PRÍNCIPE NO PARQUE
por Fabio Lacerda
A maior contratação da história do futebol é do garoto Neymar. A escolha pelo bilionário Paris Saint-Germain transcende as quatro linhas e as infinitas ações de marketing para o clube, para a Ligue 1, Liga dos Campeões, e demais competições que o time mais brasileiro na França venha concorrer ao título. Já levou a Supercopa da França.
A ida deste menino iluminado para a Cidade Luz coincide com a jovialidade presidencial de Emmanuel Maccron recém empossado. A França, sobretudo após os atentados terroristas sofridos, e manifestações pelos subúrbios de Paris que sempre deixam a população em alerta (período que Sarkozy era o presidente), busca nos jovens a oportunidade de reciclar.
Não resta dúvida que ao colocar as cores do Brasil na Torre Eiffel a imagem de Neymar pode promover uma mudança social que o país tanto precisa. Heterogênea, até mais que a população brasileira, a França terá para si, provavelmente, a figura esportiva a ser mais desejada pelas lentes e câmeras cinematográficas do mundo. Porque o mundo precisa de jovens saindo da zona de conforto e buscando oportunidades e novos rumos.
Neymar é astro. E sua estrela há de continuar brilhando. Essa ida para a França também passa pelo campo das Relações Diplomáticas. Neymar será uma referência, inclusive em prol da paz, para diversos jovens de origem africana, muçulmana e outras tantas. Neymar chega à França com um sorriso leve, malemolência e a tradicional alegria nos pés para encantar um povo que lê ao ano o que o brasileiro não lê em vida – a média de leitura de livros pelos franceses passa de um por mês. Portanto, a missão de encantar e engajar está dada. E ele vai tirar de letra! Tenho a ousadia de dizer que sua imagem será muito mais destacada diante das missões extra-futebol que Raí e Ronaldo Gaúcho quando estiveram no Parc des Princes.
Não subestimem o futebol francês. Vale lembrar que o Brasil deu-se bem apenas na Copa do Mundo de 1958. Desde as Olimpíadas de Los Angeles que o Brasil sucumbi diante da França.
Festa do Possesso
festa do possesso
texto: André Mendonça | fotos: Daniel Planel | vídeo e edição: Daniel Planel
Já cansamos de elogiar as resenhas do Caldeirão do Albertão, no Grajaú, mas não poderia ser diferente, os encontros são sempre memoráveis! O último, então, contou com a presença de dois campeões mundiais. A causa era mais do que nobre, festa de aniversário de 78 anos de Amarildo, e o nosso padrinho PC Caju não pensou duas vezes antes de aceitar o convite!
À altura do evento, a recepção foi de gala. Assim que os boleiros chegavam ao Caldeirão naquela manhã ensolarada, se deparavam com uma mesa farta de melancias fresquinhas.
– Essa recepção aqui não existe! O nosso amigo Perrone traz esse aparato todo para a gente se fortalecer antes da pelada, mas em campo senta o sarrafo! – revelou Ney Pereira, lenda do futebol de salão.
O anfitrião Beto Ahmed não escondia a felicidade pela oportunidade de reencontrar o amigo de infância:
– Ninguém aqui pode falar melhor do Amarildo do que eu! Era meu vizinho, acompanhava ele no Botafogo e, mesmo sendo flamenguista, não conseguia torcer contra ele.
Se nos bastidores Perrone comandava a organização, dentro das quatro linhas a missão era da fera Sandrinho, que varreu cuidadosamente o campo para que a bola rolasse de forma impecável! A pelada só chegou ao fim quando o aniversariante Amarildo e PC Caju apareceram, conduzidos por Guilherme Meireles Careca.
O que o Possesso não imaginava é que um bolo personalizado, feito com carinho por Fabiana Falbo, da Dolci Delizie, mulher do craque Guido, fosse adoçar ainda mais a festa.
Amarildo, Guilherme Careca e PC Caju
– Nunca recebi tanto carinho de amigos no meu aniversário quanto hoje! Não há presente melhor do que esse! – agradeceu um Amarildo arrepiado e emocionado.
Em seguida, o amigo PC Caju pediu a palavra e revelou toda a sua admiração por um dos destaques do bicampeonato mundial em 62:
– Eu ficava atrás do gol assistindo ao treino do Botafogo pegando a bola que aqueles caras chutavam. Amarildo é um dos maiores jogadores que nós tivemos no mundo, além de ser uma figura excepcional! Muito obrigado por tudo, Amarildo – finalizou.
Parabéns, Possesso!
DIA DE SÃO MARCOS
por Rafytuz Santos
Dizem que onde o goleiro pisa, não nasce grama… Quem inventou esse ditado futebolístico, nunca viu São Marcos!!
Feliz da grama por contemplar as pegadas campeãs do herói palestrino! E quando o Marcão pisa em qualquer gramado, é capaz de nascer as mais variadas flores e gramas! Ou alguém duvida da capacidade milagrosa do goleiro do Penta???
O lendário ícone da Libertadores de 2000, com suas magistrais mãos, classificando a equipe do Palestra, com raça e suor alviverde, o suor que escorreu em sua testa e nas de mais de 10 milhões de fanáticos palmeirenses naquele dia 6 de Junho de 2000.
O Morumbi virou Vaticano, e os saudosos Libertadores da América canonizavam ali um novo santo do futebol! O santo ídolo alviverde, o santo campeão mundial em 2002, o santo que negou a tentação das cifras europeias, para continuar jogando no Palmeiras, pela Série B… Veneráveis defesas, santas declarações. Os gramados do futebol beatificam o santo São Marcos, santo padroeiro das defesas impossíveis!!!!!
QUEM DIRIA, PARIS AOS NOSSOS PÉS
por Zé Roberto Padilha
Zé Roberto Padilha
Em meio a tanta polêmica durante a transferência do Neymar do Barcelona para o Paris St. Germain, senti, durante a exibição do Globo Esporte, um imenso orgulho de ser brasileiro um dia após ter vergonha de ser. A reportagem mostrava uma imensa fila em torno do quarteirão da Champs-Élysées não para buscar, com exclusividade, o ultimo livro de Harry Porter. Muito menos, para o lançamento de um iPhone de ultima geração. Em Paris, a cidade luz, o produto cobiçado por todos desta vez era brasileiro. A imensa fila buscava a primazia de conseguir uma camisa do PSG que vestiria a nossa maior matéria prima de exportação: um jogador de futebol.
Não temos os cérebros que trabalham no Vale do Silício, muito menos a pretensão de alcançar o berço da literatura inglesa. Porém, nenhum país do mundo conseguirá produzir um jogador de futebol do nível do Neymar.
Como país eternamente colonizado e explorado, desde cedo portugueses, franceses, holandeses e ingleses desembarcaram em nossas costas para levar nossas riquezas. Com o Pau-Brasil pintaram seus tecidos, com a borracha ergueram a Pirelli e a Good Year, e o açúcar viajou para adoçar suas iguarias. E o café acabou tomando o lugar do chá pelo mundo. Mas quanto ao jogador de futebol, Pero Vaz Caminha já avisava em carta que seria mais difícil:
“Aquele povo tem a cultura de base européia, a agilidade e a força Etiópia e a simplicidade natural dos seus nativos. Seu segredo é colocar tal diversidade desde cedo em campos irregulares, de terra batida, atuar completamente descalços, e exercer exaustivamente este dom, principalmente porque seus meninos carentes não conseguem acesso à educação. Utilizam o tato atrelado à bola, no lugar de afastar a sensibilidade com chuteiras, como fazem pelos laboratórios de futebol pelo mundo. Dali retiram soluções inusitadas, inesperadas, que os zagueiros pelo mundo, e suas retrancas suíças, levarão séculos para desenvolver uma vacina”.
Tudo bem, assistindo o atual nível do Campeonato Brasileiro, Neymar deve ser mesmo a nossa última matéria prima de excelência. Campinhos de pelada nas periferias foram ocupados pelo Projeto Minha Casa, Minha Vida. E o Bolsa Família fez com que as mães carentes tirassem seus filhos da pelada e os colocassem na escola. E os vacinassem. Quem diria, a conquista da dignidade cidadã está secando na fonte nossa ultima espécie em extinção. E Paris, que pena, Alain Delon, Brigite Bardot, Cristian Dior e seus perfumes, nunca mais vai ser curvar aos nossos pés.
SIRI, MOLECAGEM, PELADA E UM CAMISA 10 GENIAL!
por André Felipe de Lima
O Santos apenas se preparava para iniciar a disputa do Campeonato Paulista. Era agosto de 1978. O time era talentoso, porém uma incógnita. Na escalação, figuravam nomes relativamente desconhecidos. Todos muito jovens. Dentre os meninos, um se destacava e vestia justamente a camisa mais sagrada da história do futebol mundial: a de número 10, do Rei Pelé. Os torcedores alvinegros debruçavam-se com cara de sonho e olhar para o futuro. Sabiam que ali, na Vila Belmiro, não despontavam mais os ídolos de outrora. Não havia mais Zito, nem Mengálvio. Tampouco Dorval. Nem Coutinho ou Pelé. Pepe ou Gilmar? Iguais a todos eles, certamente nunca mais. Havia, contudo, esperança naqueles homens indefectivelmente vestidos de Santos empoleirados na grade que cercava o campo. Miravam aquele menino magrelo, convictos de que o futuro seria generoso com eles. O garoto tinha uma classe que mais lembrava outro camisa 10 famoso, mas o do rival Palmeiras. Sim, o meia-esquerda Edivaldo de Oliveira Chaves, que todos chamavam de Pita, sempre esteve mais para Ademir da Guia que para o Pelé.
Humilde, o mirrado Pita, que morava na concentração do clube, sabia, no entanto, que sobre seu ombro pesava uma missão, e que jamais deveria decepcionar o séquito que o acompanhava em todos os treinos, em todos os jogos daquele Santos que nascia para fazer do clube novamente um gigante. “Penso sim em me tornar ídolo, pois todo jogador pensa assim”. Personalidade não lhe foi negada pelo destino. Havia um ídolo santista que o apoiava, que apostava no garoto Pita. Clodoaldo não cansava de aconselhá-lo. “Não caia em farras, menino!” ou “Nada de cigarros. Vê lá, garoto!”, dizia sempre ao Pita. “Quando venho treinar de manhã, com os olhos fundos, ele fica falando: ‘Chega tarde em casa e agora não quer correr, né?’”. Clodoaldo sabia (e muito!) o que estava fazendo.
Pita não era bobo. Além dos conselhos do Clodoaldo, ouvia os do velho João Albuquerque Chaves, ou “João da Fazenda”, que jogara como volante no Náutico em 1946. O carinhoso pai alertava-o para que não tivesse medo de cara feia ou da fama dos adversários. Afinal, o coroa era o melhor pai do mundo que o Pita poderia ter. João tinha imenso orgulho do filho.
Foi assim que a camisa 10 do Pelé passou para Pita, quando tinha apenas 19 anos. E, quem diria, foi um cracaço argentino o primeiro perceber o talento inato no jovem menino, que nascera em Nilópolis, na Baixada Fluminense, no dia 4 de agosto de 1958. Ora, argentino, porém ídolo santista, igualmente ao severo protetor Clodoaldo. Estava tudo em casa. Com toda a manha milongueira, Ramos Delgado tinha olhos de ver para além do normal. Enxergava onde poucos viam. Foi assim com Pita. Ele o viu jogando e logo percebeu que ali, diante dele, encontrava-se um dos diamantes mais preciosos da Vila Belmiro após a Era Pelé.
O Santos embarcara para a terra do Ramos Delgado, que naquele instante era o técnico do time. Na agenda, alguns amistosos. Para o refinado menino Pita chegara a hora da verdade. Delgado acreditou nele e o mandou a campo contra um time de Salta e o Talleres de Córdoba. Deu tudo certo. Jogou demais. Voltou ao Brasil, pegou o Flamengo pela frente, no Pacaembu, e ganhou em definitivo a sagrada 10. O também canhoto Ailton Lira perdera, portanto, a vez no time do Santos.
Pita jamais teve vida fácil. Nasceu na Baixada Fluminense, mas foi morar ainda pequeno, com a família, no litoral paulista. No acostamento da Via Anchieta, trabalhava, ainda menino, como vendedor ambulante. Ele em pé, com um arame no qual havia pendurados siris. Vendia-os, escondido da mãe, para os desavisados turistas que pela estrada passavam rumo à praia ou que faziam a mão inversa, regressando para a Paulicéia. Pita era um menino levado. Vendia por farra. Queria apenas uns trocados para o guaraná e o cinema. Mostrava-se prestimoso. Oferecia-se aos clientes para colocar o siri no porta-malas. E quem disse que cumpria o combinado? Os trouxas motoristas voltavam para São Paulo sem siri e sem dinheiro. Ao contrário do Pita, que descia a estrada feliz da vida com a grana no bolso e os siris a tiracolo. Nenhum motorista jamais voltou para dar uma coça no garoto magrelo e malandro. Com 13 anos, acabara a fase aventureira com os crustáceos e a bola roubava Pita para si. Paixão à primeira vista, que se transformaria em amor eterno, com um correspondendo indistintamente ao carinho do outro. A bola e o Pita. Pita e a bola.
Nas areias de Santos, a pelada rolava solta e Pita era a estrela do Casqueiro, time do humilde bairro Jardim Casqueiro, em que morava, em Cubatão. Dali, a Portuguesa Santista o levou. Após dois anos, o juvenil do Santos passou a ser sua morada. O que poucos sabem é que trocou de clube não pelo fato de jogar futebol no time que foi um dia de Pelé, mas sim porque na Vila davam ao pobre menino Pita passes de ônibus de ida e de volta para casa. A necessidade era mãe da vontade. Se a primeira fosse correspondida, a segunda nasceria.
A vida de Pita não foi fácil. A família era muito humilde. O sustento vinha de um modesto botequim do pai. Mas Deus e o talento que ostentava reservaram ao moleque um destino exitoso. “A bola ficou com o Pita e eu fiquei com os cálculos”, dizia o velho João da Fazenda. Em 1977, já estava entre os profissionais. Brilhou para o treinador Formiga, em 1978/79, quando o introvertido Pita comandou os famosos “Meninos da Vila” e resgatou ao autoestima santista ao conquistar o Campeonato Paulista de 78, cuja decisão só aconteceu em junho do ano seguinte. “Hoje quem não é santista em Casqueiro, é ‘sampita’. O corintiano, o palmeirense, o são-paulino. Todos torcem pelo Pita”, asseverava o pai do craque.
Seus lançamentos eram impressionantes. Lembrava Gerson, o “Canhotinha de ouro”, nos momentos mais sublimes em campo, quando colocava até mesmo um bode cego na cara do gol. “Olha, eu sou sincero: não treino lançamentos. É uma coisa que eu trago comigo desde os tempos dos juvenis. Sempre gostei de lançar.”
O maestro Pita comandaria o Santos até meados da década de 80. Antes de trocar a Vila Belmiro pelo Morumbi, Pita levou o time da Baixada Santista ao vice-campeonato do Paulistão de 1980 e ao vice-campeonato brasileiro de 1983, quando time se descontrolou em campo e facilitou a vida do Flamengo. “Chegou a hora de sair do Santos. A proposta do São Paulo é excelente, significa a minha independência financeira”. Gostava do Santos. Estava há 11 anos no clube. A torcida, embora Pita pedisse compreensão, não tolerou perdê-lo. Nos muros da Vila Belmiro, pichavam que “Pita não faz igrejinha”.
Em 1984, Pita chegava ao Morumbi, numa negociação em que o São Paulo cedeu ao Santos o ponta-esquerda Zé Sérgio e o volante Humberto. Igualmente na Vila Belmiro, Pita tornou-se ídolo no Morumbi. O tricolor montou um timaço, que tinha como cérebro o grande Pita. O maestro. O melhor camisa 10 que o Santos teve… depois do Pelé, claro.