusas dos clubes ingleses há, pelo menos, 50 anos antes de Jair ostentar o “dez” nas costas. No Rio de Janeiro esteve a passeio o time do Arsenal, em 1949. A onda por aqui dos números começou ali, sob influência dos britânicos, que enfrentaram o Flamengo de Jair. Veio a Copa do Mundo no ano seguinte e o nosso “camisa dez”, bem antes de Pelé imortalizar o número, foi ele, Jair Rosa Pinto, que nasceu no dia 21 de março de 1921, em Barra Mansa, interior do Estado do Rio de Janeiro, para a alegria do futebol brasileiro.
O pé era relativamente pequeno — calçava número 38 —, mas a bomba que aquela canela fina e canhota certeira proporcionava era surreal. Detestava que o chamassem de Jair “da” Rosa Pinto. Jamais teve no nome a intrusa contração da preposição com o artigo. Até os seus últimos dias lia ou ouvia aquilo que considerava um acinte ao seu nome. Acostumou-se, contudo.
Foi ele um dos primeiros e mais bem-sucedidos ciganos do futebol. Por onde passou, deixou um rastro de brilho, glórias e encantamento com seu futebol de dribles curtos e rapidez, tornando-se ídolo de muitas torcidas. A primeira delas, a do Madureira, onde formou o inesquecível trio “Os três patetas”, com Lelé e Isaías. Os três craques migraram juntos para o Vasco e repetiram o sucesso em São Januário. Jajá foi para o Flamengo. Fez sucesso lá também, embora a saída da Gávea tenha sido turbulenta após uma derrota para o Vasco, que virou um placar adverso de 2 a 0 para 5 a 2. Quando o score estava favorável ao rubro-negro, Jair perdeu um gol feito. Seria o terceiro e o fim das pretensões vascaínas no jogo. “Foi uma tristeza. Houve um boato, na época, que a minha camisa havia sido queimada em campo. Isso doeu mais que a derrota para o Vasco, que acabou campeão invicto. São coisas da sorte e do futebol”, disse Jair muitos anos depois. Mas, ao contrário do que sempre negara, a camisa teria sido realmente queimada. Não uma do Flamengo, mas outra qualquer como ato simbólico da irritação da torcida contra Jair. O culpado pelo gesto insano de alguns torcedores tem nome e sobrenome: Ary Barroso. Foi ele, rubro-negro fanático, que ao microfone da rádio insuflava a torcida a queimar a camisa de Jair, um “covarde”, segundo Ary, que não merecia jamais ter vestido o manto do Flamengo.
Da Gávea, partiu para o Parque Antarctica e, com o Palmeiras, foi campeão da Copa Rio, uma espécie de “mundial de clubes”, realizado em 1951. A passagem pelo Verdão — sobretudo após o fiasco na Copa do Mundo de 50 —representou um período mágico na carreira de Jair, que está — pelo menos até 1982, após uma enquete da revista Placar com cronistas, ex-jogadores e cartolas — no “time dos sonhos” da história do Palmeiras. Jair foi curtindo o futebol paulista e, nele, defendeu também Santos, São Paulo e Ponte Preta.
Glória e desilusão são siamesas no universo do futebol. Jair é exemplo disso. Principalmente quando o assunto é justamente “Copa do Mundo de 50”. Jajá estava no “Maracanazo” que nos sequestrou o sonho naquele fatídico 16 de julho de 1950. Tocou a vida pra frente, ouvindo uma piada aqui, outra acolá. Igualmente ao que teve de aturar após a virada vascaína para cima do Flamengo. Como sempre, acostumava-se.
Passava boa parte do tempo cuidando dos passarinhos que criava e batendo longos papos com amigos da velha guarda na Praça Saens Peña, a principal da Tijuca, na zona norte do Rio, bairro em que morava e onde treinou garotos do morro do Borel para brilharem no futebol. Isso por volta dos primeiros anos da década de 1980. “Não troco esta experiência pela de técnico em nenhum clube. Aqui, eu escalo, dirijo e treino meus jogadores. Nos clubes grandes, há sempre muita política”. Jair Rosa Pinto sabia das coisas.
Certa vez um repórter perguntou ao Jair, que treinava na ocasião o Santos, em 1972, o que ele achava se um bom técnico deveria ter uma aparência que o distinguisse dos demais. Vejam a reposta: “Claro! E é por isso que sou técnico. Se alguém chegar lá fora e perguntar: ‘Quem é o técnico do Santos?’, vão responder: ‘É o Jair’. ‘Qual Jair? Aquele da Copa de 50? Puxa vida’. Isso impressiona, ninguém se esquece de quem foi craque. E eu fui craque, sem qualquer falsa modéstia.”
Humildemente, jamais duvidei disso, Jajá.
***
Jair está na letra “J” da enciclopédia “Ídolos – Dicionário dos craques”. Um ídolo como o saudoso “Jajá” faz muita falta ao nosso combalido futebol brasileiro.
Abaixo, vídeos sobre o ídolo do passado.
FUTEBOL MENTAL
Assim que o jornalista Rodrigo Viana entrou em contato para explicar o projeto “Futebol Mental”, não pensamos duas vezes antes de fechar uma parceria. Cansado das mesmices do jornalismo esportivo, o craque decidiu lançar um programa que estuda a relação entre o mental e o futebol.
Por conta do sucesso do projeto logo assim que foi lançado, Rodrigo teve a ideia de criar o 1º Congresso Mundial Online de Futebol Mental, que começou ontem e vai até o dia 26 de março. Além de ser gratuito, o congresso tem a participação de grandes nomes do futebol mundial, com entrevistas exclusivas! Não tem como ficar de fora dessa!
Saiba mais sobre o congresso:
O 1º Congresso Mundial Online de Futebol Mental relaciona o futebol ao cotidiano do homem dos nossos tempos.
Por meio da intervenção dos maiores nomes do futebol mundial e dos melhores mindsets (mentalidades) do campo motivacional e midiático, pela primeira vez na história digital, um Congresso une duas das áreas mais intrigantes e populares do planeta: O Futebol e o Campo Mental.
Finalmente, a Academia lança luz sobre a grande metáfora da Vida através do Esporte. Como uma Mente Mestra pode mudar o resultado de uma competição? Seria a luta pela bola, a representação simbólica da luta pela vida? Os maiores nomes, os vencedores, os campeões, as melhores mentes vão desvendar o Segredo do Futebol Mental e como você pode aplicá-los na sua vida!
Serão entrevistas EXCLUSIVAS e GRATUITAS sobre Futebol Mental com os maiores experts do Mundo.
Congresso em movimento: Serão disponibilizadas três entrevistas por dia. As entrevistas terão duração de 10 a 40 minutos cada, sendo distribuídas, diariamente (de acordo com o calendário abaixo), GRATUITAMENTE, durante 7 dias. Convidados Especiais serão entrevistados durante o Congresso.
20/03
10h00 – Márcio Guedes
15h00 – Nando Antunes
20h00 – Zico
21/03
10h00 – Pepe
15h00 – Milton Neves
20h00 – Dorival Júnior
22/03
10h00 – Gilvan Ribeiro
15h00 – Vadão
20h00 – Casagrande
23/03
10h00 – Juliano Fontes
15h00 – Careca
20h00 – Milton Leite
24/03
10h00 – Zé Mário
15h00 – Elzo
20h00 – Rincón
25/03
10h00 – Alessandra do Valle
15h00 – Luiz Ceará
20h00 – Jota Junior
26/03
10h00 – Gilson Ribeiro
15h00 – Fernando Diniz
20h00 – Renê Simoes
Palestra de encerramento
Roberto Shinyashiki
Inscrições: http://www.futebolmental.com/
DIA MUNDIAL DO DRIBLE
Hoje é aniversário de 37 anos de Ronaldinho Gaúcho, mas bem que poderia ser o dia mundial do drible! Elástico, caneta, chapéu… Confira o vasto repertório do aniversariante do dia!