SIRI, MOLECAGEM, PELADA E UM CAMISA 10 GENIAL!
por André Felipe de Lima
O Santos apenas se preparava para iniciar a disputa do Campeonato Paulista. Era agosto de 1978. O time era talentoso, porém uma incógnita. Na escalação, figuravam nomes relativamente desconhecidos. Todos muito jovens. Dentre os meninos, um se destacava e vestia justamente a camisa mais sagrada da história do futebol mundial: a de número 10, do Rei Pelé. Os torcedores alvinegros debruçavam-se com cara de sonho e olhar para o futuro. Sabiam que ali, na Vila Belmiro, não despontavam mais os ídolos de outrora. Não havia mais Zito, nem Mengálvio. Tampouco Dorval. Nem Coutinho ou Pelé. Pepe ou Gilmar? Iguais a todos eles, certamente nunca mais. Havia, contudo, esperança naqueles homens indefectivelmente vestidos de Santos empoleirados na grade que cercava o campo. Miravam aquele menino magrelo, convictos de que o futuro seria generoso com eles. O garoto tinha uma classe que mais lembrava outro camisa 10 famoso, mas o do rival Palmeiras. Sim, o meia-esquerda Edivaldo de Oliveira Chaves, que todos chamavam de Pita, sempre esteve mais para Ademir da Guia que para o Pelé.
Humilde, o mirrado Pita, que morava na concentração do clube, sabia, no entanto, que sobre seu ombro pesava uma missão, e que jamais deveria decepcionar o séquito que o acompanhava em todos os treinos, em todos os jogos daquele Santos que nascia para fazer do clube novamente um gigante. “Penso sim em me tornar ídolo, pois todo jogador pensa assim”. Personalidade não lhe foi negada pelo destino. Havia um ídolo santista que o apoiava, que apostava no garoto Pita. Clodoaldo não cansava de aconselhá-lo. “Não caia em farras, menino!” ou “Nada de cigarros. Vê lá, garoto!”, dizia sempre ao Pita. “Quando venho treinar de manhã, com os olhos fundos, ele fica falando: ‘Chega tarde em casa e agora não quer correr, né?’”. Clodoaldo sabia (e muito!) o que estava fazendo.
Pita não era bobo. Além dos conselhos do Clodoaldo, ouvia os do velho João Albuquerque Chaves, ou “João da Fazenda”, que jogara como volante no Náutico em 1946. O carinhoso pai alertava-o para que não tivesse medo de cara feia ou da fama dos adversários. Afinal, o coroa era o melhor pai do mundo que o Pita poderia ter. João tinha imenso orgulho do filho.
Foi assim que a camisa 10 do Pelé passou para Pita, quando tinha apenas 19 anos. E, quem diria, foi um cracaço argentino o primeiro perceber o talento inato no jovem menino, que nascera em Nilópolis, na Baixada Fluminense, no dia 4 de agosto de 1958. Ora, argentino, porém ídolo santista, igualmente ao severo protetor Clodoaldo. Estava tudo em casa. Com toda a manha milongueira, Ramos Delgado tinha olhos de ver para além do normal. Enxergava onde poucos viam. Foi assim com Pita. Ele o viu jogando e logo percebeu que ali, diante dele, encontrava-se um dos diamantes mais preciosos da Vila Belmiro após a Era Pelé.
O Santos embarcara para a terra do Ramos Delgado, que naquele instante era o técnico do time. Na agenda, alguns amistosos. Para o refinado menino Pita chegara a hora da verdade. Delgado acreditou nele e o mandou a campo contra um time de Salta e o Talleres de Córdoba. Deu tudo certo. Jogou demais. Voltou ao Brasil, pegou o Flamengo pela frente, no Pacaembu, e ganhou em definitivo a sagrada 10. O também canhoto Ailton Lira perdera, portanto, a vez no time do Santos.
Pita jamais teve vida fácil. Nasceu na Baixada Fluminense, mas foi morar ainda pequeno, com a família, no litoral paulista. No acostamento da Via Anchieta, trabalhava, ainda menino, como vendedor ambulante. Ele em pé, com um arame no qual havia pendurados siris. Vendia-os, escondido da mãe, para os desavisados turistas que pela estrada passavam rumo à praia ou que faziam a mão inversa, regressando para a Paulicéia. Pita era um menino levado. Vendia por farra. Queria apenas uns trocados para o guaraná e o cinema. Mostrava-se prestimoso. Oferecia-se aos clientes para colocar o siri no porta-malas. E quem disse que cumpria o combinado? Os trouxas motoristas voltavam para São Paulo sem siri e sem dinheiro. Ao contrário do Pita, que descia a estrada feliz da vida com a grana no bolso e os siris a tiracolo. Nenhum motorista jamais voltou para dar uma coça no garoto magrelo e malandro. Com 13 anos, acabara a fase aventureira com os crustáceos e a bola roubava Pita para si. Paixão à primeira vista, que se transformaria em amor eterno, com um correspondendo indistintamente ao carinho do outro. A bola e o Pita. Pita e a bola.
Nas areias de Santos, a pelada rolava solta e Pita era a estrela do Casqueiro, time do humilde bairro Jardim Casqueiro, em que morava, em Cubatão. Dali, a Portuguesa Santista o levou. Após dois anos, o juvenil do Santos passou a ser sua morada. O que poucos sabem é que trocou de clube não pelo fato de jogar futebol no time que foi um dia de Pelé, mas sim porque na Vila davam ao pobre menino Pita passes de ônibus de ida e de volta para casa. A necessidade era mãe da vontade. Se a primeira fosse correspondida, a segunda nasceria.
A vida de Pita não foi fácil. A família era muito humilde. O sustento vinha de um modesto botequim do pai. Mas Deus e o talento que ostentava reservaram ao moleque um destino exitoso. “A bola ficou com o Pita e eu fiquei com os cálculos”, dizia o velho João da Fazenda. Em 1977, já estava entre os profissionais. Brilhou para o treinador Formiga, em 1978/79, quando o introvertido Pita comandou os famosos “Meninos da Vila” e resgatou ao autoestima santista ao conquistar o Campeonato Paulista de 78, cuja decisão só aconteceu em junho do ano seguinte. “Hoje quem não é santista em Casqueiro, é ‘sampita’. O corintiano, o palmeirense, o são-paulino. Todos torcem pelo Pita”, asseverava o pai do craque.
Seus lançamentos eram impressionantes. Lembrava Gerson, o “Canhotinha de ouro”, nos momentos mais sublimes em campo, quando colocava até mesmo um bode cego na cara do gol. “Olha, eu sou sincero: não treino lançamentos. É uma coisa que eu trago comigo desde os tempos dos juvenis. Sempre gostei de lançar.”
O maestro Pita comandaria o Santos até meados da década de 80. Antes de trocar a Vila Belmiro pelo Morumbi, Pita levou o time da Baixada Santista ao vice-campeonato do Paulistão de 1980 e ao vice-campeonato brasileiro de 1983, quando time se descontrolou em campo e facilitou a vida do Flamengo. “Chegou a hora de sair do Santos. A proposta do São Paulo é excelente, significa a minha independência financeira”. Gostava do Santos. Estava há 11 anos no clube. A torcida, embora Pita pedisse compreensão, não tolerou perdê-lo. Nos muros da Vila Belmiro, pichavam que “Pita não faz igrejinha”.
Em 1984, Pita chegava ao Morumbi, numa negociação em que o São Paulo cedeu ao Santos o ponta-esquerda Zé Sérgio e o volante Humberto. Igualmente na Vila Belmiro, Pita tornou-se ídolo no Morumbi. O tricolor montou um timaço, que tinha como cérebro o grande Pita. O maestro. O melhor camisa 10 que o Santos teve… depois do Pelé, claro.
FOTBAL – AVENTURAS, TRISTEZAS E ALEGRIAS ROMENAS
por Igor Serrano
Football Manager é um famoso jogo de computador onde o jogador tem como função ser o manager de um time de futebol e no que isso implica (escalar e contratar jogadores, dentre outras possibilidades). Durante o jogo, não aparecem imagens das partidas que o time sorteado ao jogador estaria disputando. Apenas são informados os lances que acontecem nela.
Agora imagine a seguinte situação…
Um garoto brasileiro de doze anos começa a jogar o referido jogo e cai no sorteio para ele o Universitatea Craiova da Romênia. Tudo que aquele garoto sabia sobre o longínquo país é que tinha um tal de Hagi, de quem seu pai falava muito bem, e a Seleção Romena jogava de amarelo (informação obtida graças ao jogo de futebol do videogame Super Nintendo).
Com o tempo a empolgação gerada por aquele time, até então desconhecido, gerou no garoto uma curiosidade sobre a equipe propriamente dita e também pelo país. Assim descobriu a curiosa história do Craiova. O clube (FC Universitatea Craiova) foi extinto em meados de 2011, deixando uma fiel torcida órfã de seu passado de títulos. Alguns anos depois, outro clube foi fundado com o nome semelhante (CS Universitatea Craiova), com outros proprietários, mas alegando ser a continuidade do extinto clube. Não demorou para um grande imbróglio ser instaurado com a ressurreição do clube original. Dois times com nomes idênticos e lutando por uma mesma identidade e torcida.
Em poucos anos, mais velho, o garoto criou um blog sobre o futebol romeno e o intitulou de “O Craiovano”. Na faculdade, decidiu fazer do trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social um documentário sobre o futebol romeno e a situação do Craiova. Para tanto, autodidata, aprendeu a falar, ler e escrever romeno apenas com material encontrado na internet.
Fez alguns contatos pela internet, virou notícia em um jornal da Romênia com a proposta do documentário e ao longo da jornada em solo romeno conseguiu entrevistar diversos jogadores e…Hagi, o grande ídolo do futebol do país e destaque na Copa de 1994.
Essa poderia ser mais uma grande história de cinema. Mas não é. Ela aconteceu e o nome do personagem é João Vítor Roberge. A saga do catarinense torcedor do Vasco da Gama e fã do futebol romeno não poderia ser apenas contada aos professores e alunos da Universidade Federal de Santa Catarina. Ela merecia ser divulgada a todos. E foi. Assim surgiu “Fotbal – Aventuras, tristezas e alegrias romenas”, livro em que João detalha o futebol romeno e seus clubes, a inusitada clonagem do Craiova e principalmente a jornada à Romênia para o documentário do TCC de jornalismo na UFSC:
“Fotbal é dois em um. Metade história do futebol romeno, metade história do documentário Craiova versus Craiova, desde 2006. E é o novo lançamento da Multifoco Editora e do Selo Drible de Letra, que já tem data marcada. Quem vem acompanhando O Craiovano nestes quatro anos já viu blog, documentário sobre a história do Universitatea Craiova e até entrevista exclusiva em vídeo com Gheorghe Hagi. Agora é a vez do livro, para trazer o futebol romeno em uma forma completa e descontraída, diferente de qualquer livro sobre futebol que você já leu. Até porque quem já viu livro sobre o fotbal, certo? O fotbal vive. O Romenão é gigante”.
Fotbal será lançado em setembro em Santa Catarina.
E SE EXISTISSE SMARTPHONE NO PASSADO?
por Mateus Ribeiro
Duvido que você não gostaria de ter registrado esse lance do DEUS Nilton Santos.
Ah, o futebol moderno… O foco do mantra raivoso que milhares de pessoas espalhadas pelo mundo mágico do futebol entoam todos os dias.
Obviamente, eu sou um dos que abomina o que aconteceu com o futebol: o balcão de negócios que o esporte bretão se tornou, o comportamento de celebridade que alguns jogadores apresentam, a imprensa oportunista que enche a cabeça de alguns com falsas promessas, os comentaristas entendidos que não entendem mais ou menos do que muitos de nós, as mesas táticas, e todo aquele combo que estamos cansados de ver dia sim, dia também. No que se refere a esses pontos, há muito o que se concordar com o pessoal que dispara a metralhadora da ira contra os carniceiros do futebol. Porém, alguns outros pontos exigem um pouco de reflexão, no mínimo.
De início, um dos temas mais recorrentes nas mesas de bar e redes sociais: AS CHUTEIRAS PRETAS !
Será que a chuteira colorida de Ronaldo impediu o penta em 1998?
Antes de tudo, eu sou absolutamente apaixonado pela chuteira preta. Primeiro, porque a cor sempre foi a minha preferida. Segundo, talvez por ter sido apresentado ao futebol quando praticamente só existia essa cor de chuteiras.
Por outro lado, tenho horror ao carnaval fora de época que virou o pisante dos jogadores de futebol de um tempo pra cá. Quando Rivaldo usava sua Mizuno branca, achava maravilhoso, talvez, por ser uma novidade. Porém, de repente, o que era exceção virou regra, e o resultado é esse verdadeiro disco de Newton que vemos hoje no pé dos chutadores de bola, desde o futebol amador até a final da Copa do Mundo.
Bom, eu não sou nenhum especialista em marketing esportivo, economia, vendas, ou qualquer coisa parecida. Porém, se estão sendo fabricadas e vendidas até hoje, é porque existe um público que compra. Infelizmente, não será o clamor das reclamações vazias (“ah, naquela época todo mundo usava chuteira preta”) que vai mudar esse cenário. Aliás, até mudou. De tanto o pessoal destilar o ódio, algumas marcas acharam uma ótima forma de encher os bolsos: voltar a fabricar as saudosas chuteiras pretas! Genial. Para as fabricantes, óbvio. Não vai ser um calçado com temática retrô que vai trazer de volta o encanto perdido.
Conseguiram deixar até as botinadas mais glamourosas.
Fazendo um exercício simples, imaginemos que nos anos 60, a Adidas ou a Puma decidissem fazer uma linha de chuteiras vermelha. Você realmente acha que Pelé, Tostão, ou até mesmo Yashin não iriam usar? O ponto é o seguinte: o problema jamais será a vestimenta. Parte do problema? Talvez. Causa? Jamais.
Para quem acha que chuteira preta e camisa por dentro do calção resolvem o problema, durmam com essa foto de Daniel Alves.
Logo após as chuteiras, a próxima da fila no Procon do futebol é a tecnologia: jogadores tirando selfies até quando comem bolovo na feira, torcedores registrando qualquer momento do jogo, e tudo o mais que permeia a caixa de comentários internet afora.
É gigante o número de pessoas que possuem um telefone com internet em mãos. Não dá para bater de frente com a tecnologia. Simultaneamente, o futebol é um culto que deveria ser mais respeitado. Da mesma forma que não é legal fazer check in no local onde você vai procurar a paz espiritual, é extremamente chato ir ao estádio pra ficar tirando foto, postando em rede social. Mas existe quem faz isso. E não são um ou dois. São milhares.
Novamente, vamos trabalhar a cabeça: você realmente acha que não existia ninguém tirando foto da cena abaixo com a gigantesca POLAROID?
Pois é. Mais uma vez, uma parte do problema, e não o que o ocasiona. Claro que não gosto de quem vai ao estádio e fica na minha frente tirando foto, postando em todas as redes possíveis e trocando comentários e hashtags. Mas é bem simples: se eu não gosto, não faço. Acabou. Isso torna o espetáculo mais chato, sem dúvida. Mas achar que isso tem mais culpa do que a qualidade baixa do futebol apresentado nos últimos quinze anos chega a ser infantil.
Veja a foto de Brehme cobrando o pênalti que definiu a Copa de 1990. Note que existe alguém tirando uma foto. Claro que pela relativa dificuldade em comprar uma câmera na época, e a facilidade para se adquirir um telefone celular (isso sem falar do tamanho) torna muito mais fácil registrar momentos históricos. Resumidamente: se existisse essa tecnologia no passado, todos usariam. Inclusive quem não era nascido e reclama tanto para o vazio atualmente.
Você não vai ser inocente de achar que Pelé, Maradona, Cruyff, Puskas não teriam um Instagram. Ou vai? Duvido. Você iria até seguir o perfil dessas feras. Longe de querer comparar eras e jogadores, uma vez que 90% dos jogadores da atualidade possuem o carisma e a personalidade de uma folha de papel vegetal.
Protestar pelo futebol é legal. Mas protestar no vazio não.
Enquanto isso, vamos caminhando, esperando por dias melhores nos gramados. Sempre com nosso celular nas mãos. Menos o Maradona, que penhorou o dele no corre.
Até a próxima!
300 VEZES CÁSSIO
por Mateus Ribeiro
Trezentos. Um número representativo. Tão representativo quanto Cássio na história do Sport Club Corinthians Paulista.
Trezentos. Um número enorme. Gigantesco. Tal qual Cássio. Tanto na sua altura, quanto em sua relevância.
Trezentos. Esse é o número de jogos que o Gigante completou ontem pelo Alvinegro de Parque São Jorge na vitória contra o Atlético-MG. E nós, que torcemos pelo Corinthians, só podemos agradecer e relembrar os bons momentos (que foram inúmeros, por sinal).
Cássio foi contratado no final de 2011, e no ano seguinte, era o terceiro goleiro, atrás dos medonhos Júlio César e Danilo Fernandes. Jogou algumas partidas, mas ainda não havia conquistado a titularidade. Após o titular Júlio falhar de maneira tenebrosa e contribuir para uma vexatória eliminação no Campeonato Paulista, Tite resolveu escolher Cássio para a meta Corintiana.
O primeiro jogo foi uma belíssima de uma fogueira: oitavas de final da Libertadores, fora de casa, contra o Emelec. Cássio fechou o gol. Começou a escrever sua história. História que todos conhecemos…
Passado o sufoco da primeira partida, veio a classificação para as oitavas, e já nas quartas, contra o Vasco da Gama, Cássio viveu um dos maiores momentos de sua carreira: após Alessandro cometer mais uma de suas presepadas, Diego Souza teve mais da metade do campo para escolher como faria o gol que classificaria o Vasco da Gama para as semifinais. Só não contava com Cássio em seu caminho.
Além de salvar a vida de milhões de torcedores espalhados pelo Planeta, Cássio ajudou o Corinthians a se classificar para as semifinais do torneio continental. No primeiro duelo contra o então atual campeão Santos, tão importante quanto o gol de Emerson Sheik foram as defesas do arqueiro, que ali, já havia conquistado um lugar no coração de todos os torcedores. Nunca na minha vida ouvi tanto o mesmo nome. Cada defesa difícil era um alívio e um grito diferente.
O resultado foi uma classificação inédita para a final da Libertadores, após um empate no Pacaembu. E o título, conquistado de maneira incontestável, contra o time mais temido da América do Sul nos últimos vinte anos.
Além do título, a torcida tinha algo mais para comemorar: o surgimento de um ídolo. Ídolo que aumentou sua lista de milagres na conquista do Mundial 2012 contra o Chelsea. Cássio se agigantou, fez defesas absolutamente memoráveis e garantiu mais uma taça para a galeria corintiana.
O restante da historia todo mundo sabe: títulos e mais títulos, todos com as mãos salvadoras de Cássio garantindo a máxima segurança.
E após cinco anos fechando a meta, eis que ontem foi o dia do jogo número 300. Uma marca representativa, ainda mais em uma época onde um jogador mal consegue fazer 50 partidas por qualquer clube brasileiro.
Assim como todo ser humano, Cássio falhou. Foi para o banco. Se recuperou. E hoje é um dos pilares do Corinthians.
Escreveu seu nome ao lado de grandes personalidades do calibre de Rivellino, Marcelinho Carioca, Ronaldo Giovanelli, Tupãzinho, Neto, Basílio, Gylmar dos Santos Neves, Zé Maria, Wladimir, e tantos outros monstros gigantescos que fizeram de tudo pelo Sport Club Corinthians Paulista.
Do fundo do coração, desejo que nosso gigante continue encarnando o espírito de nosso manto. Que continue fechando o gol. Que continue sendo um torcedor que defende o clube com unhas e dentes.
Obrigado, Cássio!
E VAI, CORINTHIANS!!!
O QUE ESTAMOS FAZENDO DO NOSSO FUTEBOL?
por Cesar Oliveira
Cesar Oliveira
Já disse antes e vou repetir: sou um daqueles que, ainda hoje, coubertianamente, acreditam na lisura e na ética no desporto, no “que vença o melhor”. Detesto mão na bola, empurrão ou calço pelas costas; nem na pelada mais vagabunda isso é aceito.
Sou do time do Mimi Sodré, campeão carioca de 1910, que levantava o dedo quando cometia uma infração, antes que o “referee” a apontasse. Sou de um tempo em que árbitro algum voltaria atrás na marcação de um pênalti.
Por isso, me enojo com a possibilidade de alguém dando palpite na arbitragem do árbitro principal que, segundo a Regra 5, deveria ter “total autoridade para fazer cumprir as regras de jogo na partida”.
Ainda segundo a mesma Regra 5, “as decisões do árbitro sobre fatos em relação com o jogo são definitivas. O árbitro poderá mudar sua decisão unicamente se perceber que sua decisão é incorreta ou, se o julgar necessário conforme indicação de outro membro do quarteto de arbitragem, sempre que ainda não tenha reiniciado a partida”.
Patrocínio de site de apostas no futebol
A Regra 6, que trata dos árbitros assistentes, diz que eles são dois e determina as suas funções, e que eles “têm o dever de indicar”, entre outras coisas, “quando forem cometidas infrações em que os árbitros assistentes estejam mais perto da ação que o árbitro” [principal].
Em tempos de tantos sites de apostas metidos no futebol – em camisas de grandes clubes, em propaganda estática nos gramados, patrocinando jogos e atletas — o esporte tomou um caminho muito perigoso.
No jogo Santos 3 a 2 Flamengo, pela Copa do Brasil, que vem suscitando — mais uma vez por interferência externa” — tanta celeuma, o árbitro principal Leandro Vuaden não vacilou um instante sequer em marcar o pênalti de Réver em Bruno Henrique, e apontou imediatamente a marca da cal.
Então, acontece uma interferência externa do quarto árbitro (cadê essa figura nas “Regras do Futebol”?), chama o árbitro principal pelo intercomunicador (equipamento que quase levou o árbitro José Roberto Wright ao cadafalso quando usou um, a pedido da TV Globo, gravando seus diálogos no gramado com jogadores), conchinha no ouvido e Leandro Vuaden volta atrás da marcação do pênalti.
É pelo menos estranho que, contrariando as Regras do Futebol, o árbitro principal mantenha-se hoje em comunicação privada (duplo sentido) com gente fora do ambiente de jogo (o que falam?).
E, principalmente, que o árbitro seja chamado por um elemento de fora do trio de arbitragem (Regra 5) para convencer o árbitro a mudar sua decisão, tomada sem hesitação no momento da infração.
O que vale para esse jogo sob polêmica, vale para o futebol como um todo. Se querem uma arbitragem limpa e isenta de erros, com o tal “árbitro de vídeo”, o futebol tem que se preparar para que isso seja feito limpamente. Como é no vôlei e no tênis. Sempre que uma pessoa interfere na arbitragem principal, dá zebra.
Sabemos que o futebol é um esporte muito corrupto. Por seus dirigentes (muitos presos, outros que não podem sair do País), árbitros, federações, agremiações etc. Os casos de suborno e papeletas amarelas estão aí, e ninguém faz nada para coibi-los.
Torço por um time que já perdeu campeonatos por arbitragens duvidosas. Mas quem já não perdeu campeonatos por arbitragens duvidosas? Então, volto ao começo do meu texto: estou ficando velho demais para ver minha paixão imaterial pelo futebol ser negociada por debaixo dos panos.
Certa vez, sentado a uma mesa em clube nobre do Rio de Janeiro, ouvi um ex-dirigente de um clube (desses que não são queridinhos da “futebolpress” ou favorecidos por arbitragens estranhas, contar casos escabrosos em que comprou arbitragens). Meu mundo caiu. Nunca pensei que aquele clube, prejudicado em tantas ocasiões, também lançava mão de fatores extracampo para conseguir resultados que precisava. Certamente, com times de menor expressão do que ele.
O que estamos fazendo do nosso futebol? Eu queria acreditar na lisura do desporto. Na vitória do melhor. No que melhor se preparou e desempenhou no campeonato. No que tem melhor preparo físico para desempenhar um plano de jogo superior e irresistível. Naquele que faz na Base a criação de jogadores de qualidade para abastecer o time de cima. No que vence limpamente, pela qualidade do time.
Eu sou um velho bobo.