OS PRANCHETINHAS
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
E basta chegar no calçadão para minha caminhada e lá vem pergunta: “PC, porque os técnicos brasileiros não vão para a Europa?”. Peraí, essa é fácil. Porque estão desatualizados, fora do tempo, tem o discurso velho e quase todos são professores de Educação Física, teóricos, chatos e pranchetinhas. Na verdade, são estatísticos que vivem anotando o número disso, o número daquilo.
Eles já deviam ter se tocado que há uma grande contradição no “trabalho” desenvolvido por eles: o número de passes errados aumenta cada vez mais. Passe é fundamento e os professores de Educação Física que nunca deram um chute na bola ficam naquela baboseira de 4-6-2, 17-8-9, com aqueles gestos desconexos na beira do campo para serem filmados pelos cinegrafistas. E dentro de campo a rapaziada errando passe de meio metro.
O número de faltas também aumenta a cada jogo porque os professores de Educação Física adoram desarmar jogadas. A maioria joga para não perder e alguns usam terno para passar uma imagem europeia, kkkkkkkk!!!! Outros passam alguns dias na Espanha e dizem que foram se reciclar. Cadê essa reciclagem que eu não vejo???
Hoje todo goleiro deveria saber sair jogando com os pés. Qual goleiro brasileiro sabe fazer isso? Os técnicos não treinam isso. O Fernando Prass quase entrega o ouro contra o Coritiba. E saída de gol? O goleiro do Corinthians levou dois de cabeça ridículos. E o Muralha? O Muralha é melhor deixar para lá….
Esse técnico do Flamengo é teimoso e comete erros em sequência. E virou revelação! Meu Deus, chupou laranja com quem???? Nos últimos meses, vi Mano Menezes, Rogério Ceni e Antônio Carlos Zago atrapalharem jogadores no arremesso lateral, escondendo a bola e irritando a torcida, comportamento reprovável. Acaba o jogo, eles devem correr para analisar seus desempenhos e estatísticas nas pranchetinhas….”325 passes errados, 678 carrinhos….é estamos melhorando”.
Ah, não me amolem e me deixem caminhar em paz!!!
– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 10 de junho de 2017.
José Silvério
a voz do gol
entrevista: Marcelo Ferreira e Marcelo Mendez | texto: Marcelo Mendez | fotos: Marcelo Ferreira e Marcelo Mendez | vídeo: Marcelo Ferreira e Marcelo Mendez | edição de vídeo: Daniel Planel
Foi um dia calmo…
Apesar do trânsito louco e infernal da cidade de São Paulo, em instante algum eu e o parceiro de sempre, Marcelo Ferreira, perdemos a boa paz.
Ligamos o rádio, ouvimos Belchior, conversamos e rumamos para a pauta, meio que sabedores do que viria pela frente. Todas as entrevistas nossas para o Museu da Pelada são ótimas, prazerosas e honrosas para nós, reles jornalistas mortais em busca da boa pauta.
Mas não para dizer que entrevistar José Silvério é o mesmo do que uma outra… Era nosso contato com a Voz. A voz que no comando da Rádio Bandeirantes emociona, cativa, acolhe, acompanha…
Ao longo de seus 50 anos de carreira, Silvério colecionou vários momentos que entraram para a história do Jornalismo Esportivo Nacional. São 10 Copas transmitidas, milhares de gols narrados, outros tantos corações conquistados.
Nesse domingo, o Museu da Pelada tem a honra de apresentar a vocês o Pai Do Gol em uma entrevista carregada de emoções a todos que ali estavam. Com vocês, José Silvério..
Mauro Galvão + Odvan
MURALHA DA COLINA
texto e entrevista: Wesley Machado | fotos: César Ferreira | vídeo: Ramatis Pessoa | edição de vídeo: Daniel Planel
No dia 28 de maio, os moradores de Campos dos Goytacazes-RJ tiveram o privilégio de ver o reencontro de dois grandes parceiros do futebol. Mauro Galvão e Odvan, zagueiros que se complementavam, aliando técnica à força, bateram um papo descontraído com a equipe do Museu da Pelada.
Na hora de posar para a foto que ilustra o texto, o brincalhão Odvan ficou preocupado com a bola, a qual Mauro considerou “velhinha”.
Wesley Machado, Odvan, Mauro Galvão e Ricardo Antônio (Divulgação)
– O Edmundo vai pegar no pé da gente – disse Odvan.
Mauro Galvão e Odvan afirmaram que ainda disputam alguns jogos festivos pelo time de master do Vasco e pela Seleção Carioca.
Mas quando propus que os dois fossem fotografados batendo uma bolinha (de futsal), Mauro falou que não tinha necessidade.
– Todos sabem que nós jogamos bola – comentou Mauro.
A conversa passou pela carreira dos dois, que jogaram e conquistaram vários títulos em grandes clubes e na seleção brasileira.
No final, ao ser perguntado sobre uma história boa de concentração, Mauro falou que tinha uma que não podia contar.
– Só depois da meia noite – desconversou Mauro, que comemorou com o Odvan o fato de ter marcado o gol do título do Vasco no Carioca de 1998.
Os dois se abraçaram, deram risada e reafirmaram a grande amizade que construíram dentro e fora dos gramados.
Quem também estava presente no Encontro de Colecionadores de Camisas de Futebol no Instituto Federal Fluminense (IFF), era César, artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1979 pelo América-RJ e autor do gol do título do Grêmio na Libertadores de 1983. Natural de São João da Barra-RJ, o goleador mora atualmente na cidade natal, vizinha a Campos, no norte do estado do Rio de Janeiro.
O MAESTRO
por José Dias
Errou quem imaginou, ao ler o título da postagem, que falaria sobre o grande JÚNIOR – o MAESTRO.
Esse eu também vi jogar e trabalhamos juntos.
Tenho observado, há algum tempo, através do noticiado pela imprensa (não gosto de “mídia”), as mais diversas informações, notas, críticas, elogios, reportagens de página inteira, meia página ou coluna sobre os personagens que exercem nos clubes as funções de treinador, supervisor, vice-presidente e, mais um novo na praça – diretor executivo. O treinador é o mais visado.
1. Treinador – Convivi com pelo menos 40 profissionais, dentre professores, técnicos, treinadores, treineiros e curiosos. Foram 40 cabeças pensando de forma diferente uma das outras. Autoritários, complacentes, vingativos, omissos, inseguros (principalmente), indiferentes, donos da verdade, competentes, incompetentes e, muitas vezes taxados de desonestos.
Treinador que durante o início de uma temporada conseguiu manter sua equipe “n” jogos sem perder ou na 1ª colocação da competição que estava disputando e, de repente, assume um outro clube. Qual a expectativa? Se a nova equipe estiver mal, é que vai melhorar. Afinal de contas, chegou o “salvador”. Porém o que pode acontecer e acontece muitas vezes. Com poucos jogos sob sua direção a nova equipe vai mal. E aí? Mais um treinador demitido. Por que, sei lá?
Para esse eu tiro meu chapéu!
ZAGALLO – Numa de minhas ideias será o grande homenageado.
(Foto: Reprodução)
Vi jogar e trabalhamos juntos e se não fosse por ele, com certeza não estaria aqui, no Museu, chateando os que acompanham.
Existe um princípio na Administração que diz – uma pessoa vai bem em algum lugar e, desempenhando a mesma função num outro, não consegue obter os mesmos resultados.
O que aconteceu? Sei lá, principalmente no futebol. O “cara” é durão, não se submete à pressão de dirigente, da torcida, da imprensa e principalmente dos jogadores – seu destino, “a forca”. Significa, também, que o oposto pode surtir algum efeito, mas nunca duradouro. Vai ter seus 15 minutos de fama – seu destino “a forca”.
O profissional que desempenha esta função deve receber, da direção do clube, todo o apoio logístico possível para bem poder trabalhar. Se o grupo de jogadores colocados a sua disposição não for de primeira linha, o que se pode esperar – muito trabalho e muito empenho de todos para superar a diferença que os separa de outras equipes e em hipótese alguma o treinador poderá ser responsabilizado por uma não conquista de títulos e, em alguns casos, um possível rebaixamento.
Mas o clamor da torcida, da imprensa que não lhe é simpática, do patrocinador, que às vezes não é tão patrocinador assim e, principalmente, da direção que se acovarda, tornando-se incapaz de assumir suas responsabilidades e culpas. Direção que deveria enfrentar os descontentes e mantê-lo no cargo.
Um dos argumentos é de que recebem muito bem e têm a obrigação de andar atrás deles, forem onde forem. Treinador não é babá! Tampouco é “bedel” de escola. Aliás, ninguém é. Qualquer empresa sabe como lidar com seus funcionários, por que só no futebol tem que ser diferente.
(Foto: Reprodução)
Agora, no dia em que os treinadores se conscientizarem que são apenas funcionários com a missão de orientar a equipe tecnicamente e taticamente e que existem outros funcionários, pelo menos um para cada função, e deixarem a ideia de que só eles têm a solução para todos os problemas, talvez passem a ser olhados de outra maneira.
Mas o que será que os treinadores pensam? Sou assim porque preciso me proteger. Não dou oportunidades para outros porque podem querer me dar “uma rasteira”. No fim, quem se ferra sou eu! “Farinha pouca, meu pirão primeiro”!
Muitas coisas mais poderiam ser ditas e poderíamos ser injustos.
Para encerrar, vou dizer uma coisa jamais dita na história deste País – pode ser o melhor treinador do mundo, se não ganhar, f……-se (acertou quem completou com …errou).
NAQUELE TEMPO ERA ASSIM…
por Victor Kingma
Victor Kingma
1969 – O homem na Lua e o milésimo gol de Pelé
Certos acontecimentos marcantes, ocorridos em determinada época, são constantemente relembrados devido à sua importância histórica. E quando o assunto é futebol, então, os boleiros nunca se esquecem. Mas nem sempre as pessoas se lembram de outros fatos importantes acontecidos na mesma ocasião.
Esse texto volta ao tempo e relembra alguns fatos relevantes que aconteceram em 1969, um ano marcado por acontecimentos extraordinários. É uma oportunidade para os contemporâneos recordarem e os mais jovens tomarem conhecimento sobre como era a vida, os costumes e o que de importante acontecia, há quase cinco décadas.
Na música, três grandes sucessos estouravam nas paradas de sucesso: “As Curvas da Estrada de Santos”, de Roberto Carlos, “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil e “País Tropical”, de Jorge Ben, na interpretação marcante de Wilson Simonal.
No cenário da música internacional o destaque foi a realização, em agosto, do Festival de Woodstock, para muitos o maior evento de rock and roll de todos os tempos. Realizado em uma fazenda em Bethel, New York, o evento reuniu quase 400 mil pessoas e contou com a presença de astros consagrados como Janis Joplin, Santana e Jimi Hendrix.
O grande sucesso na televisão brasileira era a novela Beto Rockfeller, na TV Tupi. Escrita por Bráulio Pedroso e estrelada pelo ator Luiz Gustavo, a trama representou uma revolução na teledramaturgia, pois pela primeira vez em uma novela foram abordadas gírias e situações do cotidiano, em substituição aos dramalhões tão comuns na época.
Na política vivíamos os anos de chumbo e um acontecimento marcante, que ganhou manchete no mundo todo, foi o seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 04 de setembro, numa ação idealizada pelo Movimento Revolucionário 8 de Outubro – MR8. O embaixador foi libertado dias depois, trocado por 15 presos políticos, entre os quais Wladimir Palmeira e o ex-ministro José Dirceu.
O fato de de maior repercussão mundial, no ano de 1969, aconteceu no dia 20 de julho quando os astronautas americanos Edwin Aldrin, Michel Collins e Neil Armstrong pousaram na lua. Armstrong, o comandante da nave espacial Apollo 11, entrou para a história como o primeiro terrestre a pisar o solo lunar.
E no futebol?
No futebol, todas as atenções estavam voltadas para a partida disputada entre Santos e Vasco, pelo torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 19 de novembro daquele ano. Pela primeira vez na história um jogador estava prestes a marcar mil gols em sua carreira. E esse feito extraordinário foi reservado pelos deuses do futebol exatamente para o maior de todos os tempos, que futuramente seria escolhido o atleta do século.
65.157 pagantes estavam no Maracanã naquela noite de quarta feira e milhões de telespectadores de todo o Brasil acompanhavam em frente aos aparelhos de TV, assistindo a transmissão em preto e branco. Aliás, as cores das camisas dos times envolvidos.
O jogo, empatado em 1 x 1, caminhava para o final quando, aos 33 minutos do segundo tempo, o zagueiro Fernando, do Vasco, comete pênalti. Pelé pega a bola e a coloca na marca. Atrás do gol uma multidão de repórteres e fotógrafos aguardam a conclusão do lance para eternizarem o momento.
Embaixo das traves o goleiro argentino Andrada, que estava tendo uma exibição de gala, aguardava, imóvel e confiante, a cobrança. Ele havia prometido a si próprio que não entraria para a história como o goleiro que tinha levado o milésimo gol.
Pelé, o maior artilheiro que o futebol já viu, corre vagarosamente e toca a bola no canto esquerdo do goleiro que voa como um felino, chega a tocar na pelota mas não evita o gol. O relógio marca 23h17 daquela noite histórica.
Enquanto Andrada, desolado, socava o chão por não conseguir fazer a defesa, Pelé, emocionado, era carregado nos braços, entre microfones e flashes, após realizar o feito inédito.
O rei do futebol, que ainda viveria o ápice de sua carreira no ano seguinte, ao conquistar o tri-campeonato mundial, no México, como protagonista de uma seleção de sonhos, marcaria em toda a sua carreira 1283 gols.
(Foto: Reprodução)
O mais bonito deles, segundo seu próprio relato, foi assinalado contra o Juventus, na Rua Javari, pelo Campeonato Paulista de 1959, após dar três chapéus consecutivos nos zagueiros Julinho, Homero e Clóvis e o quarto no goleiro Mão de Onça. Entretanto, aquele gol de pênalti, assinalado no Maracanã, naquela noite de quarta feira, 19 de novembro de 1969 foi, com certeza, o mais difícil e inesquecível de toda a sua consagrada e inigualável carreira.