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REI DO PARANÁ


Ídolo do futebol paranaense, Madureira enfrenta o Ademir da Guia

Se hoje em dia o futebol paranaense está em alta, muito se deve a Carlos Roberto Ferreira, ou simplesmente Madureira. De uma geração que colocou o Brasil em outro patamar no mundo da bola, o craque foi, sem dúvidas, um dos maiores ídolos do futebol paranaense nos anos 60. Entre seus maiores feitos está um gol antológico que garantiu a vitória contra o Santos de Pelé.

Com passagens por grandes clubes como Vasco e Palmeiras, Madureira ganhou destaque pelas atuações nos times do sul. Antes de se tornar ídolo por lá, no entanto, tentou a sorte no Rio de Janeiro, cidade natal. E, como todo boleiro que se preza, era um verdadeiro fominha das peladas.

– Jogava em campos de terra, no bairro Santo Cristo, próximo ao condomínio onde morávamos. Meu primeiro treino foi no América-RJ, aos 15 anos, na equipe juvenil.

A intensa rotina de treinos no clube carioca deixava o menino exausto e, por isso, em uma das idas, dormiu no bonde número 39 (Santo Cristo – Leopoldina), perdeu a atividade do dia e, se já não fosse o bastante, esqueceu as preciosas chuteiras. Vale destacar que o par havia sido dado pelo pai de presente de aniversário.


– Me acordaram já no ponto final, aos gritos. Além de não poder treinar naquela tarde ainda levei uns tapas de meu pai, quando cheguei em casa e contei-lhe do ocorrido – revelou em sua biografia “Madureira Craque e Guerreiro”.

Após dar baixa no exército, aos 18 anos, viajou para o sul com o sonho de se tornar jogador profissional na bagagem. Com uma garra além do normal, uma das suas maiores virtudes, se profissionalizou pelo Grêmio em 62 e começou a escrever sua história no futebol.

A passagem pelo Grêmio terminou em 64, ano em que o craque se transferiu para o Metropol, de Santa Catarina, e ganhou muita visibilidade no cenário nacional. Embora não seja um clube muito conhecido na atualidade, o Metropol teve anos gloriosos na década de 60, coroados com incríveis cinco títulos estaduais.

– Foi uma passagem muito marcante e vitoriosa. Tive a felicidade de ser bicampeão estadual e sul-brasileiro. Também fui artilheiro e eleito o melhor do ano algumas vezes.

Valorizado no mercado, recebeu, alguns anos depois, uma proposta irrecusável do Ferroviário, um dos embriões do Paraná, e logo se tornou ídolo, caindo nas graças da torcida. A passagem pelo clube paranaense, aliás, foi eleita por ele como um dos momentos mais felizes da carreira.

Outro momento inesquecível, obviamente, foi o golaço histórico na noite de 8 de setembro de 1968. Atuando pelo Atlético-PR, Madureira comandava o ataque da equipe na dura batalha diante do Santos, que não contava com Pelé, machucado. Ao receber uma bola na esquerda, o atacante driblou Carlos Alberto, Joel Camargo e o goleiro Claudio, antes de mandar um tirambaço e estufar a rede. O gol de placa garantiu a vitória contra o Santos, na Vila Capanema, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa.

– Não conquistamos o campeonato, mas foi uma das melhores campanhas da história do clube em campeonatos nacionais. O gol é considerado um dos mais bonitos da história do futebol brasileiro.


Por fim, ao ser perguntado se tinha noção da importância dele para o futebol paranaense, onde realizou grandes feitos, o craque revelou que demorou para a ficha cair.

– Na época em que jogava não tinha a real noção do meu valor. Hoje em dia, após tantas homenagens, me sinto orgulhoso por fazer parte da história.

SOPRADOR DE SONHOS. E DE APITOS

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto Padilha

A falta era na entrada da área contra a equipe Sub-9 do CAER, na quadra do Clube Social de Paraíba do Sul, pelo campeonato de futsal infantil promovido pela Rede Bandeirantes. Meu neto, Eduardo, estava na barreira, e pouco rodado em fundamentos competitivos se adiantou um pouco. O juiz, que deveria ser orientador nesta categoria, não aplicador de sentenças, deu-lhe o cartão amarelo. Na nova cobrança, ouviu uma voz dizendo: “Sai!” Que poderia ser do banco de reservas, como opção de diminuir o espaço ao batedor, ou da mãe, para sair da barreira e não levar uma bolada. Tudo deveria ser lúdico, divertido, um aprendizado do esporte se o imbecil do árbitro, totalmente despreparado para o exercício da profissão, não o tivesse colocado para fora. Inacreditavelmente ele expulsou o Eduardo da quadra.

Se carrego um orgulho comigo após jogar futebol por 23 anos, sendo 17 profissionalmente, é o de jamais ter sido expulso de campo. Ou de quadra. Aprendi com meus mestres, que eram professores, pais e árbitros humildes que ser expulso significava uma séria indisciplina. Uma subversão a ordem. Além de deixar meus companheiros em desvantagem na guerra ao abandoná-los com 11 contra 10. No máximo, recebi dois cartões amarelos por ter colocado, segundo o comentarista de arbitragem da TV Globo, “força desproporcional na disputa de bola”. Acontece que Eduardo é bem melhor que seu avô, pela sua gentileza, disciplina, educação e saiu chorando da quadra sem entender o rigor da sua punição. Seu treinador, Cidcley, afirmou certo dia:


– Dudu é tão fino que nem falta sabe fazer.

Estão dando aos árbitros poderes demais. Quando erram, são apenas afastados, não cumprem pena em regime aberto por fecharem os sonhos de uma criança. Muito menos vão para casa de tornozeleira eletrônica quando sua insensibilidade obriga um menino retirar as suas de crepe em meio às lágrimas e a prática da sua maior paixão. Eduardo, minha filha Roberta, seu pai, o Dr. Bruno Araújo, seu irmão Felipe e a minha neta, Luisa, que a tudo assistiram, retornaram a Três Rios dispostos a retirá-lo não apenas do futsal, mas do esporte. Uma ferramenta tão importante na formação do cidadão, ao lado da educação, é afastada de sua formação pela irresponsabilidade de um soprador de sonhos. E de apitos.

O recado é para a Rede Bandeirantes de Televisão, que organiza o torneio de futsal infantil da nossa região: ao escalar árbitros para apitar partidas das novas gerações, mostrem a eles que os meninos estão por ali buscando uma outra conquista. Não aquela efêmera exposta no placar ao final da partida, mas a que transcorre num aprendizado de postura, ética, interação social que vai ultrapassar o tempo estabelecido pela mesa. E será, ou deveria ser se os deixassem ficar, não sair daquele jeito, uma singela lição para o resto de suas vidas.

ARENAS ARRASAM VELHOS ESTÁDIOS

por Pedro Redig, de Londres

O fim da temporada na Europa vai ficar marcado pelo desaparecimento de estádios de uma outra era que vão sendo substituídos por versões modernas muitas vezes sem a mesma atmosfera.

O Atlético de Madrid dá adeus ao estádio Vicente Calderon, um alçapão sem cobertura onde 55 mil torcedores intimidavam qualquer visitante. Construído em 1966, o velho estádio no coração de Madrid vai dar lugar a um empreendimento imobiliário e deve vir abaixo até 2018.

A nova arena de 68 mil lugares, um pouco mais afastada, vai adotar o estranho nome “Wanda Metropolitano” por causa do patrocínio do grupo chines Wanda que também é parceiro da FIFA.

Calderon foi presidente do Atlético e minhas lembranças do velho estádio não podiam ser melhores. Foi lá que assisti França 4×1 Irlanda do Norte na Copa do Mundo de 1982. Também vi um tremendo show dos Rolling Stones, com o Mick Jagger passando rodo literalmente no palco por conta da chuva torrencial.

Outro estádio que está sendo demolido a toque de caixa é o White Hart Lane, a casa do Tottenham no norte de Londres durante 118 anos. Conhecido simplesmente como “Lane”, era um alçapão mais apertado ainda do que o Calderon: 36.284 torcedores bem perto do campo, na melhor tradição inglesa.

O novo estádio com capacidade para 61 mil espectadores vai engolindo o antigo e o projeto de mais de R$ 3 bilhões de reais deve ficar pronto para 2018-2019. Neste intervalo, o Tottenham vai jogar a próxima temporada em Wembley. Para ganhar mais dinheiro, o novo estádio do Tottenham vai sediar ainda jogos da NFL, com um gramado retratável especial para a liga de futebol americano.

Clubes mudam de estádio porque eles precisam faturar mais. As chamadas arenas modernas abrem espaço para o torcedor diferenciado em detrimento do torcedor comum. Esta elitização rouba parte do clima que só as torcidas mais animadas conferem ao futebol-espetáculo.

Estes novos templos são confortáveis, com bons serviços, mas são todos parecidos, padronizados porque seguem a mesma estratégia de tratar o torcedor como consumidor. Estádios são como automóveis que hoje parecem os mesmos, sem identidade. Ou shopping centers que também pecam pela falta de originalidade e individualidade. São todas construções sem alma.


O formato em cuia que caracteriza todos os estadios padrão-FIFA aplicado ao Maracanã (Foto: Pedro Redig)

Os estádios antigos têm algo de diferente que fica difícil replicar na arena moderna. Imagine pegar a Bombonera, o estádio do Boca Junior,s com seu desenho diferente e assimétrico, botar abaixo e fazer outro, seguindo o padrão global FIFA de agora. Seria um crime contra a humanidade e a memória do futebol.

O formato sempre igual em forma de cuia, com áreas vip, mídia e patrocinadores faz com que os estádios modernos não tenham a mesma atmosfera. Estas novas exigências reduzem o espaço e, às vezes, a consequência é a diminuição da capacidade, como é o caso do Maracanã, onde atualmente só cabem 78 mil.


O nova arena vai engolindo o velho estádio de White Hart Lane que resistiu durante 118 anos (Foto: tottenhamhotspur.com)

O ex-estádio mais animado do mundo mais parece um cemitério para quem viveu os tempos de casa cheia dos antigos Campeonatos Cariocas e da velha Seleção Brasileira de Pelé e cia. Com a exceção de poucos jogos de casa cheia, a magia do torcedor comum morreu.

Os fãs do Arsenal sabem que o antigo Highbury era mais animado do que o novo estádio dos Emirados. Mas eles são os campeões do faturamento com mais de R$10 milhões por jogo. O West Ham se mudou para o novo estádio Olímpico de 2012 mas tem saudade de Upton Park.  Na nova arena, apesar das adaptações, a torcida fica longe demais do campo e isso prejudica o ambiente.

O segredo é balancear tradição e modernidade. Os clubes precisam sim de novas receitas e novas arenas, mas a alma do torcedor e o ambiente precisam ser preservados. Senão, todo o investimento com a exploração destes novos templos do futebol-dinheiro não vai valer a pena.

SEM NOME

por Idel Halfen


A Juventus de Turim realizou recentemente um movimento que, se não inédito, é bastante raro em clubes de futebol: a mudança de forma radical de sua logo/escudo.

Não pretenderemos nesse artigo entrar no mérito dos aspectos relacionados ao branding, mas sim chamar a atenção quanto ao maior destaque do nome do clube no escudo. Um movimento que parece óbvio quando pensamos no processo de internacionalização dos clubes, já que os potenciais “torcedores” e “simpatizantes” de outros países – menos familiarizados aos símbolos e cores das equipes internacionais – necessitam de uma maior clareza acerca do reconhecimento das camisas e demais produtos dos clubes, os quais costumam ser muito mais instrumentos de demonstração de orgulho e pertencimento do que propriamente de estética.


Escudo da Juventus antes e depois

Pegando os times da série A do Campeonato Brasileiro de 2017, veremos que nove dos vinte clubes possuem o nome agregado ao escudo e, mesmo assim, grande parte deles misturados a elementos ou com o nome completo – futebol clube, por exemplo -, o que deixa a identificação prejudicada.

Por outro lado, quando observamos o mercado corporativo vemos que o ápice do sucesso de uma marca é quando ela consegue ser reconhecida sem que apareça o seu nome. 

Um processo, a bem da verdade, que não se dá do dia para noite e que deve ser estruturado com o máximo rigor, sob o risco de se danificar todo o brand equity.

A evolução nesses casos tem que ocorrer de tal forma que a identificação e o recall não sejam comprometidos nas gerações futuras, pois da perenidade depende a sobrevivência das empresas.

Para deixar mais claro o entendimento sobre esse processo, vamos citar de forma bem resumida a evolução de algumas marcas que estão no nosso cotidiano.


Começando pelo Mc Donald’s, vimos a marca trazer nos seus primórdios tanto o nome quanto frases que melhor identificassem sua área de atuação. Ao longo do tempo, tiraram as frases e demais elementos que remetiam à alimentação para deixar apenas o nome e a logo, até que atualmente o nome foi extinto.

A Pepsi Cola teve no seu início o nome estilizado como logo. Mais tarde chegou a incorporar a palavra drink para associar o produto ao uso. Outra mudança significativa foi a extinção da palavra cola, passando a se chamar simplesmente Pepsi. As várias alterações culminaram na adoção da logo sem nenhum nome. 

Completam esse grupo de marcas que hoje não carregam o nome em sua logo: Starbucks, Shell, Apple e Nike, entre outras.

Tenho dúvidas se o forte sentimento tradicionalista dos torcedores permitiria que os clubes brasileiros fossem ousados a ponto de alterarem radicalmente seus escudos, porém, mesmo que não se chegue nesse estágio, penso que os clubes que pretendam ter uma política de expansão para outros territórios devam de alguma forma agregar o nome da equipe aos simbolos, evidentemente, que de forma elegante e que não violente o posicionamento e os valores do clube.

http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/

CATRACAS

por Claudio Lovato


(Foto: Reprodução)

 – A gente vai?

A pergunta do menino atingiu o homem como um corte de punhal de gelo em algum lugar entre a boca do estômago e o meio de peito.

— Claro!

A resposta exprimia vontade, não certeza. Nenhuma certeza.

Fim do mês. O dia do pagamento ainda coisa distante – teria que esperar mais uma semana pelo menos. Uma pindaíba de dar dó (a dó que ninguém sentia por eles, a não ser eles próprios).

O homem precisava arranjar R$ 120,00 se quisesse levar o menino ao jogo desta tarde.

O dinheiro restante na casa estava em poder da mãe, dentro de um envelope que todos sabiam onde estava, mas do qual ninguém se atrevia a chegar perto. Era o dinheiro da comida, do gás, da conta da luz (atrasada) e da condução para o trabalho.

O menino ouviu a respostae voltou para o quarto.

O homem pensou.

Aos amigos aos quais podia recorrer, já o havia feito, em outras ocasiões recentes.

Poderia falar com o patrão, pedir um vale, mas logo desistiu da ideia. Simplesmente não conseguia imaginar aquele sujeito sovina, dono do mercadinho onde ele trabalhava como faz-tudo havia dois anos, lhe dando um adiantamento.

Poderia falar com o vizinho que emprestava dinheiro para quem quer que aceitasse pagar os juros obscenos que ele cobrava. Se sua mulher descobrisse que ele havia pegado dinheiro com o agiota do bairro, o casamento sofreria sério abalo. Poderia até acabar. Ou no mínimo lhe render duas semanas dormindo no estropiado sofá da sala.

Por fim, pensou no irmão.

O problema era que o irmão costumava combinar uma coisa e se esquecer dela meia hora depois – meia hora regada a toda cachaça que conseguisse beber.

Mas resolveu ligar.

O telefone tocou várias vezes antes de o irmão atender. Estava acordando e, pelo jeito, em seu estado normal: enfrentando uma ressaca furiosa.

Explicou o caso. Sim, o irmão tinha R$ 120,00 para emprestar. Claro que ele sabia o quanto sobrinho queria ir àquele jogo. Marcaram o encontro para dali a duas horas, no portão de acesso que usavam para entrar desde os tempos em que eles dois, os irmãos, eram adolescentes.

Antes da hora marcada, o homem e o menino estavam em frente ao portão. A hora chegou e o irmão não apareceu.

A aflição do homem aumentava a cada minuto. O menino não olhava para o homem; concentrava-se em assistir aos outros torcedores entrarem no estádio.

O homem percebeu que um dos porteiros, o mais velho, os observava. 

Agora havia poucos torcedores no entorno do estádio. O jogo estava para começar. O homem sabia: o irmão não apareceria. Ligou para ele do celular. Caixa de recados. A irritação, a amargura e a certeza de que de nada adiantaria fazer aquilo o impediram de tentar uma nova chamada.

O porteiro veterano continuava a olhar para eles. No peito do menino, a iminência da decepção se manifestava na forma de batidas aceleradas do coração.

A torcida lá dentro. A festa. Era o time entrando em campo. O entorno do estádio praticamente deserto. E nada do irmão.

Agora, lá dentro, a primeira explosão da torcida. Gol? Quase gol?

Duas lágrimas invencíveis surgiram nos olhos do menino. 

Ódio em estado bruto transbordava do peito do homem – ódio de tudo, ódio da vida.

Então ele viu o porteiro coroa fazer um sinal. Depois o assistiu colocar a catraca numa posição neutra, caminhar em direção ao colega, cochichar alguma coisa e, na sequência, afastarem-se, ambos comas mãos no bolso das jaquetas pretas.

O homem pegou o menino pela mão e o arrastou. Com o máximo de cuidado e rapidez (uma combinação difícil) passaram pela catraca.

O menino enfim ingressou no território em que seu desejo mais profundo se realizava.

O homem olhava para o menino, e para nada mais; era a única forma possível de sufocar a imensa vergonha que sentia.


(Foto: Reprodução)

O barulho da batucada. Os gritos. Quando, por fim, o menino e o homem conseguiram dirigiro olhar para o gramado,um dos atacantes do time deles, o craque tatuado, ídolo maior do menino, estava na cara do gol, sozinho, de cabeça erguida, com a bola colada ao pé direito,  apenas ele e o goleiro, e então fez exatamente o que tinha que fazer, para a momentânea desforra do homem e do menino diante daquilo que jamais poderiam enfrentar de igual para igual.