PARABÉNS, SHEV!
por Italo Correa
Falar de Shevchenko não é uma tarefa muito difícil, afinal, para um amante de futebol mundial como eu, considero como um dos responsáveis por me fazer começar a acompanhar o Cálcio, o tão bom campeonato Italiano…
Minhas lembranças de Shev começam em 2002 quando inicia o ápice da carreira desse “Monstro”, se tornando artilheiro da Itália e fazendo raiva nos rivais do clube de Milão. O que me encantava em Shevchenko era a facilidade em que se posicionava nas proximidades do gol, ele fazia de um jeito como se fosse uma tarefa fácil.
No auge de uma carreira já vitoriosa começou conquistar títulos, individuais e coletivos. Uma temporada 2003/2004 espetacular ao qual o Milan conquistou o tão sonhado Scudetto tendo o ucraniano como destaque da equipe, fazendo assim Schev ganhar a bola de ouro em 2004 com tantos craques em atividade, como o Bruxo Ronaldinho Gaúcho. Daí a carreira de Andriy só foi a deslanchar… Talvez um arrependimento que eu tenha é de não me recordar do tão feito histórico que conseguiu Shevchenko em pleno Camp Nou, marcando gols e surpreendendo o incrível time do Barcelona… Certamente o “Rei da Ucrânia” foi um dos maiores responsáveis por despertar meu interesse no Futebol Italiano e virar um admirador do A.C Milan, cujo sou até hoje. Obrigado Shevchenko por me proporcionar o prazer de assistir e acompanhar uma das lendas do futebol mundial como você !
HÁ 40 ANOS, UM MENINO SENTIU-SE CAMPEÃO PELA PRIMEIRA VEZ
por André Felipe de Lima
(Foto: Sebastião Marinho)
Tinha apenas nove anos. Mas a memória é feliz. E vivaz! Detalhadamente, posso descrever aquela noite de 28 de setembro de 1977 em que, com ouvido de elefante, sem nada perder, permaneci imutavelmente colado ao rádio. Um tempo em que fazia dos saudosos locutores Jorge Cury e Waldir Amaral meus amigos inseparáveis nas tardes de domingo ou noites de quarta (como aquela) e quinta-feira. Televisão era artigo de luxo. Não pude assistir à final daquele inesquecível Campeonato Carioca de 77, entre Vasco e Flamengo. Não tinha TV. Aliás, tamanho é meu desapego por TV que sequer lembro se houve transmissão ao vivo daquela peleja. Acho que um replay da TVE, com narração do grande Zé Cunha, foi o que sobrou. Essa é, infelizmente, a única informação que não recordo com precisão daquela noite de quarta-feira. Tampouco meu pai tinha dinheiro para levar-me ao Maracanã. Tempos difíceis que (esses sim) não gosto de lembrar. Tirando o Vasco, 1977 não foi um ano bacana.
O Vasco, esse sim, já havia me comovido no ano anterior após perder a final para o Fluminense. Decidi ser vascaíno ali, na ferida derrota. Heroicamente, pensava com cabeça de menino. Senti-me tão bravo quanto os jogadores vítimas da cabeçada à meia boca do Doval. Superei o fato e o dissabor do que considerei uma das maiores “injustiças” na minha vida de menino. O Vasco era minha alegria com figurinhas e botões. Decidi, em meio à derrota de 76, seguir em frente com o meu universo lúdico… e vascaíno.
Em 77, decerto pensava, seria diferente de 76. E foi mesmo. Fui campeão. “Atenção, vai bater Roberto. Roberto correu… gooooooooooooooooooool! Vasco da Gama, campeão carioca de 1977”, narrara Jorge Cury — o dos incomparáveis “gols” que pareciam jamais acabar — o derradeiro lance daquela que foi a cobrança de penais mais emocionante da minha vida. Isso, há exatos 40 anos. Na próxima quinta-feira, dia 28, faz 40 anos que curti para valer a minha primeira festa de campeão. Aquele título significa uma redenção em um ano tão atribulado como foi 1977.
Revivi dias atrás essa memória linda. Foi muito emocionante, mesmo que por telefone, conversar com os dois melhores jogadores daquela noite memorável: o volante (e capitão vascaíno!) Zé Mário, eleito quase que unanimemente o melhor jogador da final e do campeonato, e Rondinelli, o “Deus da Raça” do Flamengo. Ambos foram decisivos para que o jogo no tempo normal e na prorrogação terminasse 0 a 0. “Nos últimos três jogos do Vasco, quem ganhou o Motoradio fui eu”, recolheu para si o Zé Mário a pecha de craque da final. O que inegavelmente aconteceu. Zé Mário foi estupendo, do início ao fim da campanha invicta do Gigante da Colina. Justiça seja feita, o maioral.
“Mengão x Vascão – Morou?”, estampava a primeira página do Jornal dos Sports na manhã do dia da decisão. Ao Vasco, bastava a vitória para conquistar o segundo turno e levar a taça do ano. Ao Flamengo, só a vitória interessava para conquistar o turno e provocar uma final arrebatadora, que envolveria também o Fluminense e a sua “Máquina”, com Rivelino e afins.
Os rubro-negros contavam, evidentemente, com a efusiva e loquaz torcida dos tricolores. O cartola Francisco Horta até ameaçou ir ao Maracanã com a camisa do clube da Gávea. Prudente, desistiu da ideia de jerico pouco antes de o jogo começar. Mais sensato foi o Nelson Rodrigues, outro incansável tricolor, que de uma janela, na véspera do jogo, reverenciou o crepúsculo na Lagoa Rodrigo de Freitas. “Não estava li como paisagista”, escreveu. “Naquele momento, eu pensava no Vasco x Flamengo”. Não poderia ser diferente. Toda a cidade só pensava nisso. Os tricolores ainda mantinham uma vã esperança de entrarem na briga pelo título em triangular final. Não passou de vã esperança mesmo. Irônico, o cartunista (e rubro-negro!) Otelo Caçador não poupou o Horta: “Se o Flamengo vencer, o Horta vai ganhar bicho?”. Não deu para o Fluminense. Não deu para o Flamengo. Não teve bicho para ninguém da dupla Fla-Flu.
Que dia. Que noite. Não há como esquecer as horas que antecederam ao duelo de gigantes em um Maracanã que comportaria bem mais de 150 mil pessoas. Zé Mário e Rondinelli contaram os detalhes do jogo. Ambos não conseguiram, contudo, recordar que, por exemplo, a concentração do Vasco foi aberta aos torcedores e sócios enquanto a do Flamengo seguiu a mão inversa. Certamente, a vitória vascaína começara ali, ou seja, na democrática abertura dos portões ao povo. Também não veio à memória de ambos que os dois times trocaram, inesperadamente, de vestiário. A sugestão partira, como noticiaram, do massagista Santana. Teria sido mais um “trabalho” de fé do “Pai” Santana para favorecer o Vasco? Assim especularam os jornais na ocasião, e parece que os “despachos” do velho pai de santo deram certo.
Aquele redentor Vasco e Flamengo definitivamente jamais sairá da minha cabeça. Da cabeça do menino que pela primeira vez na vida sentiu-se merecidamente campeão.
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HÁ 40 ANOS: VEJA O QUE ZÉ MÁRIO E RONDINELLI RECORDARAM DAQUELE JOGÃO ENTRE VASCO E FLAMENGO
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Zé Mário: “Tenho noção de quanto fui importante naquele jogo. Realmente fui o destaque”
ÍDOLOS — Além do prazer incomparável de levantar a taça de campeão de 77, que mais chamou sua atenção naquela noite, no Maracanã e por quê?
ZÉ MÁRIO – O Maracanã estava lotado. Realmente foi uma festa muito grande das torcidas. O Vasco mereceu o título por tudo que fez.
ÍDOLOS – Havia carros estacionados até nos arredores da Quinta Boa Vista. Uma verdadeira multidão. Como você compara os grandes jogos daquela época com os de hoje, no Maracanã?
ZÉ MÁRIO – A segunda coisa mais importante de uma partida de futebol é a torcida. A primeira, logicamente, é o jogador. Acho que futebol sem torcida perde o brilho. Antigamente os clubes viviam de bilheteria hoje vivem da TV. Em longo prazo, acho que haverá uma falta de motivação dos jogadores. A torcida empurra os jogadores. Eu ficava alegre quanto tinha muita gente assistindo o jogo na arquibancada.
ÍDOLOS – Um fato curioso naquela noite, nas arquibancadas: havia bandeiras do Botafogo na torcida do Vasco e do Fluminense na do Flamengo. Esse tipo de, digamos, “harmonia” e “parceria” nas arquibancadas não existe mais por que motivo?
ZÉ MÁRIO – Quando inventaram as Organizadas mudou a maneira de torcer. A arquibancada ficou violenta. Não dá para levar a família. O torcedor individual não briga. Só quando se organizam e saem fazendo baderna. É crime organizado infiltrado.
ÍDOLOS – O Jornal do Brasil assim destacou sua atuação naquela inesquecível noite: “Zé Mário: A eficiência costumeira. Protegeu a entrada da área e procurou deslocar-se sempre para receber a bola”. Já o jornal O Globo foi categórico: “Zé Mário, a perfeição no combate, mas uso e abusou das faltas. Mas todas necessárias e sem qualquer deslealdade. Fechou a entrada de sua área, cobriu os dois lados e chegou a fazer alguns lançamentos. Nota 10”. Você concorda com as análises?
ZÉ MÁRIO – Concordo. Tenho noção de quanto fui importante naquele jogo. Realmente eu fui o destaque. Não quer dizer com isso que levei o time nas costas. Todos foram excelentes, mas eu me destaquei um pouco mais.
ÍDOLOS – O mesmo jornal diz que Zanata estava fora de forma física e não esteve bem no dia. Helinho, que entrou no lugar dele, não alterou muito o panorama na posição. Você sentiu-se mais sobrecarregado para defender a cabeça de área e até mesmo poder distribuir o jogo na meia cancha? Afinal, já era suam missão ao longo da campanha cobrir os avanços do Orlando e do Marco Antônio, os dois laterais…
ZÉ MÁRIO – Não fiquei sobrecarregado porque se o Zanata estivesse realmente fora de forma ele fatalmente colocaria a experiência para fora. Era um grande jogador e companheiro. Sinto muitas saudades dele.
ÍDOLOS – Sua função era frear os avanços e armações do Zico e do Adílio. Foi essa a instrução do “Titio” Fantoni?
ZÉ MÁRIO – O Flamengo tinha um timaço. Estávamos preparados para frear qualquer jogada deles. É claro que o Zico e todos os outros eram perigosos e por isso dobramos a cautela e fomos mais felizes.
ÍDOLOS – Houve um lance, se não me engano aos 10 minutos da primeira etapa, você deu uma entrada no Zico, que definia você como um dos principais responsáveis pelo Vasco não tomar gols. A imprensa achou que você exagerou no lance. Você recorda a jogada? Poderia detalhá-la?
ZÉ MÁRIO – Eu nunca fui expulso de campo e deixei de jogar poucas vezes por cartão amarelo. Não me lembro da jogada em si, mas sempre entrei duro nos adversários, mas sempre com lealdade. Não tinha como querer machucar o Zico que é meu afilhado.
ÍDOLOS – Houve outro lance antes mesmo da dividida com o Zico. Foi aos quatro minutos. Você salvou o Vasco ao tirar uma bola em cima da linha, quando Mazaropi pegou uma bola chutada pelo Zico, mas largou-a praticamente nos pés do Osni (se não me engano), que, sem ângulo, centrou para área. Toninho, de bico, chutou com o gol vazio. Poderia falar mais sobre a jogada?
ZÉ MÁRIO – Me lembro também de ter salvado um gol desse tipo quando jogava pelo Flamengo num jogo contra o Vasco. Paguei com a mesma moeda dessa vez. (risos)
ÍDOLOS – Como o time reagiu ao desfalque de Ramon?
ZÉ MÁRIO – Ramon era a nossa válvula de escape pela esquerda enquanto o Wilsinho era pelo lado direito. Qualquer um que não jogasse, sentíamos falta. Só que também tínhamos reservas à altura que quando entravam davam conta do recado. Portanto sente-se a falta porque cada jogador tem a sua característica e é preciso entendermos isso para amenizar a troca.
ÍDOLOS – O que mais você lembra daquela noite, Zé Mário? E o dia seguinte?
ZÉ MÁRIO – Só felicidade. Comemoramos bastante. Não só pelo último jogo, mas pelo conjunto da obra. Foi um campeonato irrepreensível. O grupo todo comprometido por um objetivo.
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RONDINELLI SOBRE DINAMITE: “ELE ERA UMA FIGURINHA CARIMBADA, COMO EU TAMBÉM ERA PARA ELE”
ÍDOLOS – Zé Mário e você foram os únicos jogadores elogiados pelos jornais como os melhores em campo. O jornal O Globo escreveu, por exemplo, que você “foi perfeito do início ao fim. Nota Dez”. O jornal exaltou a célebre jogada em que você pegou a bola na zaga do Flamengo e conduziu-a até bem próximo da área do Mazaropi, sendo parado somente com falta.
RONDINELLI – Foi entusiasmo. Tínhamos, inicialmente, o comportamento de se defender. Nunca fui jogador de alta técnica, mas era de jogadas de antecipações por baixo e por cima. Recentemente, emocionei-me assistindo a um vídeo de algumas dessas jogadas. Eram bem positivas. Só a vitória contra o Vasco interessava naquela noite. O empate não era nem um pouco favorável a nós, do Flamengo. As minhas arrancadas teriam de ser bem precisas. Tive de arrastar uns três ou quatro jogadores para criar a jogada. Isso, na vontade, no arranque para entusiasmar nossa equipe para criar uma chance concreta de gol.
ÍDOLOS – O que mais te emocionou naquela noite em que o Maracanã acomodou para lá de quase 200 mil pessoas? Não teria sido aquela derrota de 77 que mexeu com o brio da sua geração para que desse a volta por cima no ano seguinte, conquistando o título com um gol seu de cabeça?
RONDINELLI — Até o título de 78, foi uma sequência de derrotas para o nosso maior rival. O Vasco mantinha defesas sempre bem postas e excelentes goleiros, como o argentino Andrada e o próprio Mazaropi. Para a disputa de pênaltis de 77, o time do Vasco tinha excelentes jogadores. Eram jogadores da defesa que, igualmente aos do Flamengo, empurravam seu time. Era o caso do Orlando, do Abel, do Geraldo e do Marco Antônio. Aí tinha o Zé Mário, Zanata e…
ÍDOLOS – Dirceuzinho…
RONDINELLI – Ah, era o Dirceuzinho! Isso. Ponta-esquerda.
ÍDOLOS — Ele caía mais por ali mesmo naquele jogo por causa do Paulinho, que jogou no lugar do Ramon.
RONDINELLI — Isso mesmo. Tinha o Wilsinho na ponta-direita e aí a fera, o Roberto Dinamite. O técnico era o Orlando Fantoni. Tanto aquela geração do Vasco quanto aquela do Flamengo foi valorizada por ter jogado para duas grandes torcidas, que compareciam sempre. Era outra época. Hoje, as torcidas dos clubes saem na porrada. Antigamente eu saía do Maracanã, morava na Tijuca, saía no meio das duas torcidas. As duas torcidas saíam juntas. Sem problema nenhum. Os torcedores rivais entre si se elogiavam. Era muito mais a gozação e o bate-papo no boteco. Essa é a maior emoção: ter jogado para esses quase 200 mil torcedores.
ÍDOLOS – O Cláudio Coutinho estava nervoso naquele dia e na concentração? O que lemos nos jornais da época é que o treinador do Flamengo estava muito tenso. Havia o jogo em si e a seleção brasileira sob seus cuidados…
RONDINELLI – Com toda a sinceridade, o “Capitão” Cláudio Coutinho fazia preleção antes de qualquer partida de forma muito tranquila. Ele pode, sim, ter ficado um pouco mais acelerado em relação ao que ele estava assumindo na seleção. Nunca vi uma pessoa com postura tão tranquila como ele, que tinha como braço direito que acompanhava os jogos o Jairo dos Santos, uma pessoa maravilhosa que passava todo o mapeamento da equipe adversária para ele. Na parte psicológica, ele falava que no futebol você tem de ser primeiro boxeador. Ao dar uma porrada no adversário, não recua, não. Nunca o vi nervoso dentro ou fora do vestiário.
ÍDOLOS – Você marcou quem naquele jogo de 77?
RONDINELLI – O ponto forte do ataque do Vasco sempre foi o Roberto Dinamite. Falta perto da área era com Roberto; os cruzamentos do Dirceu, que Deus o tenha; as enfiadas de bola do Zanata, inteligente pra caramba… a minha preocupação sempre foi, e isso o “Capitão” alertava: ‘Rondinelli, não perca o olho do Roberto!”. Roberto, por quê? Ele sempre foi um pouco mais alto do que eu. Ele usava muito corpo e braço. A determinação que sempre me deram era a de que eu não poderia marcar bobeira com o Roberto. Se você, como zagueiro, impede um atacante de fazer gol, você já é um vitorioso. O jogo terminou 0 a 0. Tanto eu quanto o Dequinha [companheiro de zaga na final de 77] tínhamos essa preocupação com ele. Olhe, vou falar uma coisa para você: começava o jogo, vou defender o meu espaço. Não vou ficar convidando o Roberto Dinamite pra desfilar na Beija-Flor no carnaval e nem vou deixar ele me convidar porque sei que ele estaria tentando me desestabilizar psicologicamente.
ÍDOLOS – Rolou isso naquela final?
RONDINELLI — Ah, ele adorava fazer isso. O Roberto adorava tira a atenção da gente (Risos). Mas eu sabia: “Ô, Roberto, é outro papo, cara”. Não poderia entrar na pilha dele. Tanto que tem um registro comigo, de uma penalidade, no começo de um jogo, acho que aos dois ou três minutos do primeiro tempo e valia pelo campeonato nacional de 76 ou 77, com o Roberto já me perturbando. Ele conseguiu me tirar do sério. Verbalmente, ele te provocava. Conhecia Roberto desde 72 ou 73, das finais de juvenis que fizemos juntos. Ele era uma figurinha carimbada, como eu também era para ele.
ÍDOLOS – Vocês dois travaram duelos memoráveis na história do clássico Vasco e Flamengo.
RONDINELLI – Essa palavra que você usou é realmente a correta: memoráveis! Mas duelos com respeito de um com o outro. Ele saía de campo vitorioso, eu também, mas tudo na maior normalidade.
AGUENTA QUE É PENTA
por Matheus Rocha
Acabei de chegar do Mineirão. São 2 da manhã e ainda corre nas veias o sangue azul cheio de adrenalina.
Não sei nem por onde começar a contar. Se do início para o fim, do fim para o início… São muitas emoções, já dizia Roberto Carlos!
O Mineirão teve hoje uma final espetacular, desde o lado de fora, com as torcidas entrando juntas, shows no entorno. Faltando menos de uma hora, começaram os shows pirotécnicos, com projeções no gramado, luzes e a torcida do Cruzeiro cantando. A abertura e o espetáculo em si, não deixa nada a desejar para grandes finais na Europa. Foi coisa de primeiro mundo. Voltando a torcida, é bom lembrar que os guerreiros azuis mostraram para o Brasil no primeiro jogo da final sua capacidade de empurrar o time e o calar a torcida flamenguista em pleno Maracanã. Eu fui tanto no primeiro, quanto no segundo jogo da final. E, assim como no primeiro jogo, estou também sem voz após o segundo…
Depois de todo show, o Cruzeiro mostrou porque é dos maiores times do Brasil e muito distante do segundo time de Minas – que aliás, nem sei se é grande. Vamos ressaltar que, em Minas os cruzeirenses dizem que o Atlético Mineiro é um time pequeno, mas os atleticanos nem ousam dizer isso do Cruzeiro, afinal reconhecem a nossa grandeza. Nos últimos 20 anos, foram 2 Copas do Brasil e 3 Brasileiros, enquanto a outra “força” de Minas tem tão somente 1 Copa do Brasil e 1 Brasileiro nos últimos 100 anos. Mas isso é outra história.
Coincidências na Copa do Brasil 2017
O Cruzeiro até então havia ganhado 4 Copas do Brasil: 1993, 1996, 2000 e 2003, contra Grêmio, Palmeiras, São Paulo e Flamengo, respectivamente. Em 2017, quem foram os 4 últimos adversários do Cruzeiro? Exatamente São Paulo, Palmeiras, Grêmio e Flamengo. Não tinha como escapar essa taça. Outra coincidência ocorreu nas finais contra o Flamengo: no primeiro jogo da final de 2003, assim como no primeiro jogo da final de 2017, ambos no Maracanã, ambos terminaram em 1 a 1, ambos com gol irregular do Flamengo. Mas isso nós não guardamos, nós simplesmente jogamos contra tudo e contra todos.
Recorde
Não poderia esquecer que o Cruzeiro já possuía o recorde de público do Mineirão de todos os tempos na final do Campeonato Mineiro de 1997 contra o Vila Nova, de Nova Lima, com 133 mil pessoas (nem precisa dizer que eu estava lá!).
Ontem, o Cruzeiro bateu o recorde do “novo” Mineirão com 61 mil pessoas.
Minhas premonições
Essa última parte da coluna é egocêntrica, pois foi tudo dito por mim na arquibancada do Mineirão durante os jogos e só tenho uma testemunha: meu amigo de arquibancada Guilherme Almeida. Se você, leitor, quiser acreditar, pode acreditar!
O jogo contra o Palmeiras foi sofrido (como todos os outros), mas ainda nas quartas de finais. Quando o Diogo Barbosa, lateral esquerdo, marcou aquele gol de cabeça, onde ele mesmo disse: “no lugar errado, na hora certa”, do modo que foi o jogo eu disse: “esse foi o jogo de campeão!”.
No jogo contra o Grêmio, o Guilherme disse no momento do escanteio: “observa o Léo” e eu retruquei: “O Léo não, fique de olho no Hudson!”. Exatamente naquele escanteio, Hudson foi mais alto que a zaga gremista para marcar. Ainda no jogo contra o Grêmio, eu não tive uma premonição, mas sim uma lembrança. Quando Luan – o melhor jogador do Grêmio – pegou a bola nas disputas de pênaltis para sua cobrança, eu falei: “Se o Alex errou um pênalti a nosso favor nas oitavas de 2004, por que o Luan não perderia?”. Dito, feito e classificado.
(Foto: Agência 17)
E por último, a melhor de todas. Sem prever o resultado, quando o Paolo Guerrero pegou para a primeira cobrança, bati no ombro do Guilherme e falei: “O Fábio só vai pegar o pênalti do Diego!”. Foi o pênalti do título, com o Thiago Neves cobrando na sequencia e fechando a Copa do Brasil 2017.
Não sou Mãe Dinah, mas que eu disse tudo isso, eu disse!!!
Agora é só esperar amanhã para ver e ouvir o Chico Pinheiro, atleticano declarado, dizendo que o Cruzeiro é o novo Penta Campeão da Copa do Brasil!!!!
O SCRIPT DA REDENÇÃO
por Victor Escobar
Existem algumas perguntas que são insuperáveis, que conseguem atordoar as pessoas ao longo da existência e que parecem nunca ter resposta. Uma delas, sem dúvidas é: quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Parece coisa de estudante do primário, mas encafifa até o pHD em física quântica. Não existe parecer científico que elimine todas as dúvidas! E, não, não estou aproveitando esse animal para fazer alguma referência ao herói dessa nossa crônica.
Uma outra questão é se a arte imita a vida ou vice-versa. Nessa eu não vou nem me arriscar. Vou usar a velha estratégia daquela eterna candidata à Presidência da República, que parece estar sempre dormindo na rede, e ficar em cima do muro para dizer que nem um, nem outro. Arte e vida caminham lado a lado!
Mas pra que bodegas estou falando disso tudo? Porque o resultado final da Copa do Brasil já está traçado.
Não sei se vocês perceberam, mas o “caso Muralha” é a ficção se confundindo com a realidade o tempo todo – e hoje é o desfecho da epopeia. Poderia ser uma história digna do realismo mágico de Fellini ou um romance psicológico de Doistoeviski, mas é só futebol. Homero que me desculpe, mas olha só que história:
1 – Um menino nascido numa cidadezinha do interior que, assim como muitos outros, sonhava em ser jogador de futebol.
2 – Começa a carreira em um time minúsculo e passa por vários outros também pequenos – Olé Brasil, Votoraty e Comercial de Ribeirão Preto.
3 – Na época de Comercial, ganhou o apelido de Muralha da torcida, após defender dois pênaltis na mesma partida – essa é a grande tirada da história.
4 – Por conta das boas atuações, foi parar no futebol Japonês, em um time de nome impronunciável que nem vou me arriscar em escrever.
5 – Volta ao Brasil, disputa a série A2 do Campeonato Paulista pelo Mirassol e se destaca positivamente mesmo na péssima campanha do time.
6 – Ganha oportunidade de chegar à elite do futebol brasileiro jogando pelo Figueirense.
7 – Tem um início difícil no time, mas, meses depois, consegue alcançar a titularidade. Como em todo time ruim, quem se destaca sempre é o goleiro. Com isso, Muralha foi um dos destaques do Figueira.
8 – O bom campeonato fez com que Muralha fosse contratado pelo Flamengo, um dos maiores times do país.
9 – Momento “On the Road”: viaja de Santa Catarina para o Rio de Janeiro num Opala!
10 – Começa na reserva do Flamengo. Após a lesão do titular, ganha a titularidade e se firma como um grande personagem na campanha que, depois de muitos anos, disputou o título brasileiro.
11 – As boas atuações e o excelente momento da equipe lhe renderam convocações para a SELEÇÃO BRASILEIRA.
12 – Virando o ano, começa a derrocada do goleiro: insegurança, péssimas atuações e falhas constantes. Começou a ser perseguido pela torcida e foi responsabilizado pelo fracasso do time em competições importantes.
13 – Amargurou a reserva do goleiro recém-promovido ao profissional e depois foi para a reserva definitiva com a chegada de um grande goleiro.
14 – Em uma partida que foi titular, o Flamengo foi eliminado em uma disputa de pênaltis onde Muralha sequer acertou o canto – olha o gancho que falei!
15 – O escracho público: humilhado pela própria torcida e chacota dos rivais, um jornal de grande circulação crucificou o goleiro num editorial na capa, que ganhou muita repercussão e críticas.
16 – Por ironia do destino, no meio de um dos piores momentos da carreira, Muralha vai ser o goleiro da partida final da Copa do Brasil, que pode render o tetracampeonato para o Flamengo – justamente em uma das a partidas mais importantes do ano do clube.
17 – Muralha, psicologicamente arruinado, ganha apoio incondicional do elenco e da torcida e vai confiante para o jogo – “os humilhados serão exaltados”, chega a ser bíblica a parada, para os mais religiosos, claro. O grand finale todo mundo já sabe. Muralha vai ser o nome do jogo que renderá título para o Flamengo – provavelmente num lance de pênalti. Pelo menos é o que a história se encarregou de escrever. E se não for, meus amigos, podem me cobrar! (Mentira! Como todo bom torcedor, vou ficar pistola se o Flamengo perder o título a ponto de mandar todo mundo que der um pio pra casa do chapéu!)
SEM ROSTO
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
(Foto: Nana Moraes)
A convocação de Diego, do Flamengo, é a maior comprovação do marasmo vivido por nosso futebol. Mas o que podemos esperar se no Brasileirão a artilharia vem sendo disputada pelos rodados Ceifador (é Ceifador, Gladiador, Pitbull, Hulk, He Man… estamos perdidos), Jô e Roger?
Reparem nos ídolos dos principais clubes. Ricardo Oliveira continua comandando o Santos, Fred e Robinho o Atlético, Nenê e Luis Fabiano são os ídolos do Vasco, Zé Roberto ainda disputa vaga no Palmeiras, Rafael Sóbis continua fazendo seus golzinhos no Cruzeiro, e Léo Moura e Cortês são titulares no Grêmio. Vão jogar até os 100 anos porque as bases desses clubes não são aproveitadas como deveriam.
Pouquíssimas novidades surgem. Santos e Fluminense ainda nos dão algumas surpresas e mesmo assim rapidinho se mandam para algum time de fora. Me digam, recentemente, qual o garoto fez sucesso ao sair do Brasil: Gabigol? Gerson, do Fluminense, daquela venda que virou empréstimo, uma confusão danada? Douglas, do Vasco? Agora vai o Wendel, do Flu, Vinícius Júnior, do Fla, e uma penca de tantos outros, que vão botar uma graninha para dentro e cair no esquecimento.
Gente, o Diego não está jogando mais do que o Everton Ribeiro, por exemplo. Sem qualquer tipo de provocação, mas ele não teria vaga, nesse momento, nem na seleção carioca. A convocação é para ficar bem com a torcida do Mengão? Porque com a do Corinthians nosso técnico está em dia, afinal até o Fagner tem tido chance.
Resumindo, o Diego vai juntar-se a Renato Augusto, Fernandinho e os Casemiros da vida e vamos em frente torcendo para uma seleção sem rosto.
PS: E o Rogério Micale, hein! Me engana que eu gosto….