O DIA EM QUE UM JORNAL FRANCÊS DECRETOU: PELÉ É O REI DOS REIS
por André Felipe de Lima
Aquela manhã do dia 12 de julho de 1980 seria definitiva para o esporte mundial. Nas bancas parisienses de jornais e revistas a manchete do tradicional periódico L’Equipe encerrava qualquer discussão sobre quem era o maior atleta do século XX. Em sete páginas, o jornal publicara o resultado da ampla pesquisa: deu o nosso Pelé na cabeça. O “campeão do século”, como os jornalistas franceses grifaram, em gritante vermelho, no jornal.
Pelé, é verdade, não teve vida fácil na eleição. Recebeu 178 votos. Apenas nove a mais que o extraordinário Jesse Owens, o mesmo que humilhou os nazistas na Olimpíada de 1936, em Berlim. Outro inquestionável gigante na história do esporte. Mas Pelé era (e sempre será!) imbatível.
O ídolo só receberia o troféu no ano seguinte, no dia 15 de maio, nos instantes que antecederam ao jogo amistoso entre Brasil e França, no estádio Parc des Princes, em Paris, que terminaria com a vitória de 3 a 1 do escrete brasileiro.
Foi um dia inesquecível. Eu, menino, diante da TV, fiquei encantado com toda a reverência ao Pelé naquela tarde. “Obrigado por tudo, eu adoro vocês”, agradeceu o gênio. Nós, humildes mortais, é que devemos todas as honras ao maior dentre os maiores. Ao Rei dos Reis do esporte. Ao Edson que é Pelé. Ao Pelé que é Edson… ao atleta do século XX, XXI, XXIII… ao Pelé eterno.
DA JANELA DO HOTEL NOVO MUNDO, PELÉ SE DELICIAVA COM PELADAS NO ATERRO
por André Felipe de Lima
(Foto: Reprodução)
Em outubro de 1969, o Brasil vivia a ansiedade por estar a meses do começo da Copa do Mundo, para a qual a seleção brasileira, ainda sob o comando do João Saldanha, preparava-se exaustivamente. Paralelamente a essa expectativa pelo “tri”, o carioca experimentava a deliciosa mobilização em torno do campeonato de pelada promovido pelo Jornal dos Sports. O Rio era uma festa. Ou melhor, o Aterro do Flamengo. Pelé, uma das “feras” do João “Sem medo”, também mostrava empolgação com o torneio de peladeiros e chegou a confessar ao repórter do saudoso JS a paixão pela pelada.
No dia 12 de julho, aniversário da eleição de Pelé como “Atleta do Século”, publicamos uma recordação bacana do maior camisa 10 de todos os tempos. Uma lembrança da época em que jogou peladas em Bauru e de quando se deliciava com as improvisadas peladas do Aterro bem antes de o JS institucionalizá-las. Com a palavra, o Rei:
“Quando o Santos se hospedou no Hotel Novo Mundo (no Flamengo) eu tive oportunidade de olhar da janela do apartamento algumas peladas jogadas no Parque do Flamengo. Mas eram peladas improvisadas na hora, alguns sem camisas, outros de camisetas, uns de camisas de clubes. Alguns usavam calções, mas outros arregaçavam as calças e entravam de qualquer maneira. Havia até quem entrasse de sapato e tudo. A fome de bola falava alto. A pelada é um negócio muito bacana. Às vezes me dá saudade daquele tempo que jogava nas ruas de Bauru, depois de tirar os costumeiros par ou ímpar para escolher o time (…) Não me lembro bem, mas tinha sete ou oito anos quando jogava no Sete de Setembro, um time infantil da rua Sete de Setembro, esquina da rua Rubens Arruda, em Bauru. Nas peladas, jogavam até 15 ou 16 de cada lado. Joguei também no Radium, atrás do campo do Noroeste, e só não disputei campeonato por este clube porque não tinha chuteira. Só mais tarde é que ganhei uma, com um bico de ferro na frente (…) Lá em Santos tem também um campeonato de pelada, na areia, que às vezes a TV transmite. Alguns jogos são muito bons.”
DIA DE CLÁSSICOS
Dois clássicos prometem agitar a 13ª rodada do Campeonato Brasileiro. Enquanto Fluminense e Botafogo se enfrentam no Maracanã, em confronto direto para se aproximar da zona de classificação para a Libertadores, o Palmeiras recebe o líder Corinthians. Por conta disso, a equipe do Museu da Pelada recorda hoje dois clássicos sob as lentes do saudoso Canal 100!
EU NASCI HÁ 81 ANOS ATRÁS E NÃO TEM NADA NESSE MUNDO QUE EU NÃO SAIBA DEMAIS
por José Dias
José Dias
Eu vi o início, o meio e o fim da 2ª Grande Guerra. Eu vi os Pracinhas embarcarem para a Itália. Eu vi os Pracinhas desembarcarem vindo da Itália. Eu os vi cantando a “Canção do Expedicionário”.
“Por mais terras que eu percorra
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá”.
Eu vi duas bombas atômicas destruírem Hiroshima e Nagasaki. Eu vi, por várias vezes, acima da minha cabeça, o gigantesco dirigível/zeppelin, que mais parecia uma bola de futebol americano, dando rasantes a 10 km/h. Eu vi também o primeiro avião a jato da FAB o o Gloster Meteor, dando rasantes a 900 km/h Eu vi o Major Vaz levar um tiro, endereçado a Carlos Lacerda, a mando de Gregório Fortunato, apadrinhado de Getúlio Vargas, que por isso cometeu suicídio.
Eu vi o Flamengo ser Tri por duas vezes – 42/43/44 e 53/54/55. Eu vi o Fluminense também ser Tri em 83/84/85. Eu vi o Brasil ser – Campeão/Bi/Tri/Tetra/Penta. Eu vi achegada dos bicampeões mundiais ao Brasil, pois participei do cordão de isolamento, no Palácio do Catete, para resguardar os nossos heróis. Eu vi o Brasil, em 1950, não ser campeão em pleno Maracanã. Eu vi também o Brasil, em 2014, não ser campeão em pleno Mineirão. Eu vi, em compensação, o Brasil ser campeão olímpico, em 2016.
EU NASCI HÁ 81 ANOS ATRÁS ………
Eu vi a inauguração do Estádio Maracanã.
Eu vi a Seleção Paulista vencer a Seleção Carioca por 2 x 1. Lembro, pelos Paulistas, do Ponce de Leon, e pelos Cariocas, de Didi e Esquerdinha. Eu vi o Brasil ganhar da Iugoslávia, no Maracanã, por 2 x 0, na Copa de 1950. Eu vi o Brasil ganhar do Paraguai, no Maracanã, por 4 x 1, na Eliminatória para a Copa de 1954. Eu vi o Vasco empatar com o Real Madrid, no Maracanã, por 2 x 2, sendo que, nada mais nada menos, Gento, Puskas, Di Stefano e Canário estavam em campo, pelo Real Madrid.
Eu vi lembrando as aulas de História Geral, de Cartago, Egito, Roma, Paris, Atenas, Persepolis, Biblos, com suas ruínas e monumentos espetaculares. Eu vi Beirute destruída pela insanidade de loucos. Eu vi o Mestre ZIZA fazer embaixadas, sentado na grama. Eu vi e convivi com o Mestre ZIZA durante 45 dias seguidos, numa viagem fantástica por vários países da América, da África, da Ásia e da Europa.
EU NASCI HÁ 81 ANOS ATRÁS ………
José Dias
Eu estava junto com Milton, Niquinho, Celso, Hilmar, como coroinhas na Paróquia Nª Senhora da Conceição. Eu estava junto com Ezequiel, Leoncio, Altair e Almir, no 15-15 – Professor Venancio Filho. Eu estava junto com Luiz Carlos, Gelson, Rubinho, Amilton e tantos outros, no Barão do Rio Branco. Eu estava junto com Caetano, Beck, João Luiz, Peres, na Escola de Sargento das Armas Eu estava junto com Wilson, Burkle, Jandir, na Escola de Educação Física do Exército, Eu estava junto com Oliveira, Marques, Prado, Bessa, nos “Dragões da Independência”.
Eu estava junto com Bria, Jouber, Zagallo, Jayme Valente, Taranto, Julio, Tuninho Barroso, Pedro, Dida, Silva, Carlinhos, no Flamengo. Eu estava junto com Chirol, Parreira, Lucio Novelli, Othon Valentim, Procópio, no Fluminense. Eu estava junto com Jair Pereira, Zé Carlos, Zeca, no Botafogo. Eu estava junto com Claudio Garcia, Luizão, no Farense. Eu estava junto com Antoninho, Djalma Cavalcante, Hadad, Mello, Eithel Seixas, Evaristo, Clemente, Kurtz, Zé Fernandes, na Seleção Amadora. Eu estava junto de Fidelis, Maurinho, Handam, João Neto, no Campo Grande. Eu estava junto com Carpegiane, Kruger, Robson, Gilberto Tim, no Coritiba.
Meu Deus!
E tantos outros que meus 81 anos me permitem esquecer!
“E quando a pedra despencou da ribanceira. Eu também quebrei a perna”.
E para aquele que provar que eu estou mentindo eu tiro o meu chapéu.
A NOSSA PORÇÃO EURICO MIRANDA
por Zé Roberto Padilha
(Foto: Reprodução)
Ainda vai levar um bom tempo para levantarmos a nossa Bandeira de Mello da racionalidade esportiva. Porque no Vasco e Flamengo de cada dia carregamos dentro da nossa paixão uma porção Eurico Miranda. Sábado, após toda a confusão provocada pela sua torcida em seu estádio, o presidente vascaíno reuniu a imprensa e pediu desculpas. E foi logo avisando: eu não tenho culpa de nada. E quanto a nós?
Somos habitantes de um país novo convivendo com uma liberdade tardia. Com a última das abolições concedidas e ainda nada independentes do jugo do capital estrangeiro. E escolhemos o futebol para nos vingar da violência, da opressão colonizadora, das imposições imperialistas. De um lado da Faixa de Gaza exigimos a seriedade, a justiça, a democracia. Do outro, o que será preciso para levar a nossa equipe a ganhar o jogo? Qual o preço no mercado para levantar um título? E entre um ídolo a presidir o nosso clube, um cidadão sensato e tranquilo como Roberto Dinamite, e um cartola-torcedor exaltado capaz de afirmar que “não sei se tenho mais prazer numa relação sexual ou quando ganho do Flamengo”, nós votamos no último. E que outra reação poderíamos esperar dos seus torcedores após perder uma partida em casa para o Flamengo? Apertos de mãos entre os jogadores? Respeito aos torcedores adversários que se tornam em 90 minutos vorazes inimigos? Quando Everton parou a sua frente e deu uma pedalada, Nenê deixou de ser bebê porque seu berço fervia. Foi violento e adulto e lhe deu uma violenta entrada porque o mau exemplo estava sentado fumando charuto nos camarotes de São Januário. E o rastilho de ódio foi se alastrando pelas arquibancadas.
(Foto: Reprodução)
Reclamamos da suprema corte quando um dos seus membros, Gilmar Mendes, se reúne tarde da noite para conversar em Brasília com o mandatário investigado de um poder paralelo. Porém, na hora de votar pra presidente do nosso clube optamos por quem tem como lema: “O que a justiça tem que entender é que o futebol brasileiro tem as suas próprias leis!”. Somos todos a favor da igualdade social, do respeito a diversidade étnica, religiosa e sexual, mas para comandar nossa paixão exacerbada, doentia, permitimos ser dirigido por quem carrega a bandeira da segregação. “Futebol é coisa para homem que mantém distância um do outro, por isso sou contra homossexual e mulher no futebol”.
Tão novos enquanto nação, pouco sabemos se já somos povo ou não passamos de uma massa de manobra. Pois se William Bonner nos conclama as ruas para tirar do governo quem apenas pedalou, a exigir a saída de uma incorruptível exceção política eleita pela maioria da população, que cidadania habita dentro de nós que se cala, não bate mais panelas e se omite diante do primeiro presidente da nossa história denunciado por corrupção? Pois se o juiz erra e marca um pênalti contra o nosso time, discutimos com os amigos, brigamos com a patroa e o chamamos de ladrão. Se o erro for a nosso favor, trocamos de canal, procuramos outras imagens, depoimentos nas resenhas que anistie o pobre do coitado.
Em breve a justiça vai se pronunciar nas duas instâncias. Se a merecermos perante nossa incoerência cidadã e esportiva, mais de 173 deputados, entre 513 parlamentares, irão votar pelo arquivamento das denúncias contra Michel Temer. E São Januário tomará apenas dois jogos de suspensão. Enquanto não levantarmos a Bandeira de Mello da coragem cidadã, voltarmos às ruas e aos estádios empunhar a bandeira da democracia, seremos eternamente habitantes do país Eurico Miranda que merecemos.