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HÁ 64 ANOS, O FUTEBOL BRASILEIRO PERDIA CHARLES MILLER, O ‘PAI’ DA BOLA

por André Felipe de Lima


Mais dia ou menos dia, aconteceria. E aconteceu em 1894. É impossível prever qual seria a trajetória do esporte mais popular do mundo se o Brasil começasse a jogar futebol após 1894. Outro país teria, quem sabe, nove canecos mundiais, ou a Irlanda seria a seleção mais forte do planeta. Sei lá… tudo poderia acontecer. Mas, parafraseando o “profeta” Nelson Rodrigues, “estava escrito há mil anos” que o futebol brasileiro nasceria no cabalístico mil oitocentos e noventa e quatro.

A história brasileira entre quatro linhas e sobre um gramado começou a ser escrita quando o paulistano (segundo filho do escocês John Miller, engenheiro transferido para o Brasil para a São Paulo Railway Company, e da brasileira descendente de ingleses Carlota Alexandra Fox, e sócio do São Paulo Athletic Club [SPAC]), foi estudar, em 1884, na Bannister Court School, em Southampton, na Inglaterra. Esse menino tinha nove anos e chamava-se Charles William Miller. O velho Miller enviou para terra da rainha o garoto, o irmão mais velho dele, John, e o primo de ambos, William Fox Rule. Os três desembarcaram em Southampton no dia 29 de julho.

Charles chegou a defender o selecionado de seu condado, o Hampshire . Disputou jogos contra o Corinthians F.C. , que mais tarde viria ao Brasil e inspiraria jovens para a criação da versão paulistana do time inglês, e defendeu o St.Mary’s, que mudaria de nome, tempos depois, para Southampton F.C.. Aos 17 anos, destacava-se na escola, mas com a bola e com o críquete. Chegou a enfrentar o time do Exército da Divisão de Aldershot. Perdeu o jogo [3 a 1], mas foi o autor do gol do St. Mary’s.


Na temporada de 1893-94, Charles Miller disputou 34 jogos pela Banister School, marcando 51 gols, com a média de 1,59. Na edição de Natal da revista da escola em que estudava, foi publicado o seguinte comentário: “Charles W. Miller é o nosso melhor atacante. Seu drible é como uma fagulha e seu chute, devastador. Poderia ser mais esforçado, mas, mesmo assim, trata-se de um goleador incorrigível”. Sempre atuando como left-winger, ou simplesmente ponta-esquerda.

Pelo St. Mary’s, Charles disputou 13 partidas e fez três gols, pelo Condado de Hampshire marcou o mesmo número de gols só que em seis partidas. Retornou ao Brasil em 18 de fevereiro de 1894, com um par de bolas de capão e um livro de regras do association football, que conheceu por aquelas bandas frias, no colégio em que estudava.

Jovens associados da The Gaz Co., fornecedora de gás da capital, da São Paulo Railway Company [SPR], a empresa que administrava a linha férrea que ligava o planalto paulista ao litoral, e do London Bank, em sua maioria ingleses ou descendentes, organizaram um treino em 14 de abril de 1895 na Várzea do Gasômetro, na Chácara Dulley, situada entre os bairros da Luz e do Bom Retiro.

O jogo colocou frente a frente o time da SPR e o da The Gaz Co. A primeira peleja disputada no Brasil terminou 4 a 2 para a SPR, com dois gols de Charles Miller. O SPAC foi depois o primeiro tricampeão da Liga Paulista de Futebol, fundada em 19 de dezembro de 1901, vencendo os certames de 1902, 03 e 04. Charles Miller foi artilheiro em 1902, com 10 gols, e em 1904, com nove.


O alemão Hans Nobiling, que tinha uma enorme paixão pelo futebol, foi um grande incentivador do esporte bretão, ao lado de Charles Miller. Nobiling chegou de Hamburgo, no dia 13 de fevereiro de 1896. Trouxe na maleta uma bola e os estatutos da Deutschland S. V.. Em 1898, os estudantes do Mackenzie College fundaram a Associação Atlética Mackenzie College e, no ano seguinte, a colônia alemã, com Nobiling a frente, fundou o Germânia [atual E.C.Pinheiros]. Charles Miller e Oscar Cox, que havia voltado da Suíça para o Rio de Janeiro, organizaram os primeiros jogos entre Rio e São Paulo. Em 1º de agosto de 1901, no campo do Rio Cricket, brasileiros enfrentaram membros da colônia inglesa. Apenas 15 pessoas presenciaram a partida.

Cox passou a se corresponder com Renê Vanorden, do Internacional de São Paulo, Charles Miller e Antonio Casemiro da Costa, este fundador e primeiro presidente da Liga Paulista de Foot-Ball, no dia 14 de dezembro de 1901, na Rua São Bento, nº 3, sala 1, no centro paulistano. Cox queria agendar o primeiro jogo “pra valer” entre cariocas e paulistas, sem a escalação de ingleses. E o primeiro confronto aconteceu em 19 de outubro de 1901, no campo do São Paulo Athletic Club.


Para se ter ideia de como eram tratados os praticantes, quando a delegação carioca pediu um desconto, ou mesmo cortesia nas passagens de trem, ouviu que “A Estrada de Ferro não foi feita para passeios de malandros e desocupados”. Tanto o primeiro jogo quanto o segundo, no dia seguinte, terminaram empatados, em 1 a 1 e 2 a 2, respectivamente. Ao fim do segundo desafio, Cox e Miller discursaram no banquete oferecido pelos paulistas na Rotisserie Sport.

O Jornal do Brasil de 21 de outubro anunciava que “O match de foot-ball ficou empatado novamente, sem que nenhum dos lados fizesse ponto algum” e o jornal O Comercio, do dia 17, que “No sábado à tarde, 19, e no domingo de manhã, se realizarão dois matchs nesta cidade, entre rapazes dos clubes daqui e os do Rio, que para esse fim vieram a esta capital especialmente […] Esta é a primeira vez no Brasil que se joga um match deste interessante sport entre dois Estados, e se acrescentarmos que são brasileiros os rapazes que, na maior parte, vem do Rio disputar o campeonato Brasil-1901, há um justo motivo de nos regozijarmos, porque finalmente a nossa gente começa a se dedicar com afinco a estes utilíssimos exercícios, cujos benefícios para nossa futura geração, se hão de patentear na sua robusta physica, condição essencial em todos os ramos do labor humano. Aos nossos leitores, que aconselhamos não perderem um minuto deste interessante encontro, prometemos todos os pormenores que se possa guiar e conduzir nessa curiosa prova de foot Ball.”

Miller amava o futebol, mas era, antes de tudo, um exemplo de desportista. Na Inglaterra, jogou críquete, rúgbi, tênis e futebol. Foi fundador da Associação Paulista de Tênis. Quando abandonou a carreira futebolística, tornou-se árbitro e dirigente esportivo.


O inventor da “charles” ou “chaleira” , jogada em que o jogador passa bola por trás do pé, tocando-a de calcanhar, nasceu no dia 24 de novembro de 1874, no bairro paulistano do Brás, na rua Monsenhor Andrade. Nos dias que antecederam o jogo entre cariocas e paulistanos, em 1901, procurou insistentemente os jornais de São Paulo para que anunciassem o marco esportivo que aquela partida representaria para o País. Ouviu o seguinte dos redatores: “Não nos interessa semelhante assunto!”. À Gazeta Esportiva de 1944, ele comentou: “E hoje em dia como é diferente…”

Se há um “pai” da bola no futebol brasileiro, este é Charles Miller.

O pioneiro da bola no Brasil morreu em São Paulo, no dia 30 de junho de 1953.

PEDRINHO, ÍDOLO VASCAÍNO, FAZ 40 ANOS HOJE

por André Felipe de Lima

Quem faz 40 anos hoje é o craque e ídolo vascaíno Pedro Paulo de Oliveira, o ex-meia Pedrinho, que chegou a São Januário com apenas seis anos. Foi campeão com o time de futebol de salão do Vasco em todas as categorias pelas quais passou.

Entre 1983 e 1992, conquistou o Campeonato Carioca “Fraldinha” de 1984, 1985 e 1987. Na categoria pré-mirim, foi campeão brasileiro, em 1991, e carioca, em 1992. Da quadra para o gramado, onde aportou profissionalmente em 1995, Pedrinho começou a brilhar intensamente. Foi campeão carioca de 1998, dos campeonatos nacionais de 1997 e 2000, da Copa Mercosul de 2000, do Torneio Rio-São Paulo de 1999 e da Taça Libertadores da América de 1998, o título mais expressivo com o clube que ama desde tenra idade.

Parabéns para o inesquecível Pedrinho!

VIDA LONGA AO MAESTRO

por Marcos Vinicius Cabral


Sentado em um banco de concreto na Av. Atlântica, em Copacabana, desde às 19h, estava eu esperando pelo ídolo rubro-negro Júnior.

Ali sentado comigo e de pernas cruzadas, Carlos Drummond de Andrade em bronze, ouvia minhas lamúrias num frio de bater queixo.

Portanto, se naquela noite de sexta-feira, 27 de junho de 2008, eu já me considerava driblado pelo lateral-esquerdo do Flamengo, em um instante pensei em desistir do encontro no qual ia presentear o “Capacete”, que estava prestes a completar 54 anos.

O relógio marcava 21h e o jogo começou a mudar em poucos minutos, quando meu celular tocou.

– Boa noite, tudo bem? – perguntou do outro lado da linha.

– Boa noite, tudo bem… – respondi temendo que o craque da lendária camisa 5 dissesse que estava desmarcando nosso encontro.

– Beleza, você está sentado com o Drummond? – perguntou querendo se certificar que eu estava ali mesmo, no lugar marcado.

– Estou sim! – respondi e o telefone foi em seguida desligado, sem dar tempo de dizer a roupa que estava.

Assim que coloquei meu celular no bolso, percebi uma Cherokee Sport verde musgo se aproximando lentamente. 

Me levantei do banco e fiquei observando aquele carro que parou em frente ao local onde estava, ligando em seguida o pisca alerta:

– Fala Vinicius! “Vambora”, parceiro. Entra aí – disse já abrindo a porta do possante.

Entrei no carro meio embasbacado, não acreditando se tratar de Leovegildo Lins Gama Júnior, o jogador que mais vezes vestiu o manto rubro-negro em sua rica história.

– Tudo bem?

– Tudo e com você, maestro?

– Tranquilo… quer dizer que você é caricaturista?

– Sou! – respondi timidamente.

– Eu adoro caricaturas!


Diante dessa afirmação, foi então que pensei na responsabilidade que teria com a caricatura feita, que seria dada de presente ao maior lateral do Clube de Regatas do Flamengo, nestes 122 anos de existência.

– Caramba, e se ele não gostar do presente? – sussurrei baixinho e fiquei com esse ideia fixa martelando na cabeça.

Um silêncio permaneceu entre nós nos quase 10 minutos que levamos do local até onde ele estava me levando.

– Você bebe, Vina? – perguntou já se tornando íntimo e me apelidando.

– Não, Léo, não bebo! – retribui a intimidade, já que vi por diversas vezes o Galvão Bueno chamá-lo assim no programa Bem, amigos!

– Uma pena, mas você toma um suco enquanto eu vou de chopp, ok?

– Uhum – respondi balançando a cabeça positivamente.

Como o aniversário dele seria no domingo, dia 29 de junho, acreditava que seria um presente simples, afinal de contas, quantas caricaturas ele deve ter ganhado de caricaturistas mais renomados?

Na Itália, por onde jogou de 1984 a 1989 em alto nível, no Torino e Pescara respectivamente, ele deve ter recebido um monte delas, já que Annibale Carracci foi um dos grandes expoentes da caricatura, além é claro, dos artistas da Escola de Bologna como Pier Leone Ghezzi (1674-1755), que foi um dos primeiros a dedicar-se quase que integralmente à realização de caricaturas.

Porém, com tamanha responsabilidade de agradar ao nosso eterno maestro, não demorou muito e chegamos no tradicional Bar Cevada, que fica na rua Siqueira Campos, esquina com Praça Serzedelo Corrêa, no mesmo bairro.

Em alguns instantes estacionamos, pois o horário nos ajudou a encontrar uma vaguinha.

Mas se houve facilidade por um lado, perdemos muito tempo para chegar ao renomado bar, já que a cada dois ou três passos do maestro, os pedidos de autógrafos e fotos eram tantos, que acabou demandando um tempo considerável.

Na verdade, minha ansiedade fez com que eu achasse aquele momento muito demorado, pois o que queria mesmo era que ele visse logo sua caricatura.

Depois de se livrar da marcação de seus fãs, entramos no Cevada.

– E aí, maestro, o mesmo de sempre? – perguntou um dos garçons, já se adiantando no chopp sem colarinho.

Um sinal com o polegar e um sorriso típico, foram entendidos na mesma hora pelo garçom.

Enquanto pedia meu suco, observei sua reação ao abrir o presente.

Atentamente, olhei e vi quando o ele deu um sorriso enorme, como se aprovasse a caricatura.


Conversamos por aproximadamente uma hora e a partir de então, comecei a fazer as caricaturas de seus aniversários – que na maioria das vezes é comemorado em seu projeto social Samba dá Sopa – e nas datas de fim de ano.

Hoje, data que completa seu 63° aniversário e mesmo estando a 14.452 km (8975 milhas), ou seja, 18 horas de vôo entre Brasil e Russia, cobrindo a Copa das Confederações, nós, torcedores da Nação Rubro-Negra, queremos dedicar ao grande Júnior, um feliz aniversário e muitos anos de vida!⁠⁠⁠⁠

JOGO INESQUECÍVEL

por Luciano Pires

Campeonato Brasileiro de 1999. Meu Coringão vai jogar contra o São Paulo no Morumbi, jogaço que eu estava louco pra assistir. Um amigo – sãopaulino – disse que conseguiria dois ingressos de camarote para eu assistir ao jogo. É lógico que eu topei. Mas havia um problema: era no camarote oficial do São Paulo, no meio dos cartolas. Eu, corinthiano, estaria rodeado dos mais fanáticos sãopaulinos e não poderia dar um pio, sob pena de ser linchado. Achei melhor não ir, mas depois, pensando bem e diante da perspectiva de um jogão de bola, topei.

Convidei um amigo, outro corinthiano roxo, e lá fomos os dois. Mordomia total, estacionei o carro debaixo da arquibancada e subimos para o camarote para dar de cara com centenas de sãopaulinos fanáticos se preparando para o jogo. E eu e meu amigo, na moita. Fomos entrando sem dar bandeira, preocupados que alguém achasse que tínhamos cara de corinthianos e nos acomodamos, quietinhos. Do outro lado dos vidros, milhares de corinthianos xingando quem estava dentro do camarote, eu e meu amigo inclusive. Não tinha como dizer pra eles que nós éramos os mocinhos… E começa o jogo, nós dois nos policiando para não dar bandeira. Nenhum movimento brusco, nenhuma encarada, só olhando pro campo e torcendo em silêncio, até que aos 23 minutos, Nenê marca o primeiro gol do Corinthians! Olhamos um para o outro discretamente, com um sorriso mental… e a corinthianada furiosa do lado de fora esmurrando o vidro do camarote. Seis minutos depois Raí marca para o São Paulo e o camarote explode. Eu e meu amigo fingimos que comemoramos…

Três minutos depois, Ricardinho marca o segundo do Timão. E eu comecei a suar frio, reprimindo o berro. Meu amigo idem. No final do primeiro tempo Jorginho, de cabeça, empata para o São Paulo. Com 2×2, no intervalo fomos ao banheiro aliviar a tensão. Que loucura…

Começa o segundo tempo, tenso, e aos sete minutos Marcelinho cobra uma falta e coloca o Timão à frente: 3×2. A torcida vai à loucura e os corinthianos começam a escalar o vidro do camarote, falando palavrões que eu não conhecia. Os sãopaulinos emputecidos e eu e meu amigo explodindo por dentro! 

E então acontece… Aos 17 minutos do segundo tempo, pênalti para o São Paulo. O camarote enlouquece. Raí coloca a bola na marca e prepara-se para chutar. Eu tento fechar os olhos, mas não dá. Ele chuta! E o goleiro do Corinthians, Dida, defende… Uma gritaria imensa, com os olhos esbugalhados olho pro meu amigo, que também esbugalhado me olha. Os dois suavam, os músculos do pescoço tensos, um grito amarrado na garganta!! Continua o jogo, na pressão, e pronto! Outra vez! Aos 45 minutos do segundo tempo, outro pênalti para o São Paulo. O camarote vai à loucura! Novamente, Raí coloca a bola na marca e faz aquela pose característica com as mãos à cintura. Silêncio mortal. Raí corre para a bola, chuta e o Dida defende de novo!

Meu amigo não suporta, levanta e grita:

– Mas que filho da puta!

Até hoje os sãopaulinos tem certeza que ele estava xingando o Dida…

AMOR, PAIXÃO, TRISTEZA E DESILUSÃO

por Mateus Ribeiro


Já faz um tempo que me apaixonei pelo futebol. Não sei a data exata, mas já faz mais de vinte e cinco anos. Uma vida inteira.

Como acontece em (quase) todos os relacionamentos amorosos, existem idas e vindas, risos e choros, mas no final das contas, o amor prevalece. Um sentimento que poderia ser traduzido através do clássico “Entre Tapas e Beijos”, da dupla Leandro e Leonardo. E dentre esses beijos,os mais tórridos que dei em minha paixão aconteceram de 4 em 4 anos. A Copa do Mundo servia como motel durante um mês. Aqui, neste texto, falarei sobre tudo que aconteceu no nosso quarto francês, no ano de 1998, já que a Copa disputada na França foi a que mais me fez sentir tudo o que uma relação de paixão pode trazer.

Devo dizer que em 1994, por ser minha primeira Copa, como em todo começo de namoro, tudo foi uma maravilha. Até o Brasil sendo campeão serviu para criar um horizonte de perfeição intocável. O time que eu torcia era invencível, eu só via jogo bom, um monte de craques desfilando um bom futebol, e belíssimos uniformes me deixaram enfeitiçado por um mês. Após o primeiro término, esperei os quatro mais longos anos da minha nada mole vida para viver a primeira reconciliação.

Após muitos meses de espera, eis que chega o período pré Copa. Aproveitava meu talento em cumprir bem minha obrigação de ser bom aluno, e cobrava para fazer trabalho de escola pros alunos mais preguiçosos. Todo o dinheiro arrecadado tinha uma finalidade: comprar figurinhas para o álbum oficial da Copa do Mundo. Como na época a Internet e a TV por assinatura eram sonhos impossíveis para a minha realidade, utilizava os dados contidos no álbum para descobrir até a data de aniversário dos jogadores.

Enfim, chega o dia da estréia. Meu amor Brasil entra em campo contra a Escócia. Achei que fosse ser vida fácil, mas quase que o boi deita na estreia. Aparentemente, depois de um gol bem confuso de Cafu, tudo ficaria mais tranquilo.


Após a primeira partida, tinha que acompanhar minhas pretendentes remanescentes de 1994, Bulgária e Romênia. Devo dizer que a Bulgária estava bem diferente de quatro anos atrás. Mais chata, burocrática, e parecia não haver muita possibilidade de uma volta. Cheguei a pensar “como um dia me apaixonei por quem hoje despreza tanto minha pessoa (e a bola)?”. A relação acabou quando conseguiram apanhar de 6 da sempre sem sal Espanha. Ambos arrumaram as malas e partiram pra longe após o jogo.

Já a Romênia parecia estar mais madura, mais atraente. Porém, após alguns flertes, resolveu mudar um pouco o visual. Não deu muito certo, e coube a Croácia (que viraria minha paixão de inverno) terminar minha relação com a Romênia de forma mais amena.


Voltando ao meu primeiro amor (Brasil sil sil), a primeira decepção foi a derrota para a Noruega. Para deixar tudo mais triste, a derrota foi no mesmo dia (ou na mesma semana, não me recordo) da morte do Cantor Leandro, um fato que comoveu muita gente, e me fez ouvir a música “Um sonhador” por horas a fio. Inclusive dei o play nela agora. Mesmo após a derrota, que contou com um show de Galvão Bueno reclamando de uma penalidade máxima para os Escandinavos, a classificação estava encaminhada. Foi por pouco que não tive que pagar o motel e voltar pra casa. Pelo menos iria pagar metade do preço.

Já que as outras pretendentes haviam ido embora, criei vergonha na cara e resolvi dar atenção exclusiva para meu único amor. E a próxima seleção que tentaria destruir esse amor foi o Chile. Se você tem menos de 20 anos e se impressiona com esse time aí comandado por Vidal e Sanchez, saiba que apesar de Salas e Zamorano, o Chile era o patinho feio da turma. Basicamente, é aquela pessoa que ninguém dá bola no colegial, e depois de 20 anos pensa que é galã. Enfim, uma paulada com direito a show de César Sampaio colocou os chilenos no lugar deles.

A segunda crise foi ocasionada pela irresponsabilidade. Roberto Carlos foi empinar sua bicicleta e quase jogou tudo pro alto. Ainda bem que Rivaldo ajudou na reconciliação, apesar dos esforços da Dona Dinamarca em me seduzir.


Passado o susto, eis que aparece a sempre formosa Holanda. Por pouco que o suco não ferve, mas o que azedou mesmo foi o suco de laranja, graças ao Santo Taffarel. Agora era só ganhar dos donos da casa para concretizar o casamento.


Acontece que o final de tudo foi trágico. Desde o fato de ninguém saber o que aconteceu na tarde da final (foi a primeira vez que eu ligava e o mozão não atendia as ligações) até o Roberto Carlos batendo balãozinho, passando pelo gol daquele careca maldito que eu nunca tinha ouvido falar na vida, a porrada foi dolorida. Mas nada, nada foi pior do que tomar um gol do Petit. Me senti trocado pelo meu pior inimigo. Senti algo como chegar no baile e dar de cara com minha ex aos beijos com o jovem feioso da rua de baixo.

Foi o pior fim para uma relação que eu achei ser perfeita.

O lado bom de tudo isso é que descobri outros amores, como a Croácia e a Iugoslávia. Pena que tal qual meu coração, a Iugoslávia foi dividida em pedaços, e não me encantou mais. Quanto à Croácia, só fez barulho, bagunçou e foi embora, como todas as minhas paixões da vida real.

Sobre o Brasil, foi o último ato. Depois de sair do motel em 1998, nunca mais torci para os cordeirinhos da Nike e da CBF. Não torço para se dar bem, se tornou aquela ex que eu amei muito um dia. Não tenho a mínima pretensão de voltar, visto as decepções que sofri. A sutil diferença é que as ex namoradas eu não sei e nem quero saber do rumo que tomaram. Já a Seleção eu acho um barato quando perde, e espero que perca em todas as outras Copas que disputar.


Até tentei descobrir novos amores, mas após alugar quartos de motéis no Japão , na Coréia do Sul e na Alemanha, nunca mais senti vontade de deitar na cama redonda que a Copa me oferecia. Hoje, a Copa do Mundo se tornou basicamente um almoço na casa da família da namorada pra mim. Começa bem chato, no meio eu me acostumo, mas não vejo a hora que acabe. e quando acaba, não sinto a mínima falta.

Vamos aguardar para ver se a Rússia reacende essa chama dentro de mim.

Até a próxima!