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A VÁRZEA EM DIA DE CHUVA

por Marcelo Mendez


(Foto: Marcelo Ferreira)

Futebol de várzea em dia de chuva me remete a épocas passadas em que o verso era farto e a bola marrom era intrinsecamente poética.

Aqueles eram tempos onde o futebol de várzea era acompanhado de boleias de caminhões, carretos e outras festas. Quem quisesse ver era só subir e partir para o barato. Foi um tempo em que o jogo acontecia com sol a pino, ou debaixo de chuva a cair aos cântaros. E quão belo era aquilo!

Para além dessa bobagem de “qualidade técnica do jogo”, aquelas partidas disputadas debaixo de chuva eram plasticamente épicas. Homens de camisas de algodão com números costurados nas costas, meias arriadas, encharcados de barro pelo corpo todo…

Eram verdadeiras esculturas humanas a perambular pelos sonhos, pelo meu imaginário. No final, o resultado pouco importava.

Último domingo viveu-se um tanto disso.

No meu Parque Novo Oratório, no campo do São Paulinho havia um jogo, aparentemente sem maiores pretensões onde dois times se digladiavam na cancha encharcada de barro e sonho. Meio que por profissão de fé, fiquei pra ver a peleja.

Em um dia de chuva, o futebol de várzea jogado sob céu cinza remete a algo melancólico, uma obra de Tchaikovsky, um jazz a lá Chet Baker.

No campo, uma partida que foi disputada por homens de uma dignidade comovente terminou em um 2×1 para o time de camisa mais escura, não procurei saber o nome, quero deixar assim; O time de camisa escura contra o time que outrora foi amarelo, cujo barro fez laranja…

Final do jogo.

Em meio a uma fria chuva que iniciava a tarde de domingo, os dois times saíam de campo.

Não ganharam nada material, não tinha repórteres a entrevistá-los, holofotes a clarear seus rostos adornados de lama, mas, aqueles times eram muito maiores do que as aparências tortuosas insistem em desdizer.

Os times de camisa escura e o de amarelo que o barro fez laranja foram no domingo último a resistência, a luta, a vontade de manter viva uma tradição.

De que domingo é dia de várzea.

Por tudo isso, a crônica de hoje vai usar esses dois times para homenagear os tantos outros que acreditam que o sonho pode ser mantido, seja sob sol, seja sob chuva.

Por tudo isso, agradeço a ambos.

Obrigado, caros… 

COPA DO BRASIL 2011: NORTE E SUL DESTE PAÍS

por Igor Serrano


(Foto: Reprodução)

Imagine fechar os olhos e em poucos segundos relembrar da sua inesquecível infância. Onde seu time era temido por todos os clubes (brasileiros e estrangeiros) e que, por um bom tempo, possuía verdadeiras seleções em seu elenco: Edmundo, Romário, Juninho, Felipe, Pedrinho, Juninho Paulista, Carlos Germano, Hélton, Ramon Menezes, Mauro Galvão, Euller, Viola, Jorginho, Gilberto, Evair, Luisinho, Donizete, Luizão, Valdir Bigode, Jardel, Dener, Alexandre Torres e por aí vai…

Abra os olhos. A realidade é bem diferente daquela com a que você cresceu acostumado. Como num despertar de um sonho diretamente para um pesadelo, seu time disputou pela primeira vez na história a segunda divisão nacional no ano anterior. Com muito apoio da mídia (simpática à figura do presidente da época) e principalmente da detentora dos direitos de transmissão do futebol brasileiro, a equipe ascende sem sustos para o lugar de onde nunca deveria ter saído.

No ano seguinte, porém, velhos erros de gestão voltam a aparecer. Se na (primeira) passagem pelo inferno da “B” optou-se por muitas caras desconhecidas (e que boa parte, fortuitamente, deram certo), na volta para elite, equivocadamente, fora diagnosticado que a espinha do time seria suficiente para a temporada. O técnico responsável pelo acesso não renova e parte para o Santos. O campeão da Copa do Brasil pelo Paulista de Jundiaí é então contratado. Mas a diretoria não o deixa sequer chegar ao Campeonato Brasileiro, apesar de em dezenove partidas ter sofrido apenas quatro derrotas (dez vitórias e cinco empates).


(Foto: Reprodução)

O auxiliar é alçado ao cargo de interino por alguns jogos, até que um velho e contestado conhecido é trazido. Entretanto, valendo-se da máxima “não há nada tão ruim que não possa piorar”, o gaúcho não fica um mês no comando do clube e em cinco jogos consegue apenas uma vitória (três derrotas e um empate), deixando a equipe na penúltima colocação do Brasileirão. Para piorar, no dia dos namorados (12/06) é anunciado na TV como técnico do time vermelho de Porto Alegre, sem sequer ter informado algo aos seus até então contratantes do Rio de Janeiro. Na volta à elite do futebol brasileiro, seu time vai para o quarto técnico em pouco mais de seis meses decorridos.

Aproveitando-se do fato de ser ano de Copa do Mundo (e estar prevista a interrupção do Campeonato Brasileiro durante o torneio de seleções), a diretoria arregaça as mangas e traz o técnico que até então estava na vice-liderança do certame nacional, também um velho conhecido do clube (tendo jogado e iniciado a carreira como técnico por lá).

O quarto comandante escolhido no ano (cujas iniciais são iguais à sigla de computador pessoal em inglês) consegue colocar o time no eixo. Na interrupção para a Copa do Mundo da África do Sul, conquista um torneio amistoso disputado contra Avaí, Grêmio e Coritiba. Recebe reforços de peso (como o grande lateral esquerdo do clube da década de 90) e termina o Brasileiro classificado para a próxima Copa Sul-Americana.

No ano seguinte, misteriosamente, a carruagem vira abóbora. O time com a mesma estrutura e o mesmo comando, inicia a temporada vencendo um amistoso sobre o time azul e vermelho do Paraguai, mas consegue o pior início de campeonato estadual de sua história. Três derrotas nos três primeiros jogos, todos contra adversários de menor investimento. O técnico é demitido e os líderes da equipe afastados. Na sequência, o auxiliar (de volta ao cargo de tampão) ainda comandaria o time em mais uma derrota (para o maior rival) e um empate (contra outro time menor). Era oficial, depois de agonizar a nível nacional, seu time conseguia o inédito feito de ser chacota estadual. Muitos setores da imprensa já falavam até em rebaixamento no torneio local.


(Foto: Reprodução)

A diretoria coça a cabeça e resolve apostar em um dos grandes zagueiros do futebol francês, português e do rival tricolor, sem treinar nenhum clube desde a eliminação na Copa Libertadores do ano anterior no comando do tricolor paulista, pasme você, para o time vermelho de Porto Alegre comandado pelo gaúcho que abandonou o navio no Rio. Que…destino?!

Apesar da forte identificação com o rival das três cores, e mesmo tendo sido até mesmo técnico do outro rival bicolor, o técnico (cujas siglas equivalem a Registro Geral) é muito bem recebido e em pouco tempo conquista a todos: diretoria, atletas e torcida. Para efeito demonstrativo, nos dois primeiros jogos, duas vitórias: por 3×0 e 9×0 pelo campeonato regional.

Na terceira partida, a estreia no torneio nacional de copa e que seu clube, embora tivesse chegado à final uma vez e na semi seis, nunca havia vencido. Sem susto, a equipe passeia e goleia um time do Mato Grosso do Sul por incríveis 6×1.

Com o novo comandante, o time seguiu com o processo de recuperação no estadual e avançou na copa nacional. Na fase seguinte desta, teve uma dura missão frente ao time alvinegro de Natal-RN. No primeiro jogo, no Nordeste, empate sem gols, em jogo que o mandante foi melhor. Na volta, no Rio, os visitantes saem na frente e o centroavante do seu clube empata. Com esse resultado parcial, a vaga seria do time potiguar. Mas aos 32’/2ºT o menino-fio-desencapado faz o gol da virada e da classificação. 2×1! Seu time está nas oitavas e teria como adversário o alvirrubro pernambucano.

No primeiro jogo, na Veneza Brasileira, passeio do time da cruz no peito e vitória por 3 x 0, com mais um gol do centroavante e outro do menino-fio-desencapado. No jogo da volta, no Rio, com alguns reservas, empate sem gols e confirmação da vaga para as quartas de final.
Nas quartas, Curitiba foi o destino e o adversário o dublê na vestimenta do seu maior rival. Em boa atuação, o empate em 2×2 teve sabor amargo. Na volta, no estádio onde Getúlio Vargas anunciou a Consolidação das Leis Trabalhistas, mais um jogo tenso. Os paranaenses abriram o placar e o gol salvador só veio aos 34’/2ºT com o centroavante reserva, que havia acabado de entrar.


(Foto: Reprodução)

Nas semifinais, mais um adversário do Sul: o time do tenista mais famoso do Brasil. Ao contrário das fases anteriores, o primeiro jogo ocorreu no Rio. Novamente seu time saiu atrás no placar e só chegou ao empate no último lance do jogo, graças a uma penalidade máxima convertida pelo camisa dez. Na semana seguinte, na Ilha da Magia, vitória incontestável do seu time por 2×0 e vaga assegurada na final.

Mais uma vez o guia de viagens da copa nacional levou o navegador português à capital paranaense. Desta vez para enfrentar o time verde e branco, que inclusive vinha em grande fase, tendo aplicado 6 x 0 nos italianos paulistas. No primeiro jogo, na Cidade Maravilhosa, vitória pelo placar mínimo, garantida por uma testada certeira do centroavante, mais uma vez decisivo. A apoteose veio em 08/06/2011. Em um jogo muito disputado, seu time, o Club de Regatas Vasco da Gama, perdeu por 3 a 2 (gols de Alecsandro e Eder Luis) no Estádio Couto Pereira, mas levantou o caneco inédito por conta do critério do gol marcado fora de casa.


(Foto: Reprodução)

Após amargar oito anos sem sequer levantar um título (para um clube da grandeza do seu, segundona não conta), enfim uma boa memória para recordar ao cerrar os olhos. Por mais que parecesse (tudo deu tão certo em tão pouco tempo desde a chegada de Ricardo Gomes ao comando da equipe), não era sonho. Vasco da Gama campeão da Copa do Brasil 2011!

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NOITE INESQUECÍVEL

Na última terça-feira, na Gávea, o Flamengo lançou uma camisa autografada pelos maiores ídolos do clube e, obviamente, a equipe do Museu da Pelada marcou presença! A novidade é que levamos Ronaldo Pereira e Antônio Souza, dois colaboradores rubro-negros do Museu, para acompanheram a nossa cobertura.

Além do time campeão mundial, com aquela escalação que todo rubro-negro tem decorada na cabeça, ídolos como Evaristo de Macedo, Silva Batuta, Ronaldo Angelim, Rondinelli e Fernandinho, o primeiro goleiro do clube, também foram homenageados e estiveram na Gávea.

Nossos colaboradores não escondiam a felicidade e definiram a experiência como incrível. Enquanto Ronaldo tietava os craques com seguidas selfies, Antônio entupia sua camisa com autógrafos..

– Essa eu vou colocar num quadro!

Quem também não conseguia tirar o sorriso do rosto era Leandro, o papa da lateral. O craque saiu de Cabo Frio exclusivamente para o lançamento da camisa na Gávea.

– Essa homenagem é maravilhosa! O maior legado que essa turma deixou foi se tornar uma família! É por isso que fomos vitoriosos! – agradeceu o craque.

Perto das 20h, a equipe do Museu partiu em disparada para outro compromisso. Ronaldo e Antônio, no entanto, permaneceram no evento, curtindo os grandes ídolos.

– Depois vou tomar um chopp para comemorar esse dia! – disse Ronaldo.

IDADE AVANÇADA?

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto Padilha

A expectativa de vida da população brasileira acompanhou a média mundial: subiu 41,7 anos em menos de meio século. Hoje, é de 75,5 anos de acordo com o IBGE. O avanço da medicina, a prática regular de atividades esportivas e a diminuição do cigarro foram fatores determinantes neste aumento, embora o consumo de álcool e a fartura de drogas estejam resistindo perigosamente do outro lado. Sendo assim, seria normal que aumentasse em igual proporção a permanência em campo dos jogadores de futebol.

No lugar de se aposentar com 35 anos, como fez a minha geração, e virar comentarista com 36 anos, esticariam suas carreiras até os 40, desde que se cuidassem e os seus meniscos, os divisores de águas da saúde da bola, não tivessem sidos atingidos ou torcidos ao pisar num buraco. O maior exemplo de que isto é possível foi dado por Léo Moura, na primeira rodada do Campeonato Brasileiro.


Um lançamento primoroso de um meio campista gaúcho, algo parecido com os de Didi, Gérson e Rivellino, cruzou todo o campo do Botafogo e encontrou Léo Moura disparando em velocidade pela direita. Carregado de informações do Google, o lateral esquerdo alvinegro subestimou sua descida, tinha informações suficientes da sua recém trajetória ladeira abaixo, e fez pouco caso da trajetória da bola lançada sua cabeça acima. Segundo seu tablet, consultado antes da partida, Léo Moura havia feito seu jogo de despedida no Maracanã, pelo Flamengo, depois foi jogar em um clube americano para fechar a aposentadoria e, na volta, deu uma parada em Recife para disputar seu fraco estadual pelo Santa Cruz e…..já havia completado 38 anos de idade. Não teria mesmo como alcançá-la, imaginou.

Para sua surpresa, e certamente seguida de um puxão de orelhas no intervalo pelo Jair Ventura, Léo Moura não apenas alcançou a bola no ponto futuro como a dominou com extrema categoria, calculando sua descida e colando-a a seus pés. Pode parecer fácil, mas só foi simples para Nilton Santos e Carlos Alberto Torres. Próximo à linha de fundo, levantou a cabeça, deu um passe na cabeça do seu centroavante e, no bate e rebate, o Grêmio abriu o placar.

Para os amantes da arte que perderam Juninho Pernambucano, Caio Ribeiro, Denílson e Roger Flores cedo demais para os microfones, a primeira rodada do Brasileiro foi uma esperança de manter em cena por mais tempo nossos maiores craques. Fora o Seedorf que no seu auge virou treinador.

A única preocupação que temos, às vésperas da votação da reforma da previdência pelo Senado, é se a jogada de Léo Moura será exibida no telão durante a plenária. Pode ter um porta voz da temeridade a usá-las para justificar 49 anos de contribuições ininterruptas para o trabalhador brasileiro ter o direito de se aposentar com o teto. Neste caso, aquele tiro do lateral gremista pela beirada, destaque da primeira rodada, sairia pela culatra.

FUZARCA

por Gustavo Cascon

“Fuzarca” é um curta-metragem que conta uma das histórias mais bonitas do Clube de Regatas Vasco da Gama: a luta contra os preconceitos.

Desde criança, quando íamos ao Maracanã domingo ver o Vasco jogar, meu pai me conta uma história: a de que o Vasco foi o primeiro time de futebol a aceitar negros. Pensando em transformar esta história em filme, comecei a pesquisar (uma das fontes preciosas foi o livro O Negro no Futebol Brasileiro, de Mário Filho) e descobri que o Vasco não só foi o primeiro time a reconhecer e aceitar os negros como atletas, mas também foi o primeiro a ganhar um campeonato estadual da primeira divisão com um time integralmente formado por negros e brancos pobres, alguns operários, alguns funcionários subalternos.


Passei a conhecer melhor também o futebol carioca do início do século. Trazido ao Rio por um filho de ingleses chamado Oscar Cox (o nome do personagem do filme foi inspirado neste pioneiro, um dos fundadores do Fluminense Football Club), o desporto bretão era um esporte sofisticado, no início praticado apenas por uma elite, depois se popularizando, mas ficando ainda restrito a brancos de “boas” famílias, estudantes de direito ou medicina orientados por mestres vindos diretamente da Inglaterra, a mãe do futebol. Apesar dos negros e mulatos já demonstrarem enorme habilidade, eles só conseguiam lugar nos time da zona norte, como o Andaraí, o Vila Isabel, o Bangu. E estes times não chegavam a ameaçar os grandes Fluminense, Flamengo, Botafogo ou América. Mais aí chega o Vasco. Em 1923, com um time formado por negros e brancos pobres, selecionado pelos portugueses (português nunca teve problema com mistura) em outros times de subúrbio, o Vasco ganha o campeonato estadual vencendo quase todos os jogos (só teve uma derrota, para o Flamengo, mas houve suspeitas de que o juiz tenha favorecido os rubro-negros). Este fato provocou uma revolução no futebol da época. Após uma resistência inicial, com os clubes considerados grandes inventando uma série de impedimentos para afastar os negros e pobres do campeonato, poucos anos depois estes clubes tiveram que se render à realidade e abandonar o racismo e os preconceitos. Graças ao Vasco.

 

Sinopse

No Rio de Janeiro de 1900, nascem dois meninos: Sílvio é negro e pobre e Oscar é branco e rico. Os dois amam o futebol e se tornam jogadores. Sílvio se forma nas peladas de rua, Oscar no Fluminense Football Club. O filme acompanha a trajetória dos dois, em paralelo com a história dos primeiros anos do futebol carioca, quando havia preconceito racial e social no futebol, no início um esporte sofisticado e praticado apenas por uma elite, depois ganhando cada vez mais popularidade. Passando por Carlos Alberto, jogador mulato do Fluminense que passava pó-de-arroz no rosto para ficar mais branco, por Monteiro, craque mulato do Andaraí que morreu tuberculoso em campo, por Marcos Carneiro de Mendonça, goleiro branco do Fluminense, símbolo da “Belle Époque” tricolor com seu estilo elegante que inspirava poetisas, a ação vai até 1923, ano que o Clube de Regatas Vasco da Gama é campeão estadual com um time de negros e brancos humildes, do qual faz parte Sílvio. Ele e Oscar finalmente se encontram, no Vasco X Fluminense de 1923…

Orçamento

“Fuzarca”já tem uma boa parte filmada, faltando algumas cenas que representam mais ou menos 30% do filme. Para isso, serão necessários mais dois dias de filmagem, com o seguinte custo:

elenco e figuração: R$ 8.800,00 

equipe técnica: R$ 6.450,00 

alimentação: 5.270,00

equipamento: 2.500,00

total transporte: 1.200,00 

estúdio de finalização: R$ 8.090,00 

recompensas: R$ 401,25

total: R$32.711,25

 

+13% Catarse: R$ 4.252,47

TOTAL GERAL: R$ 36.963,72

https://www.catarse.me/fuzarca1923?ref=project_link