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BELAS E LIBERTADORAS DA AMÉRICA

por Zé Roberto Padilha

Estão há tanto tempo atuando ao lado que pouco são exaltadas. Mal dão entrevistas. Era para carregá-las no colo, como num gol decisivo, mas as chuteiras e as glórias estão calçadas em pés egoístas e famosos que as tornaram invisíveis ao mundo da bola. Porque nos microfones atrás da meta os gols só são dedicados a “Filhas, papai te ama!”. Mulheres de jogadores de futebol. As mães dos nossos filhos que já nos concederam netos, percorreram gramados que não escolheram, falaram a língua que nem estudaram, mas arrumaram as malas com carinho como se escolhessem seu próprio destino. E foram escrever histórias pelos passaportes que abrimos. Os lápis, cenários, vieram embutidos no contrato de cidades e clubes que mal opinaram. Isto cabia ao empresário. Não a mulher que embarcou ao lado para escrever a história do marido com a bola. E anestesiar grande parte da sua.

Nossos álbuns são recheados de clubes diferentes, as paredes da sala emolduradas com pôsteres e as cristaleiras ficam com a missão de exibir troféus e medalhas. E em um álbum apenas estão presentes posando: o de casamento. Que, aliás, poucos que nos visitam querem folhear. Cadê você jogando no Flamengo? E sua passagem pela Arábia Saudita? E a foto do Vasco ao lado do Roberto Dinamite?

Algumas mal tiveram lua de mel diante do calendário opressivo, e cederam seus maridos para passar a noite encantada na concentração. Outras nem puderam celebrar a formatura dos seus filhos, eram obrigadas a trocar de colégio, apartamentos, ginecologistas, mercados sem direito a levar amizades recentes como as raras que fez em Campinas, quando se tornou amiga da esposa do goleiro da Ponte Preta. Seu marido foi emprestado para Chapecoense e só lhe restou arrumar de novo as malas. E desarrumar de vez a sua vida.


Bela, a encantadora mulher do meu compadre Zé Mário, nos inspirou a homenagear, hoje, todas as Rossanas, Elizabeth Cristinas, a Leila Pinho, que o Jorginho retirou do Círio de Nazaré para viver em Areal, a colombiana Sonia Galaxe que foi “seqüestrada” pelo nosso coringa quando de uma excursão tricolor em Cáli, a Gracinha, que meu primo Vinícius carregou para Portugal…. e todas vieram a tona porque meu genial cabeça-de-área postou ontem, no Facebook, as 35 camisas que defendeu. E fiquei a viajar com minha comadre pelas cidades e países que não escolheu, pelas camisas que nem usou mas lavou e passou, diante da criação dos filhos nômades que teve que se virar para educar.

Até hoje enquanto lutam em campo por uma vaga na Taça Libertadores, poucos jogadores de futebol percebem que a companheira que buscou em casa, passou pelo altar e prometeu um mundo que não passou de Recife, já os libertou da solidão de uma difícil profissão. Cuidaram com gelo e Tandrilax das suas contusões e, ao contrário do jornal, do Neto e dos cartolas, estarão sempre ao seu lado. Com qualquer resultado, serão sempre belas e libertadoras da América..

CURUMIM E A SALVAÇÃO DA VÁRZEA

texto: Marcelo Mendez | foto: Caio Vilela

Já me perguntaram várias vezes o porquê desse prazer todo em fazer um jogo de futebol de várzea. Eu não sei.

Da beira do campo do Estádio Pedro Benedetti em Mauá, assistindo ao jogo final da terceira divisão de lá, entre Camarões x Ampa, valendo o caneco, ficou difícil de ter algum entendimento pela dureza que ali se apresentava.

Era um jogo horroroso, mas sem problemas quanto a isso.

Afinal de contas uma das ótimas coisas da várzea é a intrínseca verdade que nela existe, o que me permite dizer sem rodeios, sem floreios, sem voltas no verbo, que ali diante de minhas retinas eu via um péssimo jogo de futebol. Era uma penumbra de lascar na manhã mauaense ali naquele estádio. O céu escuro, o vento frio, o pouco interesse do torcedor, a ausência do vendedor de amendoim… Tudo combinava perfeitamente com aquele triste futebol ali apresentado.

Era de uma pobreza técnica de dar dó.

Nada ali parecia encantar. Os times estavam cansados de alguma coisa, os técnicos não vociferavam táticas, os torcedores não faziam rezas e tudo ali caminhava para algo muito triste de se ver quando então, do profundo lodo do comum, da inércia total de sonhos, eis que surge um camisa 10 no time dos Camarões…

Era um chutão pérfido. Por um intermédio de um bicuda desferida de maneira indecente por um caneludo vil, a bola, a sofrida bola, viajava pelo céu cinza de Mauá. Não esperava por nada enquanto descia e ficou feliz quando encontrou o peito do 10. Desceu feliz e em uma linda jogada, o menino meteu o pé embaixo dela, a bola, para aplicar um chapéu épico em um desesperado zagueiro.

– Boa, Curumim! – gritou um torcedor solitário atrás de mim.

Curumim…

Era um garoto como tantos outros garotos que correm pelos campos de várzea do mundo. Caboclo da pele bronzeada de lutas, canelas adornadas por meias coloridas, chuteiras de um cítrico capaz de iluminar toda a cidade, Curumim corria…

De seus pés saía passes precisos, de sua cintura vinham, gingas e dribles desconcertantes para iluminar as jogadas que pareciam perdidas. Em uma delas, com a malemolência de um sambista da Lapa dos anos 40, deu uma caneta em um afoito zagueiro, de corar. Lépido como um jaguar, escapou da primeira pernada que tentaram desferir contra suas canelas, mas sucumbiu na segunda tentativa do outro zagueiro bufão.

Não se abalou.

Sorriu para a jogada, da mesma forma que se sorri para uma das tantas durezas da vida. Levantou e seguiu bailando. De seus pés saíram os gols necessários. De sua inteligência, veio um toque de cobertura para que saísse assim um golaço. Comemorou e seguiu feliz pelo campo. Como que sabedor de sua missão, Curumim jogou para salvar o domingo, a crônica e o encanto. Não desistiu.

Quanto mais desperdiçavam seus passes, mais ele os fazia; Quanto mais o batiam, mais ele jogava. Contra tudo e contra todos, Curumim seguiu jogando lindamente em Mauá como que em um mundo à parte em um universo seu, em um mundo criado pelo camisa 10 onde só a beleza é possível.

Vendo-o ali buscando incessantemente o encanto, o verso, chego então a tão clamada resposta sobre o que é o futebol de várzea. Oras…

A Várzea é a luta de Curumim pela beleza, pelo sonho, pela poesia. É a batalha de quem acredita que pode mudar o mundo com um drible, que pode pôr um sorriso em um rosto sisudo, por mais que o dia insista em ser frio e cinza. Sendo assim não me resta dúvida.

A várzea, meus caros, é o Curumim. Grande Curumim!

GERAÇÃO DA BOLA PESADA

por Futsal em Pauta


Uma noite memorável. Assim pode se definir a última quarta-feira (4), a qual reuniu os principais nomes do futsal paulista. Grandes craques que fizeram história, mas que desta vez se encontraram na Assembléia Legislativa de São Paulo, onde a FPFS (Federação Paulista de  Futsal) fez uma justa homenagem a cada um deles. O evento teve como mestre de cerimônias o Jornalista Marcio de Castro, que também já foi jogador de futebol de salão .

Nilton Cifuentes Romão, o ‘Ramon’, em seu discurso, fez questão de agradecer a todos os presentes, e mesmo aqueles que não puderam ir ou não foram localizados também foram lembrados pelo presidente e equipe da FPFS. Vander Iacovino, ex-GM, e atualmente treinador do JEC/Krona (SC), deixou seu agradecimento via telão.

Nomes como Sérgio Saad, Milton Ziller, Ernesto Sartori, Tite, Batata, Miral, Banzé, Fenga, Pelé Branco, Zé Roberto, Xepa, Celsinho, Douglão, Paulinho Rosas, Kazu, Serginho, dentre outros, foram congratulados com uma placa alusiva ao evento ‘Geração da Bola Pesada’.

Além disso, o ex-jogador Paulinho Grello, que hoje encontra-se em um delicado momento de saúde, também foi homenageado e ovacionado pelos companheiros: “Você é forte e estamos todos com você”, disse Miral, emocionado.

Dentre os convidados, destaque para a presença do Presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras, Maurício Galiotte (também ex-salonista), e que entregou aos familiares dos ex-jogadores Marcos Barbosa e Sorage, uma camisa do Verdão personalizada. Vale ressaltar que ambos faleceram há alguns meses.

Ao final do evento, todos os convidados se dirigiram para um outro espaço, onde foi servido um coquetel regado a muita história e boas risadas.

PELADA DE VERDADE

por Serginho5Bocas

As aventuras de Piu – A janta

1983, naquela época a maré era braba, economizava-se o almoço para vingar a janta. Poucos tinham telefone em casa, TV a cores e um som tipo 3 em 1, o Brasil devia horrores ao FMI, mas vamos falar de pelada que é mais bacana…


Piu havia disputado o 2° turno do Carioca de Futsal na categoria infanto-juvenil e lembra muito bem da melhor partida que o Ríver Futebol Clube havia feito na temporada. Havia sido o jogo contra o Grajaú Tênis Clube, em que o Ríver tomou o primeiro gol, virou a partida para 3×1 e tomou a virada de 4×3.

Um jogo espetacular em que seu time mesmo com o excelente pivô Paulo Roberto Roriz, que depois foi jogar na Espanha e naturalizou-se espanhol, tendo vencido um Mundial (2000) em cima do Brasil, não conseguiu evitar a derrota para o ótimo time do Grajaú. Os vencedores contavam com o talento de Junior Bocão e Max, que por sinal comandou a virada, pois o moleque era fera.


No ano seguinte, Piu ficou sem espaço no Ríver e foi buscar vaga justamente no time juvenil do Grajaú Tênis e para sua surpresa passou no teste e reencontrou Max, que ainda jogava no infanto, mas fazia banco do juvenil e quase sempre entrava em vários jogos em razão de sua altíssima qualidade técnica.

Piu teve a honra de jogar com Max algumas poucas partidas amistosas e ainda é viva na memória a vitória sobre o Sirio Libanês, quando saiu junto do novo colega de clube, após grande atuação da dupla, prevendo um futuro promissor na temporada seguinte.

Ocorre que Piu não jogava tanto quanto Max e ainda por cima era extremamente temperamental, daí não poderia mesmo seguir carreira no futsal, trocou engolir alguns sapos pelas aulas da Escola Técnica Federal e depois por um emprego numa estatal. Antes de desistir de tudo isso, no entanto, lembra que no inicio do ano seguinte, em 1985, encontrou Max jogando pela forte Bradesco Seguros (o bicho papão da época) e ele humildemente veio na arquibancada dar moral a Piu e trocaram ideias, mas sem antes de responder a Piu como era jogar num clube tão bom.

Max não titubeou e a primeira coisa que veio à cabeça ele falou:

– Piu, lá não é lanche não, é JANTA Mané!

E os dois caíram na gargalhada, um ficando na arquibancada todo prosa de ser reconhecido por um craque da “bolinha” tão de perto e o outro indo para a quadra, onde era sua casa, seu habitat natural, pois o cara jogava muita bola.

Edu

O DRIBLADOR

texto e entrevista: Marcelo Mendez | vídeo: Marcelo Ferreira | edição de vídeo: Daniel Planel

A descida para a serra seria por muito mais do que apenas praia.

Sabíamos que não daria tempo para dar um mergulho, comer um peixe, ou beber uma cerveja à beira mar. Mas o tempo que gastaríamos seria para algo muito mais edificante que tudo isso.

Iríamos para a serra para encontrar a história do futebol brasileiro, ou melhor, mundial. Falaríamos de um tempo de glória, onde a poesia vestia chuteiras e era soberana.

Encontraríamos Jonas Eduardo Américo, o Edu, ponta esquerda, camisa 11, do mais lendário time de todos os tempos. O Santos, que era de Pelé, mas que também era de Edu.

O bailarino da ponta esquerda nos recebeu em sua casa, para contar da sua vida, da sua trajetória, do seu bom gosto musical, dos seus dribles e de seu sorriso, seu inigualável sorriso.

Eu, Marcelo Ferreira e Danilo Ramos tivemos o prazer de desfrutar da companhia do jogador mais simpático do futebol mundial, de um dos maiores jogadores de todos os tempos

Com vocês, leitores do Museu da Pelada, Edu!

O grande Edu…