Escolha uma Página

O GOL DE MAX E A SAGRAÇÃO DO DOMINGO

por Marcelo Mendez


Domingo último no caminho da cobertura do jogo entre DER x Unidos do Morro, me peguei envolto a pensamentos e apreensões dos tempos que vivemos.

A saudável teimosia de se ter alguma responsabilidade e o sol por testemunha de tudo.

No trólebus a caminho do estádio Baetão em São Bernardo, repousei a cabeça na janela, liguei o fone e ouvi Jhonny Shines cantar; “Two Steeps to Hell”…

O lamento profundo de um Blues rasgado do peito de um homem que viveu um milhão de mortes como Shines viveu tem toda densidade onírica necessária para entender e se aproximar do que se sente nos terrões e arrabaldes de onde se pratica o futebol da bola marrom. A várzea…

O futebol de várzea é um universo paralelo de homens que “quase foram”, de meninos de 20 e uns poucos e parcos anos que não podem mais sonhar em ser jogador de futebol profissional por conta do avançado da idade.

O que pode então ser mais melancólico do que um “velho” de 20 e poucos anos? O que pode ser mais triste do que se ver podado do seu direito de sonhar?

Sim, caros, esses meninos não servem mais para o futebol profissional e elitizado. É nesse momento que a várzea os acolhe.

É ali então, onde se tem meninos de 20, de 40 ou 50 anos a jogar pela mesma camisa. Gordos, magros, pretos, brancos, amarelos, pobres sim, porém felizes por profissão de fé. Na várzea vem o réquiem necessário para o sonho que todo humano precisa. Que todo mundo tem que ter direito de viver. E domingo foi a vez de Max vivê-lo.

E como viveu…

Jogados lá um punhado de minutos os quais não faz a menor diferença. O Estádio do Baetão lotado das gentes humildes e simples, com entrada grátis, churrasquinhos e drinks psicodélicos nas tribunas, tinham em seus rostos, risos de plenitude. O jogo comia; tudo era extasiante e a beleza do espetáculo de humanidade era tanta que eu custava a me concentrar no que acontecia na cancha.

Eis que a bola chega no fundo no campo…

Tal e qual os bons laterais antigos, Daniel vai ao fundo, levanta a cabeça e cruza a bola na área em direção a Max. O atacante do DER podia fazer tantas outras coisas apenas burocráticas… Podia escorar a bola para quem vinha de trás, podia deixar a bola passar para tentar dominá-la, podia ter tentando um chute apenas comum, mas não…

Max estava na várzea. Ela, a várzea, não o perdoaria se ele não fizesse o que fez:

Com a beleza de mil Nureyevs a bailar, com a leveza dos malandros bailarinos da Lapa carioca, brasileiro como os grandes do futebol, Max deu apenas um passinho para trás, lançou seu corpo de menino ao alto e então, como um guepardo, finalizou em um voleio épico a estufar as redes do Unidos do Morro.

Épico!

Os instrumentos de samba o saudaram, o bebum se desfez de sua cerveja arremessando o copo de plástico cheio ao alto, o casal apaixonado se beijou nas arquibancadas, o cronista se emocionou! Todos saudaram Max e sua obra de arte.

A grama de plástico do Estádio Baetão teve a honra de ver um menino do terrão ser maior que Gaudi, Truffaut, Ticiano, Monet e Goya. Sua obra de arte foi muito maior que todas dos Mestres!

Que lindo aquele gol!

Depois dele, o jogo seguiu. O DER de Max venceu por 2×1 e vai para a final do campeonato de São Bernardo.

Ao término outras conveniências se cumpriram, mas nenhuma delas importava. Então me desviei delas para observar Max indo para o vestiário. Vi que no seu rosto havia toda uma imensidão de um sorriso.

Nesse momento o domingo passou a ser completamente, Santo…

BALTAZAR ANDA COM FÉ… E GOLS!

por André Felipe de Lima


No início da década de 1980 uma geração de jogadores proclamou-se “representante digna da fé religiosa” nos gramados. Eram os “atletas de Cristo”. Um dos expoentes chama-se Baltazar, o centroavante presbiteriano que marcou época no Grêmio e foi um dos protagonistas da conquista do primeiro campeonato brasileiro do tricolor gaúcho, em 1981. Nenhum jogo seria ganho, reforçava o artilheiro “pastor”, caso não houvesse uma “intervenção divina” graças às leituras dos “Salmos”. Jogos, títulos, troféus… tudo tem, afinal, o “dedo de Deus”. “Quando não faço gols, é porque Deus não quis. Quando marco, é porque estava em Seus planos. E olha que fui artilheiro do Campeonato Goiano. Tudo começou a acontecer quando descobri Deus […] Tornei-me titular, meu salário aumentou, fui artilheiro, o Grêmio me quis. Puxa, isso diz tudo!”, declarou, em maio de 1979, Baltazar, ainda jovem craque, que acabara de chegar ao Grêmio, convicto de que entraria para a história do clube gaúcho. Fé e, sobretudo, muito trabalho o garantiram no panteão de ídolos imortais do tricolor.

Baltazar Maria de Morais Júnior nasceu no dia 17 de julho de 1959, em Goiânia. Converteu-se graças à influência dos pais, seu Baltazar e dona Conceição. “Um dia, entrei no meu quarto, ajoelhei-me diante de uma imagem de Cristo e pedi, com muita fé, que Ele me ajudasse, que desviasse minha mente de namoricos e festinhas. Senti que havia um grande vazio no meu coração e só Deus poderia preenchê-lo.”

O ainda menino Baltazar deixou de lado o carteado das concentrações dos juvenis, as festinhas e os namoricos. A fé veio junto com o sucesso no futebol, com um alvissareiro começo de carreira no Atlético Goianiense, em 1978, time de sua cidade natal, Goiânia, aos 17 anos. Logo no primeiro ano como profissional, foi artilheiro estadual, marcando 31 gols no campeonato, um recorde até hoje imbatível no futebol goiano.


No mesmo ano em que explodiu no Atlético Goianiense, Baltazar cursava Matemática. O sonho era ser engenheiro, mas o talento com a bola parecia seduzir-lhe mais que os números e equações. Em maio do ano seguinte, na maior transação da história do futebol goiano, o centroavante seguiu para o Grêmio, que pagou três milhões de cruzeiros para tê-lo no Olímpico. No clube gaúcho, conquistou, de cara, campeonato gaúcho de 1979, marcando 19 gols em apenas 20 jogos. Logo após o título, a Federação Goiana de Futebol reconhecera o valor de Baltazar, premiando-o com cinco mil cruzeiros, pelos 31 gols do campeonato goiano do ano anterior. O craque doou todo o dinheiro à sede goiana do Movimento de Recuperação de Viciados em Tóxicos.

Em 1980, Baltazar seria “bi” gaúcho e artilheiro principal da competição, com 28 gols. Seus gols garantiram uma vaga nas seleções brasileiras das categorias de base. A fé e, sobretudo, os gols de Baltazar foram exaltados também no Palmeiras, Flamengo e Celta de Vigo, na Espanha.

Todo gremista que viu Baltazar vestir a camisa tricolor vibrou com seus gols. O único lamento era, porém, a escassez de gols do artilheiro em clássico Grenais. Durante os anos em que esteve no Olímpico, Baltazar marcou apenas três gols contra o Internacional. O saudoso Luiz Carvalho, outro ídolo gremista e maior artilheiro tricolor contra o Inter, pedia, em outubro de 1981, às vésperas de mais um embate encarniçado contra o arquirrival, paciência aos torcedores mais exaltados. Dizia que Baltazar, embora goleador nato, nada poderia fazer se não tivesse um bom “garçom” a lhe servir bolas à vontade para estufar as redes coloradas: “Ele precisa de alguém que o ajude, porque sozinho não dá”. Os meias Paulo Isidoro e Vilson Tadei, companheiros de Baltazar em 1981, rechaçaram a opinião do ídolo Luiz Carvalho e garantiram que a sorte estava era mesmo do lado do paraguaio Benitez, goleiro do Inter. Foguinho, outro ídolo imortal do panteão gremista, alertou para uma insegurança de Baltazar diante do Inter: “O problema é que Baltazar não tem uma personalidade marcante. Por isso, sente as críticas e perde a segurança. Eu o aconselho a ter mais confiança nele mesmo”.

O conforto de Baltazar ficava por conta de Myrna, a dedicada companheira do craque, tanto nos momentos mais felizes ou nos duros da carreira do grande atacante. De Myrna, Baltazar nunca se separaria, e com ela, teve dois filhos.

TUDO PELA FÉ

A credulidade exacerbada de Baltazar rendeu algumas histórias, no mínimo, surreais e lendárias. Ainda no Grêmio, o craque artilheiro se preparava para embarcar com a delegação do time para o Rio de Janeiro, onde haveria um jogo contra o Flamengo pelo campeonato brasileiro. Ele se recusou a embarcar por que teria esquecido sua bíblia em casa. A situação foi extremamente desconfortável e o chefe da delegação teria oferecido ao centroavante a sua bíblia particular. Baltazar recusou. “Tenho que buscar o Livro de Deus. Nem que seja para pegar o vôo seguinte, pagar a passagem do meu próprio bolso, e me encontrar com vocês lá no Rio”, teria dito o craque.

Ao desembarcarem, os companheiros compraram imediatamente uma bíblia para Baltazar, que aceitou mais por educação do que por convicção. Prenúncio de “tragédia” no Maracanã? O Grêmio realmente jogou muito mal no primeiro tempo, Baltazar idem. No segundo tempo, porém, há algo no ar. O “Artilheiro de Deus” retornou ao gramado renovado. E não foi por causa da preleção do técnico. “Foi Deus”, teria alegado.

Marcou o gol da vitória do Grêmio e garantiu que a mão divina estava nos seus pés, graças ao “perdão obtido por ter esquecido a bíblia em Porto Alegre”. Jogo terminado, Baltazar concedeu as costumeiras entrevistas no campo e seguiu para o merecido banho no vestiário. Ao remexer sua bolsa, a surpresa: A bíblia… a sua bíblia estava ali, diante dele, como uma espécie de milagre. O autor? Deus? Que seja, mas a colaboradora de Deus no milagroso transporte do texto sagrado foi a esposa de Baltazar, que após conversar com o centroavante pelo telefone, horas antes do jogo, pegou um avião imediatamente rumo ao Rio, desceu no aeroporto e, de táxi, chegou rapidamente ao Maracanã. Autorizada pelo roupeiro do Grêmio, entrou no vestiário e colocou a bíblia de Baltazar na bolsa do craque minutos antes do final do primeiro tempo. Correu para a arquibancada e ainda presenciou o feito do renovado marido durante o segundo tempo. Estava consumado o milagre do Grêmio, dos pés de Baltazar, da perseverança da esposa do ídolo e, vá lá, com mão do chefe lá de cima.


Mas a carreira de Baltazar sempre esteve muito acima de milagres. Seus gols nada tinham de metafísicos ou subjetivos. Eram reais, para a alegria do futebol nacional. Foi dos pés do craque que o Grêmio iniciou sua trajetória de títulos para além dos pampas. Na final do campeonato brasileiro de 1981, contra o São Paulo, no lotado estádio do Morumbi, um golaço de Baltazar, após uma jogada que começou com o lateral direito Paulo Roberto, passou por Renato Sá, que, de cabeça, levantou na área para a “matada” de bola seguida por um chute certeiro de Baltazar contra a meta de Waldir Peres. A “Máquina” do Morumbi caiu diante do tricolor gaúcho.

Em agosto de 1982, o jogador, sem um bom clima no Grêmio após a perda do título estadual de 81, foi transferido, por empréstimo, para o Palmeiras [para onde regressou no segundo semestre de 1983]. Sua passagem, que durou até dezembro, foi, no entanto, curtíssima e aquém do seu farto futebol. Nas duas fases em que esteve no Verdão, disputou 70 jogos, venceu 26, empatou 28 e marcou 25 gols. Antes de se transferir para o futebol espanhol, vestiu ainda as cores de Flamengo, em 1983, após um troca-troca entre os clubes envolvendo também o meia Tita. Na verdade, Baltazar tinha chances de permanecer no Palmeiras, mas a diretoria gremista queria o craque do Flamengo a todo custo. “O que eu não queria mesmo era voltar para o Grêmio, porque me sentia rejeitado pela diretoria que acabara de assumir. Como eles estavam loucos atrás do Tita, acabaram melando minha contratação pelo Palmeiras para poderem fazer a troca com o Flamengo.”

Ao lado de Zico e Júnior, Baltazar ajudou o rubro-negro a conquistar o tri-campeonato brasileiro, em 83. Poderia ter ficado mais tempo no Rio de Janeiro, mas, logo que chegou à cidade, assustou-se com o verão carioca, como descreveu a repórter Maria Helena Araújo: “Passeando pelas areias quentes de Ipanema, Baltazar parece tão à vontade quanto um torcedor do Fluminense perdido no meio da galera flamenguista, em pleno Fla-Flu. A brancura de sua pele o deixa encabulado e produz um contraste chocante com o bronzeado dos corpos seminus que desfilam diante dos seus olhos. De súbito, como que fareja algo estranho no ar, ele franze o nariz e indaga: ‘Que cheiro estranho é esse?’ O cheiro era inconfundível e vinha de um cigarro de maconha que corria de mão em mão, num grupinho de pessoas ao lado. Baltazar balança a cabeça num gesto de reprovação e vai embora.”

E foi mesmo, um ano depois, após a segunda e curta passagem pelo Palmeiras, no segundo semestre de 83, para o Botafogo, com o qual foi artilheiro do campeonato estadual de 84, com 12 gols, ao lado de Cláudio Adão, do Bangu.

Do Rio à Espanha, Baltazar chegou a Vigo em agosto de 1985 para defender o Celta. No ano seguinte, no dia 21 dezembro, em jogo válido pela segunda divisão espanhola, sofreu uma grave contusão após involuntariamente chocar-se com o goleiro Gallardo, do Málaga, que sofreu uma comoção cerebral e morreu dezoito dias após ficar internado, em coma. Muito abalado, Baltazar o visitou duas vezes no hospital. Na temporada seguinte [1986/87], enfim, a volta por cima. Baltazar recebeu elogios e a reverência da torcida e crítica espanholas, ajudando ao Celta a retornar à primeira divisão, com 34 gols, um recorde da segundona italiana, que perdurava desde 1969. Baltazar era chamado de “El rei”, pelos fanáticos torcedores.

Baltazar gostou do “milagre”, e quis mais. Em outubro de 1988, já pelo Atlético de Madrid, a revista Don Balón — que o batizou de “El Diós del gol” — concedeu a ele o prêmio de melhor jogador estrangeiro na terra do flamenco. Não era para menos. Os 35 gols assinalados na temporada 1988/89 garantiram ao “Artilheiro de Deus” o troféu “Chuteira de Ouro” do futebol europeu, desbancando o mexicano Hugo Sanchez, ídolo do rival Real Madrid, principal artilheiro espanhol nos três anos anteriores. Sua missão estava cumprida na Espanha: marcou 53 gols em duas temporadas. Do Brasil, o técnico da seleção brasileira, Sebastião Lazaroni, não ignorou o feito e o convocou. Mesmo na reserva de Romário, Baltazar esteve presente na conquista da Copa América em 1989, realizada no Brasil.

O ex-goleador anunciou, em outubro de 1990, ao presidente do Atlético de Madrid, Jesus Gil, que deixaria o clube. Baltazar trocou a Espanha por Portugal. No Porto, jogou em 91. Não se adaptou e foi para o Rennes, onde permaneceu até 1993. Regressou ao Brasil em 1993 para defender o Goiás. Foi campeão goiano em 1994, realizando o sonho de levantar um troféu em sua terra natal, e deixou o clube no ano seguinte, seduzido pelo futebol japonês. No Goiás, Baltazar percebera que a idade já lhe comprometia a carreira. Simplesmente, o treinador do time era mais novo que ele. Era o sinal.

O craque terminou a carreira em 1996 no Kyoto, evidentemente longe do brilho de outrora, mas com uma marca invejável de 412 gols ao longo da jornada nos gramados.

Na seleção, apesar do sucesso nas divisões de base, raramente era lembrado. Telê Santana foi quem mais deu oportunidades a ele. Já aposentado da bola, Baltazar tornou-se empresário de jogadores e presidente da “Missão Atletas de Cristo do Brasil”.

Quando Baltazar abandonou os gramados, sofreu, como todo jogador, com o fim da carreira: “Orei pedindo uma direção, foi um tempo difícil. E me recordei que, quando jogador, participei sem cobrar nada de transferências [de outros jogadores] para a Europa. Tive satisfação em ajudar e resolvi experimentar de novo, desta vez profissionalmente”. Um dos craques que Baltazar levou para a Espanha, nos tempos em que ainda era um “empresário amador”, foi o amigo Donato, que na época brilhara no Vasco. Donato tornou-se um dos maiores ídolos do futebol espanhol em seu tempo. E Baltazar continua inesquecível, como um dos melhores atacantes que o Brasil produziu nos anos de 1980.

QUEM DESEJAR CONHECER A OBRA COMPLETA “ÍDOLOS & ÉPOCAS”, BASTA ACESSAR O LINK DA AMAZON: https://www.amazon.com.br/%C3%8Ddolos-%C3…/dp/B096SRN4JX

 

PORTÕES FECHADOS

por Maurício Valladares


(Foto: Márcio Alves / Agência O Globo)

Dei uma ligada para Vaguinho, o maior e mais descabelado componente da crônica esportiva no cone sul.

A pauta do papo foi saber dele a razão pela qual os gênios da justiça (?!) esportiva (?!) brasileira optaram por fazer Vasco x Santos, ontem, no Engenhão, com portões fechados.

PQParille, só em escrever isto me dá uma vontade incontrolável de gargalhar e chorar ao mesmo tempo… enfim, o estrogonófico Vaguinho – educadamente – respondeu:

– E claro que esses FDP não querem nada além de fazer merda. a preocupação deles está longe de ser algo educativo. não estão nem aí para tentar resolver essa desgraça. Longe de, realmente, punir os envolvidos nos lamentáveis fatos que rolaram em São Januário. Porra, qual a participação do estádio no que aconteceu no Vasco x Fla? O estádio tem culpa? São Januário desabou? Houve invasão do espaço reservado pra torcida do Fla? Por que a justiça não grampeou o Eurico como responsável direto pelo fatos? Por que não identificaram 90% dos que apareceram na TV fazendo merda? Porra, estão todos lá com as carinhas à disposição dos que são realmente interessados em combater essa doença. Mas não, como esses FDP não sabem o que fazer, seguem o caminho mais fácil e que dá a eles a máscara midiática de paladinos da justiça. cambada de imundos… e ainda puniram torcida do Santos , arrancando dela o direito de vir ao Rio … e, mais ainda, privaram todos os que gostam de futebol no Brasil de assistir, decentemente, a um dos maiores clássicos dessa merda de país.

Well, well, well, Vaguinho seguiu – inoxidavelmente – no desfile de razões que justificou a maluquice dos gênios da justiça (?!) em colocar Vasco x Santos no Engenhão sem torcida… quando, ao interromper o discurso, levantei a questão:

– Mas Vaguinho, se essa corja conseguisse pensar em algo positivo-moralizador-inovador e que não punisse, injustamente, o estádio e a torcida do Vasco (que NADA têm a ver com a desgraceira) que tal seria se eles dessem a ideia de manter Vasco x Santos em São Januário, EXCLUSIVAMENTE, para crianças e mulheres?

E Vaguinho respondeu:

– Porra, mas aí, é ser muito inteligente e criativo, coisa que está anos luz dessa gente inútil… bastaria seguir o exemplo que aconteceu na Turquia com o Fenerbahce que passou pela mesma situação de violência da torcida mas a justiça de lá optou por algo totalmente moralizador e que, acima de tudo, preservou o clube e a verdadeira paixão de seus verdadeiros torcedores!

Fica o exemplo pra essa quadrilha que tem como objetivo principal acabar com o futebol…

 

 

CARLOS ALBERTO TORRES, O CHUTE PARA A GLÓRIA MAIOR DO NOSSO FUTEBOL E QUE SAUDADE DO CAPITA…

por André Felipe de Lima


Pelé desviou o olhar e rolou a bola, que parecia obediente ao “Rei”. Quem a recebeu foi o lateral-direito Carlos Alberto Torres, que chutou forte. Tiro colossal contra a meta do goleiro italiano. Quarto gol brasileiro. Eram 42 minutos do segundo tempo e nada mais restou a todos que estavam no Estádio Asteca a não ser bater palmas para, talvez, o melhor time de futebol já formado. O Brasil conquistou o tricampeonato mundial e Carlos Alberto entrou para a história como o capitão mais jovem [tinha apenas 25 anos] de uma seleção campeã, que, diga-se, foi uma avassaladora máquina de jogar bola. Mas o brioso lateral, que herdou a camisa dois das mãos do imortal Djalma Santos, imortalizou uma imagem: o “Capita” [capitão em italiano] beija e depois ergue a Taça Jules Rimet, que após o 4 a 1 sobre a Itália ficaria definitivamente no Brasil. Uma cena marcante porque foi vista simultaneamente por milhões de pessoas em todo o mundo coladas na telinha de um televisor. A Copa de 70 foi a primeira a ser transmitida pela TV via satélite, iniciando a comercialização maciça da mais eloquente competição de futebol do planeta.

A cena de Carlos Alberto é o divisor de águas na história do futebol. E muita coisa deve ter passado pela sua mente naquele momento em que recebeu a Taça Jules Rimet. Um filme de sua vida, quem sabe. Dos tempos em que jogava bola nas ruas da Vila da Penha, subúrbio do Rio, aos momentos no Fluminense e Santos, clubes que defendeu antes da Copa.


O “Capita” nasceu no bairro de São Cristóvão, em 17 de julho de 1944, mas cresceu na Vila da Penha. Quando criança, muitas memórias felizes, mas algumas, nem tanto. O pai, que não o queria como jogador de futebol, chegou a surrar-lhe. Sob um choro constrito, o garoto respondia:

– Não adianta o senhor me bater. Eu quero ser jogador de futebol.

Desde pequeno, sinais de obstinação. Nem as broncas paternas e a rejeição do Bonsucesso, em 1958, desanimaram-no. Tinha uma certeza: a de um dia tornar-se um craque. Se o time suburbano não o quis, houve gente nas Laranjeiras que acreditava no jovem Carlos Alberto. Chegou lá e, sem que o pai soubesse, inscreveu-se no clube. Em pouco tempo, o rapaz despontou no juvenil do Fluminense e logo seria lembrado para as seleções brasileiras de novos. Em 1963, um ano após estrear no time principal do Fluminense, substituindo o titular Jair Marinho, veio o primeiro título com a amarelinha: a medalha de ouro dos jogos Pan-americanos de 1963. No ano seguinte, Carlos Alberto seria campeão carioca pelo Tricolor, com apenas 20 anos. O pai já não contrariava mais os ideais de Carlos Alberto. Aceitou o destino do filho e apoiou-o para o que desse e viesse. Sempre que podia, estava no estádio para vibrar com as jogadas elegantes do seu menino.


Quando ainda atuava pelo time juvenil do Tricolor, Carlos Alberto tinha um fã: o tio, Jaime Silva, ex-presidente do Guarani de Campinas, que chegou a prometer ao rapaz um carro caso subisse para o time principal. O presente nunca chegou a Carlos Alberto. A repórter Semiramis Alves Teixeira acompanhou de perto a história e assim escreveu em 1965 para a Gazeta Esportiva Ilustrada: “Não deu [o carro] porque depois começou a achar que seu sobrinho era péssimo jogador, como ele dizia, na mais pura gíria, ‘grosso mesmo’. Quando se arrependeu, era tarde demais. Os pais [de Carlos Alberto], que moram no Rio, assim como os irmãos, ficaram felicíssimos com sua vinda para o Santos, que já tentara anteriormente sua aquisição. O Botafogo também o fizera e pela mesma quantia [duzentos milhões], mas o Fluminense não quis vender o zagueiro.”

O lateral permaneceu no clube da rua Álvaro Chaves até 1965 e só retornaria em 1976 para compor a máquina montada por Francisco Horta e ser novamente campeão estadual. O “Capita” jogou 169 vezes pelo Fluminense e marcou 20 gols. Anos mais tarde, precisamente em 1984, o presidente do Fluminense, Manoel Schwartz, convida-o para assumir a direção de futebol do clube. De cara, uma tacada ousada. Carlos Alberto traz o craque paraguaio Romerito e monta um time quase imbatível, que conquista o campeonato brasileiro de 84. Meses depois, já como treinador, o “Capita” conduz o time de Assis, Romerito, Washington, Delei e Cia. à conquista do Campeonato Carioca.


Mas foi o Santos, de Pelé, que mais alegrias proporcionou ao lateral. Foram tantas, de 1965 a 70 e de 1972 a 75, que o ídolo confessou ter uma “quedinha pelo Santos”, embora, no começo da carreira no clube, teria dito gostar do Palmeiras por conta do primo, o zagueiro Djalma Dias, que lá jogava. Na primeira fase em que esteve no Alvinegro praiano, cansou de tanto erguer troféus. Chegou à Vila Belmiro com pompa. “Minha venda foi a maior negociação do futebol brasileiro até então: 200 milhões de cruzeiros”. A vida no Santos era de causar inveja a qualquer jogador. O jovem lateral carioca jogava entre feras, que já não precisavam conquistar mais nada para o clube. Foram campeões paulista, continental e mundial.

Durante sua passagem pelo Santos, onde seu irmão Beto também treinou no começo da carreira, Carlos Alberto era presença garantida em qualquer escrete. Em 1968, o segundo título pela seleção: campeão da Copa Rio Branco. Faltava apenas a Copa do Mundo. Quase esteve na de 1966, na Inglaterra, mas foi vetado por Vicente Feola. Acreditava piamente ser um “intocável”, mas decepcionou-se quando lhe avisaram sobre o corte. A esperança ficou para os próximos quatro anos e, em 1970, concretizou-se o sonho de ir a um mundial e, mais ainda, o de ser capitão do escrete que encantaria milhões de pessoas.

De todos os jogos da Copa de 70 que o Brasil disputou [e venceu!], Carlos Alberto define o embate contra a Inglaterra como o mais difícil. Parecia um jogo de xadrez que uma partida de futebol. Qualquer erro de um dos lados determinaria a vitória. O Brasil não errou, a Inglaterra apenas uma vez. Foi um jogo duro, mordido. O “Capita” teve de sair da lateral para dar um chega-pra-lá em Farncis Lee, ponteiro adversário, que minutos antes havia chutado o rosto do goleiro Félix. Carlos Alberto parece ter intimidado o gringo, que não tocou mais na bola.

O resto é história… com a Jules Rimet em casa, nada mais faltava para Carlos Alberto Torres conquistar em sua carreira de jogador de futebol. Com a camisa canarinho, disputou 73 jogos, venceu 54, empatou seis e marcou nove gols.

Quando a Copa terminou, havia rumores de que Carlos Alberto teria discutido com Pelé e por isso perdido a braçadeira de capitão do Santos, como apontou reportagem assinada pelo repórter Michel Laurence, em agosto de 1970, na revista Placar.

Tudo teria começado no intervalo de um jogo contra o São Paulo, no dia 9 de agosto, no estádio do Morumbi. Carlos Alberto discutira com cartolas e o técnico Antoninho, que o acusavam de uma falta desnecessária no ponta Paraná que resultaria no gol de empate do Tricolor paulista. No campo, Pelé teria sido ríspido com Carlos Alberto, que respondeu à altura. “Se você quer que eu saia, vou sair!”. A verdade é que o capita devolveu a bordoada em Paraná, na mesma moeda. O jogador do São Paulo havia dado vários pontapés em Carlos Alberto, que não deixaria ficar barata a agressão.

No vestiário, disse a Antoninho e ao diretor de futebol, Nestor Pacheco, e ao vice-presidente, Osman Ribeiro de Moura, que não voltaria para o segundo tempo. O treinador ameaçou tomar-lhe a braçadeira de capitão e os cartolas, aplicar-lhe uma multa de 60 por cento em seu salário. Torres ficou fulo com o teatro dos comandantes do Santos. Não se aborrecera com Pelé porque sabia que bate-boca dentro do gramado fica por lá mesmo. Ainda mais que ambos eram grandes amigos, amizade que perduraria inabalável por muitos e muitos anos. O problema era com o Santos e ponto final. E disse o seguinte, na frente muitos, inclusive de Nestor Pacheco: “Na hora de me multar, eles nem se lembraram de que Pelé e eu fomos ao presidente da República pedir um empréstimo para o Santos. Não faz mal. Agora, só existe Carlos Alberto de um lado, com os jogadores, e os dirigentes do outro.”

A saída do Santos seria questão de tempo. Não havia mais espaço para diplomacia. O lateral retornaria ao Rio para vestir a camisa do Botafogo. Ficou apenas em 1971, tempo necessário para torna-se o maior lateral-direito da história do Alvinegro carioca, como apontam muitos botafoguenses ilustres. Poderia ter saído de General Severiano com um título não fosse a lambança do árbitro José Marçal Filho, que validou um gol ilegal de Lula após rebote em que o goleiro do Botafogo, Ubirajara Mota, sofreu falta clamorosa. Não era para ser…

O resultado daquele clássico “Vovô” estava “escrito há mil anos”, diria Nelson Rodrigues. Nada parecia dar certo para o Botafogo. Dias antes do match, o departamento médico vetou a escalação de Jairzinho, que contundiu-se após uma entrada violenta de Moisés, do Vasco. Logo aos 15 minutos da primeira etapa da finalíssima contra a turma das Laranjeiras, Carlos Alberto torceu o joelho e foi substituído por Mura. Quando parecia que nada mais de ruim aconteceria ao Fogão, Zequinha também se machucou e em seu lugar lançaram Paraguaio. Não havia muito o que fazer, essa era a verdade. Deu Flu e o “Capita” ficou sem o título pelo seu Botafogo, time que aprendeu a amar ainda garoto. Não conquistar nada pelo Alvinegro foi a única frustração de sua carreira. Foram 225 jogos e nenhum gol assinalado.

Voltaria à Vila Belmiro em 1972 para ser campeão paulista no ano seguinte. Até 1975, vestiu a camisa santista em 445 jogos e marcou 40 gols. Com o mesmo manto, foi campeão estadual em 1965, 67, 68, 69 e 73; da Taça Brasil, em 65; Rio-São Paulo, em 66 e Roberto Gomes Pedrosa, em 68.

NA ‘BIG APPLE’


Concluída a segunda fase no Santos, Carlos Alberto voltou às Laranjeiras para ser, em 1976, campeão carioca da Copa Viña del Mar e do torneio de Paris. Jogaria ainda pelo Flamengo durante apenas quatro meses de 77 e regressaria ao Flu. Nos dois períodos em que esteve no Flu, “Capita” disputou 169 jogos e marcou 19 gols. A seleção brasileira também lembraria dele em alguns jogos das eliminatórias da Copa de 1978, na Argentina. No dia 20 de março de 77, o “Capita” vestiu pela última vez a camisa do Brasil. Encerrou sua trajetória no escrete, mas não nos gramados. Decidiu ganhar dólares nos Estados Unidos e, seguindo os passos de Pelé, embarcou para Nova Iorque. Com os amigos Beckenbauer, Marinho Chagas e Pelé, Carlos Alberto defendeu o Cosmos, clube responsável pela popularização do soccer no país do beisebol após conquistar três títulos americanos de 1977, 80 e 82. O ex-lateral esteve em todos. Mas, em 1981, não defendeu o Cosmos e, sim, o Newport Beach, da Califórnia.

No dia 28 de setembro de 1982, com o Cosmos diante do Flamengo, Carlos Alberto Torres encerrou a carreira. Naquele dia, o jornal New York Post estampou em uma de suas chamadas o seguinte texto: “Take one last look, world, the Carlos Alberto legend is about to become a memory”, que diz algo mais ou menos assim em português: “Dê uma última olhada, mundo, a legenda Carlos Alberto está se transformando em memória.”

Sobre a legenda Carlos Alberto, o jornalista americano Paul Gardner, do Sunday News, escreveu: “Suas pernas são pernas comuns, pernas que trotam, pernas que passeiam, mas nunca pernas que correm.” Para muitos, Carlos Alberto descomplicou a forma de se jogar futebol, bem ao estilo do que definiu o célebre baixista americano Charles Mingus: “Transformar algo simples numa complicação, isso é normal. Fazer de uma situação complicada algo simples, isso é talento.”

O jogo com o Flamengo terminou 3 a 3 e Carlos Alberto foi prestigiado por uma platéia de cerca de 37 mil pessoas, no Giants Stadium, em Nova Jersey. Do Brasil, presentes na arquibancada o então ministro do Planejamento, Delfim Netto, e Pelé.

Querido pelos nova-iorquinos, o lateral recebeu uma homenagem inestimável do prefeito da Big Apple. O dia 7 de agosto passou a se chamar “Dia Carlos Alberto Torres”. No vestiário daquela constelação de craques do Cosmos era comum esbarrar em astros como Mick Jagger e Robert Redford, fãs do soccer.

Torres decidiu permanecer nos Estados Unidos e montou uma escolinha de futebol em New Jersey. Mas um convite do presidente do Flamengo, Antônio Augusto Dunshee de Abranches, convenceu-o a retornar ao Rio de Janeiro. Fim de linha para o jogador e começo de estrada para o técnico, cujo melhor momento foi em 1983 com a conquista do campeonato brasileiro com o Rubro-negro.

Como treinador, “Capita” passou por grandes clubes. Dirigiu o Fluminense e o Botafogo, que comandou durante a conquista da Copa Conmebol, em 1993. Mas a carreira como técnico nunca foi amena. Torres ficou sem trabalhar entre 1988 e 1993, até o Botafogo resgatá-lo. Treinou times como Corinthians, América do Rio, Náutico, Miami Sharks e Payssandu, mas sem o mesmo sucesso obtido com Flamengo, Fluminense e Botafogo. Esteve a frente das seleções de Omã, Nigéria e Azerbaijão. Com os nigerianos ficou oito meses sem receber o salário. Especializou-se em livrar grandes times do rebaixamento no campeonato nacional. Fez isso pelo Botafogo, Atlético Mineiro e Flamengo. Infelizmente, não obteve o mesmo resultado com o Payssandu, em 2005. Desde a passagem pelo clube paraense, Carlos Alberto não treinou mais. Preferiu cuidar dos investimentos e da empresa de consultoria de futebol que montou com o amigo Ricardo Rocha [ex-zagueiro do Guarani, São Paulo e Vasco] e o filho Carlos Alexandre Torres, ex-zagueiro do Vasco, Fluminense e Japão, que nasceu do casamento do “Capita” com Sueli, sua primeira esposa, com quem também teve Andréa.

Carlos Alberto casou três vezes, inclusive com Terezinha Sodré. Conviveu durante 16 anos com a atriz, mas não tiveram filhos. Um período de muitas badalações, colunas sociais e, sobretudo, de sucesso na agitada noite de Nova Iorque. Com a vida bem mais tranquila hoje, o craque está casado com Graça, sua “companheirona”, como a define.


O Capita cresceu ouvindo do pai que futebol era coisa para desocupado, que não o levaria a lugar algum. Apanhou, inclusive, para que desistisse do sonho de jogar bola ao lado de seus ídolos. Hoje, com a globalização e a velocidade dos meios de comunicação, as imagens de grandes jogadores brasileiros, a maioria de ascendência negra e bem sucedidos financeiramente, chegam para todos os jovens. Os mais pobres veem neles a possibilidade de um dia estar em um Real Madrid, Barcelona, Milan… “O que eu aconselharia a todos é que estudem. Mas não adianta apenas aconselhar, tem de se dar condições para isso, pois o estudo é o principal alicerce na vida de qualquer pessoa. No nosso Brasil todos deveriam ter condições para isso. O que acontece é que devido a essa evolução espantosa que o futebol teve na mídia nos últimos anos, todo mundo fica sabendo que os Ronaldinhos lá na Europa ganham milhões de dólares. E não só eles, mas todos os grandes jogadores. Então, quem é que pode impedir que um garoto tenha como sonho ser um jogador de futebol? Ninguém pode impedir isso.”

Palavra de quem foi a “figurinha” de álbum de muitos garotos no passado e, hoje, como diria o cantor e compositor Fagner, tornou-se uma “figura eterna”. Que saudade de você, Capita.

VINTE E TRÊS ANOS DE AMOR

por Mateus Ribeiro


Vinte e três anos de muito amor e saudade. Vinte e três anos de lembranças que levarei até meus últimos dias.

Vinte e três anos é o tempo de uma vida. Vinte e três anos é o tempo que meu time ficou sem conquistar um título importante. Vinte e três anos é o tempo que a Copa de 1994 está em minha vida. E nunca mais sairá.

Pouco importa se a média de gols foi baixa. Pouco importa se você discorda. Pouco importa se o Brasil jogou feio (como alguns dizem).

Meu primeiro contato com futebol não me apresentou jogadores, mas sim, heróis. Meu primeiro contato com o futebol não poderia ter sido melhor.

Seja pelos jogos ao meio dia, seja pelo simples fato de eu poder assistir futebol 24 horas por dia, seja pelos uniformes escandalosos, seja pelo Brasil ter conquistado o tetra, seja lá o que for: eu te amo e te amarei eternamente, Copa de 94!

Em 1994, eu não fazia muita ideia do que era uma Copa do Mundo. Só sei que só se falava nisso. Resolvi perguntar para meu pai e ouvi dele que a Copa era “jogo de futebol o dia inteiro”. em um tempo que TV por assinatura era um sonho mais que distante, essa resposta foi música para meus ouvidos.

Fiquei ansioso esperando pela abertura do evento. E descobri que toda a ansiedade foi em vão, pois odiei a cerimônia. Aliás, não sei se foi pelo trauma de ver a Diana Ross fazendo aquele papelão, ou pelo simples fato de eu detestar qualquer tipo de enrolação, faço questão de perder toda e qualquer cerimônia de abertura e encerramento de eventos esportivos.

Passado isso, eis que no primeiro jogo, a Alemanha já me deixou encantado com aquele uniforme lindo. Aliás, cada uniforme maravilhoso que vi nessa Copa. Tudo era muito bonito e colorido, e mesmo aquela camisa Jeans dos EUA, ou aquela aberração que foi o segundo uniforme do México me deixaram encantado. Ainda tive tempo de ficar apaixonado pela camisa branca da Holanda, pelo azul eterno da Itália, pelos carnavalescos uniformes de Marrocos e da Irlanda, pelas camisas da Adidas, e pela emblemática camisa azul da Seleção Brasileira. Definitivamente, foi a Copa dos uniformes.



Com oito anos de idade, obviamente que eu não era lá profundo conhecedor de jogadores estrangeiros. Aquele mês foi o suficiente para eu conhecer meus primeiros ídolos gringos. Batistuta, Hagi, Stroichkov, Bergkamp, Larsson, e tantos outros que se tornaram referências para mim.

De longe, foi a Copa que mais reuniu craques e bons jogadores, na minha opinião, é claro. Praticamente, todo time tinha uma estrela, ou um jogador capaz de decidir partidas. E não eram só jogadores de ataque que eram estrelas, não. Baresi, Pagliuca, Preud´homme, Maldini, Aldair, Branco e muitos outros defensores me fizeram tomar gosto por sistemas defensivos.


E o que dizer do Brasil? Taffarel, o citado Aldair, Dunga, Branco, Romário, Bebeto e Mauro Silva viraram meus heróis. Acredite se quiser, meu sonho era ser como qualquer um desses caras. Percebe-se que não consegui, entre outros fatores, por eu não ter talento para a prática do esporte bretão.

O gol de Branco contra a Holanda, o “Eu te amo” de Bebeto para Romário, o gol salvador do Baixinho contra a Suécia na semifinal, o pênalti defendido por Taffarel na final, todos esses momentos moldaram meu caráter futebolístico.

Hoje, dia 17 de julho, a final da Copa completa vinte e três anos. Vinte e três anos daquele que foi talvez o maior jogo que vi na vida. Não importa se não foi o jogo mais emocionante. Não importa se o nível técnico foi baixo. A final da Copa foi como a cereja de um bolo que eu insisto em lembrar o sabor vinte e três anos depois.


Praticamente todos os momentos que presenciei entre junho e julho de 1994 foram mágicos para mim. Levarei eternamente em meu coração e em minha memória cada segundo que vivi durante a Copa mais mágica que assisti na minha vida.

Deus salve Yekini e sua comemoração. Deus salve Baggio batendo o pênalti pra fora. Deus salve Escobar, esteja onde estiver. Deus salve a Romênia e a Bulgária, que tanto me encantaram. Deus salve Lalas e Balboa. Deus salve Meola. Deus salve Taffarel. Deus salve Ravelli. Deus salve a Copa de 94, e mantenha nosso amor intacto.