AINDA É CEDO, MONTILLO!
por Zé Roberto Padilha
Zé Roberto Padilha (Foto: Guillermo Planel)
De um jogador do seu nível ético e profissional não era de esperar outra coisa: seguidamente impedido por contusões a cumprir o seu contrato, não acha correto continuar a receber e não jogar. E levado pela emoção atrelada a uma profissão praticada a céu, microfones e corneteiros abertos, reúne a família, a imprensa e comunica que vai encerrar a carreira. Tudo compreensível. Menos para o futebol. Ele não pode se dar o luxo de perder tão precocemente um talento como o seu.
Deus concede um dom a cada um de nós. E um tempo certo para suas criaturas o exercerem. Aos 33 anos, está provado, o homem alcança o máximo do seu desempenho físico e intelectual. Sabe aquela manga espada no auge? Pois bem, ela teria 33 anos se colhida no tempo certo. Portanto, não contrarie seus desígnios, cuide das suas contusões dentro do tempo manual de instruções da fisioterapia e não volte porque a sua consciência, mais o clamor das arquibancadas e o desejo do Jair Ventura assim o determine. Quem é do ramo sabe que a sua quinta contusão nada mais foi que conseqüência da primeira mal curada porque todo mundo lhe queria ver jogar.
Tinha a sua idade quando ia jogar a toalha também. Jogava no Americano, de Campos, e capengava nos treinamentos após minha quarta cirurgia no joelho esquerdo. Até que apareceu um anjo negro em minha vida: Professor Paulo Nascimento. No lugar de me levar para o campo, me conduzia ao parque aquático do clube. Meus companheiros vestiam shorts, eu a sunga. Calçavam chuteiras, eu o pé de pato. Não tinha mesmo mais nada a aprender nos treinamentos, a não ser produzir nos jogos, e a natação, aos nos condicionar sem impactar as articulações, me concedeu mais quatro anos de sobrevida. Comecei com 100, 200, e hoje, aos 65 anos, nado 2.000 metros, claro, sem aquela intensidade.
Se durante a semana algum companheiro torcia o nariz porque refrescava o treino e garotas bonitas se bronzeavam ao lado, e o corneteiro de plantão cochichava “Ué, o clube contratou um jogador ou um nadador?”, tudo desaparecia domingo quando voava em campo. Caixa ampliada, cabeça motivada com pneus e amortecedores preservados.
Vamos tentar? Tenho um filho botafoguense em casa e sei da alegria que teve com sua chegada e das lágrimas que compartilhou contigo na despedida. Tenho certeza que litros de lágrimas cheias de cloro e esperança vão lhe trazer de volta para o bem de quem ama o futebol arte. E com os exemplos de cidadão decente que sempre nos concedeu
Obs. Só tem um problema: sabe aquela confraternização concorrida de final de ano com amigo oculto? Esquece. Daqui pra frente será apenas entre você e o guardião da piscina. Mas é esta solidão semanal que lhe trará de volta à multidão que lhe aguarda de braços abertos no Engenhão.
NADA SERÁ COMO ANTES
por Marcos Vinicius Cabral
Depois da Copa da Espanha, em 1982, o futebol passou a ser encarado por resultados.
Aquela derrota para a Itália do até então ineficiente Paolo Rossi, não acertou apenas uma geração de grandes jogadores, mas expôs uma fratura difícil de cicatrizar, a partir de então, no futebol brasileiro.
Sendo assim, foi posto de lado o futebol arte, envolvente, de toque de bola e acima de tudo, o futebol que vencia e convencia a qualquer custo.
Se Telê Santana (teimoso à mineira) não fez súditos, aquela seleção não teria como servir de exemplo para as menos favorecidas em material humano.
Aquela derrota, fez um mal à saúde do futebol que até hoje, vive à base de encontrar substitutos para aqueles 11 exuberantes atletas e sangra em nós.
Passados 23 anos do tetracampeonato e 15 do pentacampeonato, os programas dos canais fechados não cansam de comemorar essas datas e a galera – que nem era nascida em 82 – vai na onda compartilhando nas redes sociais.
Com isso, cada vez mais me orgulho e tenho a plena consciência do quanto aquela seleção me fez feliz, apesar do insucesso naquele Mundial.
Sobretudo, para um povo carente de ídolos, ter Romário em 94 e Ronaldo Fenômeno em 2002 como tais não chega a soar estranho e nem nevrálgico.
Então, seleções de Dunga & Cia e Kleberson & Cia, vocês, mesmo tendo beijado aquelas taças, jamais, eu disse jamais, serão e representarão o que Waldir Perez, Leandro, Oscar Luizinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho e Éder representaram não só para mim mas para o mundo da bola.
Parabéns aos jogadores de 82, verdadeiros campeões!
DI STÉFANO SÓ GOSTAVA DO NILTON SANTOS
por André Felipe de Lima
“Di Stéfano ficou com ciúme porque teria o seu espaço dividido comigo. Nas primeiras semanas, ele mal me cumprimentava. Nos jogos, ele evitava me passar bolas. Porém, com o tempo, passamos a conversar”. Quem contou isso foi Didi, ídolo do futebol brasileiro, do Fluminense e do Botafogo. Vá lá, ídolo de todos nós, e sem revanchismo. Didi foi (ou pelo menos tentou) ser um bom parceiro do “Saeta Rubia” (como apelidaram Di Stéfano) no Real Madrid. Não conseguiu. Chiou quando voltou ao Brasil. Di Stéfano defendeu-se: “De princípio, duvidei que fosse Didi quem tivesse feito tais afirmativas. Se ele é honrado, devia por sua mão no coração e reconhecer que, se fracassou, não foi por minha culpa, nem de meus companheiros. Ele não resistiu ao ritmo do futebol espanhol, sua velocidade e seu estilo forte, além da marcação cerrada. Se Didi pensar bem, jamais poderá dizer que alguém o tratou mal. É um exemplo típico do fracasso de um jogador de grande classe. Como todos sabem, Didi foi contratado pelo Real Madrid como meia-armador. Por isso, pergunto: onde estão os passes que ele devia me dar? Até hoje ainda os espero… apresar de ter fracassado, Didi, no Real, não encontrou mais do que amizade, ajuda e companheirismo.”
A verdade é que Didi foi mesmo boicotado pelas estrelas do time. Guiomar, sua esposa e “advogada” nas causas mais dramáticas do casal, colocou a boca no mundo e, em alto e bom som, disse que Di Stéfano, Puskas e Cia. colocavam o marido de lado. Ela tinha razão. Até mesmo o ponta Canário – sim, o mesmo do América – foi acusado de “leva e traz”. Guiomar o acusava de minar Didi com as outras estrelas do Real, sobretudo o “Saeta”.
Di Stéfano, como a maioria dos argentinos quando falam do futebol brasileiro, torcia o nariz para os nossos craques. E isso sem a menor parcimônia. Logo após a Copa do Mundo de 1962, quando conquistamos o “bi”, ele “barrou” Pelé e Garrincha de um hipotético “maior time de todos os tempos”. Escalou no gol o conterrâneo portenho Julio Adolfo Cozzi. Meteu na lateral-direita outro argentino, o Carlos Sosa, fez de zagueiro central o inglês Billy Wright e escalou na lateral-esquerda o único brasileiro do time: Nilton Santos. No meio jogariam o húngaro Bosizk e o craque do River Plate Nestor Rossi. No ataque, a começar pela ponta-direita, o francês Kopa, o argentino Moreno, o paraguaio Arsenio Erico, Puskas e na canhota o também argentino Lostau. Como se vê, Stéfano jamais teve boa vontade com o nosso futebol. A única exceção foi Nilton Santos: “O melhor elogio que posso fazer-lhe é dizer que ele sabe jogar até de memória. Faz jus a tudo o que de bom têm dito sobre ele.”
O tempo passou, mas Didi e o sutilmente despeitado Di Stéfano, ambos longe um do outro, acertaram os ponteiros. Didi no Botafogo e ele, Di Stéfano, no Real. A rixa entre os dois foi superada.
Recuperei essas histórias para tentar aproximar o Di Stéfano um pouco mais da realidade histórica do futebol brasileiro, sobretudo para os mais jovens. Além desse episódio com o nosso Didi e da demonstração de apreço por Nilton Santos, o craque argentino naturalizado espanhol teve outra relação direta conosco. Ainda jovem, defendendo “La máquina” do River Plate, em 1948, perdeu para o Vasco da Gama a final do primeiro campeonato sul-americano de futebol. A derrota foi um baque para ele, que começou a perder espaço no time. Passou (de passagem) pelo Huracán e, em seguida, foi parar na liga pirata da Colômbia, país que chegou a defender. A ousadia de “Saeta Rubia” em jogar pela marginalizada liga colombiana quase custou-lhe a carreira. Por pouco não foi banido do futebol pela Fifa. Seria um crime da principal frente institucional da bola contra o futebol. Di Stéfano foi um craque, meus amigos. Mais que isso, um jogador extraordinário. Um dos maiores da história. Os madrilenos idolatram-no como se fosse o ídolo um deus. Não ousamos contrariá-los.
Exatamente há 92 anos, em um 4 de julho, em Barracas, bairro de Buenos Aires bem ao lado de Avellaneda, nasceu Di Stéfano. Desde menino foi um virtuoso da bola, igualmente a outros dois gênios argentinos: Maradona e Messi. Quando “Saeta”, em 1953, preparava-se para respirar novos ares, viu seu futebol valorizar-se. A liga pirata da Colômbia (acreditem!) fez bem ele. Dois monstros espanhóis o disputavam com unhas e dentes. Barcelona e Real Madrid quase deflagraram, sem exagero, a terceira guerra mundial. Mas a “batalha derradeira” foi vencida pelo Real, que o levou para o Santiago Bernabéu e fez de Di Stéfano um dos maiores nomes da história do futebol. Vestindo a famosa camisa branca, o portenho genial conquistou tudo. Conquistou o mundo. Di Stéfano retribuiu ao clube que o tornou ídolo e fez do Real Madrid do final da década de 1950 o maior time em todos os tempos, como qualificam os mais renomados cronistas esportivos e ontem e da atualidade.
Com o Real, “Saeta” ostenta a impressionante marca de 418 gols em 510 jogos e uma penca de títulos que nenhum outro jogador jamais conquistou defendendo um único time. Somente Pelé o superou em todos os quesitos. Di Stéfano levantou cinco Taças dos Campeões (a atual Liga dos Campeões da Uefa) e uma Taça Intercontinental (o hoje Mundial de Clubes da Fifa) e conquistou incríveis oito campeonatos espanhóis. Picuinha à parte com nossos maiores ídolos, “Saeta Rubia” foi, indiscutivelmente, um gênio.
DEPOIMENTO/JOÃO SALDANHA
por Mário Moreira
Encontrei-me com João Saldanha exatos 25 anos atrás, numa manhã de sexta-feira, no final de maio de 1989. Eu havia agendado com ele uma entrevista para minha monografia de fim de curso na PUC do Rio, cujo título era “A paixão clubística no comentário esportivo”.
Evidentemente, tratando-se do João Sem Medo – um dos maiores, se não o maior, nome da história da crônica esportiva brasileira -, não faria sentido restringir as perguntas a esse tema específico. Até porque a monografia envolvia outros tópicos, como a importância do comentarista, a linguagem utilizada nas análises, a diferença entre comentar futebol neste ou naquele meio de comunicação, enfim, questões pertinentes a um trabalho acadêmico daquela natureza. E o papo acabou descambando para o futebol propriamente dito, incluindo a polêmica passagem do jornalista pela seleção brasileira, e outros assuntos.
É essa entrevista, ainda inédita nos meios de comunicação, que o Jornal da ABI publica agora, aproveitando a realização da Copa do Mundo no Brasil. A conversa ocorreu no apartamento de Saldanha, no Leblon. Pouco mais de um ano depois, em 12 de julho de 1990, o grande jornalista morreria em Roma, onde participara, já muito doente, da cobertura do Mundial da Itália, encerrado quatro dias antes. Por sinal, o estado de saúde de João, então prestes a completar 72 anos, já dava mostras evidentes de deterioração naquela manhã de maio: ao longo da entrevista, ele sofreu vários acessos de uma tosse avassaladora, sintoma da grave insuficiência pulmonar que acabaria por levá-lo à morte.
Uma entrevista feita há 28 anos contém trechos inevitavelmente datados, como o que aborda a crise política na China que resultaria, dali a alguns dias, no Massacre da Praça da Paz Celestial. Por questões óbvias, não há menção à internet, que só chegaria ao Brasil seis anos depois. E Saldanha se mostra um tanto confuso em alguns momentos, como quando mistura datas ao recordar a doença e a morte do ex-presidente Costa e Silva, na época em que treinava a seleção para o Mundial de 1970. Mas o cerne do pensamento de João Saldanha sobre diversos assuntos – futebol, jornalismo, política, o Brasil – e sua verve inigualável estão lá.
Tive a sorte de encontrar a fita cassete com a entrevista ainda em muito boas condições. Lamentavelmente, 14 minutos estão incompreensíveis – já na parte final da conversa, João trouxe do banheiro um barbeador elétrico e começou a se barbear enquanto falava. Isso interferiu na gravação, e um chiado forte se sobrepôs ao diálogo. Uma pena, porque foi o trecho em que ele falava das táticas do futebol. A maior parte da conversa, porém, incluindo o final, está preservada
Como você começou no jornalismo esportivo?
João Saldanha – Eu já trabalhava em jornal há muito tempo. Como era ligado a esporte – fui treinador do Botafogo, e tal -, o Samuel Wainer pediu pra fazer esporte também.
Isso em que época foi?
João Saldanha – No começo de 60.
Você só começou no esporte em 1960?
João Saldanha – No jornalismo esportivo, foi a partir de 60. Eu trabalhava na Rádio Guanabara, e o Samuel Wainer, pra quem eu já havia trabalhado como jornalista comum, pediu pra fazer esporte e eu fiz. E estou até hoje.
Quando você foi trabalhar em jornalismo esportivo, já foi como comentarista?
João Saldanha – Já, já. Eu fazia coluna na Última Hora. E era comentarista de uma rádio.
Em que rádio você trabalhava?
João Saldanha – Era a Rádio Guanabara. Era uma rádio que tinha… a melhor equipe. Todos os cobras de locutores: (Jorge) Cúri, (Oduvaldo) Cozzi, Doalcey Camargo, tudo era de lá.
O fato de você ter sido jogador e depois técnico foi um bom embasamento?
João Saldanha – Claro! Não é orgulho nem nada, mas o que escrevem de besteira alguns coleguinhas por nunca terem… É uma barbaridade! Eles podiam estar numa seção de polícia…. Até escrevem bem…
Você acha que é fácil entender de futebol?
João Saldanha – É, relativamente é, porque o futebol não tem grandes mistérios nem grandes modificações.
Mas mesmo assim há comentaristas que não entendem?
João Saldanha – Nada. Como eu não conheço as particularidades do basquete, do vôlei – eu não conheço as leis! Eles não conhecem o jogo, as leis do desenvolvimento do jogo, então eles não podem conhecer! Claro que tem alguns que conhecem. Mas a maioria é uma calamidade! Eles chamam de quarto-zagueiro. (Saldanha estica quatro dedos da mão para mostrar que a denominação não faz sentido.) Qual é o quarto-zagueiro: um, dois, três, quatro. (Aponta os dedos.) Seria esse? Ou seria esse? Só porque, historicamente, foi o último a descer, então ficou sendo o quarto, porque já tinha três…. O cara que joga na frente dos zagueiros eles chamam de cabeça-de-área. Outro dia o Torres, zagueiro do Fluminense: “Não, porque eu jogo melhor de quarto-zagueiro que de zagueiro central”. (Mostra de novo os dedos.) Onde é o zagueiro central? Porra, geometricamente não tem senso: ou é este ou é este. Se o jogo vem por aqui, este é que faz cobertura. Se vier por aqui, é este. Mas eles não entendem isso. O futebol brasileiro está atrasado uns 30 ou 40 anos.
Os comentaristas esportivos têm a função de auxiliar na evolução do jogo?
João Saldanha – E na involução também.
Na involução também?
João Saldanha – Claro. Pelo total desconhecimento. Teve jogo ontem, nenhum deles analisa o que é que houve: houve pura e simplesmente um roubo! E o time do Vasco, o que é está acontecendo com o time do Vasco? É a seleção, porra! O Geovani tá vendendo (o meia vascaíno estava indo para o Bologna). Então, porra, o Geovani tem um milhão e tanto de dólares pra receber, ele vai meter a perna contra o Cabofriense? Que é que há? Não vai nem discutir. Então fica discutindo: “Porque não sei o quê, eu fui dominar, ela fugiu”. Fugiu o caralho! Ele não foi (na bola)! Ele não devia era ter jogado, tá certo! Aí vem uma mulher hoje que escreve uma besteira!… “Não há lei para esse negócio! Porque o jogador, porque o Banco Central….” Ora, porra, a lei da escravatura acabou, com a Lei Áurea, há cem anos! Então é claro que não há lei de venda de jogador! Não existe. A Lei do Passe é uma lei de relacionamento esportivo entre clubes. Uma compensação.
Essa questão do cabeça-de-área, que você combate muito….
João Saldanha – Isso não existe, pô! Não existe, não. Isso existiu na década de 30. Os italianos é que usavam o Andreolo na frente dos quatro zagueiros: Serantoni, Foni, Rava e Locatelli. E o Andreolo dava o primeiro combate. Mas isso prende e obriga…. Eles jogavam com dois meias recuados. Então eles faziam um meio-campo de três. Atualmente, como o meio-campo é mais adiantado, essa função é burra! O adversário tem dois homens aqui e você prende cinco atrás? Isso é um troço de uma burrice! E de um primarismo muito grande do treinador brasileiro. Nós estamos atrasados… Por isso é que está todo mundo encostando na gente.
Por isso é que o Brasil faz jogo duro com qualquer um….
João Saldanha – Com qualquer um. Com a Venezuela ou com a Inglaterra. E era fácil, a Venezuela a gente passava por cima. Chile, essas porras…
Então a crônica esportiva tem realmente essa função…
João Saldanha – Evidente, pô! É como o jornalismo brasileiro. “Tropas ampliam a situação na China…” Porra, não tem… Eu trabalhei na China quase dois anos. A China nunca teve um governo central lá, tem vários governos. Tomava conta a dinastia Ming, lá do sul, a outra lá do norte, a dinastia Manchu…. Outro dia apareceu um filme, “O Último Imperador de Pequim” (na verdade, o filme se chama apenas “O Último Imperador”). O cara não foi imperador da China porra nenhuma, foi imperador manchu! Foi metido lá numa dessas tentativas de negócio, pega o rei, bota lá, tira… E passa um filme daqueles… Puta que pariu!… Filme mentiroso, do começo ao fim, do (Bernardo) Bertolucci… Tá aqui a manchete… (Mostra o jornal do dia) O jornalismo brasileiro é esse, o que é que você quer? “Tropas ampliam a situação na China.” Notícias feitas aí, em Nova York, aqui… Ou então aquelas notícias assim: “Viajantes que viram não sei de onde…”. Tomar no cu!
E, para o público, qual a importância do comentarista esportivo? Ele é fundamental para o público entender o jogo?
João Saldanha – Eu não sei… Olha, acho que a gente fala demais. Jornalismo esportivo só existe aqui, na Argentina, parecido. Em outras partes do mundo é um trocinho pequeno…
Na Itália tem bastante.
João Saldanha – É parecido. Tuttosport, Gazzetta dello Sport… Na Itália é na base dos paparazzi, na base do escândalo. Aqui a seção de Esporte de um jornal é mais na base de escândalo da vida esportiva do jogador, do treinador, de quem está no meio, do que propriamente do jogo.
Comentários mesmo bem feitos sobre uma partida…
João Saldanha – Eles (comentaristas) não sabem o que está acontecendo, porra! Eles sabem analisar resultado, mas a partida… não têm condição! Então eles ficam impondo místicas, impondo uma porrada de besteiras… Aliás, isso faz parte do nosso jornalismo.
Mística, você está falando de que tipo de coisa?
João Saldanha – “O Botafogo dá azar”, “O Vasco dá sorte”…
Como você vê essas frases? Por exemplo, “Há coisas que só acontecem ao Botafogo”?
João Saldanha – Isso é palhaçada. Que coisas que só acontecem? Há 20 anos o Botafogo vendeu até as balizas, quer o quê? Entendeu? Fica que nem um time de rua, um time de esquina. Pega um quadro: amanhã todo mundo no campo tal… Pronto, não tem nem sede! Porra, “Há coisas que só acontecem ao Botafogo”! Um negócio filho da puta de sujo!
Aqui fizeram o Maracanã, os clubes não estão crescendo: o Flamengo não tem campo, o Botafogo não tem campo, o Fluminense não tem campo. Lá no Rio Grande do Sul os clubes fizeram os campos deles, em São Paulo também. Em Curitiba também, então os clubes tiveram que crescer pelo próprio mérito deles. Aqui, não, os clubes involuíram. O Flamengo tem um barraco aí, uma merda de campo. O Fluminense é um campo cortado pela metade, porque abriu uma rua (a Pinheiro Machado) e cortou o campo. E o Botafogo vendeu, o que é que você quer? Que o futebol carioca evolua? Como? Se a base, que são os clubes, mesmo, eles não…. Então tem esses clubes de bicheiro por aí. Parece que o Carlinhos Maracanã vai mudar pra não sei que clube….O cara torce por um clube, porque resolveu torcer – influência do pai, da mãe, de um tio, sei lá. Mas esses caras mudam de clube. Era Bangu, daqui a pouco é Vasco, daqui a pouco….
O Carlinhos Maracanã já esteve em dois ou três clubes.
João Saldanha – E esse outro, o Luizinho Drummond. O negócio deles é que o clube de futebol é uma espécie de habeas corpus pra eles, pro jogo, pra outros negócios deles, sei lá.
E outras frases como “Quem tem um não tem nada”, “Quem não faz leva”? Isso existe mesmo?
João Saldanha – Não. São frases típicas que tem em qualquer setor de atividade e no futebol tem também. “Quem não faz leva” foi o Gentil Cardoso que disse. Tem até no Ceará uma sociedade que coleciona isso.
Porque essas frases não são necessariamente verdadeiras, não é? Às vezes quem não faz também não leva…
João Saldanha – Não. Por exemplo: “Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária não perdia pra ninguém” é minha. Porque nós fomos jogar lá e tinha um ex-jogador, aliás muito bom, que tomou um porre e matou um cara. Bestamente. Fugiu, mas depois pegaram ele. Um tal de Paulista. Jogava pra cacete. Joguei com ele na praia e tal. E nós fomos jogar lá. O seu Carlito (Carlito Rocha, lendário e folclórico dirigente do Botafogo na fase áurea do clube) levou o time lá. Eu já estava até parando, fui meio de sacanagem. Encontrei o Paulista e ele disse: “Pois é, estou concentrado aqui há cinco anos pra esse jogo. Não vou dar mole não”. Daí eu saquei (a idéia da frase). A do Campeonato Baiano também: “Se macumba valesse, o Campeonato Baiano empatava”. Porque a Bahia é a terra da macumba, né? Lá todo mundo faz macumba, então terminava empatado. E tenho milhões de frases. “Zona do agrião”…
É sua também?
João Saldanha – Também. Foi de um português, seu Manuel: (fazendo sotaque de português) “Onde vai o agrião, o anão pula por cima e está certo”. Então surgem, não fui eu que inventei, é histórico. O agrião, sendo da mesma espécia agrícola, qualquer coisa que você jogar ali, milho, por exemplo, o agrião, tumpt! No milho você pode jogar outras coisas e nasce; mas o agrião come tudo que estiver ali. Não só agrião, tem outras espécies que fazem isso.
O fato de você ter a sua vida muito ligada ao Botafogo, como jogador e treinador, na hora comentar um jogo do clube…
João Saldanha – Não, eu já estou vacinado, nem tô ligando. Geralmente eu estou torcendo para o time que está jogando melhor.
Ah, então você torce?
João Saldanha – Instintivamente, você vê um jogador fazer uma jogada bonita, você quer ver esse, não aquele. De repente é o outro lado. Isso eu estou acostumado. O fato de eu nunca ter sido de outro clube – o Botafogo foi mais ou menos contingência, eu já estava lá dentro, jogava, até tive uma lesão violenta, machuquei uma perna. Eu trabalhava e não tinha nenhum interesse em futebol. Futebol era só brincadeira e tal, a turma toda.
Mas você não é botafoguense de coração?
João Saldanha – Claro que sou! Por isso é que sempre participei só do Botafogo. Eu nunca quis ser nem jogador nem treinador em outro lugar porque já ia esculhambar minha vida, entende? Minha vida particular. Foi em 63, se não me engano, tive uma proposta muito boa para treinar o Juventus, na Itália. Foi o commendatore Girolla que veio aqui fazer. Outra vez foi o Corinthians. Eu estava no Maracanã, num jogo da Rádio Globo, acho, e vieram dois caras do Corinthians, oferecendo o diabo! Dez vezes mais do que eu ganhava. Eu, não… Depois que você entra nessa roda vida não sai mais. E esses treinadores que ficam num negócio que eu não sei fazer: “Eles perderam, nós empatamos, eu ganhei.” É o verbo que eles conjugam. Mas isso por uma necessidade de garantir emprego. Ontem o Vasco perdeu. O Sérgio Cosme (então técnico do time) já está… Porra, ele é o mesmo de anteontem, que serviu pro Vasco há três meses atrás!
Mas depois você voltou a ser treinador…
João Saldanha – Na seleção! Mas na seleção o Havelange veio… Foi lá em casa, num dia de Natal, em 68. Ou véspera, não sei…
Você não estava treinando clube nenhum?
João Saldanha – Não, eu era comentarista da Rádio Globo, TV Globo. Escrevia no Globo…. Não me lembro. Não! Eu era da Rádio Nacional, escrevia na Última Hora. Trabalhava na TV Globo. Era comentarista da TV Globo. Ele convidou. E na época, e tendo, como a gente tinha, um ano pra preparar o time, e já tendo o time formado, pô!… Naquele tempo, tinha um campeonato em que jogavam 12 clubes: dois do Rio Grande, quatro do Rio, quatro de São Paulo e dois de Minas. Tava ali tudo que era jogador do Brasil. E não tinha nenhum fora! Eu chamei e no dia seguinte estavam todos lá, na sede da CBD (antiga Confederação Brasileira de Desportos). Não tinha problema. Fomos pro México dois meses antes, o que era uma covardia. Eles me puseram pra fora da seleção um mês antes. Não, um mês não… Assim da Copa (faz um gesto com os dedos querendo dizer pouco tempo)… quatro dias antes de embarcar. Embarcava dia 22 e eles….
Foi por causa daquela história do Médici (o então general-presidente)?
João Saldanha – Foi.
Ou aquilo foi só pretexto?
João Saldanha – Não, não. Do governo! Do governo, pô! Eu sempre fui contra o governo, chamava eles de bandidos.
Aquela história do ministério…
João Saldanha – Não, aquilo já foi de sacanagem, eu já sabia que… Uns três meses antes o pessoal mais ligado à área do governo…. Porque mudou, entendeu? O Costa e Silva estava fazendo umas aberturas. Lembra?, teve a Passeata dos Cem Mil. Porra, eu fui diretor da UNE! Eu fugi do Brasil em 49 num tiroteio que houve na UNE. Eu fui condenado. E o Getúlio (Vargas) é que anistiou a gente. Fiquei seis anos fora, cinco anos fora. Se eu venho aqui… Quer dizer, eu vim, vim ver a Copa do Mundo (de 50), e tal, mas vim com documentos, e tudo, fajutos. Não dava. Então o Costa e Silva, quando chamou, ele queria fazer uma abertura. Queria abrir pro, vamos chamar, pro populismo, pra esquerda, a quem eu era intimamente ligado. Depois deram um golpe nele, lembra? Porra, empacotaram ele, meteram ele numa geladeira, fizeram o AI-5, ele assinou com a mão fria. Já nem… Dizem até que ele não tava mais vivo, sei lá. Eu creio que não, porque o (general) Eloy Menezes (então presidente do CND, Conselho Nacional de Desportos) foi no Maracanã no dia do jogo do Paraguai (31 de agosto de 1969, pelas eliminatórias da Copa) e disse “Morreu o presidente, eu vim agora do hospital” – que era ali ao lado do Maracanã, o Hospital Central do Exército. Faz um minuto de silêncio, não faz? Sei lá, pô! Mas isso não é comigo, é com o juiz. Tava eu, Antônio do Passo (diretor da CBD), o Russo (Adolpho Milman, supervisor da seleção), Mário Américo (massagista), todo mundo. Eu disse: “Ó, vai lá falar com o juiz”. Ele aí foi lá. Aí não teve um minuto de silêncio. (Oficialmente, Costa e Silva morreu em 17 de dezembro de 69; o AI-5 fora assinado pelo próprio presidente um ano antes, em 13 de dezembro de 68, muito antes de ele adoecer.)
A multidão também não devia saber, né?
João Saldanha – Não, soube. Todo o Brasil, o Rio de Janeiro inteiro soube que o Costa e Silva tinha morrido. Esse troço extravasa. E ele (Eloy Menezes) não fez mistério nenhum. Aí eles se encolheram. Foi no dia do jogo do Paraguai, a segunda partida.
Aquele 1 a 0, do gol do Pelé?
João Saldanha – Foi… que ele disse que o Costa e Silva tinha morrido. Mas o Costa e Silva só foi enterrado em 14 de novembro. Eles puseram ele numa geladeira e ficaram discutindo, entendeu? Aí elegeram… Elegeram, não, resolveram num triunvirato (os ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica), lembra? Mas o Costa e Silva tava lá assumido, porra! Aí em novembro enterraram o Costa e Silva e o tal triunvirato tava no poder. Aí veio o Médici. Quando veio o Médici, lá o pessoal da Globo, todo mundo: “Pô, você não emplaca dez dias. Isso é extrema direita.” Eu dizia “Foda-se, porra, quero que morra!”. Aí eles começaram com onda… O Médici disse: “Ah, eu gostaria de ver o Dario nesse time”, eu digo “Nem você nunca viu o Dario” – eu disse pra ele em Porto Alegre isso. Na televisão. “Você nunca viu o Dario jogar. E é fácil de provar. Eu provo onde você tava e onde tava o Dario. Então isso é onda. Agora, organiza o teu ministério” – porque ele era novinho – “que eu vou arrumar o meu time”. Porra, deu uma merda filha da puta. Bom… eles não queriam porque eu era de esquerda, preso como de esquerda, membro do Partido Comunista, tudo isso, porra. Tudo eu sabia e tava cagando pra isso. Aí o Antônio do Passo: “Quem é que eu pego?”. Eu digo: “Pega o Dino Sani ou o Zagallo, um dos dois. O Zagallo conhece esse time quase todo, trabalhou no Botafogo…”
O Zagallo estava no Botafogo na época, né?
João Saldanha – Não sei se tava no Botafogo… Não me lembro.
Ele estava em começo de carreira como técnico.
João Saldanha – Não, ele já tinha sido técnico do Botafogo em 68, 60 e tantos…
Pois é, mas relativamente….
João Saldanha – Não, já tinha uns cinco anos. Ou mais, não sei. E o Dino Sani, que era o olheiro de São Paulo. Nós tínhamos 12 ou 13 de São Paulo e o Dino nos informava. Aí vieram e o Dino disse: “O Dario não entra no meu time”, mandaram embora.
Ah, o Dino também falou isso?
João Saldanha – Foi, tem fotografia, o Dino chegou no avião e coisa, foi lá na CDB, “Vai ser Dino, Dino é o técnico, e tal”, o Dino disse “Não. O Dario não entra no meu time”. Então mandaram ele embora. Ai chamaram o Zagallo e condicionaram: “O Dario tem que entrar porque tem que agradar ao homem, precisamos de dinheiro, o caralho”. E puseram, e o Dario foi e, coitado, nem no banco…
Foi só pra cumprir essa condição…
João Saldanha – E ele, inclusive, não merecia isso. Dario era um bom jogador.
Era um goleador, né?
João Saldanha – Mais ou menos… Fazia os seus gols, mas não era assim nenhum absurdo. Era um bom jogador. Mas, porra, isso tinha às dúzias aqui no Brasil naquela época. Por exemplo, tinha o Edu…
O Eduzinho (irmão de Zico)?
João Saldanha – É. A mãe do Edu até hoje não me perdoa de eu não ter chamado, Eu digo: “Vou chamar no lugar de quem? Do Pelé, do Tostão, do Gérson ou do Rivelino?” Quem é que eu ia tirar?
Outro de que falam muito é o Dirceu Lopes, que ele era craque…
João Saldanha – Não, mas o Dirceu Lopes eu chamei. Foi um troço curioso: o Dirceu Lopes vestia a camisa amarela, ficava amarelo.
Amarelava…
João Saldanha – Porra, mas ele ficava… (Faz gesto de quem está sufocando.) Não conseguia nem travar a bola, impressionante! Nunca vi um troço assim… E ele era um cracaço, era o cobra do Cruzeiro. Era mais que o Tostão talvez…
Ah, é?
João Saldanha – Não sei, tinha mais cartaz. Do mesmo nível. Mas o Tostão era mais jogador… Porra, provou. Uma personalidade, um puta jogador…
Quer dizer então que você…
João Saldanha – Então eu fui, topei, cabou, foda-se! E nunca mais quis saber de clube nenhum.
Aí você voltou à sua vida de jornalista.
João Saldanha – É, prefiro a vida modesta, de jornalista, você ganha… Dá pra viver e tal, mas…
Está fazendo o que gosta…
João Saldanha – É, e nem me chateio, vão tomar no cu… Você vê: o Sérgio Cosme. Há três meses atrás tava glorificado, endeusado. E agora ele não é mais o mesmo? Essa matéria que está aqui, ó, eu já escrevi há quatro dias. “Geovani saiu.” Foi do outro jogo, mas serve pra esse de ontem.
Qual a grande diferença entre comentar um jogo para a televisão, o rádio e escrever no jornal?
João Saldanha – A diferença é que, no rádio, se a bola saiu, você tem que dizer: “A bola saiu pela linha de fundo”. Na televisão tem uns caras que dizem (rindo) “Bola pela linha de fundo”. Não é possível… O cara tá vendo.
Sim, mas para comentar.
João Saldanha – Eu acho que o comentário na televisão tem que ser muito pequeno, curtinho. Porque o resto o cara tá vendo. E no rádio não. No rádio você tem que explicar, procurar transmitir a imagem.
E explicação de tática na televisão, você acha que o espectador entende bem?
João Saldanha – Alguns, alguns… Não muitos. Mas sempre convém, porque o erro começa a se repetir e o cara aí percebe. Entendeu?
Mas mesmo assim tem que dar um toque?
João Saldanha – Tem. Você orienta ele: “O Fulano, o lateral não tá marcando”. Pronto. Esse Eduardo, (lateral-esquerdo) do Fluminense. É uma rua por ali. Qualquer time ganha do Fluminense em cima dele.
E em jornal?
João Saldanha – Não, em jornal… Eu não sei, eu faço diferente, eu escrevo mil coisas. Saio fora do troço, porque… Às vezes o cara lasca “Pô, e tal, amanhã tem Fla-Flu…”. Eu digo foda-se, pô, tem Fla-Flu há 30 anos! Ou 50 anos. Eu escrevo outro troço. A história do Geovani tá escrita há cinco dias, quatro ou cinco dias que eu entreguei lá. Entreguei domingo, rigorosamente no domingo. Domingo eu escrevi a matéria e entreguei. Minha folga, pra não ir lá segunda nem terça. E calhou que eles puseram o Geovani outra vez, que a burrice vai a tal ponto… que isso é uma burrice coletiva. Claro, o jogador tá contratado, vai receber não sei quantos mil dólares… Mil, milhão, não sei.
Muito dinheiro, de qualquer forma…
João Saldanha – Claro. Ele tá com o pensamento e a preocupação toda voltada… O Bebeto também, porra. (O atacante estava trocando o Flamengo pelo Vasco.)
Até inconscientemente também, não é? Mesmo que o cara esteja concentrado…
João Saldanha – Evidente, porra. Eles são uns meninos, de um modo geral, pobres. De repente, isso é como tirar uma loteria. Não vai receber? Qualquer transação dessas na Europa, em qualquer parte, o cara vai embora no dia seguinte. Aqui, não. “Não, porque tem que jogar, porque está na seleção.” Ficam fazendo essa frescura de seleção… Que isso! É uma merda de time. E daí?, isso é um time de camisa amarela e mais nada, com meia dúzia de malandros em cima pra ganhar dinheiro. Vende pra televisão, pros anúncios, pro cigarro, vende pra todo mundo. Não precisa nem ir gente no campo. Tá vendido o jogo. Esse jogo com Portugal não vai ser transmitido pro Rio, mas vai pra fora, pra todo o Brasil. (O amistoso, em 8 de junho de 1989, foi vencido pelo Brasil por 4 a 0.)
Parece que a CBF tem que ter dinheiro pra poder pagar os salários do jogadores que atuam na Europa.
João Saldanha – Tudo bem, mas a CBF quer os jogadores o ano inteiro! Então ela tem que pagar aos jogadores.
Mas pra pagar tem que ter o dinheiro.
João Saldanha – É evidente. Então deixa eles lá, não convoca, ué! Pra que convocar? Se tem que pagar. Vira uma fortuna. Quando eu convoquei os jogadores, não tinha nenhum fora, então, moleza. Nem dinheiro tinha, a gente se concentrava no campo do Flamengo. Concentrava, não, dormia na véspera. Vinte e tantos caras num três quartos vagabundo. Cinco, seis em cada quarto, tudo empilhado.
Por que naquela época os jogadores não saíam tanto do país?
João Saldanha – Como assim? Saíam, sim.
Mas bem menos.
João Saldanha – Não, houve fases. No começo de 30, com o profissionalismo, que aqui não tinha, teve (jogador brasileiro) na Argentina, Uruguai, Itália, Espanha e Portugal, saiu todo mundo. Aí voltaram. Foi quando o câmbio equilibrou. Por exemplo, o Didi: ia pro Valencia, em 56. Fui eu que, lá no Botafogo, propus: nossa folha era toda – os 30 jogadores que tinha lá, 20 e tantos – dava 425 mil (cruzeiros). O Didi ganhava 28 ou 30. Vinte e oito. O Valencia ofereceu a ele 80 mil por mês. Então nós oferecemos 70. Pra nós, virava mais 50 contos. Nem isso, 40. Não era dinheiro muito… Não pesava. A gente podia. Então nós pagamos ao Didi 70 e ele ficou aqui! Pra que ir pra Europa, porra? Ambiente estranho, terra estranha, tudo estranho. Ficou aqui. Gratificações eram iguais. Nossas relações de câmbio eram estáveis. Eu me lembro que eu ganhava na Última Hora, quando eu trabalhava lá, o mesmo ordenado durante anos. Tinha um aumentinho às vezes…
Os preços também se mantinham mais ou menos.
João Saldanha – Totalmente. O aluguel… “Quanto você paga de aluguel?” “Mil.” Pronto. Hoje, ninguém sabe. Não tem nenhum valor, nada. Então, porra. A situação lá fora é estável. Eu tenho uma filha que mora na Europa. Porra, os preços lá são os mesmos de três anos atrás. Não alteraram.
E aí o grande êxodo dos nossos jogadores começou justamente na década de 80…
João Saldanha – Inflação. Inflação. Então aí…
Levam até os que não são nem tão bons.
João Saldanha – Exato. Quer ver? Por exemplo, jogadores como Pelé, Tostão, Garrincha, eles não ganharam dinheiro. Eles ganhavam aqui um ordenado, e tal, agora, essas fortunas… O Pelé não ganhou nenhum níquel do futebol. Ele ganhava um ordenado mixo. Quer dizer, um bom, mas… Agora é que surgiu esse troço de participação no passe. Os europeus não têm isso que os sul-americanos têm.
Os 15% sobre o valor do passe?
João Saldanha – Não é bem 15. O cara diz “Não vou, só vou se me der 30”, aí o clube dá, porra, o clube quer o dinheiro. Quem quer o dinheiro são os clubes, eles querem os dólares pros negócios deles. E o que tem de pilantra no meio do negócio… Num país pobre como onde nós estamos…
Como comentarista, como você procura se manter atualizado com as coisas do futebol, com o que está acontecendo lá fora… Costuma ler revistas estrangeiras?
João Saldanha – Não, não. Eu viajo muito. Por exemplo, agora, daqui a uma semana, eu vou lá pra Dinamarca (onde o Brasil jogaria um amistoso e levaria de 4 a 0 da seleção da casa). Este ano eu já estive na Europa, já estive no Peru… Sei lá onde mais… E no Brasil inteiro. E a imprensa esportiva brasileira se caracteriza por dar tudo. Pô, você está la França, pra saber o resultado de um Fla-Flu você vai saber 15 dias depois, uma semana depois, quando o Jornal do Brasil chegar lá na Varig. Ou então bate um telefone pra cá. Agora, nós damos tudo. Por exemplo, o chefe lá do Jornal do Brasil no domingo – eu até ia escrever essa matéria – tava atrás do resultado de um time de Ponta Porã, que não tinha. E os apuradores, a minhoca-press, como a gente chama, porra, eles sabem tudo. A gente pergunta “Onde é que pega a rádio não sei que do Chile?” Eles : “Aqui! Rádio Valparaíso!”. Eles se ligam com radioamador, os caras da Sport Press daí a pouco telefonam. São gozadíssimos esses caras, são tarados! Eles sabem tudo de onda curta, onda média, o caralho! “Você vai achar a rádio, mas só pega ela até meio-dia…” Tudo eles sabem. Impressionante! Porra, então é sopa, você pergunta prum cara desses. Você quer ver que loucura que é? Outro dia teve um jogo… do Napoli. O Careca fez um gol, o Alemão… “Vitória brasileira na Itália”. Ah, porra, o napolitano tá cagando pra onde é que o cara nasceu! Tá torcendo lá pro time dele! “Vitória brasileira na Itália!” Quer dizer, um troço ufanista, um troço de Hino Nacional, positivista, “Ordem e Progresso”, essas merdas que infelizmente o Brasil cultiva e se crê grande! O Basil é talvez o segundo país mais atrasado do mundo.
Qual seria o primeiro?
João Saldanha – A Índia, porque tem mais gente, o que é uma merda também. A Índia fede, e o Brasil começa a feder. Copacabana fede! E o Brasil também. (empostando a voz) “Brasil! Brasil!” Cultivaram o ufanismo, principalmente agora na fase da ditadura, “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Porra, ontem eu tava vendo na televisão, o cara… Pagando a passagem, não fica um aqui! Porra, você vai nessas embaixadas, tem milhares…
Você, quando está comentando uma partida de futebol, fala para pessoas das mais diversas classes sociais e níveis intelectuais. Como se comunicar bem com todas?
João Saldanha – A grande maioria é classe média empobrecida. O resto não está nem aí. Acho eu.
Você acha que uma pessoa rica não escuta?
João Saldanha – Não, ouve. Mas um ou outro.
Mas aí, na hora de comentar, você tem a preocupação de adequar a linguagem a todos?
João Saldanha – Não, nenhuma. Eu vou falando e… A linguagem que a gente tem é a que a gente adquire através do dia a dia.
Não precisa ficar pensando “Se eu disser essa palavra…”
João Saldanha – Não, não, eu nem penso.
Você falou que acompanha os resultados do exterior, na medida do possível…
João Saldanha – Alguns. Por exemplo, se você perguntar quem foi o campeão inglês, sabe que eu não sei te dizer? Foi o…. Sabe que eu não sei? Eu antes sabia, porque tinha Campeonato Inglês sempre (no noticiário), agora não tem tido. Acho que o campeão inglês foi um time de Liverpool… O Liverpool mesmo… É, acho que foi… Mas não vi. (Na temporada recém-concluída, o campeão tinha sido o Arsenal; o Liverpool foi vice.)
Aí você fica sabendo o resultado, mas em termos de novas táticas talvez…
João Saldanha – Não, mas as táticas não mudam muito. Rigorosamente, (…)
(Toca a campainha. Saldanha grita “Entra!” e se levanta para receber o filho Joãozinho. Depois vai até o banheiro, pega um barbeador elétrico, volta e começa a se barbear enquanto dá a entrevista. Passam-se 14 minutos, até que ele desliga o aparelho.)
Pra terminar: o Brasil na Copa no ano que vem, tem boas chances?
João Saldanha – Se a gente for à Copa… Tem que disputar com o Chile (as eliminatórias).
Você acha que vai ser…
João Saldanha – É duro.
Mas passa, né?
João Saldanha – Palavra de honra que eu não sei. Tem que ganhar do Chile e da Venezuela. As últimas três partidas com o Chile nós perdemos: 4 a 0, 2 a 0… Não, uma empatou: 0 a 0. Venezuela… Esse é mais fraco. Sempre nós ganhamos da Venezuela de seis, oito… Porra, agora é jogo duro, 2 a 1, 1 a 1, o que é que há?
Classificando, o Brasil na Copa?
João Saldanha – O Brasil tem a mesma chance de mais uns cinco ou seis. Quatro ou cinco. Alemanha, Itália, Inglaterra, Espanha. Tá todo mundo sempre lá. (O Brasil acabou eliminado nas oitavas-de-final pela Argentina. Os quatro primeiros colocados foram, pela ordem: Alemanha Ocidental, Argentina, Itália e Inglaterra.)
Aí é briga de foice.
João Saldanha – Aí depende muito… De tabela… Por exemplo, time que joga duas prorrogações, uma prorrogação, ainda não ganhou nenhuma Copa. Nenhuma. Por quê? Isso, porra, desde 1930.
A Bélgica, na última Copa, jogou duas ou três prorrogações.
João Saldanha – É, a Bélgica foi garfando, né? Eles foram muito protegidos. Mas acabou… O time deles não era bom… Chegaram em terceiro, quarto, sei lá. (Na partida de oitavas-de-final contra a União Soviética, os belgas venceram na prorogação por 4 a 3, após empate em 2 a 2 no tempo normal; naqueles tempos pré-tira-teima, dois gols da Bélgica pareceram ter sido feitos em claro impedimento, mas é impossível afirmar com certeza.)
A França jogou com o Brasil aquele jogo duríssimo, chegou na Alemanha… (Os franceses venceram os brasileiros nos pênaltis, após empate em 1 a 1; no jogo seguinte, pelas semifinais, perderam de 2 a 0 para os alemães.)
João Saldanha – Aí acabou. Não tinha pernas. A Alemanha contra a Argentina: chegou, subiu o morro (rumo à Cidade do México) caindo aos pedaços. Não dá (a Argentina venceu a final por 3 a 2). Jogou a prorrogação, dança. Em nenhuma Copa do Mundo eu vi… A não ser a Itália, em 34, jogou prorrogação.
Mas a prorrogação não foi na final contra a Tcheco-Eslováquia?
João Saldanha – Não, teve antes com a Espanha (na verdade, foi disputado um jogo extra no dia seguinte). Porra, jogaram o time da Espanha pra dentro do gol. A Espanha estava 1 a 0, o Mussolini tava no balcão, gritando, e a massa urrava. O estádio ainda existe lá, mas acho que não tem nem mais futebol… Porra, jogaram a bola no alto…
Foi todo mundo pra cima…
João Saldanha – Todo mundo, foi um escândalo. Oito minutos depois de acabar o jogo. O jogo já tinha acabado, aí empatou. Foi pra prorrogação, a Itália ganhou de 1 a 0. O time da Espanha se cagou de medo. E acabou a Copa, o time deu no pé.
Entrevista publicada originalmente no Jornal da ABI (edição 401, de maio de 2014)
A NOITE QUE NÃO ACABOU. E JAMAIS ACABARÁ.
por Mateus Ribeiro
Mateus Ribeiro
Existem poucas coisas que eu gosto na minha vida. Poucas mesmo, sem exagero. Acontece que essas poucas coisas (e pessoas) que gosto, recebem meu amor da forma mais intensa possível. Posso afirmar com toda a certeza, que dentro do seleto clube que reside em meu coração, o inquilino que ocupa mais espaço é o Sport Club Corinthians Paulista.
Desde minha infância, tudo, absolutamente tudo que vivi teve alguma ligação com o Alvinegro de Parque São Jorge. Inúmeras são as lembranças, as alegrias, e as decepções. E no campo das decepções, nenhuma me deixava mais chateado do que nunca ter conquistado a América.
Conforme os anos foram passando, essa frustração apenas aumentava, graças a nomes como Adílson Batista, Coelho, Cocito, Roger, Geninho, e uma infinidade de seres que desejo nunca mais ver na minha frente.
Até que quando menos eu esperava, as coisas começaram a mudar de patamar. Da maneira mais improvável possível, o clube marginalizado, alvo das piadas mais baixas e preconceituosas possíveis, o patinho feio entre os quatro paulistas, saiu do poço e chegou ao topo. Após 1676 dias, o Corinthians saiu de um rebaixamento para a Série B do futebol Brasileiro, e chegou até o topo da América. De maneira suada. Incontestável. Como eu sempre quis. Como deveria ser.
O início amargo
Tudo começou naquele fatídico dia da eliminação para o Tolima, na pré Libertadores de 2011. Após a dura derrota, fiquei extremamente feliz com a saída de alguns nomes do clube. Principalmente com a saída do lateral e do atacante que queriam apenas aumentar a conta bancária em cima do Corinthians. Passada toda essa turbulência, o time foi entrando nos eixos, apesar da presença de Adriano. Após árduas batalhas, o Corinthians consegue conquistar seu quinto Campeonato Brasileiro, que garantia aos comandados de Tite a chance de disputar a Libertadores no ano de 2011. O primeiro passo havia sido dado.
Não precisa ser nenhum gênio para imaginar que a cada minuto do meu dia algum infeliz me lembrava que o Corinthians não tinha conquistado a Libertadores. Ficava calado. Não respondia. Uma hora eu iria conseguir me vingar.
Bom, está certo que o início não foi dos melhores, e quase que a vaca deita na estreia. Sorte que Ralf livrou nossa cara com um gol na bacia das almas, e empatamos contra o modesto Deportivo Táchira. É claro, óbvio, e evidente que Deus e o mundo tripudiou em cima de nós, torcedores, por comemorarmos o empate como se fosse uma vitória. Mal sabiam eles o que ainda estava por vir…
Jogo após jogo, a primeira fase foi um passeio. Exceção feita ao jogo contra o Cruz Azul no México, tudo correu tranquilamente na primeira fase, e o Corinthians passou com sobras, para nossa alegria. Afinal, enquanto há vida, ainda há esperança. E ela estava cada dia mais viva e radiante dentro dos nossos corações.
O fator Cássio
Nem tudo são flores. No meio do caminho, o goleiro titular Júlio César fez o que era sua especialidade: falhou na hora que não poderia falhar. Contra a Ponte Preta, pelo Paulistão, nosso querido Horácio entregou a rapadura, e ajudou a construir uma eliminação vexatória. Resultado: Júlio vai pro banco.
Para assumir a meta alvinegra, Tite escolheu Cássio, que era o terceiro goleiro, e havia feito uma ou outra partida pelo time titular. No meio da fogueira, sem nenhum tipo de alívio, Cássio iniciou sua caminhada na partida de ida das oitavas de final, contra o Emelec, no Equador. Além da altitude e de uma arbitragem no mínimo tendenciosa, os Equatorianos mostraram que também tinham o futebol como arma, e bombardearam Cássio, que demonstrando uma segurança ímpar, segurou o empate sem gols, o que deixou as coisas um pouco mais tranquilas.
Já no jogo da volta, um 3 a 0 mandou o Emelec de volta pra casa. Mal o jogo havia acabado, fui obrigado a ver dezenas de sábios (por “coincidência”, nenhum era torcedor do Corinthians) comentando que nas quartas, o Corinthians não teria chances contra o Vasco da Gama.
Após mais um empate com o placar zerado, no jogo da volta, bastava uma vitoria simples para a classificação se concretizar. Porém, o senhor Alessandro resolveu deixar tudo mais emocionante, e me fez viver os oito segundos mais tensos da minha vida. Sorte que pela primeira vez, Cássio livrou a cara de Alessandro. A dele e a de mais uns 30 milhões de torcedores espalhados pelo planeta.
Depois dessa defesa, mal conseguia coordenar meus movimentos. Só queria que aquilo acabasse logo. E acabou da melhor maneira possível, com um gol de Paulinho no final da partida. Alma lavada, mas o caminho era longo.
Obrigado, Sheik e Danilo!
Nas semifinais, o adversário era o Santos, que contava com os queridinhos Ganso e Neymar. Desnecessário dizer que o favoritômetro estava quase explodindo, pois 11 entre 10 comentaristas davam como certa a classificação do Alvinegro Praiano. Só esqueceram que do outro lado estavam 11 homens com sangue no olho, e vestindo uma camisa que jamais pode ser subestimada.
Logo no primeiro jogo, Sheik calou muita gente com uma obra de arte. Além do gol do atacante, Cássio fechou o gol, e garantiu a vitoria do Timão no campo adversário. Mesmo com direito a um apagão “suspeito”, por “coincidência” no momento que o Corinthians tinha chances de fazer o segundo gol.
No jogo da volta, o nosso amado e letal Danilento fez o tento que nos colocou na inédita final. Meu coração estava quase saindo pela boca. A sensação era indescritível, e eu já não estava mais acreditando que o sonho era real. Enfim, faltavam só mais dois jogos.
Boca Juniors. O adversário ideal. O final perfeito.
Sempre tive na minha cabeça um modelo ideal para o Corinthians ganhar a Libertadores: eliminando o máximo de brasileiros possível, e pegando um time temido na final. A presença do Boca Juniors como adversário não poderia ser melhor.
Obviamente, sentia um pouco de medo de enfrentar o bicho papão do século XXI, ainda mais sabendo que Riquelme estava deitando e rolando.
Enfim, quem precisa de Riquelme quando se tem estrela de campeão, não é? Pois bem, mais uma vez, um herói improvável surge através dos pés de Romarinho, que em seu primeiro toque na bola nos garantiu o empate. Só não digo que ele calou a Bombonera pelo simples fato de que havia um bom número de torcedores do Corinthians por lá.
No jogo da volta, o nervosismo foi embora através de dois gols de Sheik. Tudo foi muito rápido. Eu não conseguia falar nada após o segundo gol, não conseguia chorar, nem rir, nem falar. Apenas relembrar de todas as lágrimas que derramei até o apito final daquela partida.
Veio o apito final. E com ele, um caminhão de sentimentos.
Ao mesmo tempo que gritava, chorava, pulava, agradecia aos céus, queria sair correndo, abraçar todo mundo que estava no mesmo bar que eu. Sei que numa dessa acabei na praça da cidade comemorando o título até sabe se lá Deus que horas. Me lembro inclusive de ter descido de um caminhão e quase dar com a cara no asfalto, de tão feliz (e bêbado) que fiquei. Mas naquela noite, eu poderia me exceder. Aquela noite foi mágica. Aquela noite permitia qualquer excesso. Aquela noite de 04 de julho de 2012, a noite que nunca acabou.
E depois daquela noite?
Depois veio a conquista do Mundo, mais dois Paulistas, um Brasileiro, uma Recopa, e muitas emoções. Mas nenhuma se compara com a emoção que vivi naqueles longos meses de 2012, o ano que o mundo iria acabar. Para mim, poderia ter acabado ali mesmo. Afinal, já havia visto meu time ganhar tudo o que poderia ganhar.
Por sorte, o mundo não acabou, e cinco anos depois, posso agradecer Cássio, Alessandro, Castán, Fábio Santos, Ralf, Paulinho, Alex, Danilo, Jorge Henrique, Sheik, Romarinho, Liédson, Douglas, Tite e tantos outros guerreiros que escreveram seu nome na historia do Sport Club Corinthians Paulista. Após anos roendo o osso, chegava a hora de aproveitar o filé.
Contra todas as expectativas. Contrariando todos os prognósticos. Contra o Brasil. Contra a América. Contra o Mundo. Contra tudo e contra todos. Porque aqui é o CORINTHIANS. Daqui até a eternidade!