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UM ESCRITOR EM BUSCA DA POESIA PERDIDA


Rubens Lemos Filho

“Amigos, o Museu da Pelada é o que há de melhor nas redes sociais sobre futebol”. Fomos surpreendidos, recentemente, com uma baita mensagem na nossa caixa de entrada e faltaram palavras para agradecer o carinho. Ficamos mais contentes ainda ao saber que o autor do elogio era Rubens Lemos, jornalista e escritor de Natal-RN, com três livros publicados, e, como ele mesmo se define, “um saudosista e opositor das arenas, que tiraram o povão do esporte mais democrático”.

Além de “Danilo Menezes, O Último Maestro” (Biografia, 2001), “O Homem Óbvio” (Crônicas, 2009) e “O Rosto Alegre da Cidade” (Crônicas sobre o Centenário do ABC, 2015), obras publicas, o escritor lança em outubro “Memórias Póstumas do Estádio Assassinado, Gols, Craques e Saudades do Machadão” e já iniciou os trabalhos para escrever o livro de Geovani, um dos maiores ídolos do Vasco da Gama.

Dessa forma, não precisamos nem falar que houve uma grande identificação e, por isso, decidimos conhecer melhor o nosso novo parceiro, que, além de ter prometido incendiar as resenhas do Museu com suas crônicas, contou um pouco da sua relação com a bola, opinou sobre a perda do romantismo do nosso futebol e apontou uma solução para o esporte tentar recuperar parte daquela emoção do passado.

Confira a tabelinha com Rubens Lemos

Como surgiu sua paixão pelo futebol?


O futebol foi meu amigo de infância, confidente e irmão. Meu pai era jornalista e comentarista esportivo (Rubens Lemos, militante político torturado na Ditadura e falecido em 1999) e me apresentou ao amor que me encantou. Sempre torci, tal meu pai, pelo ABC de Natal e pelo Vasco da Gama. Sempre fui daqueles meninos chatos, intrometidos, piolho de Tabelão, de Globo Esporte, de resenha de rádio, ouvia a Rádio Globo 1220 até tarde da noite, discutia com adultos, decorava escalações. Era um péssimo jogador. Batia peladas na rua mesmo, fundei um time, o ABCzinho do Tirol, bairro onde até hoje vivo em Natal, ficava na defesa, dando chutões. Depois resolvi ser técnico e cartola e fundei um time de soçaite, o Rio Ave, que chegou a ser campeão norte-nordestino. Também fui dirigente de futsal do ABC. Fomos vice-campeões brasileiros contra a Malwee Jaraguá de Falcão em 2006 perdendo de 3×2 aqui em Natal. Tem o jogo inteiro no Youtube. Quebramos o recorde de público até hoje insuperável em jogos de futsal: 10.572 pagantes.

Quem é seu maior ídolo no esporte?

Meus maiores ídolos no futebol são Danilo Menezes, um uruguaio que jogou na Celeste e no Vasco antes de ser o maior meia-armador do ABC e o baixinho Geovani do Vasco, um estilista sensacional. Injustiçado por Lazaroni que não o levou para a Copa de 1990. Claro, Zico, apesar das raivas que me fez, jogava muita bola. Gênio.

Ainda joga peladas?

Acho que a última vez que chutei uma bola, Zandonaide ainda era meia reserva do Vasco, lá pelo começo dos anos 1980. PC Caju, o monsieur, andava por São Januário.

E o Jornalismo? Quando optou pela profissão e quem é seu maior ídolo?

Comecei em abril de 1988 e o maior texto que conheci até hoje é o de Carlos Heitor Cony. No esporte, João Saldanha. Cabra macho, como dizemos aqui no Nordeste.

Em que momento o futebol perdeu aquele romantismo que contagiava os estádios?


Os geraldinos (Foto: Reprodução)

Tenho que ser justo. Sem ser piegas. Quando descobri o Museu da Pelada no Facebook, vibrei. Disse: “porra, esse é o meu pessoal!”. Vejo todo dia, toda hora! Do cacete! Cada entrevista antológica, com PC, Riva, Zico, Dirceu Lopes, a de Gil ficou joia! Faz sete anos que não piso em estádio! Nunca fui numa arena, detesto todas elas! Artificiais, segregadoras! Num país como o nosso, como é que o cara que ganha salário mínimo, o geraldino de antigamente, vai pagar 100, 200 paus pra ver jogo? E ver o quê, mesmo? Correria, sujeito jogando de bunda no chão?  Eu gosto do futebol bonito, do drible, do lançamento, da caneta, do elástico, da firula, do golaço, da linha de passe! Isso tudo acabou quando tiraram do pobre o direito de frequentar escolinha, quando apagaram do mapa urbano os campos de várzea. Não tem mais neguinho (afrodescendente é hipocrisia!) nos times brasileiros! É tudo mauricinho, filhinho de papai! Cara com nome composto, nome de praça! Neymar brilha pois é rei em terra de chuteira cega! E já acham o menino um dos melhores de todos os tempos… Se alguém o escalar no lugar de Garrincha, eu infarto!

Como um bom vascaíno, qual foi o melhor time do Vasco que você viu atuar?

Vivi o período das porradas de Zico, Adílio e Andrade nos anos 1980. Sem abrir mão do amor ao Vasco. Vi de relance o Vascão de 1977, mas o melhor Vasco de minha vida foi aquele de 1987/88, com Geovani e Romário batendo no Flamengo cinco vezes consecutivas: Acácio; Paulo Roberto; Donato, Fernando e Mazinho; Dunga (Henrique), Geovani e Tita; Mauricinho (Luís Carlos); Roberto (Vivinho) e Romário. Outro belo time foi o de 1992, no Brasileiro, que tinha um goleiro fraco infelizmente: Régis; Luis Carlos Winck, Torres, Jorge Luís e Eduardo; Luisinho, Geovani, William e Bismarck; Edmundo e Bebeto. Fizemos uma grande campanha e estávamos invictos com Geovani jogando. Ele saiu por contusão. Aí, o título foi para eles, os flamenguistas.

Em outubro, você lança Memórias Póstumas do Estádio Assassinado, Jogos, Craques e Lembranças do Machadão. Poderia falar um pouco mais dessa obra? Como surgiu a ideia?


Obras no Estádio Castelão

O Estádio Castelão (Machadão) é a infância infinita de minha vida. E foi morto covardemente por assassinato. Derrubaram-no por quatro jogos de uma Copa do Mundo que terminou nos exemplares 7×1 da Alemanha que bem poderiam ter sido 14×2. Era um estádio tão lindo que chamavam de Poema de Concreto. Natal (com Cuiabá) foi uma das cidades que destruíram seus estádios para construir arenas. Havia um projeto apresentado à Fifa para adaptar o Machadão por cerca de 90 milhões de reais. A Fifa chegou a aceitar e, misteriosamente, apareceram com um projeto digno de Dubai. No papel. Resultado: acabaram com nosso patrimônio e gastaram meio bilhão de dólares numa arena que parece uma cebola gigante encravada num Estado onde só este ano foi batido recorde de assassinatos pois a polícia não está equipada, o principal hospital público está sucateado e com doentes no corredor e a educação está arrasada. Decidi resgatar cada ano do Machadão, nascido em 1972 e morto em 2011, onde pisaram Pelé, Rivelino, Tostão, Eusébio, Zico, Ademir da Guia, Sócrates, Romário, Geovani, Bebeto, nosso grande ídolo local, Marinho Chagas, a Bruxa (saiu antes de o Castelão ser inaugurado), Pedro Rocha, Manga, Jairzinho, Paulo Cézar Caju, Edu (os Edus, do Ameriquinha e do Santos). No Machadão, o Rio Grande do Norte ganhou sua única Bola de Prata com nosso maior craque, Alberi, em 1972, superando Tostão, Jairzinho e Dirceu Lopes. Tostão estava no Vasco. Quero resgatar para as novas gerações o que de fato foi o futebol, não essa sujeira que alguns chamam de “negócio”. Também derrubaram o Machadinho, ginásio onde jogamos (o futsal do ABC), a final contra Falcão em 2006. Vou lançar o livro dia 5 de outubro na AABB em Natal.

É verdade que a “máquina de escrever” já está produzindo o livro do Geovani? Qual é a sensação de escrever sobre o craque?


Desde 1982, Geovani é meu ídolo. O cara era o fino, a sofisticação, a inteligência, a essência de um criativo. O que jogava não está em nenhum compêndio. É um injustiçado. O Vasco mesmo não o coloca em quase nenhuma lista de melhores. Respeito muito Juninho Pernambucano, Zanata, mas o grande 8 vascaíno é o Geovani. Quem viu, viu. Enfrentava, sozinho, no toque, aquela meiúca fantástica do Flamengo (Andrade, Adílio e Zico). É um grande campeão (tem 5 títulos cariocas, uma Copa América, melhor do mundo de juniores e das Olimpíadas de Seul, que perdemos porque ele não jogou a decisão). Lançador emérito, driblador debochado. Teria arrebentado, não tenho a menor dúvida, na Copa do Mundo de 1990. Era o “homem de confiança” de Lazaroni e, no fim, foi descartado. Inexplicável. Nos tornamos amigos e pretendemos lançar o livro no ano que vem. Buscamos patrocínio, pois tenho que me deslocar daqui para Vitória, terra dele e ao Rio de Janeiro, para entrevistas. Ele merece. Venceu até a morte (câncer) e é um sujeito muito decente.

Por fim, consegue enxergar alguma solução para o futebol recuperar parte da emoção do passado?


É preciso repensar o trabalho de base. Devolver a bola a quem sabe jogar. Aos garotos habilidosos. Repensar essa Lei Pelé, que pune os clubes e enche empresário de grana. Hoje, o moleque fica rico muito cedo sem jogar essa bola toda e tem até razão em espetar o cabelo, de não se interessar em jogar pela seleção. Quer colecionar maria-chuteira, andar em iates e se cercar de puxa-saco em balada. Outro dia, vocês postaram o valor da venda de Paulinho para o Barcelona e questionaram quanto valeria um Nei Conceição, baita cracaço. E quanto custaria Pelé? Já imaginaram? Gosto do Tite, não é o ideal, mas é o possível. Embora o Brasil sempre tenha jogado (até Zagallo em 1974, depois com Telê 1982) para atacar. Os outros é que contra-atacavam. Temos Neymar, Coutinho e Jesus. Quem mais? Por favor não me venham com Renato Augusto vestindo camisa 8 que foi de Zizinho, Didi, Gerson, Dirceu Lopes, Sócrates e do meu ídolo Geovani. Um abração pra vocês do Museu da Pelada. Vocês não tem ideia da importância do trabalho que estão fazendo pelo bem do futebol verdadeiro, mágico e agregador. Futebol é a entidade cultural mais democrática do mundo. Ao menos, deveria voltar a ser.

 O AMOR MAIS QUE PERFEITO

por André Felipe de Lima


Apesar de ídolo do Flamengo, onde construiu uma grande carreira ao longo dos anos de 1940, a Era Maracanã conheceu um Zizinho craque banguense. Ele era o time. Tudo funcionava em função de suas jogadas magistrais, como escreveu o jornalista Armando Nogueira: “Eu lia Zizinho, todo domingo, no Maracanã.”

No dia 23 de julho de 1950, exatamente sete dias após o “maracanazzo” promovido pela seleção do Uruguai, Zizinho enfrentaria pela primeira vez o seu ex-clube. Parecia alheio ao jogo como se na mente ainda lhe povoassem as imagens da festa dos uruguaios, sobretudo de Obdúlio Varela. “Tive vontade de abandonar o futebol depois da Copa do Mundo. Passei quase uma semana sem poder dormir. Quando ia dormindo, tinha um pesadelo. Pensava que o jogo ainda não tinha começado. O Bangu quis me dar 15 dias de folga. Eu disse: ‘Não, não quero folga. Quero jogar. Se eu ficar parado vou enlouquecer, porque não consigo dormir. Preciso jogar pra não ficar maluco”, disse Mestre Ziza ao repórter Geneton Moraes Neto, para o livro “Dossiê 50”, documento imprescindível para a história do futebol.

A peleja entre Bangu e Flamengo fora apitada pelo lendário Mário Vianna. Vitória do rubro-negro (3 a 1). Os gols do Flamengo foram marcados por Aloisio, duas vezes, no primeiro tempo, e Lero, no segundo tempo. Djalma, de pênalti, descontou para o Bangu também na segunda etapa. Zizinho parecia ainda escondido, sem a alma do craque de outrora.
A situação não se repetiria três dias depois, quando os dois times voltaram a se enfrentar em outro jogo amistoso. O Bangu acordara e aplicara 4 a 2 no Flamengo. No apito, novamente Mário Vianna. Zizinho ainda não dera o ar da graça, mas seus companheiros Mirim, Djalma, Ismael e Moacir Bueno marcaram para o Bangu. Do lado do Flamengo, descontaram Arlindo e Gago.

Mas no dia 20 de agosto, o jogo era para valer. Zizinho, enfim, acordara. De súbito, renascera para bola e a bola para ele. Enfim, as pazes. E justamente o clube que o revelou, que o tornou uma das figuras mitológicas da história do futebol mundial, teve o privilégio de presenciar esse renascimento do craque. Mas será que Zizinho perdoaria o Flamengo?

Foi humilhante ver o time da Gávea perder de 6 a 0 para o Bangu. Aquele dia de agosto nunca saiu da memória de Zizinho. Moacir Bueno meteu dois gols, Sula fez de pênalti. 3 a 0 ainda no primeiro tempo. Na arquibancada, uma incrédula torcida do Flamengo. Alberto da Gama Malcher apita o começo do segundo tempo. Zizinho faz o dele. Era o que muitos acreditam ter sido a vingança. Joel, Sula e Simões ainda marcariam mais três. Estava consumada uma revanche que Zizinho nutria pelo seu ex-clube.

Vingava-se duas vezes num mesmo jogo. Talvez no lugar de homens vestidos de vermelho e preto enxergara jogadores de azul celeste… como o da blusa uruguaia. Mas também acreditava que aquela goleada foi a resposta aos cartolas da Gávea, que o venderam ao Bangu sem seu consentimento. “Estava magoado pela forma com que me dispensaram. Cheguei a jogar um campeonato inteiro pelo Flamengo com o tornozelo enfaixado. Eu tirava a bota de esparadrapo, depois das partidas, e meu tornozelo ficava enorme, completamente inchado. Passava a semana inteira sem treinar e no domingo jogava de novo. Até com a perna fraturada cheguei a jogar. Eu me sacrifiquei demais pelo Flamengo. Merecia mais consideração”, declarou Zizinho em depoimento reproduzido por Roberto Sander em seu “Os 10 mais do Flamengo”.

Os cartolas do Flamengo precisavam responder a Zizinho. Não podiam fazê-lo no campo, fizeram-no pelos jornais. Francisco de Abreu, vice-presidente do clube, defendeu o Flamengo em entrevista concedida ao Jornal dos Sports do dia 20 de janeiro de 1950. Alegara que o clube não queria vender Zizinho. É possível que Abreu estivesse blefando para não criar uma crise do clube com a torcida. Não havia outra hipótese.
Não é difícil entender, contudo, os motivos que indignaram Zizinho a ponto de ele guardar a mágoa com o Flamengo até o fim de sua vida.


Os rumores de que o Bangu queria Zizinho circulavam desde o começo do ano de 1950. O patrono do clube de Moça Bonita, Guilherme da Silveira, mais conhecido como Dr. Silveirinha, nunca escondeu o interesse pelo passe do craque. Freqüentador assíduo da tribuna social do Hipódromo da Gávea, Dr. Silveirinha encontrou em uma mesa do bar do Jóquei Clube o presidente do Flamengo, Dario de Melo Pinto. Ali começara a negociação pelo passe de Zizinho. 
Silveirinha ofereceu 400 mil cruzeiros. Melo Pinto disse que não haveria negócio naquelas condições. O clube suburbano subiu a oferta para 500 mil cruzeiros e parte da renda de dois amistosos entre os dois clubes. O presidente do Flamengo ironizou Silveirinha ao afirmar que o Bangu nunca teria dinheiro para contratar um jogador como o Zizinho. Guilherme da Silveira insistiu: “Se o Bangu tiver esse dinheiro, o Zizinho pode jogar no meu time?”.

O valor foi fechado na mesa do bar do Jóquei Clube, por surpreendentes 800 mil cruzeiros, que deveriam ser pagos à vista. O alvirrubro era naquela época um clube rico, o que não impediria o susto geral logo que a negociação fosse revelada à imprensa. Precisavam agora conversar com Zizinho.

Silveirinha, por intermédio do cunhado do craque, convocou Zizinho para uma conversa, como o craque revelou durante entrevista ao programa Bola da Vez, do canal ESPN, que foi ao ar no dia 16 de julho de 2000: “O presidente do Flamengo procurou o Dr. Silveirinha para pedir-lhe que interferisse junto ao pai dele, o Dr. Guilherme da Silveira, que era Ministro da Fazenda, para que a concessão da Loteria Federal, que era do Peixoto de Castro, também fosse para ele, Dario. E o Silveirinha disse: ‘Bem, Dario… eu faço isso, mas quero um favor seu também’. Dario respondeu: ‘Pois não, pede’. Veio o Dr. Silverinha e disse: ‘Só quero um jogador seu’. Dario disse: ‘Escolhe’. Silveirinha logo falou: ‘Só quero o Zizinho.’”

O assunto, mesmo após 50 anos, ainda desconcertava Zizinho. Isso ficou evidente durante a entrevista. Não eram lembranças saudáveis: a transferência traumática para o Bangu e, dias depois, a perda da Copa. A postura do Dr. Silveirinha intimidou Dario de Melo Pinto, que teria respondido ao cartola do Bangu que não poderia “dar” o Zizinho, mas que colocaria “um preço lá embaixo” para facilitar o negócio. Segundo Zizinho, o dirigente rubro-negro temia severas represálias dos outros cartolas da Gávea caso negociasse o passe do principal jogador do clube e ídolo máximo da torcida. “Um dia o Dr. Silverinha mandou me chamar lá na minha casa pra eu ir ao escritório dele. Ele me disse assim: ‘Mandei chamar o sr. aqui para saber se o sr. quer jogar no Bangu.’ Fiquei olhando para a cara dele. Fiquei espantado. Eu não sabia… aí ele disse: ‘O sr. está duvidando da minha palavra?’. Respondi: ‘Eu não tenho razão para duvidar ou não da sua palavra. Estou (sic) lhe conhecendo hoje’.

Para convencer o incrédulo Zizinho, Silveirinha foi sagaz. “Ele disse pra mim: ‘Então pega na extensão do telefone.’ Aí ele ligou para o Dario de Melo Pinto: ‘Como é Dario, o negócio do Zizinho está fechado?’. O presidente do Flamengo respondeu: ‘Claro que está! Fala com ele.’ Aí Silverinha disse: ‘E agora?!”. Respondi: ‘Bota o contrato aí, que assino agora. No Flamengo não jogo mais.’”

Zizinho sentiu-se desprezado. Com toda a razão. Dissera sempre aos cartolas da Gávea que não pretendia deixar o Flamengo. Aí, a grande decepção do craque.

A imprensa especulava de forma debochada a negociação entre os dois clubes. Publicou-se que Zizinho escrevera uma carta à diretoria do Flamengo, e que esta lhe ofereceu um emprego de zelador num edifício em Niterói, cidade onde morava Zizinho.
No páreo pelo futebol do craque, corria por fora o colombiano Mário Abello, disposto a levar Zizinho para a milionária liga pirata colombiana. Mas se a negociação se concretizasse, Ziza não jogaria a o Copa de 50 pelo Brasil. A Fifa não reconhecia o campeonato colombiano para o qual rumaram os principais nomes do futebol argentino, como Di Stéfano, Pedernera e Boyé, além de craques brasileiros, como um veterano Tim e um já débil Heleno de Freitas.

Indignado com o Flamengo, Zizinho pediu aos cartolas facilitassem a venda ao Bangu. E assim foi feito. O craque receberia luvas de 200 mil cruzeiros, um salário mensal de 7 mil cruzeiros e uma casa de retalhos em Niterói para a venda de tecidos da fábrica de Bangu. Zizinho tornara-se o jogador mais caro da América do Sul.

O jornalista Mario Filho defendia a tese de que Zizinho ficara mordido não pela venda em si, mas sim pelo valor que Dario Melo Pinto estipulara. Nunca lhe passara pela cabeça que o Flamengo fosse capaz de vendê-lo. “Um dos orgulhos dele era o resposta de Hilton Santos ao Corinthians: — Zizinho? Só com trinta milhões, para início de conversa”, escrevera Mario Filho, em “O negro no futebol brasileiro”.

Reportagem do Jornal dos Sports do dia 4 de março de 1950 antecipava o desapontamento de Zizinho com o Flamengo. O craque declarou estar definitivamente interessado em migrar para o Bangu. Na edição do dia 15, a primeira página estampa uma foto de Zizinho retirando a camisa do Bangu. Na manchete, o fim da novela: “Zizinho, afinal é do Bangu!”

Quem mais foi castigada com ida de Zizinho para o Bangu foi a enorme torcida do Flamengo, que não poderá lotar o Maracanã para deslumbra-se com seu grande ídolo. Felizes os banguenses e os torcedores dos outros times, como o botafoguense Armando Nogueira, que assim escrevera em crônica publicada no livro “Na grande área”: “Sempre imaginei Zizinho jogando futebol de sapato preto, traje rigo, tal a leveza se sua passada com a bola e sem a bola. Pois um dia Mestre Ziza mandou que o sapateiro Aristides, do Bangu, arrancasse todas as travas de suas chuteiras.”

O tricolor Nelson Rodrigues, dizem, comentava que quando Zizinho passava, uma bola dizia à outra: “Lá vai Ziza…”. 
De 1950 a 57, Zizinho defendeu — e com imenso prazer — o Bangu. Se não conquistou grandes títulos, inspirou Ataulfo Alves para compo o “Samba de Bangu”, cuja letra diz: “No velho esporte/ tua fama não desliza/ teve Domingos da Guia/ sem falar do Mestre Ziza”.

Nos tempos de Flamengo, de embates no campo da Gávea, nas Laranjeiras, em São Januário, ou em General Severiano e na rua Figueira de Melo, Zizinho construiu o melhor momento de sua extraordinária carreira nos gramados. “Era cérebro e pulmão de qualquer time”, reverencia Domingos da Guia, seu companheiro de time nos fim dos anos de 1930.


Um dos principais nomes da crônica esportiva daquela época, Geraldo Romualdo da Silva, retratava Zizinho de forma mais didática, objetiva, como convém ao olhar referencial comum ao jornalismo. “Quando os outros sucumbiam diante dos fortes e violentos beques, Zizinho ia mais à frente e, com fibra e coração, abria espaço, marcava os gols.”

Faltou a Zizinho um caneco mundial. Poderia ter uma segunda chance na Copa de 1954, na Suíça, mas o técnico Zezé Moreira seqüestrou-lhe esse direito. Aquele mundial seria um bálsamo para que Ziza esquecesse a tragédia de 50. “A gente não sabia nem o que era uma Copa do Mundo. A última tinha sido disputada em 1938, antes da guerra. Ouviu-se pelo rádio. Não tínhamos contato com países estrangeiros. Eu, por exemplo, nunca tinha visto a Iugoslávia ou a Suíça jogarem — dois dos nossos adversários em 50. De vez em quando víamos os ‘reis do futebol’, como os ingleses eram chamados, em filmes exibidos no Cineac. A gente ficava se perguntando: ‘Como é que eles conseguem jogar num campo cheio de lama? Aqueles campos pesado era de neve…”. Esse depoimento concedido ao jornalista Geneton Moares Neto mostra com exatidão que muito mais que futebol, precisava-se de maturidade para a seleção encampar (e conquistar!) um torneio que já não era disputado há mais de 10 anos. Faltou aos jogadores brasileiros desvencilharem-se de uma visão ainda provinciana sobre o futebol. Uma tese a ser debatida sobre as palavras ditas por Zizinho.

Decerto a Copa do Mundo de 50 representa uma espécie de “corte epistemológico” na história do futebol brasileiro. Zizinho é a prova mais cabal, mais contundente de que após o apito final daquele fatídico jogo contra os uruguaios, no dia 16 de julho, o futebol brasileiro seria reinventado. Que naquele momento, a reflexão sobre o tal complexo de vira latas mencionado por Nelson Rodrigues aconteceria bem antes de 1958, na Suécia. 
Deveriam lembrar de Zizinho para este debate. Do Zizinho que encantou o jornalista inglês Willy Meisl ao vê-lo em campo na Copa de 50 contra na vitória de 2 a 0 sobre o bom escrete iugoslavo: “Não se trata apenas de um craque, dos muitos que andam espalhados pelo mundo. Este é um gênio, um homem que possui todas as qualidades que podem ser idealizadas para um profissional chegar mais próximo da perfeição”.

Vencer a Iugoslávia era fundamental para o Brasil decidir a Copa. Zizinho era o missionário para missão tão eloqüente. Era o gênio do dejà vu futebolístico, como narra Eduardo Galeano para quem Zizinho inventou o gol “bis”: “Este senhor da graça do futebol tinha feito um gol legítimo, que o juiz anulou injustamente. Então, ele repetiu igualzinho, passo a passo. Zizinho entrou na área pelo mesmo lugar, esquivou-se do mesmo beque iugoslavo com a mesma delicadeza, escapando pela esquerda como tinha feito antes, e cravou a bola exatamente no mesmo ângulo. Depois chutou-a com fúria, várias vezes, contra a rede. O árbitro compreendeu que Zizinho era capaz de repetir aquele gol dez vezes mais, e não teve outro remédio senão aceitá-lo.”

O que talvez Meisl e Galeano não sabiam é que Zizinho jogara contra a Iugoslávia contundido e por pouco não entrara em campo: “Fui dormir quase de manhã. Não consegui dormir porque os massagistas não deixaram. Deram-me um remédio que, segundo Augusto, era de cavalo, um troço que botavam nos animais do jóquei. Não sei como os animais agüentavam. Queimava que não era brincadeira a pomada”, disse Zizinho à Geneton Moares Neto.

Dias depois do embate contra os iugoslavos, a confirmação da divindade “Zizinho”, após o massacre contra a Espanha, a “fúria”. 6 a 1 foi pouco. “O maestro da esquadra maravilhosa. O futebol de Zizinho me faz recordar Da Vinci pintando alguma coisa rara”, louvou Giordano Fattori, correspondente da Gazetta dello Sport, após assistir ao gênio Zizinho contra os espanhóis. O craque se auto-definia um “guerreiro da bola” que jamais a arranhou. “Ela era o amor da minha vida.”

Mas veio o dia 16 de julho. Já havíamos conquistado a Europa, mas faltava recuperarmos a província Cispaltina. Zizinho era o general da tropa. Mas falhamos. A única explicação para aquela derrota Zizinho encontrou-a no sobrenatural. Ao Geneton, ele confessou: “Pode ter acontecido uma onda negativa naquele dia no Maracanã. Numa partida de futebol, existe uma força maior que a gente não compreende, mas que existe, existe. Não sei como é, mas existe uma força maior que dirige a partida. Não sei de onde vem. Talvez venha da multidão que forma pensamentos positivos ou negativos. É uma força.”

Não havia “grito” de Obdúlio Varela que intimidasse a seleção brasileira. “Não havia menino ali”, dissera Zizinho. Obdúlio, que era amigo de Zizinho, confessou ao craque brasileiro que esperava o pior diante do Brasil naquele dia 16 de julho de 1950. “Não sei o que vocês pensavam, mas nosso receio era tomar uma goleada, como a Suécia e Espanha tinham levado.”
Geneton Moraes Neto extraiu um depoimento sensacional de Zizinho sobre a extensão metafísica que o craque mantinha com Obdúlio: “Ademir esteve uma vez na casa de Obdúlio Varela. A mulher de Obdúlio é que disse: ‘Há um jogador no Brasil em que Obdúlio pensa todo dia: Zizinho.’”

Zizinho dissera promover um suposto contato telepático com Obdúlio anos depois da Copa de 50. Uma surpreendente herança da tragédia de 1950: “Eu sei sempre como é que vai Obdúlio. E ele sabe sempre como é que estou”, garantia Zizinho. O episódio foi contado pelo próprio ídolo uruguaio à Ademir de Menezes e a Barbosa, que foram visitá-lo em Montevidéu muitos anos após a final da Copa de 50. Zizinho tem a resposta para o fenômeno. “Eu sou espírita. E ele também é”, disse Zizinho, que disse a Geneton nunca ter ido a uma missa a não ser quando um “amigo morre”.

Durante a comovente entrevista ao repórter Mauro Tagliaferri, para o Esporte Espetacular, da TV Globo, em 1999, quase 50 anos após a Copa, mostrou um Zizinho ainda emotivo diante de um passado que sempre insistiu-se presente. Tagliaferri pergunta o que significava a Copa de 50 para a vida dele. Zizinho coça o queixo, desvia o olhar e responde: “Perdi a Copa do Mundo, vim para casa e não conseguia dormir. Eu tinha pesadelos…” Naquele momento da entrevista, Zizinho balança os ombros, olha para o chão e começa a chorar. Volta-se para o Tagliaferri e faz, com as mãos, o tradicional sinal de pedido de tempo. Sorri, simpático, mas imerso em lágrimas, diz: “Tempo…” abaixa a cabeça novamente e permanece chorando até que, com as duas mãos novamente, enxuga as lágrimas e pergunta para o repórter: “Pode continuar?”. O repórter insiste: “Podemos mesmo continuar?”. Zizinho meneou a cabeça positivamente e respondeu: “Pedi ao seu Carlos Nascimento que não podia mais ficar em casa. Não dá. Assim eu vou ficar maluco. Foi tortura mesmo. As pessoas ainda brincam com isso até hoje (…) fora do Brasil não teríamos perdido esse campeonato.”
Depois da Copa, Zizinho, que nasceu em São Gonçalo, no dia 14 de setembro de 1921, teve poucas chances na seleção. Como já dissemos, Zezé Moreira vetou-o para a Copa de 1954. Zizinho, sempre conformado, foi batendo sua bola no Bangu. Ele era o time do Bangu, que apesar de sempre atrapalhar os grandes do Rio sequer conquistou um campeonato estadual no período em que contou com Zizinho no time.


De Moça Bonita, seguiu para o Morumbi, a contragosto da esposa e de suas filhas ainda pequenas. Uma delas, sabe-se lá o porquê, sugeriu ao pai que se continuasse a jogar, que fosse no futebol francês. O certo é que entre Bangu e São Paulo, Zizinho tinha dúvidas se continuaria ou não a jogar futebol. A possibilidade de jogar na França realmente aconteceu. 
Como confirmou o cronista paulista Adriano De Vaney, Ieso Amalfi, outrora ídolo do Boca Juniors e que fora do próprio São Paulo, propôs a Zizinho uma temporada em Paris. Mas a proposta da diretoria do São Paulo convenceu-o e o craque permaneceu no futebol brasileiro. E com o Tricolor do Morumbi conquistou o último título de sua carreira: o Campeonato Paulista de 1957.

Seja na seleção, no Flamengo ou no Bangu, isso pouco importa quando temos Zizinho, que nos deixou no dia 8 de fevereiro de 2002, como um marco do futebol mundial. Ele, nenhum outro, representa o começo da Era Maracanã.


Seu nome nunca será esquecido. Tampouco por Pelé, que fez do Mestre Ziza seu espelho. “Quando eu era garoto, procurava imitar dois jogadores: o Dondinho, meu pai, e o Zizinho. Quando comecei a minha carreira no Santos, o Zizinho estava encerrando a dele no São Paulo. E encerrando em grande estilo. Ele foi campeão e considerado o melhor jogador do Campeonato Paulista de 1957. Zizinho era um jogador completo. Atuava na meia, no ataque, marcava bem, era um ótimo cabeceador, driblava como poucos, sabia armar. Além de tudo, não tinha medo de cara feia. Jogava duro quando preciso.”

A ginga, os dribles, os passes milimetricamente perfeitos e os gols geniais de Zizinho foram o ditame para Pelé, que herdou de Zizinho a coroa de “Rei” do futebol.

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JOGO MEMORÁVEL

Jogo válido pelo campeonato estadual de 1950, dia 20 de agosto de 1950, Bangu 6×0 Flamengo.
Foi o terceiro jogo de Zizinho contra o seu ex-clube. Perdera o primeiro e ganhara o segundo, mas sem exibição de gala. Na terceira chance, já recuperado da perda da Copa de 50, impôs uma das mais vergonhosas derrotas da vida do Clube de Regatas do Flamengo, que aconteceu no Campeonato Carioca de 1950. Relatava a crônica da época: “Apresentando em campo um time verdadeiramente desconexo, incorrendo ainda no erro de uma aventura que foi o lançamento precipitado de Hermes, o Flamengo emudeceu os olhos de sua torcida, caindo por uma contagem que atinge tremendamente o prestígio do clube da Gávea. Está de parabéns o Bangu pela sua estupenda vitória. Vitória que veio como efeito natural do amplo domínio exercido pelo seu conjunto, cujas manobras táticas foram perfeitas e cujo padrão de jogo é o que se pode exigir de um grande esquadrão.” Zizinho deixou o dele, Moacir Bueno fez dois e Joel, Simões e Sula completaram o marcador.

O QUE DIRIA JOÃO?

por Victor Escobar


Nos últimos dias, tenho me dedicado à leitura de “As 100 melhores crônicas comentadas de João Saldanha”, lançada em comemoração ao centenário dessa grande figura que – corajoso ao ponto de quase balear o goleiro do seu próprio time de coração – nos ensinaria muito bem a como conversar com um fascista hoje em dia.

O que mais me impressiona é que, ainda nos anos 60, João Saldanha encampava na porradaria contra os salamaleques inventados pelo batedor na hora do pênalti (chegou a dizer que Didi, o gênio da Folha Seca, mais parecia uma baiana da Portela), dos times que jogavam na retranca e do calendário do futebol brasileiro, que era desorganizado desde quando o Botafogo ainda ganhava alguma coisa.

O que diria Saldanha ao ver Neymar, o grande craque brasileiro, partir para bater um pênalti? O que ele diria da retranca do atual líder do Campeonato Brasileiro? O que diria dos clubes que, pelo calendário, priorizam coisas como almoço de família, aula de crochê e missa em vez de disputar o Brasileirão?

Sim, nós sabemos perfeitamente o que ele, sem medo nenhum, diria de tudo isso. Mas bem que queríamos poder ouvi-lo novamente. Essa voz faz falta.

Salve, João!

UM POUCO DE CADA CAMISA 10 GENIAL BROTOU NO ALEX

por André Felipe de Lima


Desde pequeno, entre uma e outra pelada pelas ruas de Colombo, cidade próxima à Curitiba, Alex convencera-se de que seu destino era o futebol. Não sabia ao certo se gostaria de jogar bola na grama. A predileção era o asfalto. Mesmo assim, gostando ou não dos gramados, foi nele que se tornou ídolo de três grandes clubes brasileiros e de outro gigante do futebol turco.

Alex nasceu em Curitiba, às 2h20 do dia 14 de setembro de 1977, na Maternidade Santa Brígida, mas seguiu com os pais para Colombo ainda bem pequeno. Cresceu jogando bola nas ruas próximas à sua casa.


Enquanto os pais iam trabalhar, a zelosa avó materna cuidava do menino, para o qual a vida mostrava-se hostil. Toda a família vivia uma intensa dificuldade financeira. Alex, que muito aprendera com a luta dos pais, jamais percebera o vaticínio da certidão de nascimento: a corruptela do nome [Alexsandro de Souza] tem quatro letras. E quatro letras recheiam nomes [ou apelidos] de craques famosos, igual ao Dida, ao Pelé, ao Pita e ao Zico, principal espelho de Alex. “Esse é o meu ídolo”, dizia aos colegas, como se ele mesmo fosse o Zico. Em verdade vos digo: um pouco de cada um destes geniais camisas 10 renasceria em Alex.

Muita gente só se convenceria disso alguns anos depois. Alex percebera isso bem antes. Decidira que não faria outra coisa na vida. Ser jogador era uma escolha definitiva, embora uma convicção muito precoce para um garotinho que mal largara fralda e chupeta. E o colégio, como fica? Não ficou, embora Alex se esforçasse e mantivesse o desejo de um dia formar-se em Educação Física ou Psicologia. A bola, sempre ela, prevalecera.

“Desde pequeno meus pais me ensinaram a valorizar o estudo e fizeram questão absoluta que eu frequentasse a escola. Agradeço muito a eles por isso, pois sei que a escola ajudou a construir meu caráter e a me tornar um cidadão mais consciente. Só lamento não ter podido concluir o colegial [tive que parar quando estava no segundo ano], pois me profissionalizei muito cedo e ficou impossível conciliar futebol e colégio.”
Para redimi-lo, o inexorável fato é que desde cedo todo menino acredita ser craque. Tenho pena de quem disser o contrário para qualquer garoto que seja. Para quem furar uma bola por conta de um vidro da janela quebrado ou por implicância mesmo, só restará o castigo de Deus, que, em suas onipotência e onisciência, há de castigar também o menino que deixar de lado a sala de aula. Com irrepreensível Justiça Divina.
Quando esteve cara a cara com Argemiro Bueno, o professor Miro, da escolinha do Coritiba, Alex não tremeria. Estava preparado para uma peneira com cerca de 250 meninos para a qual foi levado por Silvio, seu colega e quase vizinho, que já treinava no Coxa.


Miro coçou o queixo e exclamou: “Joga muita bola!”. Para, em seguida, ponderar: “É bom, sim, mas ainda é muito cedo para o gramado. É muito mirrado para o futebol de campo.”
Alex, embora pequeno, conformou-se. Não gostava mesmo de grama. Queria apenas jogar bola. Só isso. Nada mais. Poderia ser no Coritiba, poderia ser em qualquer lugar, menos no Atlético. Sei lá. Aonde houvesse um espaço, com duas traves e uma bola para rolar, bastar-lhe-ia. “Depois da brincadeira, eu estava trocando de roupa para ir embora quando o prof. Miro, que comandava a peneira, chegou para mim e perguntou se não queria ir treinar futebol de salão na AABB [Associação Atlética do Banco do Brasil]. Ele foi até a minha casa e falou para o meu pai que eu ainda era muito novo para jogar no campo, mas disse que seria interessante que eu jogasse futebol de salão. Depois, quando tivesse idade suficiente, voltaria para o Coritiba.”

E lá foi Alex para o futebol de salão da AABB. Ali, foi crescendo e mostrando um domínio de bola incomum. Marcando gols em profusão. Fazendo mágicas dignas de um genuíno camisa 10.

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O texto acima integra a biografia do craque Alex, que consta do I volume (a Letra “A”) de “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, com lançamento previsto para este semestre. A enciclopédia, que consiste em 18 volumes, está sob a edição do querido Cesar Oliveira.

A propósito, leiam a excelente biografia do Alex assinada pelo Marcos Eduardo Neves.

NO TÁXI, COM PSG E FOGÃO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

Bastou eu entrar no táxi e o motorista foi direto ao assunto: “E, aí PC, o PSG vai bem na Liga dos Campeões, Neymar vai ter vida fácil?”. Pode anotar, vida fácil não terá. O PSG nunca venceu uma Liga e o Neymar terá um desafio maravilhoso pela frente. Olha, eu adoraria estar no lugar dele.

É bom demais jogar uma Liga, ainda mais com a chance de conquistar um primeiro título. Mas o garoto tem estrela e talento. Não viram na Olimpíada? Essa chave será muito equilibrada porque tanto o Emery, técnico do PSG, quanto o Ancelotti, do Bayern, gostam de jogar mais defensivamente, por uma bola.

E o time do PSG está em formação. O Di María não fará falta porque o Mbappé é ótimo jogador. O PSG tem que entrar em campo sabendo que não é o Barcelona.


O Campeonato Francês regula com o deles, podem acreditar. O inglês, espanhol, italiano e alemão estão bem à frente. Até o português tem tido bons jogos. Mas torço demais para que o talento de Neymar supere esses ferrolhos.

Acho que respondi, mas antes de terminar a corrida o motorista quis saber do Botafogo x Grêmio.

Os dois têm perdido tudo nesse ano, mas acho que dá Botafogo, apesar de Luan (que só joga na volta) ser um excelente jogador.

Gostava do Grêmio treinado pelo Roger justamente por fazer o time jogar, tocar a bola. São os treinadores que jogam por uma bola que estão enfeiando cada vez mais o nosso futebol e, por isso, se o Botafogo não se acovardar como fez com o Flamengo, pode sair vencedor.