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A BALADA DO CANELEIRO E O SOL DA VÁRZEA

por Marcelo Mendez


(Foto: Arquivo Pé de Meia)

Foram inúmeras as vezes em que saí de minha casa para cobrir jogos de futebol de várzea pelo ABCD pensando em clássicos filmes de western pelos mais variados motivos. Algumas vezes, devo concordar, que pelos mais previsíveis clichês. Afinal de contas essa é uma premissa que quase sempre persegue os cronistas ludopédicos e eu não fujo à regra nesse ínterim. Pelo contrário, até gosto.

O desafio consiste exatamente no fato de tornar essa coisa que aparentemente é óbvia, em outra, mais lúdica, mais interessante aos senhores caros leitores. Mas vamos lá…

Ao pegar chão para cobrir Americano x Família Bob Marley, pela rodada inicial da primeira divisão do Campeonato de Futebol Amador de Diadema, eu cheguei a pensar em algo assim como, “Era Uma Vez no Oeste”, do Sergio Leone, ou alguma coisa dirigida por Enrico Salermo, que ressalta-se a dureza do enfrentamento na Várzea, mas não…

Com 35 graus de temperatura à sombra, o que inevitavelmente me fulminava a mente era o classicão “Duelo Ao Sol” de King Vidor. E sem dó.

Os jogos do futebol amador são marcados para as manhãs de domingo, algo tradicional, bacana, eu entendo. Quando aconteciam às 10 da manhã até que dava para suportar tranquilamente, mas agora, com as partidas começando às 12 horas, fica beirando o insuportável.

Chegando ao Estádio do Serraria o que vi foram suores em bicas, garrafas de água em proporção, canseira extrema por parte das duas equipes e nada que me saltasse aos olhos em se tratando de “duelo”.

A partida era irritadamente óbvia. No entanto, quando eu já estava por lá a me preocupar com a eminência do nada absoluto que circundava a pauta naquele domingo de calor absurdo, houve uma parada técnica: enquanto o técnico do time da Família Bob Marley berrava arquétipos de uma tática necessária, infalível, rotunda e salvadora, eis que vejo um jogador o retrucando:

– Mas eu tô sozinho lá na frente, só chega bicão! Quero a bola no meu pé, pelo menos uma!

E o técnico responde:

– Mas você precisa se mexer…

E ele:

– Mais?? Você precisa colocar um meia perto de mim!

Olhei novamente. Vi que ao se afastar da resenha tática, o jogador camisa 9 saiu resoluto conversando com seus companheiros de time, explicando da necessidade de receber uma bola limpa. O jogo recomeça.

Na primeira chance que se tem, a bola então chega limpinha para ele. Ele corta o zagueiro, levanta a cabeça e bate… Nas nuvens! Sim, a bola chutada pelo atacante vai quase por cima das grades de contenção do estádio do Serraria.

– Valeu, Moacir! – grita o torcedor.

Moacir…

Com seu time perdendo por 1×0, Moacir lutava olimpicamente. Não é um craque. Não tem a finesse de um Careca, de um Van Basten. Mas precisa? De modo algum.

Na várzea, a insistência caneleira de Moacir dá ao sujeito comum da batalha do dia a dia, uma carga onírica, épica. Moacir corria pela grama sintética do campo do Serraria, com uma dignidade inexoravelmente bela! Correu, trombou, lutou por todas as querelas de bola que chegavam a seu ataque e como prêmio guardou duas!

Sim, fez dois gols, virou o jogo e foi consagrado o herói possível de ser na manhã/tarde de domingo. Dessa forma, Moacir foi um grande, embora talvez não tenha para si um imortal diretor de cinema a registrá-lo. Mas não sei se realmente precisa disso. Moacir é Grande para além do cinema:

É um grandioso na várzea e isso também o faz imortal…

OS PRANCHETINHAS

 :::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


E basta chegar no calçadão para minha caminhada e lá vem pergunta: “PC, porque os técnicos brasileiros não vão para a Europa?”. Peraí, essa é fácil. Porque estão desatualizados, fora do tempo, tem o discurso velho e quase todos são professores de Educação Física, teóricos, chatos e pranchetinhas. Na verdade, são estatísticos que vivem anotando o número disso, o número daquilo.

Eles já deviam ter se tocado que há uma grande contradição no “trabalho” desenvolvido por eles: o número de passes errados aumenta cada vez mais. Passe é fundamento e os professores de Educação Física que nunca deram um chute na bola ficam naquela baboseira de 4-6-2, 17-8-9, com aqueles gestos desconexos na beira do campo para serem filmados pelos cinegrafistas. E dentro de campo a rapaziada errando passe de meio metro.

O número de faltas também aumenta a cada jogo porque os professores de Educação Física adoram desarmar jogadas. A maioria joga para não perder e alguns usam terno para passar uma imagem europeia, kkkkkkkk!!!! Outros passam alguns dias na Espanha e dizem que foram se reciclar. Cadê essa reciclagem que eu não vejo???


Hoje todo goleiro deveria saber sair jogando com os pés. Qual goleiro brasileiro sabe fazer isso? Os técnicos não treinam isso. O Fernando Prass quase entrega o ouro contra o Coritiba. E saída de gol? O goleiro do Corinthians levou dois de cabeça ridículos. E o Muralha? O Muralha é melhor deixar para lá….


Esse técnico do Flamengo é teimoso e comete erros em sequência. E virou revelação! Meu Deus, chupou laranja com quem???? Nos últimos meses, vi Mano Menezes, Rogério Ceni e Antônio Carlos Zago atrapalharem jogadores no arremesso lateral, escondendo a bola e irritando a torcida, comportamento reprovável. Acaba o jogo, eles devem correr para analisar seus desempenhos e estatísticas nas pranchetinhas….”325 passes errados, 678 carrinhos….é estamos melhorando”.

Ah, não me amolem e me deixem caminhar em paz!!!

– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 10 de junho de 2017.  

José Silvério

a voz do gol

entrevista: Marcelo Ferreira e Marcelo Mendez | texto: Marcelo Mendez fotos: Marcelo Ferreira e Marcelo Mendez | vídeo: Marcelo Ferreira e Marcelo Mendez | edição de vídeo: Daniel Planel

 

Foi um dia calmo…

Apesar do trânsito louco e infernal da cidade de São Paulo, em instante algum eu e o parceiro de sempre, Marcelo Ferreira, perdemos a boa paz.

Ligamos o rádio, ouvimos Belchior, conversamos e rumamos para a pauta, meio que sabedores do que viria pela frente. Todas as entrevistas nossas para o Museu da Pelada são ótimas, prazerosas e honrosas para nós, reles jornalistas mortais em busca da boa pauta.


Mas não para dizer que entrevistar José Silvério é o mesmo do que uma outra… Era nosso contato com a Voz. A voz que no comando da Rádio Bandeirantes emociona, cativa, acolhe, acompanha…

Ao longo de seus 50 anos de carreira, Silvério colecionou vários momentos que entraram para a história do Jornalismo Esportivo Nacional. São 10 Copas transmitidas, milhares de gols narrados, outros tantos corações conquistados.

Nesse domingo, o Museu da Pelada tem a honra de apresentar a vocês o Pai Do Gol em uma entrevista carregada de emoções a todos que ali estavam. Com vocês, José Silvério..

 

Mauro Galvão + Odvan

MURALHA DA COLINA

texto e entrevista: Wesley Machado | fotos: César Ferreira | vídeo: Ramatis Pessoa | edição de vídeo: Daniel Planel 

No dia 28 de maio, os moradores de Campos dos Goytacazes-RJ tiveram o privilégio de ver o reencontro de dois grandes parceiros do futebol. Mauro Galvão e Odvan, zagueiros que se complementavam, aliando técnica à força, bateram um papo descontraído com a equipe do Museu da Pelada.

Na hora de posar para a foto que ilustra o texto, o brincalhão Odvan ficou preocupado com a bola, a qual Mauro considerou “velhinha”.


Wesley Machado, Odvan, Mauro Galvão e Ricardo Antônio (Divulgação)

– O Edmundo vai pegar no pé da gente – disse Odvan.

Mauro Galvão e Odvan afirmaram que ainda disputam alguns jogos festivos pelo time de master do Vasco e pela Seleção Carioca.

Mas quando propus que os dois fossem fotografados batendo uma bolinha (de futsal), Mauro falou que não tinha necessidade.

– Todos sabem que nós jogamos bola – comentou Mauro.

A conversa passou pela carreira dos dois, que jogaram e conquistaram vários títulos em grandes clubes e na seleção brasileira.

No final, ao ser perguntado sobre uma história boa de concentração, Mauro falou que tinha uma que não podia contar.

– Só depois da meia noite – desconversou Mauro, que comemorou com o Odvan o fato de ter marcado o gol do título do Vasco no Carioca de 1998.

Os dois se abraçaram, deram risada e reafirmaram a grande amizade que construíram dentro e fora dos gramados.

Quem também estava presente no Encontro de Colecionadores de Camisas de Futebol no Instituto Federal Fluminense (IFF), era César, artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1979 pelo América-RJ e autor do gol do título do Grêmio na Libertadores de 1983. Natural de São João da Barra-RJ,  o goleador mora atualmente na cidade natal, vizinha a Campos, no norte do estado do Rio de Janeiro.

O MAESTRO

por José Dias


Errou quem imaginou, ao ler o título da postagem, que falaria sobre o grande JÚNIOR – o MAESTRO.

Esse eu também vi jogar e trabalhamos juntos.

Tenho observado, há algum tempo, através do noticiado pela imprensa (não gosto de “mídia”), as mais diversas informações, notas, críticas, elogios, reportagens de página inteira, meia página ou coluna sobre os personagens que exercem nos clubes as funções de treinador, supervisor, vice-presidente e, mais um novo na praça – diretor executivo. O treinador é o mais visado.

1. Treinador – Convivi com pelo menos 40 profissionais, dentre professores, técnicos, treinadores, treineiros e curiosos. Foram 40 cabeças pensando de forma diferente uma das outras. Autoritários, complacentes, vingativos, omissos, inseguros (principalmente), indiferentes, donos da verdade, competentes, incompetentes e, muitas vezes taxados de desonestos. 

Treinador que durante o início de uma temporada conseguiu manter sua equipe “n” jogos sem perder ou na 1ª colocação da competição que estava disputando e, de repente, assume um outro clube. Qual a expectativa? Se a nova equipe estiver mal, é que vai melhorar. Afinal de contas, chegou o “salvador”. Porém o que pode acontecer e acontece muitas vezes. Com poucos jogos sob sua direção a nova equipe vai mal. E aí? Mais um treinador demitido. Por que, sei lá?

Para esse eu tiro meu chapéu!

ZAGALLO – Numa de minhas ideias será o grande homenageado.


(Foto: Reprodução)

Vi jogar e trabalhamos juntos e se não fosse por ele, com certeza não estaria aqui, no Museu, chateando os que acompanham.

Existe um princípio na Administração que diz – uma pessoa vai bem em algum lugar e, desempenhando a mesma função num outro, não consegue obter os mesmos resultados.

O que aconteceu? Sei lá, principalmente no futebol. O “cara” é durão, não se submete à pressão de dirigente, da torcida, da imprensa e principalmente dos jogadores – seu destino, “a forca”. Significa, também, que o oposto pode surtir algum efeito, mas nunca duradouro. Vai ter seus 15 minutos de fama – seu destino “a forca”.

O profissional que desempenha esta função deve receber, da direção do clube, todo o apoio logístico possível para bem poder trabalhar. Se o grupo de jogadores colocados a sua disposição não for de primeira linha, o que se pode esperar – muito trabalho e muito empenho de todos para superar a diferença que os separa de outras equipes e em hipótese alguma o treinador poderá ser responsabilizado por uma não conquista de títulos e, em alguns casos, um possível rebaixamento.

Mas o clamor da torcida, da imprensa que não lhe é simpática, do patrocinador, que às vezes não é tão patrocinador assim e, principalmente, da direção que se acovarda, tornando-se incapaz de assumir suas responsabilidades e culpas. Direção que deveria enfrentar os descontentes e mantê-lo no cargo.

Um dos argumentos é de que recebem muito bem e têm a obrigação de andar atrás deles, forem onde forem. Treinador não é babá! Tampouco é “bedel” de escola. Aliás, ninguém é. Qualquer empresa sabe como lidar com seus funcionários, por que só no futebol tem que ser diferente.


(Foto: Reprodução)

Agora, no dia em que os treinadores se conscientizarem que são apenas funcionários com a missão de orientar a equipe tecnicamente e taticamente e que existem outros funcionários, pelo menos um para cada função, e deixarem a ideia de que só eles têm a solução para todos os problemas, talvez passem a ser olhados de outra maneira.

Mas o que será que os treinadores pensam? Sou assim porque preciso me proteger. Não dou oportunidades para outros porque podem querer me dar “uma rasteira”. No fim, quem se ferra sou eu! “Farinha pouca, meu pirão primeiro”!

Muitas coisas mais poderiam ser ditas e poderíamos ser injustos.

Para encerrar, vou dizer uma coisa jamais dita na história deste País – pode ser o melhor treinador do mundo, se não ganhar, f……-se (acertou quem completou com …errou).