Escolha uma Página

A MÍDIA ALTERNATIVA COBRINDO O FUTEBOL

por Thiago Felix


Olivio Lamas/ Agência: O Globo

A descrença na grande mídia está presente nos últimos tempos, principalmente após a falha na cobertura da eleição do Donald Trump. Ninguém dos grandes players de comunicação conseguiu prever tal vitória. A palavra bolha foi a escolhida da vez. Mas um fenômeno interessante veio em paralelo a este. Os números de assinaturas de veículos de comunicação aumentaram, tanto do The New York Times, quanto o de outras mídias do jornalismo independente.

Parece que a entrada catastrófica de Trump acabou por aquecer a engrenagem dos meios de comunicação. As pessoas sentiram a necessidade de se manterem informadas. Mas a exigência de uma cobertura mais ampla, independente e fora da bolha urge.

O Futebol não fica de lado. Os canais que atingem a grande massa, como a Rede Globo e Bandeirantes em televisão aberta, a Jovem Pan e Energia 97 pelas ondas do rádio, disputam cada ponto de audiência. Restringindo ao público das televisões fechadas, a trincheira é disputada pelos canais Fox Sports, SporTV, Esporte Interativo e ESPN; no Jornalismo de portal o Globoesporte e o UOL Esportes dominam a cena. No impresso, a Placar tenta respirar e se reinventar desesperadamente.

Não há diversidade nessas mídias, eles praticamente se retroalimentam com as mesmas manchetes, disputando os mesmos anunciantes para sobreviverem pela publicidade. O conteúdo massificado garante uma fatia da audiência de acordo com o alcance do veículo.

Por um caminho distinto, tem muita gente querendo oferecer bons conteúdos, quando o assunto é a bola e os gramados. Uma gama de assuntos que não são abordados nas tradicionais mesas redondas e nos programas apresentados por rapazes de sapatênis e bem-humorados, encontram vozes nessas mídias. Conteúdo de qualidade a ser garimpado e encontrado. Mas mesmo sem o alcance que merecem, não deixam a bola cair e avançam no gramado.

Nós d’O CONTRA-ATAQUE também nos enquadramos nessa, por isso, criamos esta lista metalinguística de podcasts, sites e revistas. Para facilitar a vida de nossos leitores, compilamos, nos links abaixo, uma série de mídias alternativas que estão fazendo um belo trabalho. Um dossiê de ponto de partida para entorpecentes mais pesados. Cuidado, bom conteúdo vicia e ajuda a democratizar a informação. Boa caça ao tesouro!

BRASILEIROS

No Ângulo

Footure

Verminosos por Futebol

Corner

O Canto das torcidas

Trivela

Três Loucados

Casual Football

Atrox Casual Club

Mais Cinco Minutos

Peleja

Museu da Pelada

Futebolistas e Futeboleirxs

Meu time de Botão

Som das Torcidas

Zé no Radio

Ultrajano

Sportlight

Correspondente Premier

Fronteiras Invisíveis do Futebol

Dibradoras

Vice Sports

Sem Firulas

Blog 4–3–3

Elas na área

GRINGOS

The Blizzard

Off Side

Panenka

Futebol Magazine

El Scorpion

Copa90

De cabeza

Revista Sudor

EU, NEIL YOUNG E O FIM DO PACAEMBU

por Marcelo Mendez


(Foto: Marcelo Ferreira)

Não havia um sentido, uma razão especifica para eu sair de casa, num dia frio e chuvoso para ir a um estádio ver um jogo de futebol entre times reservas, pouco afins de estarem ali, tanto quanto eu, tanto quanto muitos.

Há tempos, desde que a cobertura esportiva virou meu oficio, que não ia para um estádio apenas para curtir um futebol. Todavia, dessa vez não era pra qualquer estádio, falo do Pacaembu e então o jogo nem importa tanto.

Era dia de ir ao Pacaembu e então fui…

No começo da tarde do sábado ao entrar no trem que me levaria até a Estação Barra Funda, as coisas começaram a chegar perto de uma clareza. Ou algo parecido…

Tal e qual Marcel Proust, eu caminhava em Busca de Um Tempo Perdido.

Uma época em que de alguma forma eu sonhei. Tempo que fui menino, coisa muito maior, muito mais divina e bela do que o homem, o jornalista que sou hoje; Cronista apaixonado, virado e transvirado à procura de amores, encantos, poesias e afins.

SONHOS COMO METAS…

Da janela do trem vi o mundo ao som de Neil Young cantando Out On The Weekend. Em um dos versos ele cantava “Veja o rapaz solitário/Saindo pro fim de semana/Tentando fazer valer a pena/Não se identifica com a alegria/Ele tenta falar… E não consegue começar a dizer” – Emoções…

Nem sempre dá para colocar para fora, ou transformar em letra, palavra, tudo que se sente. É inevitável na vida do cronista a vontade de se dar ao luxo de ouvir, ou ler o silêncio. Mas eu saí para fazer valer a pena como dizia a canção e, de imediato ao chegar na Barra Funda, senti que conseguiria. Decidi manter a essência que sempre me levou ao Pacaembu, desde a primeira vez, lá em 1985.

Na época não existia a estação mais próxima do metrô, a Marechal Deodoro, então a caminhada era pela Avenida Pacaembu.

Marchando por aquela rua, acompanhado de milhares de torcedores, cada qual com sua camisa, sua crença, sua história, sua reza e sua poesia, eu, menino de 15 anos, sentia que fazia parte de algo grande, épico, gigantesco. O caminho do coliseu romano não é nada diante de uma andança até a entrada do Portão Monumental do Pacaembu em frente à Praça Charles Miller! 

O jogo era entre São Paulo x Palmeiras, a peleja terminou empatada em 4 a 4,  e a tarde de sol fechou com um golaço do Pita para o São Paulo, gol que me esforcei pra não comemorar de tão belo que foi, e mais outros tantos do meu Palmeiras.

Saí pela avenida afora falando com desconhecidos, debatendo a peleja como se aquilo fosse realmente sério, curtindo a vida como se ela fosse realmente boa, um estádio de futebol… O Estádio de futebol de quando fui menino era uma das melhores representações populares do Brasil.

Então tudo passou…

A TRISTEZA É A NOVA META…

Agora, com 46 anos de idade. Homem feito, barba na cara, boca lindamente beijada. Olhar atento às coisas que cerca o que se diz por aí ser “o mundo moderno”. Na verdade isso nada mais é que um grande nada, um vale vazio de emoções e sensações. Espaços preenchidos com a nulidade de Prédios, condomínios e seguranças. Muita tecnologia ao longo da minha caminhada e nenhum bom dia! Entre todas as novidades do mundo não consta a gentileza ou nada que seja humano. Cheguei perto do Estádio.

Havia lá uns rostos diferentes, pessoas apressadas, com seus super celulares. Não achei por bem atrapalhar. Olhei em volta e encontrei uma aprazível barraca de lanches.

Quando moleque que ia ao Pacaembu, uma das melhores coisas que tinha, muitas vezes melhor até que o jogo, era o lanche de pernil e de linguiça calabresa, vendidos em frente ao estádio. Me aproximei e pedi meu lanche. A senhora que me atendeu, bem simpática, aproximadamente 60 anos, me disse que se chamava Mariela. Viu que eu conferia umas anotações e então me perguntou:

– O senhor escreve para algum jornal?

– Sim, quer dizer, escrevia, o jornal que eu trabalhava fechou as portas.

– Ah entendi. Nossa, que pena, as coisas estão duras né?

Concordei que sim e ela disse que capricharia então no meu lanche. Depois comentou:

– Sabe, moço; eu trabalho aqui no Pacaembu desde 1981. Ganhei minha vida aqui com essa barraca. Sustentei a família, criei minhas filhas, paguei faculdade delas, acho que não tenho o que reclamar. Mas a única coisa que sinto falta é de quando havia mais paz, sabe? De quando as pessoas davam mais risadas, eram mais cordiais. O senhor olhe para os rostos desses meninos que vêm aos jogos hoje; tristes, né? Todos agoniados, tadinhos…

Ouvi com atenção. Paguei o lanche, trocamos mais algumas palavras e fiquei a pensar nisso que ela havia me dito;

“OS MENINOS DE ROSTOS TRISTES”

Não sei. Até aquele instante, não havia direcionado meu olhar para este prisma. Mas a partir do começo do jogo, com o que vi dentro do Pacaembu, ficou muito claro o que Dona Mariela, a simpática senhora da banca de lanches, tentava me dizer. 

Não via la dentro nada do que mais pulsava dos meus tempos de menino de arquibancada no Pacaembu. Aliás, nem arquibancada tem mais por lá; Agora são “cadeiras”. Amarelas, vermelhas…

A alegria agora é “comedida”.

O público mudou, não há mais muitos moleques do ABCD para comprar ingressos, os tais tempos modernos agora criaram uma coisa que chama “Programa de Fidelidade de Sócio-Torcedor”. E os ingressos todos vão para estes, que pagam por uma mensalidade ou algo parecido, para ter algumas vantagens na aquisição de produtos referentes à marca que hoje é o clube. Justo. Assim como justo foi o que aconteceu no campo de jogo.

Duros os tempos em que não se pode sonhar com mais nada que gere encanto além da meta fria e pobre. O Palmeiras que enfrentava o Grêmio, conseguiu essa meta com um 1 a 0 burocrático e chato. Esperei que o povo saísse, enquanto isso fiquei no Estádio.

Aos poucos, ele foi ficando vazio e o silêncio tomou conta do gigante de concreto.

Agora o Pacaembu não será mais do povo. Um grupo aí de uns tais “gestores” decidiu que ele precisa ser privatizado, que não dá mais para eu, nem os novos garotos de 15 anos, nem Dona Mariela que vende lanches, frequentarem o velho Estádio.

Os homens ditos modernos não entendem das necessidades básicas de alegria que rege os corações em fúria santa, de uma juventude que quer cantar, vibrar, beber cerveja, comer carne, fazer festa… Agora tudo precisa ser “Cuidado”

Triste.

O vento frio que o silêncio trazia, me fez olhar para o velho Pacaembu. Por uns instantes pensei em tudo isso, voltei a ouvir o Neil Young a assoprar cantos de folks ouvindo; “Old Man”:

E pensando no velho de concreto, chorei como se a vida fosse bela…

ANGÚSTIAS DE 76

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto Padilha

As rádios só tocavam Belchior em 76: “Estava mais angustiado que o goleiro na hora do gol…”. E era natural que ao colocar a bola na marca do cal para bater o quarto pênalti da decisão da Taça Guanabara entre Flamengo x Vasco, no dia 13 de Junho de 1976, diante de 124.000 torcedores, entre eles toda a minha família que chegara de Kombi de Três Rios, tenha lembrado da música. E uma imensa vontade de corrigir aquela letra, pois ninguém fica mais angustiado do que o batedor na hora do gol. Se o Mazaropi pega, vira herói. Se o Zé Roberto perde, se torna o vilão daquela decisão.

Quando olhei para o gol, cadê ele? Cabeças da geral colaram na cabeça das cadeiras que por sua vez encaixaram nas cabeças torcedoras da arquibancada. Tem um quadro da Djanira com esta tomada. Só com cabeças. Só dava para distinguir, em meio ao nervosismo, os filetes brancos das traves – e o goleiro vascaíno ainda por cima estava todo de preto. Quase um vulto a proteger aquela cidadela intransponível porque as redes estavam invisíveis e eram elas que desnudavam o alvo que precisava ser atingido. Para complicar ainda mais os refletores do Maracanã eram precários, lâmpadas de led eram luzes de um tempo distante. Tamanha responsabilidade diante de tão pouca visão, só me restou uma súplica, um ultimo desejo ao destino que me guiara até ali: que não errasse aquela bola. Tão pequena, branca com a marca Drible e inocente à minha frente.

Depois que perdi um pênalti em uma preliminar nos juvenis, Lula, o ponta esquerda titular do Flu e da seleção, me chamou após o treinamento nas Laranjeiras e revelou o seu segredo: bater forte com o peito do pé e de curva à direita do goleiro, mirando a trave esquerda para a bola realizar uma trajetória contrária ao salto do goleiro. E quando fui bater na bola, Mazaropi, que nos conhecia das divisões de base, se atirou para aquele canto. E uma tia kardecista percebeu a manobra e virou meu tornozelo para o outro lado – pelo menos, durante várias CPIs instauradas ao longo da carreira, foi esta a explicação mais aceitável. A bola? Caprichosamente encontrou as redes no outro cantinho. Assustado, confuso e aliviado, voltava para o meio do campo quando ouvi de passagem o comentário de um Apolinho da Rádio Globo: “Quem sabe, sabe!”.


Mazaropi defende a cobrança de Tita

Não, ninguém sabe o que passa na cabeça de um cobrador de pênaltis. Em decisões, então, esquece. São tantas alegrias e tristezas que serão definidas por sua cobrança que, como dizia Neném Prancha, de tão importante deveria ser batida pelo presidente do clube. Se assim fosse, duvido que o presidente do Vasco não fosse o Roberto Dinamite. Ou vocês queiram mais lambanças do Eurico? A propósito, Zico, o ultimo a bater pelo nosso time, perdeu o seu. Ele podia. Se perdesse o meu seria enforcado como Vladimir Herzog, assassinado como Edson Luis ou exilado como o irmão do Henfil. Não é este o destino reservado em 76, no auge do regime militar, para os que “traíam” a nação?

O DIA EM QUE UM JORNAL FRANCÊS DECRETOU: PELÉ É O REI DOS REIS

por André Felipe de Lima


Aquela manhã do dia 12 de julho de 1980 seria definitiva para o esporte mundial. Nas bancas parisienses de jornais e revistas a manchete do tradicional periódico L’Equipe encerrava qualquer discussão sobre quem era o maior atleta do século XX. Em sete páginas, o jornal publicara o resultado da ampla pesquisa: deu o nosso Pelé na cabeça. O “campeão do século”, como os jornalistas franceses grifaram, em gritante vermelho, no jornal.

Pelé, é verdade, não teve vida fácil na eleição. Recebeu 178 votos. Apenas nove a mais que o extraordinário Jesse Owens, o mesmo que humilhou os nazistas na Olimpíada de 1936, em Berlim. Outro inquestionável gigante na história do esporte. Mas Pelé era (e sempre será!) imbatível.

O ídolo só receberia o troféu no ano seguinte, no dia 15 de maio, nos instantes que antecederam ao jogo amistoso entre Brasil e França, no estádio Parc des Princes, em Paris, que terminaria com a vitória de 3 a 1 do escrete brasileiro.

Foi um dia inesquecível. Eu, menino, diante da TV, fiquei encantado com toda a reverência ao Pelé naquela tarde. “Obrigado por tudo, eu adoro vocês”, agradeceu o gênio. Nós, humildes mortais, é que devemos todas as honras ao maior dentre os maiores. Ao Rei dos Reis do esporte. Ao Edson que é Pelé. Ao Pelé que é Edson… ao atleta do século XX, XXI, XXIII… ao Pelé eterno.

 

DA JANELA DO HOTEL NOVO MUNDO, PELÉ SE DELICIAVA COM PELADAS NO ATERRO

por André Felipe de Lima


(Foto: Reprodução)

Em outubro de 1969, o Brasil vivia a ansiedade por estar a meses do começo da Copa do Mundo, para a qual a seleção brasileira, ainda sob o comando do João Saldanha, preparava-se exaustivamente. Paralelamente a essa expectativa pelo “tri”, o carioca experimentava a deliciosa mobilização em torno do campeonato de pelada promovido pelo Jornal dos Sports. O Rio era uma festa. Ou melhor, o Aterro do Flamengo. Pelé, uma das “feras” do João “Sem medo”, também mostrava empolgação com o torneio de peladeiros e chegou a confessar ao repórter do saudoso JS a paixão pela pelada.

No dia 12 de julho, aniversário da eleição de Pelé como “Atleta do Século”, publicamos uma recordação bacana do maior camisa 10 de todos os tempos. Uma lembrança da época em que jogou peladas em Bauru e de quando se deliciava com as improvisadas peladas do Aterro bem antes de o JS institucionalizá-las. Com a palavra, o Rei:

“Quando o Santos se hospedou no Hotel Novo Mundo (no Flamengo) eu tive oportunidade de olhar da janela do apartamento algumas peladas jogadas no Parque do Flamengo. Mas eram peladas improvisadas na hora, alguns sem camisas, outros de camisetas, uns de camisas de clubes. Alguns usavam calções, mas outros arregaçavam as calças e entravam de qualquer maneira. Havia até quem entrasse de sapato e tudo. A fome de bola falava alto. A pelada é um negócio muito bacana. Às vezes me dá saudade daquele tempo que jogava nas ruas de Bauru, depois de tirar os costumeiros par ou ímpar para escolher o time (…) Não me lembro bem, mas tinha sete ou oito anos quando jogava no Sete de Setembro, um time infantil da rua Sete de Setembro, esquina da rua Rubens Arruda, em Bauru. Nas peladas, jogavam até 15 ou 16 de cada lado. Joguei também no Radium, atrás do campo do Noroeste, e só não disputei campeonato por este clube porque não tinha chuteira. Só mais tarde é que ganhei uma, com um bico de ferro na frente (…) Lá em Santos tem também um campeonato de pelada, na areia, que às vezes a TV transmite. Alguns jogos são muito bons.”