Hélio Vieira
NÃO TÁ MORTO QUEM PELEIA
texto: Albino Oliveira e Augusto Dalpiaz | foto e vídeo: Rosângela Oliveira | edição de vídeo: Daniel Planel
O GURI
Hélio Fernando Xavier Vieira nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul, no dia 3 de setembro de 1963. Desde criança pedia bolas de presente, escutava os programas esportivos das rádios gaúchas e cariocas. Sabia tudo de futebol e seus jogos imaginários na garagem de casa impedia a sesta que seus pais pretendiam tirar.
O fascínio do menino pelo futebol o levou à escolinha do Brasil Pelotas, onde seguiu no infantil, infanto-juvenil, juvenil. Fez sua primeira partida como profissional aos dezesseis anos. E foi castigado por um “gol contra”: por tirar notas escolares baixas teve que se afastar da equipe Xavante.
O amor pelo futebol era tanto que passou tratou de recuperar rapidamente as notas e assim voltou ao time Xavante.
– Sempre sonhei em ser jogador de futebol, se não tivesse conseguido, seria frustrado – diz ele, que se especializou em fazer milagres como jogador e treinador. O maior deles foi obra coletiva, contra o Flamengo pelo Campeonato Brasileiro (à época Taça Ouro, em 1985).
XAVANTE AVANTE
O Sport Clube Cruzeiro era um clube dirigido por funcionários da cervejaria Haertel. Até que uma insatisfação ocorrida entre os jogadores que foram chamados para construir uma cerca em volta do campo quando chegavam para treinar provocou uma debandada no clube.
Inconformados, Breno Côrrea da Silva e Salustiano Brito que faziam parte desse elenco, depois de algumas reuniões e assembleias fundaram, no dia 7 de setembro de 1911, o Grêmio Sportivo Brasil. Seriam necessários 29 anos para o mudar a palavra para “Esportivo” gerando a sigla GEB – antes era GSB.
A história do Brasil é repleta de feitos heroicos. Em 1919, por exemplo, depois de 16 horas de viagem de navio a vapor de Pelotas a Porto Alegre, o Brasil sagrou-se o primeiro campeão gaúcho, vencendo o Grêmio por 5 a 1.
A conquista fez o time pelotense ser convidado para o que considera ser o primeiro Campeonato Brasileiro, em 1920. Na verdade, era um torneio organizado pela CBD, com campeões estaduais e visava observar jogadores que poderiam ser convocados para disputar o Campeonato Sul-americano e os Jogos Olímpicos pela seleção brasileira. Além do Brasil, participaram o Paulistano (SP) e o Fluminense (RJ).
Outro feito memorável aconteceu em 1950. O Brasil foi convidado para disputar uma partida amistosa contra a seleção uruguaia. No Estádio Centenário aprontou. Venceu por 2 a 1 a seleção que meses depois seria campeã mundial, no Maracanã.
Considerado o time com a maior e mais apaixonada torcida do interior do Rio Grande do Sul, o rubro-negro Xavante também vivenciou uma tragédia em 2009. A delegação que voltava de um amistoso, em Vale do Sol (RS), contra o Santa Cruz, sofreu um acidente quando estava próxima da cidade de Canguçu (RS).
O ônibus em que jogadores, integrantes da comissão técnica e dirigentes viajavam despencou de uma altura equivalente a 15 andares, resultando na morte do preparador de goleiros, Giovani Guimarães, do zagueiro Régis e o maior ídolo da equipe, o uruguaio Claudio Milar, atacante com passagens por Botafogo, Nacional do Uruguai, Náutico, dentre outros clubes.
Atualmente o Brasil de Pelotas está disputando a segunda divisão do campeonato brasileiro, e terminou o campeonato gaúcho de 2017 na décima colocação.
OS ANOS NA CASAMATA
(Foto: Reprodução)
Quando terminou a carreira de jogador de futebol no Esportivo de Bento Gonçalves, Hélio foi convidado para ser gerente de futebol do Brasil de Pelotas, mas declinou.
– Não era minha vontade naquele momento, queria ser técnico! – diz.
Pouco tempo depois, recebeu novo convite para começar sua carreia de treinador, entretanto recusou novamente, pois não quis ocupar o lugar de seu amigo Silvio, treinador demitido do Brasil e seu ex-parceiro de defesa.
A partir de sua resposta, o Xavante contratou o antigo lateral do Internacional Vacaria, que durou pouco tempo no comando da equipe devido aos resultados ruins.
Em 1997, Hélio Vieira estreou à beira do campo no clube onde sempre se sentiu em casa. E no ano seguinte, conseguiu sua melhor campanha como treinador no estado, sendo campeão do interior (melhor equipe colocada depois da dupla Gre-Nal).
Hélio atualmente é um famoso personagem do futebol do interior gaúcho e catarinense, tendo treinando equipes como: Caxias, Veranópolis, Avenida, Novo Hamburgo, Brasil de Pelotas, Rio Grande, Brusque e Tubarão. Nos anos de 2003 e 2004 foi indicado ao prêmio de melhor treinador do campeonato gaúcho.
Nos últimos anos ganhou fama de milagreiro e passou a ser chamado para salvar equipes do descenso de divisão nas últimas partidas dos campeonatos. Foi assim que aconteceu nas duas últimas vezes em que dirigiu o Santa Cruz-RS e Cerâmica na primeira e segunda divisão do estado. E quando assumiu o São Paulo – RS, Aimoré, Farroupilha de Pelotas. O treinador ainda aguarda uma nova oportunidade para voltar a formar uma equipe desde o começo da temporada.
Hélio também teve passagem pelo Oriente Médio. Quando treinava o Al-Shabab da Arábia Saudita em 1998, teve apenas quatro derrotas em 40 jogos, foi vice-campeão continental e saudita, mas perdeu o emprego porque, segundo ele, não aceitou fazer “negociata”. Os dirigentes queriam obrigá-lo a escalar um jogador ruim para vendê-lo depois.
– Fui chamado pelo vice-presidente que o disse: “futebol é um negócio, terás que aprender isso, mas até hoje não aprendi” – conta.
Na Arábia, Hélio voltou a trabalhar nas equipes Al-Ittifaq, Al- Watani e Al-Riyadh. Comandou também o Dibba Al-Fujairah FC, nos Emirados Árabes.
O técnico gaúcho acredita que não é chamado para longos trabalhos em clubes porque não aceita ganhar dinheiro, além do salário, favorecendo empresários e jogadores de pouca qualidade. No entanto, quando os times ficam desesperados, lhe procuram.
– Eu incomodo – conclui.
O SONHO REALIZADO
Em 1983, aos 20 anos, Hélio, após a chegada de um treinador que atuava em Manaus chamado Airton Nogueira, passou a fazer parte da lista de dispensa, e seria emprestado ao Riograndense de Rio Grande. Porém, Airton ficou pouco tempo no comando do Xavante. Para seu lugar foi contratado Luiz Felipe Scolari.
Ao chegar ao clube, Felipão perguntou por um “branquinho” que havia jogado muito bem contra o Juventude, de Caxias do Sul, no ano anterior. O “branquinho” era Hélio, que conseguiu se manter na equipe. E neste mesmo ano foi o jogador que mais partidas jogou pelo clube, recebendo bicho extra por participação.
Scolari, Galego e Valmir Louruz são os treinadores preferidos de Hélio.
– Felipão tem um carisma muito grande, a convivência com ele e muito legal – salienta Vieira.
Durante sua carreira, o jogo que o ex-lateral relembra com satisfação é Grêmio versus Juventude, equipe na qual jogava. Ele fez dois gols e participou dos outros dois dando a vitória para equipe da serra por 4 a 2.
Mas sem dúvida a partida que lhe deu mais projeção foi Brasil x Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro de 1985.
TAÇA OURO
O Brasileirão de 85 foi disputado pelos 20 melhores colocados no ranking da CBF, nos grupos A e B. Remo e Uberlândia, campeão e vice da Taça de Prata, mais 22 clubes de 22 estados (equipes escolhidas a partir dos campeonatos estaduais) formaram os grupos C e D.
Quatro equipes de cada grupo – campeão do primeiro turno, campeão do segundo turno e os dois melhores de cada turno – foram classificados para a etapa seguinte.
Na segunda fase, os 16 times foram divididos em quatro grupos de quatro equipes. A equipe pelotense ficou na chave F junto a Ceará, Bahia e Flamengo. Os favoritos eram as equipes baiana e a carioca.
SIRVAM NOSSAS FAÇANHAS DE MODELO A TODA TERRA…
(Foto: Antônio Vargas / Agência RBS)
Na noite de 18 de julho de 1985, sob a lua nova e frio ardente, com arquibancada lotada, torcedores espremidos ao alambrado e outros pendurados nos muros do Estádio Bento Freitas, em Pelotas, mais de 20 mil torcedores Xavantes presenciaram a vitória do Grêmio Esportivo Brasil por 2×0 sobre o Flamengo de Zico, Bebeto, Andrade, Adílio, Tita, Mozer, Leandro e o treinador Zagallo.
Era muito difícil pensar em vitória ao comparar um elenco em que dos 11 titulares, cinco participaram de Copas do Mundo e sete foram campeões mundiais de clubes, e outro em que o volante titular Doraci teve seu passe adquirido em troca de 12 bolas de futebol com o Riograndense, da cidade de Rio Grande.
O jogo do grupo F – que contava também com o Ceará e o favorito Bahia – valia vaga na semifinal. Na zaga do rubro-negro gaúcho o caçula Silva (20) e Hélio Vieira (22), orientados por Valmir Louruz, não exerciam marcações individuais,
– Até porque, Zico, Tita, Adílio, Chiquinho e Bebeto se movimentavam muito! – justifica o então lateral.
No primeiro jogo entre os dois clubes, em 10 de julho de 1985, no Maracanã, o Brasil de Pelotas havia perdido por 1×0, gol de pênalti cobrado por Bebeto.
– Em uma jogada de linha de fundo pela direita, entrei de carrinho, a bola ficou presa nas minhas costas e o juiz entendeu que havia tocado em meu braço! – esta é a versão de Hélio Vieira.
Outro fato curioso neste jogo foi que em uma disputa de bola, a correntinha de ouro de Adílio acabou sendo arrancada e entregue para o arbitro Emídio Marques de Mesquita. Ao fim do jogo, o atleta rubro-negro carioca foi pegar a corrente com o árbitro, que falou ter entregue a joia para um jogador do Brasil. Até hoje ninguém sabe quem a pegou, cada um conta uma versão diferente.
Um erro de arbitragem no segundo jogo, em Pelotas, também deu o que falar. Ao invés de acabar o primeiro tempo aos 45, Romualdo Arpi Filho deixou a partida correr até aos 55 minutos. De acordo com Hélio “não teve maldade, o árbitro se perdeu, marcou errado, mas não houve má intenção”. Os dirigentes do Brasil (que ganhava de 1 a 0), revoltados, invadiram o campo e pediram o final do jogo.
Ecoando a canção Pingos de Amor, de Paulo Diniz em parceria com Odibar, a maior e a mais fiel torcida do interior gaúcho explodiu de alegria com o segundo gol Xavante, feito por Júnior Brasília em um lance no qual o jogador jurou aos companheiros ter visto Fillol adiantado e decidiu encobri-lo.
– Após receber alguns tapas no vestiário, Júnior admitiu que a intenção foi o cruzamento! – conta Hélio, rindo.
O eliminado Flamengo acabou a competição em 9º lugar.
A HÉLIO O QUE É DE HÉLIO
Para o segundo jogo que teria transmissão nacional da televisão aberta, a diretoria da equipe pelotense vendeu cotas de patrocínio no uniforme, além do permitido. O acordo entre diretores e atletas, segundo Vieira, foi:
– Vocês só vão entrar com a camisa, o juiz vai ver e vai mandar vocês trocar. Vocês voltam, mudam as camisas e podem ficar com elas para vocês!
No entanto, o juiz não observou o regulamento. Por isso, esse fardamento foi diferente de todos os outros jogos da competição.
Ao final da partida, o vestiário foi invadido por pessoas próximas. Em meio a alegria, um torcedor se aproximou de Hélio e disse que queria a camiseta. O lateral disse que ia ficar com ela, mas o fanático rubro-negro se prontificou a comprá-la por um valor maior que o bicho pago aos jogadores, estimado entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. O negócio foi fechado no vestiário.
O torcedor tirou o moletom e colocou a camisa toda embarrada e suada. E partiu feliz.
Em 2003 aconteceu uma reviravolta nessa história. Hélio jogava uma pelada de futebol society em um clube, quando chegou um torcedor e perguntou se ele estava morando em Pelotas. O ex-jogador respondeu que sim e que toda quinta-feira ia jogar futebol naquele campo.
O homem que o abordou então disse:
– Você se lembra de mim?
Hélio pediu desculpas e respondeu que não. O torcedor retrucou:
– Semana que vem vou te trazer uma coisa que é tua e que está comigo, tem mais valor para ti do que para mim.
Na semana seguinte, como prometido, o torcedor estava lá, e devolveu a camisa que tinha comprado há 18 anos.
MAS NÃO BASTA PARA SER LIVRE, SER FORTE, AGUERRIDO E BRAVO…
O primeiro jogo da semifinal contra o Bangu, em 24 de julho de 1985, foi realizado no Estádio Olímpico, em Porto Alegre. A prefeitura, algumas casas de comércio e empresas de Pelotas decretaram ponto facultativo à tarde a fim de possibilitarem a ida dos torcedores Xavantes à capital do Estado.
Dez mil torcedores rubro-negros percorreram 260 km de viagem em cem ônibus lotados e pouco mais de mil e duzentos carros.
Em cobrança de escanteio pelo lado direito, a bola bateu em Gilmar Batata, que fez gol contra.
– O grupo era unido, não tínhamos salto alto, perdemos os quatro jogos para o Bangu neste campeonato… Nada dava certo contra eles. Gilmar fechou o gol! – lamenta-se Hélio Vieira.
No jogo de volta no Maracanã, em 28 de julho de 1985, o Brasil de Pelotas saiu na frente do placar, com gol de Bira. No entanto, com gols de Ado e Marinho (2), o time carioca voltou a vencer.
– Na bicicleta de Marinho, a bola bateu em sua canela e entrou… Não adianta, faltou sorte…
Assim, o Brasil de Pelotas terminou em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro. É maior feito de um clube do interior gaúcho.
Júnior Brasília
O PONTA GARÇOM QUE VIROU FORMADOR DE CIDADÃOS
texto e entrevista: Claudio Lovato | vídeo: Edu Andrade | edição de vídeo: Daniel Planel
É uma manhã de terça-feira, no fim de junho, e José Francisco Solano Júnior circula pelas instalações do SESI Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. Cumprimenta e é cumprimentado a todo instante. Distribui sorrisos e recebe o troco na mesma agradável moeda. É um homem benquisto que está à vontade em seu ambiente de trabalho.
Trabalho que ele exerce com a satisfação daqueles que se realizam no cotidiano – a cada aula, a cada ensinamento que oferece generosamente, a cada chance que tem de compartilhar com os mais jovens aquilo que de mais importante aprendeu na vida.
Aqui, na cidade que o acolheu quando ele tinha apenas um ano de idade, em 1959, procedente de Alvinópolis, no interior de Minas Gerais, José Francisco Solano Júnior relembra, para o Museu da Pelada, momentos especialmente marcantes de sua carreira.
José Francisco Solano Júnior é Júnior Brasília.
Ex-ponteiro-direito de Flamengo, Cruzeiro e Brasil de Pelotas, entre outros clubes, camisa 7 clássico, ele gostava mesmo era de deixar a bola “queimar” na linha de fundo e então cruzar, para presentear o centroavante que chegava de frente, bola na testa do parceiro.
– Nunca fui de fazer muitos gols! Eu gostava mesmo era de ser ‘garçom’, servir os companheiros – diz Júnior, que foi “Júnior II” antes de se tornar “Júnior Brasília”.
Disputou seu primeiro Campeonato Brasileiro em 1975, aos 17 anos, pelo CEUB, de Brasília. Jogou tanto que, no ano seguinte, estava no Flamengo treinado por Carlos Froner e que tinha no elenco feras como Cantarelli, Rondinelli, Jaime, Júnior (a quem deve o acréscimo de “Brasília” ao seu Júnior), Geraldo, Cláudio Adão, além de um certo Arthur Antunes Coimbra, com quem Júnior Brasília nutre uma grande amizade, que atravessa as décadas.
Conquistou seu espaço no rubro-negro carioca, depois – envolvido numa troca que levou Raul Plassmann para a Gávea – foi para Minas, jogar em outro timaço da época, o Cruzeiro, esteve rodou no Paraná (Grêmio Maringá), Mato Grosso do Sul (Operário), Mato Grosso (Mixto) e então chegou àquele que é, até hoje, o clube que ocupa mais espaço em seu coração: o Brasil de Pelotas. Lá foi treinado por Luiz Felipe Scolari e por Valmir Louruz, ajudou a levar o Xavante à semifinal do Campeonato Brasileiro de 1985, tornou-se ídolo e herói de um clube e de uma cidade.
– Era um ambiente muito bom! Tínhamos realmente uma família, apoiada por aquela torcida maravilhosa. Sinto muita saudade daquele tempo! – relembra um emocionado Júnior Brasília.
Desde 1997, Júnior Brasília ensina futebol a crianças e jovens de 5 a 17 anos, no SESI. Mais que formar jogadores de futebol, ele quer ajudar a formar cidadãos.
– Essa preocupação é algo que não existia no meu tempo. As coisas mudaram bastante! – diz, com a satisfação e a alegria de quem, há muito tempo, aprendeu a se realizar com o seu aqui e o seu agora.
DO AVESSO
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Numa resenha, o boleiro Eduardo Alf (de Fla ao contrário, kkkk!!!) me pergunta o que achei de o técnico do Coritiba ter escalado Kléber Gladiador como capitão mesmo após ele ter dado uma cusparada no adversário. Sinceramente, Alf, não tenho tido prazer de comentar mais nada.
O país está do avesso, sem comando. Políticos fazem papel de palhaço, estádios são depredados por vândalos de torcidas organizadas, o Senado é invadido, nossos filhos são assassinados. No Brasil, o infrator sempre é beneficiado, Alf.
O jogador já tem o apelido de Gladiador. Quando não bate, cospe. E quando cospe vira capitão. Joga sob efeito suspensivo, faz dois gols e vira herói. E vamos que vamos!!!! O Mancini foi demitido da Chapecoense mesmo tendo sido campeão estadual com o time em frangalhos.
No Atlético Paranaense, Eduardo Baptista foi mandado embora e Paulo Autuori, que o indicou, se solidarizou e pediu demissão. Gesto nobre, raro nos dirigentes de hoje. E que nos surpreende, assim como nos surpreendemos com o fairplay de Rodrigo Caio.
O bem tem nos surpreendido. Até o balãozinho do Vinícius Júnior tem nos surpreendido. Hoje em dia, deu balão, fechou um contrato milionário. O belo está cada vez mais raro. Acho que o Alf ficou meio zonzo com o meu discurso e para não deixá-lo ir embora tão desmotivado como eu, contei que a última vitória do Flamengo sobre o Vasco, dentro de São Januário, foi em 73, com gol meu de falta em cima de Andrada, que costumava falar “La vem el negro” quando me aproximava da bola. O meio-campo do Fla tinha Liminha e Zé Mário.
Eu formava o ataque com Dadá Maravilha e Doval. O Vasco tinha Tostão, Silva, Eberval e Buglê. Nesse dia não teve briga e São Januário seguiu intacto. Alf sorriu, suspirou e perguntou: “Eram bons tempo, né, PC?”. Suspirei e parti.
A MÍDIA ALTERNATIVA COBRINDO O FUTEBOL
por Thiago Felix
Olivio Lamas/ Agência: O Globo
A descrença na grande mídia está presente nos últimos tempos, principalmente após a falha na cobertura da eleição do Donald Trump. Ninguém dos grandes players de comunicação conseguiu prever tal vitória. A palavra bolha foi a escolhida da vez. Mas um fenômeno interessante veio em paralelo a este. Os números de assinaturas de veículos de comunicação aumentaram, tanto do The New York Times, quanto o de outras mídias do jornalismo independente.
Parece que a entrada catastrófica de Trump acabou por aquecer a engrenagem dos meios de comunicação. As pessoas sentiram a necessidade de se manterem informadas. Mas a exigência de uma cobertura mais ampla, independente e fora da bolha urge.
O Futebol não fica de lado. Os canais que atingem a grande massa, como a Rede Globo e Bandeirantes em televisão aberta, a Jovem Pan e Energia 97 pelas ondas do rádio, disputam cada ponto de audiência. Restringindo ao público das televisões fechadas, a trincheira é disputada pelos canais Fox Sports, SporTV, Esporte Interativo e ESPN; no Jornalismo de portal o Globoesporte e o UOL Esportes dominam a cena. No impresso, a Placar tenta respirar e se reinventar desesperadamente.
Não há diversidade nessas mídias, eles praticamente se retroalimentam com as mesmas manchetes, disputando os mesmos anunciantes para sobreviverem pela publicidade. O conteúdo massificado garante uma fatia da audiência de acordo com o alcance do veículo.
Por um caminho distinto, tem muita gente querendo oferecer bons conteúdos, quando o assunto é a bola e os gramados. Uma gama de assuntos que não são abordados nas tradicionais mesas redondas e nos programas apresentados por rapazes de sapatênis e bem-humorados, encontram vozes nessas mídias. Conteúdo de qualidade a ser garimpado e encontrado. Mas mesmo sem o alcance que merecem, não deixam a bola cair e avançam no gramado.
Nós d’O CONTRA-ATAQUE também nos enquadramos nessa, por isso, criamos esta lista metalinguística de podcasts, sites e revistas. Para facilitar a vida de nossos leitores, compilamos, nos links abaixo, uma série de mídias alternativas que estão fazendo um belo trabalho. Um dossiê de ponto de partida para entorpecentes mais pesados. Cuidado, bom conteúdo vicia e ajuda a democratizar a informação. Boa caça ao tesouro!
BRASILEIROS
No Ângulo
Footure
Verminosos por Futebol
Corner
O Canto das torcidas
Trivela
Três Loucados
Casual Football
Atrox Casual Club
Mais Cinco Minutos
Peleja
Museu da Pelada
Futebolistas e Futeboleirxs
Meu time de Botão
Som das Torcidas
Zé no Radio
Ultrajano
Sportlight
Correspondente Premier
Fronteiras Invisíveis do Futebol
Dibradoras
Vice Sports
Sem Firulas
Blog 4–3–3
Elas na área
GRINGOS
The Blizzard
Off Side
Panenka
Futebol Magazine
El Scorpion
Copa90
De cabeza
Revista Sudor
EU, NEIL YOUNG E O FIM DO PACAEMBU
por Marcelo Mendez
(Foto: Marcelo Ferreira)
Não havia um sentido, uma razão especifica para eu sair de casa, num dia frio e chuvoso para ir a um estádio ver um jogo de futebol entre times reservas, pouco afins de estarem ali, tanto quanto eu, tanto quanto muitos.
Há tempos, desde que a cobertura esportiva virou meu oficio, que não ia para um estádio apenas para curtir um futebol. Todavia, dessa vez não era pra qualquer estádio, falo do Pacaembu e então o jogo nem importa tanto.
Era dia de ir ao Pacaembu e então fui…
No começo da tarde do sábado ao entrar no trem que me levaria até a Estação Barra Funda, as coisas começaram a chegar perto de uma clareza. Ou algo parecido…
Tal e qual Marcel Proust, eu caminhava em Busca de Um Tempo Perdido.
Uma época em que de alguma forma eu sonhei. Tempo que fui menino, coisa muito maior, muito mais divina e bela do que o homem, o jornalista que sou hoje; Cronista apaixonado, virado e transvirado à procura de amores, encantos, poesias e afins.
SONHOS COMO METAS…
Da janela do trem vi o mundo ao som de Neil Young cantando Out On The Weekend. Em um dos versos ele cantava “Veja o rapaz solitário/Saindo pro fim de semana/Tentando fazer valer a pena/Não se identifica com a alegria/Ele tenta falar… E não consegue começar a dizer” – Emoções…
Nem sempre dá para colocar para fora, ou transformar em letra, palavra, tudo que se sente. É inevitável na vida do cronista a vontade de se dar ao luxo de ouvir, ou ler o silêncio. Mas eu saí para fazer valer a pena como dizia a canção e, de imediato ao chegar na Barra Funda, senti que conseguiria. Decidi manter a essência que sempre me levou ao Pacaembu, desde a primeira vez, lá em 1985.
Na época não existia a estação mais próxima do metrô, a Marechal Deodoro, então a caminhada era pela Avenida Pacaembu.
Marchando por aquela rua, acompanhado de milhares de torcedores, cada qual com sua camisa, sua crença, sua história, sua reza e sua poesia, eu, menino de 15 anos, sentia que fazia parte de algo grande, épico, gigantesco. O caminho do coliseu romano não é nada diante de uma andança até a entrada do Portão Monumental do Pacaembu em frente à Praça Charles Miller!
O jogo era entre São Paulo x Palmeiras, a peleja terminou empatada em 4 a 4, e a tarde de sol fechou com um golaço do Pita para o São Paulo, gol que me esforcei pra não comemorar de tão belo que foi, e mais outros tantos do meu Palmeiras.
Saí pela avenida afora falando com desconhecidos, debatendo a peleja como se aquilo fosse realmente sério, curtindo a vida como se ela fosse realmente boa, um estádio de futebol… O Estádio de futebol de quando fui menino era uma das melhores representações populares do Brasil.
Então tudo passou…
A TRISTEZA É A NOVA META…
Agora, com 46 anos de idade. Homem feito, barba na cara, boca lindamente beijada. Olhar atento às coisas que cerca o que se diz por aí ser “o mundo moderno”. Na verdade isso nada mais é que um grande nada, um vale vazio de emoções e sensações. Espaços preenchidos com a nulidade de Prédios, condomínios e seguranças. Muita tecnologia ao longo da minha caminhada e nenhum bom dia! Entre todas as novidades do mundo não consta a gentileza ou nada que seja humano. Cheguei perto do Estádio.
Havia lá uns rostos diferentes, pessoas apressadas, com seus super celulares. Não achei por bem atrapalhar. Olhei em volta e encontrei uma aprazível barraca de lanches.
Quando moleque que ia ao Pacaembu, uma das melhores coisas que tinha, muitas vezes melhor até que o jogo, era o lanche de pernil e de linguiça calabresa, vendidos em frente ao estádio. Me aproximei e pedi meu lanche. A senhora que me atendeu, bem simpática, aproximadamente 60 anos, me disse que se chamava Mariela. Viu que eu conferia umas anotações e então me perguntou:
– O senhor escreve para algum jornal?
– Sim, quer dizer, escrevia, o jornal que eu trabalhava fechou as portas.
– Ah entendi. Nossa, que pena, as coisas estão duras né?
Concordei que sim e ela disse que capricharia então no meu lanche. Depois comentou:
– Sabe, moço; eu trabalho aqui no Pacaembu desde 1981. Ganhei minha vida aqui com essa barraca. Sustentei a família, criei minhas filhas, paguei faculdade delas, acho que não tenho o que reclamar. Mas a única coisa que sinto falta é de quando havia mais paz, sabe? De quando as pessoas davam mais risadas, eram mais cordiais. O senhor olhe para os rostos desses meninos que vêm aos jogos hoje; tristes, né? Todos agoniados, tadinhos…
Ouvi com atenção. Paguei o lanche, trocamos mais algumas palavras e fiquei a pensar nisso que ela havia me dito;
“OS MENINOS DE ROSTOS TRISTES”
Não sei. Até aquele instante, não havia direcionado meu olhar para este prisma. Mas a partir do começo do jogo, com o que vi dentro do Pacaembu, ficou muito claro o que Dona Mariela, a simpática senhora da banca de lanches, tentava me dizer.
Não via la dentro nada do que mais pulsava dos meus tempos de menino de arquibancada no Pacaembu. Aliás, nem arquibancada tem mais por lá; Agora são “cadeiras”. Amarelas, vermelhas…
A alegria agora é “comedida”.
O público mudou, não há mais muitos moleques do ABCD para comprar ingressos, os tais tempos modernos agora criaram uma coisa que chama “Programa de Fidelidade de Sócio-Torcedor”. E os ingressos todos vão para estes, que pagam por uma mensalidade ou algo parecido, para ter algumas vantagens na aquisição de produtos referentes à marca que hoje é o clube. Justo. Assim como justo foi o que aconteceu no campo de jogo.
Duros os tempos em que não se pode sonhar com mais nada que gere encanto além da meta fria e pobre. O Palmeiras que enfrentava o Grêmio, conseguiu essa meta com um 1 a 0 burocrático e chato. Esperei que o povo saísse, enquanto isso fiquei no Estádio.
Aos poucos, ele foi ficando vazio e o silêncio tomou conta do gigante de concreto.
Agora o Pacaembu não será mais do povo. Um grupo aí de uns tais “gestores” decidiu que ele precisa ser privatizado, que não dá mais para eu, nem os novos garotos de 15 anos, nem Dona Mariela que vende lanches, frequentarem o velho Estádio.
Os homens ditos modernos não entendem das necessidades básicas de alegria que rege os corações em fúria santa, de uma juventude que quer cantar, vibrar, beber cerveja, comer carne, fazer festa… Agora tudo precisa ser “Cuidado”
Triste.
O vento frio que o silêncio trazia, me fez olhar para o velho Pacaembu. Por uns instantes pensei em tudo isso, voltei a ouvir o Neil Young a assoprar cantos de folks ouvindo; “Old Man”:
E pensando no velho de concreto, chorei como se a vida fosse bela…