Escolha uma Página

ODE AO POVO DE DIADEMA NO OUTONO DE LÁGRIMAS NO INAMAR

por Marcelo Mendez


Água Santa x Bragantino…

Essa é uma história que começa a partir de um terço de contas envolto nas mãos de Eunice, que em uma tarde de outono saiu de sua casa para orar em um campo de futebol.

No estádio do Inamar, ela não rezou por fortunas, milhões nem nenhum intuito que fosse nababesco. Eunice queria menos, quase nada ou bem pouco; Pedia por todos os santos de suas mais puras crenças, que todas as luzes do sagrado abençoassem o seu Água Santa para que conseguisse dois gols de diferença.

A história que essa matéria vai contar fugirá, portanto, do caminho das soluções fáceis que surgem quando se contam os fatos a partir da versão de quem vence. Aos vencedores meus parabéns. Ao Água Santa, a história…

A Volta da Caravana do Barato…

Era um jogo de futebol.

Após perder em Bragança por 1×0, o Água precisaria de dois gols para reverter a vantagem ou, senão, ir para a roleta russa dos pênaltis. Minha vida de repórter acompanhava isso tudo com certa distância até que um bocado de mensagens da torcida dos Aquáticos, torcida organizada do Água Santa, foram endereçadas ao Abcd Maior pedindo pela minha presença na cobertura do jogo. Me emocionou e me comoveu enormemente. Fui…

Ao contrário das outras vezes quando fomos para Bragança e Rio Claro, dessa vez a matéria não seria longe.

O jogo foi no Inamar lotado, em uma tarde indecisa entre fria e agradável. Fui então às arquibancadas de concreto do distrital da cidade para acompanhar a luta do Água rumo ao acesso da Série A do Campeonato Paulista.

Era a versão caseira da nossa Caravana do Barato de novo na pista…

A Chegada…

Na chegada na arquibancada teve até coro de boas vindas:

“Não adianta, o Bin Laden (Eu, no caso…) é Água Santa! Não Adianta, o Bin Laden é Água Santa”

Dei risada, abracei aos vários, reencontrei os amigos de aventuras passadas, Luan, Jefferson, Rafael, Caíque, Edi e foi tudo muito carinhoso, muito bom. Em meio à boa conversa, amendoins e outros mimos oferecidos a mim o jogo começa e então vêm as coisas mágicas que o exercício de torcer nos propicia.

Corações aos galopes, olhos vidrados, mãos juntas, os pagãos abraçados com os que creem, unidos pelo intuito mágico de querer ver a rede balançar. As coisas demoram, o primeiro tempo seguia duro até que aos 45 minutos do primeiro tempo, Willian Batoré empurra a bola para o fundo das redes.

Gol do Água Santa, festa dos meus amigos! E a vocês que me leem aqui vos afirmo:

Nada do mundo é mais divino do que sair de seu sofá, para sentar no chão de concreto de uma arquibancada dura, sentindo as tribunas balançando debaixo de seus pés. É o chão que treme de alegria na hora do gol! O momento maior da existência humana, o Gol!

O gol que vem, ou o que não vem, no meio da torcida Aquáticos, tudo é épico…

Adágio à Catarse…

O segundo tempo começa e tudo acontece.

O árbitro rompe os ligamentos do tornozelo e é preciso ser substituído. O jogo parado por vários minutos de um acréscimo que aumentaria a ansiedade dos meus amigos.

 Jefferson pula e canta, Eunice reza, Edi acompanha tenso, David me fala que seu coração está aos pulos, Michael diz que vai pular no campo pra ajudar fazer o gol restante, Tião quer me pagar uma cerveja, o frio chega, e o vento frio anuncia o veredicto final:

Vamos aos pênaltis. Os pênaltis…

O Que Será, Que Será…

“O que não tem certeza nem nunca terá…”


Jogadores do Bragantino comemoram

Dessa coisa cruel e espartana que são as disputas de pênalti, segue o relicário do que o futebol não pode explicar. E por alguma razão que eu e vocês não entenderemos, o Água Santa é derrotado por 5×3 e o Bragantino consegue o acesso.

Não vieram os gols que Eunice tanto quis, não teve foguetório, as lágrimas desciam pelos rostos nas arquibancadas do Estádio Inamar, enquanto os jogadores rivais faziam sua justa festa no campo.

Assistindo em silêncio, andando pelos corredores rumo a saída, meus amigos viam a tudo e não viam nada. Vem então a dura realidade que norteia o futebol, mas o que fica disso tudo? Falamos aqui de derrotados?

Jamais.

Na tarde da terça feira em Diadema, o que levou meus amigos todos por lá não foi nada além da paixão. Da ousadia que tem essas pessoas especiais e elevadas, lindas de espírito, que em tempos de cólera, ousam amar. Porque assim é a vida:

Só é feliz, quem se joga nela e ama.

Os torcedores do Água Santa amaram. Portanto, fiquem tranquilos meus caros; É assim mesmo dói, mas já já vocês superam isso e voltam a sorrir. Por favor, voltem:

O futebol não faz o menor sentido sem o sorriso de vocês.

PAULO BORGES, GENTIL CARDOSO E A JOGADA MANJADA

por Victor Kingma


Gentil Cardoso dá instruções para uma das formações do ataque banguense em 1965: Paulo Borges, Parada, Araras, Roberto Pinto e Canhoto. Posteriormente, no time que seria campeão em 1966,  entrariam no time Cabralzinho, Bianchini e Aladim.  

Tantas histórias são contadas sobre personagens marcantes do futebol. Essa, dizem, aconteceu no Campeonato Carioca, nos meados dos anos 60, e  envolveu dois desses personagens. O Bangu, que estava montando aquele timaço que acabaria como campeão em 1966, enfrentaria o Flamengo no Maracanã, em dia de muita chuva. No vestiário, Gentil Cardoso, então técnico do time, dava as últimas instruções minutos antes da partida:

– Conforme treinamos, quero o time jogando no contra-ataque, explorando a velocidade do Paulo Borges, pois o Flamengo, incentivado pela torcida, virá todo pra cima da gente.

Assim, quando eles atacarem pela esquerda, o Fidélis, sempre que roubar a bola, toca para o Ocimar. Aí você, Ocimar, lança em profundidade para o Paulo Borges, na direita, que entra em diagonal e arremata para o gol. E prossegue:

– Se o ataque vier pela direita, o Ari Clemente faz a mesma coisa: toma a bola e entrega para o Ocimar, que lança para o Paulo Borges. Você, Paulo, entra em velocidade pelo meio da áreae fuzila o goleiro Valdomiro.

E o folclórico treinador prosseguia traçando a estratégia mortal daquele grande time de Moça Bonita:

– Quando o Flamengo atacar pelo meio, a mesma jogada: o Jaime rouba a bola, toca para o Ocimar, que lança para o Paulo Borges…


Mas antes do técnico completar a instrução, o veloz e sorridente ponteiro banguense, a sensação do campeonato, intervém:

– Professor, não dá pro Ocimar virar o jogo e lançar essa pro Aladim lá na ponta esquerda?

– Por que meu craque?

– Nessa altura do jogo a defesa do Flamengo já manjou esta jogada  e, com o campo molhado, o Ditão vai dar um carrinho e me jogar lá no fosso da geral…  E o meu joelho está meio baleado, chefe!

 

LUQUE, DA TRAGÉDIA À ALEGRIA EXTREMA NA COPA DE 78

por André Felipe de Lima


Mais que o atacante Mario Kempes, o goleiro Fillol ou o capitão Daniel Passarela despertou-me a atenção na seleção da Argentina campeã do mundo em 1978 o meia Leopoldo Luque, que completa 68 anos nesta quarta-feira (3). Podem dizer que houve mutreta favorecendo os argentinos. E, lamentavelmente, houve mesmo. Mas não há como questionar: aquela seleção “blanca y celeste” tinha um timaço. Não precisava de subterfúgios ou manobras para levantar aquela Copa. Mas Luque cumpriu o seu papel de craque. Foi ele um dos homens da confiança do técnico César Luiz Menotti. Jogou como um leão, como rege a louvável cartilha futebolística dos “hermanos”.

Ídolo do River Plate, Luque foi da tristeza profunda à alegria extrema naquele Mundial. Dias após marcar o gol decisivo contra a França, recebeu a notícia da morte de um irmão. Menotti poupou o craque em dois jogos para que se recuperasse do trauma. Ouviu de “El Flaco” (como chamavam Menotti) o seguinte: “Yo lo conozco bien a usted, es un tipo duro, siempre la tuvo que pelear”. Traduzindo: “Eu o conheço bem, é um cara duro, que sempre teve que lutar.”


Luque ergueu a cabeça e foi peça essencial da Argentina no controverso jogo contra o Peru, em que marcou dois gols da goleada de 6 a 0, e na vitória contra a Holanda, na final.

O drama de Luque sensibilizou os argentinos, que fizeram do ídolo o símbolo daquela grande conquista, que, frise-se aqui, não precisava da interferência dos ditadores do país nos resultados. Mas um fato jamais será olvidado: a camisa número 14 que o genial Cruyff recusou-se a vestir pela Holanda, vestiu-a pela Argentina Leopoldo Luque. Assim se fez um campeão do mundo.


EXCELENTE ENTREVISTA DE LUQUE PARA A EL GRÁFICO
http://www.elgrafico.com.ar/…/C-18291-leopoldo-luque-100×10…

SOCO NO QUEIXO

:::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Não sei para onde caminha a humanidade mas ando preocupado com o desenrolar dessa história. O que mais tenho ouvido é gente dizendo que está indo morar em Portugal. Eu mesmo troquei Leblon por Florianópolis. O mundo anda truculento demais e os líderes ameaçam, intimidam, bombardeiam. É Trump, é Bolsonaro, é pau, é pedra, é o fim do caminho.

Exagero? Então, reparem em duas situações que aconteceram recentemente no futebol e digam se estou maluco.

A primeira. O Palmeiras vira em cima do Peñarol e o herói da partida é o boxeador Felipe Melo. Nem vi o jogo, mas andando pelo calçadão só ouvia os comentários: “viu o soco do Felipe?”, “o Felipe acertou o goleiro uruguaio”.

A VEZ DOS XERIFÕES

Não sei de quem foram os gols e se foram bonitos, nem quem foi o destaque da partida, mas sei que o Felipe Melo distribuiu pancadas, como sempre, afinal essa é a sua especialidade. O segundo caso foi o do Rodrigo Caio sendo acusado de ter praticado fair play. Acusado, sim senhor, porque a maioria dos torcedores achou sua atitude ridícula, infantil, desnecessária.


Contratem o Ibope, façam uma pesquisa e confirmarão que o negão aqui não está doido. A pergunta do Ibope pode ser essa: quem você prefere no seu time, Felipe Melo ou Rodrigo Caio? Anotem aí, Felipe Melo ganhará disparado apesar de não jogar metade do que o zagueiro são-paulino.

O cuidado e a generosidade perderam o espaço. Hoje, ganha-se no grito, é a vez é dos xerifões, dos generais, do soco no queixo e, por isso, Felipe Melo caminha a passos largos para ser elevado ao posto de herói nacional.

Me desculpe, garoto, pode me chamar de saudosista, mas sou do tempo em que os brigões também não levavam desaforo para casa e tínhamos personagens lendários como Almir Pernambuquinho, capaz de derrubar um time inteiro, mas que apesar de toda aquela fúria acima de tudo tratava a bola com muito carinho.   

NÃO SE FAZ MAIS FLA-FLU COMO ANTIGAMENTE

por Marcos Vinicius Cabral


Marcos Vinícius

Houve um tempo em que o futebol era romântico e o Fla-Flu era um ai, Jesus.

Não havia cifras exorbitantes, seja nos salários ou nos direitos de imagens dos atletas.

É bem verdade que o futebol se modernizou, basta olhar os estádios que se transformaram em arenas, com gastos surreais, como o Maracanã, que custou aos cofres públicos aproximadamente um bilhão de reais.

Portanto, não seria de se estranhar que alguns entendidos no assunto, chamem os jogadores de guerreiros, gladiadores, soldados… e outras bobagens do tipo.

A coisa se profissionalizou de tal forma que os times entram juntos e lado a lado, tornando-se cada vez mais comum o esfriamento por parte do torcedor.

Não tem mais aquela ovação de ver das arquibancadas o momento mais emocionante (depois do gol, é lógico) de uma partida de futebol: a vez do seu time adentrar o gramado.


Do lado da “tricolada”, o tradicional pó de arroz, marca que caiu no ostracismo assim como o urubu, que era solto no gramado pela “mulambada”.

E um adendo: como era bonito ver os jogadores tricolores entrando no piso verde, tremulando a bandeira gigantesca do Fluminense em ritmo voraz e movimento uníssono.

Como era bonito de ver os rolos de papel higiênico sendo atirados na entrada dos jogadores rubro-negros e as fumaças em vermelho e preto.

Por horas, penso cá com meus botões, que saudades eu tenho do velho “Maraca” e de suas gerais, que eram um atrativo à parte no estádio.

Às vezes (para não dizer sempre e poder corroborar com o ilustre jornalista tricolor Nelson Rodrigues, de que toda unanimidade é burra), meus olhos sangram diante de tal cenário devastador a qual nos encontramos.


O futebol perdeu a sua essência e, com isso, não move com a mesma intensidade essa paixão enraizada dentro de cada um de nós: a paixão de ir ao estádio e torcer pelo seu clube.

É triste mas é a mais pura e profunda realidade.

Quisera eu poder voltar no tempo e colocar tudo no seu devido lugar, de onde nada deveria ter saído.

A começar por essas invenções mal sucedidas de dar números a certos jogadores, como 19, 27, 35, 48… enfim, como são utilizados no basquete.

Os uniformes, cada vez mais sofisticados, absorvem melhor o suor e fazem que o atleta tenha um desempenho satisfatório.

Já os materiais de antigamente, pesado com cada chuva recebida, com o suor mal absorvido e mal costurados, refletem bem tamanha discrepância.

As chuteiras, entorpecidas como o peso de uma pena e multicoloridas como arco —íris no céu cinza após uma chuva, não refletem com o século passado, em que os calos eram minimizados por camadas de ataduras.


A bola, intrinsecamente objeto de desejo (os goleiros querem agarrá-la, os jogadores habilidosos tratam com carinho e os artilheiros colocam ela para descansar nas redes macias do gol adversário), bem revestida e com uma aparência aprazível, não lembra em nada aquela coisa pesada, oca e sem vida.

Os atletas, cada vez mais vaidosos, incrementam cortes de cabelo à la Léo Moura, que fazem mais sucesso do que seu futebol praticado dentro das quatro linhas e com as moças de família.

Ainda há em mim, resquícios da década de 80, quando idas ao velho Maracanã eram tão comuns para um garoto de 10, 11, 12 anos.

E olha que essas idas sempre eram com amigos mais velhos, tricolores, e compelido estava eu, na torcida do Fluminense em algumas ocasiões, para não dizer quase sempre.

Eles (meus amigos de infância), bem que tentaram, mas não conseguiram me transformar em um torcedor do Clube das Laranjeiras.

Se hoje sou rubro-negro, o culpado é meu avô materno José Diniz Cabral, que me ensinou a amar este clube de 122 anos, em uma época que ouvir Valdir Amaral ou Jorge Cury, recompensava a falta de TV.

Com tanta dificuldade e tendo apenas o rádio como único meio de comunicação, éramos brindados com os artistas que faziam do Fla-Flu, um espetáculo.


No gol, tanto Paulo Victor quanto Raul, transmitiam segurança para os torcedores e dificultavam a vida dos atacantes.

Já nas laterais, o Fluminense estava bem servido com Aldo na direita e Branco na esquerda, e o Flamengo com os monstros Leandro e Júnior, titulares daquela seleção fantástica de 82.

Na zaga, Duílio e Ricardo Gomes se completavam assim como Marinho e Mozer se entendiam.

No meio-campo (considerado o setor de criação do time), Andrade, Adílio e Zico foram foras de série, enquanto dava gosto ver Jandir, Delei e Assis, no fino trato à bola.


No ataque, se o tricolor dispunha do poder ofensivo de Romerito, Washington e Tato, o Flamengo vinha com o arsenal de Tita, Nunes e Lico.

Então, era futebol gostoso de se assistir e imagino eu, de se jogar.

Portanto, nos dias atuais, o Fla-Flu se torna um jogo tão simplista que não me surpreenderia com qualquer resultado.

Razoável jogo, pois desejar bom jogo com os atuais jogadores, é pedir demais.