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É O DUNGA, VAI ENCARAR?

por André Felipe de Lima


Nenhum outro jogador de futebol passeou pelo inferno das críticas vorazes e depois galgou ao céu das Copas do Mundo da forma como protagonizou Carlos Caetano Bledorn Verri. Foi considerado o culpado pela pífia campanha do Brasil na Copa de 1990, na Itália, quando o seu nome serviu para definir uma “Era” fracassada do futebol brasileiro. Convenhamos, uma grande injustiça com o cidadão Carlos, que quatro anos depois ergueu como capitão da Seleção Brasileira a Copa do Mundo nos Estados Unidos. A controversa personagem construída ao longo da carreira permanece viva até hoje. Porém o capitão do Tetra de 94, que foi um jogador capaz de despertar raiva e ao mesmo tempo respeito nos torcedores e jornalistas, é o mais verossímil sinônimo de um guerreiro em campo. Um gladiador das canchas futebolísticas. Dunga é histórico para o futebol brasileiro, e isso não se questiona.

O ato derradeiro da carreira dele como jogador foi salvar do rebaixamento no campeonato brasileiro, em 1999, o Internacional, clube em que começou a carreira, com um gol nos últimos minutos do último jogo da dramática campanha colorada. Um herói da garra.

Nascido em Ijuí, no interior gaúcho, no dia 31 de outubro de 1963, Dunga cresceu com pouco, mas bastante feliz ao lado dos pais Edelceu e Maria. Deleitava-se com uma mistura exótica que considerava sua sobremesa favorita: Fanta Uva com chocolate Diamante Negro. Uma guloseima “inventada” por ele, aparentemente banal, mas considerada um luxo para quem teve muito pouco quando criança. O pai trabalhava duro o dia inteiro na Prefeitura de Ijuí e após o expediente vendia bilhetes de loteria para engrossar a renda. A mãe era professora e sempre estudou. Da casa quem cuidava eram os filhos. Cabia ao Dunga varrer o chão e lavar a louça. No colégio, um tanto preguiçoso, contudo. Matar aula representaria um puxão de orelhas da mãe, e na frente dos colegas para aprender a lição. Não havia refresco para Dunga. A disciplina e o jeitão exigente, o de general dos gramados, talvez tenham vindo dessa fase infanto-juvenil.

Quem o levou para o Internacional foi o padrinho Perondi. Mas Dunga tinha tudo para parar em outros clubes gaúchos. Edelceu foi jogador do antigo Cruzeiro de Porto Alegre e o tio Marimba jogou pelo Grêmio, na década de 1950. Mas os auspícios indicavam outro caminho para o garoto. Aos 15 anos, Dunga foi treinar no Beira-Rio. E, por incrível que pareça, como meia-atacante. “Era um menino pesado, de pernas grossas e curtas [daí o apelido, Dunga]. Não acreditei nele, mas estava errado. Ele pode até não ter sido um craque, mas jogava com a cabeça, é disciplinado, um vencedor”, disse Perondi à brava repórter Mirelle França.


Em 1983, Dunga subiu ao time principal e passou a condição de volante de contenção, treinado por Abílio dos Reis. E tinha de ser mesmo titular do Inter, afinal, Dunga foi campeão mundial de sub-20, no México, naquele mesmo ano. Um time que apresentou uma geração ao futebol brasileiro que ninguém mais esqueceria. Bebeto, Jorginho, Geovani, Mauricinho… um time verdadeiramente talentoso e que já havia conquistado o sul-americano da categoria. No mesmo ano, Dunga foi medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos e em 84 pendurou no pescoço a medalha de prata durante as Olimpíadas de Los Angeles. Sem contar o bicampeonato gaúcho, em 1983 e 84. Todas essas conquistas ainda em início de carreira o credenciaram para uma aventura em algum clube milionário da Europa. Foi aí que surgiu a Fiorentina.

Os italianos contrataram Dunga, mas o emprestaram ao Corinthians, onde seria vice-campeão paulista. O volante, De León e o centroavante Serginho acabaram repassados ao Santos. Na Vila Belmiro, Dunga permaneceu de 1985 a 86. Mas foi em 1987, no Vasco, que o jogador presenciou um ano especial. Com clube carioca, foi campeão estadual, em um time que contava com Geovani, seu ex-companheiro do Mundial de juniores de 83, e Mazinho.

Após a passagem por São Januário, Dunga embarcou de vez para a Europa. Na Itália, defendeu o Pisa e, em seguida, a própria Fiorentina, por onde ficou durante cinco anos, período em que foi vice-campeão da Copa da Uefa na temporada 1989/90 e cultivou um interesse especial sobre arte e cultural italianas, principalmente após a passagem por Florença. Dunga é capaz de destrinchar toda a vida dos Médici com a mesma facilidade com que desarmava um atacante desavisado.

O meia jogou também pelo Pescara e foi assediado pela Juventus, mas a negociação nunca foi concretizada. Em 1993, conheceu o futebol alemão, atuando pelo Stuttgart. Dois anos depois, aventurou-se no rico futebol japonês, porém em fase de estruturação. Dunga defendeu o Jubilo Iwata e conquistou o título nipônico de 1997. Mais até. A temporada no Japão proporcionou o contato com flores e plantas, um hobby com o qual Dunga convive até hoje para manter-se calmo.

Tanto tempo fora de casa, Dunga sentiu necessidade de voltar. Mas voltar para o seu Rio Grande do Sul. Ao seu Colorado. Em 1999, ele desembarcou em Porto Alegre, mas nem deu tempo de matar as saudades porque no final do ano deixou o clube, apesar de a diretoria confirmar que Dunga teria assinado um contrato de dois anos. Sem traumas, Dunga deixou o Beira-Rio de bem com a torcida. Foi dele o gol “redentor” contra o Palmeiras, que livrou o Inter da segunda divisão do campeonato brasileiro.

Se a história do craque com o Inter é mágica, com a seleção brasileira, então, nem se fale. Já havia mostrado nos escretes de juniores e de novos que era líder e tinha pé-quente. Estreou na seleção principal em 1986 sob a intervenção de Jair Pereira. Em 1989, a consagração. As gerações de Bebeto, Dunga e Jorginho, alinhada com a de Romário, foi campeão da Copa América de 1989. Há 40 anos que o Brasil não erguia o tradicional troféu.

Tudo indicava que estávamos diante de um punhado de craques que acabaria também com o jejum em Copas do Mundo. Veio 1990 e com ele a Copa na Itália. No comando da seleção, Sebastião Lazaroni, treinador que papou vários campeonatos cariocas, por Vasco e Flamengo, na década anterior. Lazaroni usava um discurso empolado, prolixo pra caramba. Ninguém deve ter entendido patavina na concentração e o Brasil acabou eliminado pela Argentina nas oitavas-de-final, após um “apagão” na defesa brasileira que propiciou a arrancada de Maradona, sem que Dunga conseguisse alcançá-lo, e o gol de Caniggia.


Aquela geração — sobretudo o fiasco na Itália — ficaria marcada como a “Era Dunga”, expressão que por quatro anos serviria para se referir a um grupo de jogadores injustamente qualificado como sem talento. Um momento do futebol nacional que virou sinônimo de futebol feio.

Deixe estar. O mundo não acabaria ali, diante da milonga dos hermanos e da água suspeita oferecida pelos argentinos em campo e ingenuamente bebida pelos jogadores brasileiros. Depois da decepção de 90, Dunga só reapareceu nas convocações em 1993, ano das Eliminatórias, sob o comando de Carlos Alberto Parreira. O Brasil se classificou com certa dificuldade e o time era considerado pouco inspirado e retranqueiro. Porém, no Mundial, Dunga tornou-se capitão da equipe, com Raí, o mais badalado do time ao lado de Romário, barrado por Parreira.

A Copa de 94 acabou e foi ela a tradução mais fiel do que representava a “Era Dunga”. Mas reconheçamos naquela seleção algo quase sobrenatural. Algo, digamos, envolto em um salutar carma coletivo. Foram campeões mundiais juntos desde as divisões de base. Dunga é um predestinado.


Acabou a Copa como o jogador que mais desarmou jogadas e ainda mostrou bom futebol na distribuição de passes. Fez, por exemplo, um lindo lançamento para Romário marcar contra Camarões. Após a vitória contra a Itália, na disputa por pênaltis, Dunga ergueu a taça e gritou “Isso é pra vocês, seus traíras”, em desabafo justo, convenhamos. Afinal, carregar nos ombros um fardo por conta de um desatino coletivo quatro anos antes não era para qualquer um. Era, sem trocadilhos, somente para um jogador como Dunga, que teve outro momento feliz, vencendo a Copa América de 1997, na Bolívia, a primeira conquista brasileira de um sul-americano fora do país.

Já com 34 anos, Dunga foi titular da Copa de 1998, na França. Apesar de desorganizado, o time tinha um elenco forte e avançava rumo à final. Contra Marrocos, o Brasil venceu por 3 a 0, mas Dunga perdeu as estribeiras, discutiu com Bebeto e deu-lhe uma cabeçada.

A seleção chegou à final contra os donos da casa. Como se o destino não quisesse que aquela equipe fosse campeã do mundo, um episódio até hoje mal explicado marcou a tarde do jogo. Ronaldinho sofreu convulsões antes da escalação oficial e Edmundo foi anunciado como titular. Mesmo assim, Ronaldinho entrou em campo, mas o Brasil parecia completamente aturdido. O jogo terminou 3 a 0 para a França de Zidane. Dunga jogou ao todo 18 partidas em Copas do Mundo. É, indiscutivelmente, um dos nomes mais singulares de toda a história do futebol brasileiro.

Após a Copa dos franceses, Dunga não voltou mais à seleção. Mas nem por isso abateu-se. Não precisava provar mais nada a ninguém. Continuou jogando a sua bolinha e mostrando o caráter ímpar que sempre o envolveu.

Ao receber 372 mil reais pela rescisão com o Internacional, doou o dinheiro a instituições de caridade que amparam crianças. Alegou que sempre ganhou dinheiro trabalhando. “As coisas que adquiri em minha vida foram sempre conquistadas com trabalho, com meu esforço. Então, se não trabalharia, por causa da rescisão, o correto seria deixá-lo de lado. Como profissional, é legal e moral. Mas, como homem, não poderia aceitá-lo […] achei melhor doá-lo para uma instituição em que geraria muito mais alegria”. Dunga, que já havia sido o precursor de uma campanha entre os jogadores para ajudarem o Instituto de combate ao Câncer, decidiu terminar o segundo grau e continuar estudando. Como muitos outros craques de sua geração, mantém um projeto social denominado Esporte Clube Cidadão, na Restinga, bairro da periferia de Porto Alegre, que atende cerca de 400 crianças.

Estava tranqüilo, na sua residência em Ipanema, bairro de Porto Alegre, cuidando de seu jardim e conversando com os amigos vizinhos em meio a rodadas de chimarrão, quando mais uma vez o destino lhe reservou uma missão. O predestinado Dunga teria de recuperar o prestígio da seleção brasileira abalado após a desastrosa campanha na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha.

Em 24 de julho de 2006, Dunga assumiu o cargo de treinador do escrete canarinho. Mesmo inexperiente na função, chegou por causa da fama de brioso. Choveu crítica de todos os lados. As estrelas Ronaldinho Gaúcho e Kaká pediram dispensa do time na Copa América de 2007, que aconteceu na Venezuela. E o velho Dunga, verdadeira madeira de jequitibá, duro, impávido, resistiu às críticas mais pusilânimes, que implicavam até com a sua roupa, cujos modelos foram criados pela sua filha Gabriela Verri. Dunga aguentou tudo. Era como se o fantasma da injusta “Era” que lhe atribuíram estivesse o rondando. O ex-craque respirou fundo, olhou para frente e liderou, mesmo que do banco, Robinho e cia. durante a campanha da Copa América. Parecia o grande capitão de 94 em cena. E era mesmo. Brasil campeão e novamente com o general Dunga, que também lideraria a seleção, primeira colocada nas eliminatórias, à Copa de 2010, na África do Sul.

O Mundial foi, contudo, uma experiência incômoda para o ex-craque. Envolveu-se em várias polêmicas na África do Sul. Muito pressionado pela imprensa e opinião pública quanto à confiabilidade do time, Dunga chegou a desrespeitar Alex Escobar, jornalista da TV Globo, durante uma coletiva com a imprensa. A missão de Dunga como treinador da seleção parou na Holanda, que eliminou o Brasil da Copa após virar o jogo para 2 a 1.

Dunga foi crucificado, como fora Telê Santana, em 1982 e 1986. Mas guerreiros dão a volta por cima. E a história de Dunga prova isso.

***

A biografia completa do Dunga consta do IV volume (a Letra “D”) de “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, com lançamento em dezembro. A enciclopédia, que consiste em 18 volumes, está sob a edição do querido Cesar Oliveira.

OS GOLS E OS AMORES DE BISCOITO

por Marcelo Mendez

Falemos aqui de Biscoito…

Minha história com Biscoito começou a primeira vez que o vi em campo em Mauá, vestindo a camisa 2 do Dínamo no campo do Juá, também em Mauá. Era um domingo de sol pleno. O jogo marcado para as onze horas do impiedoso horário de verão castigava as peles que ali se encontravam e o jogo não era dos melhores.

Dínamo enfrentava e perdia para bom time do Moleque Travesso de São Paulo em partida válida pela Copa Amizade. No campo, os homens de chuteiras coloridas não faziam muito pelo verso. O match era dolorosamente mal jogado quando eis que de repente, a bola, cansada de tanto viajar por meio de bicões e outras rasgadas sem muita classe, chega aos pés do lateral direito do Dínamo.

O trajeto feito pela pelota é sofrido. Por entre buracos e touceiras de mato, ela quica até o lado irregular do campo do Juá. Para no pé direito que a apara e então surge Biscoito. Sem muito esmero ele a domina. Não tem pela bola o carinho e a intimidade dos craques ao tratá-la mesmo assim ela fica. Biscoito para, olha pra cara de seu adversário, joga a bola na sua frente e parte.

Como se não fosse haver o amanhã, Biscoito corre pela lateral do campo do Juá. Arrasta consigo a poeira, a preguiça, as teorias que de nada servem e com a força do grito de seu torcedor, chega ao fundo do campo e cruza a bola pra área. No bate e rebate, o atacante de seu time consegue recebê-la e sofrer o pênalti que empata aquele jogo e classifica seu time.

Esfuziante, Biscoito comemora entre os seus batendo em seu peito, de cara com seu torcedor. “Que sorte” – Pensei.

Fiquei com ele na cabeça até reencontrá-lo em uma semifinal da Copa Amizade em um jogo contra o Mocidade de Mauá. Seu time novamente perdia quando surge então uma falta quase do meio campo. Biscoito pega a bola e eu penso, “Vai isolar essa bola”. Quando ele bate, tal e qual um Nelinho, mete a bola no ângulo do goleiro. Uma pintura. Novamente ele classifica seu time e de novo comemora. E então veio o domingo último…

Dínamo e Guaraciaba jogavam um dos clássicos maiores da várzea do ABCD. O Guaraciaba, time campeão de Santo André, faz uma falta da entrada da área e lá vem Biscoito para cobrança. Ajeita a bola, olha para o árbitro e ao seu apito, bate na pelota mandando-a no ângulo, no trinco! Um gol que Zico assinaria. Novamente comemorou com força, com alegria, com a intensidade de mil sonhos de criança. Parecia saber que seu momento seria breve e então o aproveitou.

Ele tinha razão.

Durou até o tempo que o Guaraciaba conseguiu o empate que lhe servia e então, Biscoito não comemorou, mas seguiu firme, correu tudo que pode e ao fim do jogo não estava triste e nem poderia, por uma simples razão:

A história quando contada apenas do ponto de vista de quem sempre ganha nada mais é do que um máximo e rotundo erro.

Biscoito, além de ser mais do que apenas uma classificação ou um título, representa muito mais do que o craque pode representar. A sua insistência em contrariar o que há de lógico, o que há de óbvio e evidente, faz dele um Grande. Pouco importa se suas passadas não são longas, se seu futebol não é vistoso, ou se seu time não venceu. Às favas com essas quimeras.

Na várzea, tanto o sorriso, quanto o sofrimento, são belos desde que sejam de verdade.

Biscoito é de verdade.

Por conta disso e de outras coisas tantas quanto o verso pede, a ele vai essa homenagem minha, tão improvável quanto um de seus gols de falta.

Parabéns, amigo Biscoito!

FESTA PARA ANDRÉ CATIMBA

por André Felipe de Lima


André Catimba, que jogava escondido da mãe para não apanhar, foi um atacante técnico, com raça, mas — como se diz na gíria futebolística — muito “quizumbeiro”. O apelido não foi à toa. Catimbava em campo como poucos e, algumas vezes, atingia seu objetivo: o cartão vermelho para os zagueiros adversários, que reagiam às provocações com entradas violentas no atacante.

O ex-centroavante Carlos André Avelino de Lima nasceu no dia 30 de outubro de 1946, em Salvador, na Bahia. Iniciou a carreira no Ypiranga baiano, em 1966. Ficou até 1967. Passou pelo Galícia [1968 a 1970] e aportou no Vitória em 1971, onde permaneceu até 1975 para se tornar ídolo do futebol baiano e campeão estadual em 1972, em uma final contra o arqui-rival Bahia em quem marcou um dos gols da decisão. Formou com os pontas Osni e Mário Sérgio um dos melhores ataques da história do rubro-negro baiano.

André Catimba é o segundo maior artilheiro da história do Vitória em campeonatos brasileiros. Marcou 31 gols em quatro edições: três em 1972; oito em 73; dezessete em 74 e três em 75. Atuou em 189 partidas e fez 82 gols com a camisa rubro-negra.

A fama de artilheiro ecoou na seleção. Foi convocado por Zagallo para o amistoso entre Brasil e um combinado estrangeiro, no Maracanã, no dia 19 de dezembro de 1973.

Catimba era feliz no Vitória. Afinal, tornara-se sinônimo do clube. Se falassem de Vitória, logo falavam de André. Para o bem ou para o mal.

A fama de encrenqueiro começou, segundo ele, por conta de oportunistas que queriam crescer à custa de sua fama de ídolo do clube: “Lá no Vitória, eu tinha boas relações com todo mundo. Todos gostavam de mim. O presidente Benedito Luz, por exemplo. Eu pedia a ele para me vender quando aparecesse uma boa proposta, mas ele dizia que não queria se desfazer de mim. Eu me chateava, porque estava há quase dez anos no Vitória, mas continuava apreciando o cara, pela amizade que ele demonstrava por mim. Mas aí apareceu um tal de Flávio Cavalcanti, supervisor remunerado. Esse Cavalcanti dizia besteiras a meu respeito. Que eu brigava, que não me esforçava nos treinos — essas bobagens. E isso ia para a imprensa, né? A minha vingança foi a seguinte: eu saí na boa, de bem com todos no clube e o Cavalcanti foi posto para a rua, saiu numa podre.”

Catimba deixou o Vitória em 1975 para jogar pelo Guarani de Campinas, onde permaneceu até o fim do primeiro semestre de 1977, disputando a posição de titular com Campos e Flecha.


A breve passagem pelo Guarani não foi bacana. Quando saiu do Vitória, já estava marcado como craque “bandido” por conta das insinuações da imprensa. “A fama nunca casou com a realidade […] Agora, existe um ponto em que não vou mudar nunca, por mais que me chamem de bandido. É na minha maneira de encarar um jogo. Sou catimbeiro mesmo. Recebo e dou, danço conforme a música. Ou você vai me dizer que do jeito que os beques estão entrando, o futebol está fácil para o atacante?”, defendia-se.

André, nos 12 meses em que lá esteve, foi expulso de campo três vezes. Em um jogo contra o Corinthians, apanhou muito da defesa rival. Catimba cansou de levar pontapé e foi à forra. Numa bola alta, saltou com o zagueiro Darci e deu-lhe uma cotovelada no rosto.

Abriu-se a roda em torno de Catimba, que levou socos e pontapés de todos os lados de indignados e “justiceiros” corintianos.

No dia seguinte, a imprensa desceu outro tipo de “sarrafo”: o moral.

De um inofensivo “faixa-preta de caratê” à maledicente alcunha de “marginal” e “bandido”. Isso tudo estampou as páginas dos jornais do dia seguinte ao embate entre Guarani e Corinthians.

Naquele ano, o “Bugre” começava a montar o grande time que seria campeão nacional do ano seguinte, mas sem André, que, após marcar 11 gols no Campeonato Brasileiro de 77, seguiu para o Grêmio para participar do inesquecível time da conquista do estadual de 1977, sob o comando de Telê Santana.

João Saldanha, como lembrou o repórter Divino Fonseca, emitiu um dos mais efusivos elogios à diretoria do Grêmio, que acabara de contratar Catimba: “Acertaram”. Para o “João Sem Medo”, o atacante era de “primeira categoria” e faria os torcedores muito felizes.

O visionário Saldanha estava coberto de razão. André entrou para a história do Grêmio por ter assinalado o gol do tão esperado título de 77, no dia 25 de setembro, que encerrou a primazia do Internacional de Falcão, Batista e companhia.

O lance foi inesquecível. Iúra vê André livre pela meia esquerda e passa a bola para ele. O atacante segue desembestado em direção ao arco do goleiro Benítez, que sai crente que Catimba chutaria de canhota, cruzado e rasteiro. O centroavante fez justamente isso, mas com o pé direito, tirando Benítez da jogada.

Mas, durante a comemoração do gol, por pouco o centroavante não sofreu uma grave lesão. Durante um salto acrobático, sentiu a virilha e desequilibrou-se. A esquisita comemoração quase o deixou com seqüelas na coluna. Mas não seria isso que o tiraria dos gramados.

“Que coisa ridícula. Veja só, eu tinha marcado três gols em todo o campeonato e todo mundo só falava nisso. Aí, marco o gol mais importante, o supergol, o gol que vai ser lembrado toda vez que se contar a história desse título. E me acontece uma coisa daquelas. Mas tudo bem: bandido é isso mesmo.”

O jornalista e escritor Eduardo Bueno recordou aquele dia em que Catimba fez a alegria do tricolor gaúcho e dele, do próprio Bueno, que, por cobrir o jogo como repórter, comemorou o gol de André de forma contida, “só por dentro, claro”: “Ao mergulhar no turbilhão da festa tricolor, dou de cara com quem? Com o grande, o notável, o espetacular Gilberto Gil, todo de azul. Ele está abraçado ao seu conterrâneo André, o bom baiano, o maluco beleza, o herói do jogo, o autor do golaço do título. Chego junto e pergunto:

— Oi, Gil. O que está fazendo aqui? Veio cumprimentar André?
— Sim, sou amigo de André — diz ele. — Mas vim mesmo porque sou gremista.
— Verdade? E por que um baiano como você é gremista?
— Ora, sou gremista — rebate ele, de sem-pulo — porque o céu é azul, a paz é branca e eu sou negro!

Ídolo e amigo de Gilberto Gil, Catimba ainda jogou pelo time de coração do intérprete da MPB e ministro da Cultura do governo de Luiz Inácio Lula da Silva até 1979 para levantar o estadual do mesmo ano para o Grêmio.

No mesmo ano em que conquistou o seu último campeonato estadual para o Grêmio, defendeu o Bahia e, em 1980, jogou alguns meses pelo Argentino Juniors, clube que acabava de lançar para o mundo o genial Diego Armando Maradona. Cansado do preconceito que sofria em Buenos Aires, retornou ao Brasil no mesmo ano para jogar pelo Pinheiros, do Paraná, mas acabou expulso de campo três vezes em sete jogos e colocaram seu passe à venda, em julho.

Mas Catimba permaneceu mais um tempo no clube paranaense.

Em franco final de carreira, começou a peregrinar por clubes de norte a sul do país. Por empréstimo, o Pinheiros cedeu seu passe ao Comercial de Ribeirão Preto [1980/ 81]. De lá, foi para o Náutico — onde jogou durante poucos meses entre 1981 e 82. Em seguida, surgiu o interesse do Ypiranga, onde iniciou a carreira. Lá, permaneceu de 1983 a meados de 84. A estação final seria o Fast Club, do Amazonas, com o qual rompeu contrato em dezembro de 1984, mas em junho de 1985, o modesto time da Associação Bancários de Bahia, o ABB, acabara de subir para a primeira divisão do Campeonato Baiano. Para montar um time competitivo, chamaram André Catimba. O time esteve mal das pernas e Catimba decidiu deixar os gramados. Mas não definitivamente o futebol. Antes, porém, precisou ganhar a vida nas ruas da capital baiana como motorista de táxi (teve três carros) até iniciar a carreira de treinador das categorias de base do Ypiranga, de Salvador.

A carreira de técnico engrenou de vez ao assumir o comando do Vitória durante o Campeonato Baiano de 1989, no dia 11 de maio, em um empate de 2 a 2 com o Atlético da Bahia. Como era interino, saiu do cargo, mas retornou após alguns jogos. Das 34 partidas do Vitória no torneio, Catimba comandou a equipe em 10. Prevaleceu o “pé-quente” de André. O Vitória foi campeão. Na competição do ano seguinte foi mantido técnico nos sete primeiros jogos, quando os cartolas do Vitória o substituíram por Carlos Gainete. André Catimba, junto com Arturzinho e Agnaldo Liz, faz parte do seleto grupo de rubro-negros que conquistaram o título de campeão baiano pelo Vitória como jogador e como treinador. Mas Catimba saiu do clube muito magoado com os cartolas do Vitória. Decepção da qual nunca conseguiu se livrar, embora o ex-craque tivesse a alegria como marca indelével de seu caráter. E não é para menos a tristeza. Por duas vezes, mesmo portando uma carteira de acesso livre ao clube, foi barrado duas vezes no estádio do Vitória. Um péssimo exemplo de como os clubes brasileiros, em sua maioria, trata seus ídolos. Até 2011, o grande craque do passado, trabalhava em uma empresa de demolição de prédios, em Salvador. Longe da bola, mas perto da família, como a qual sempre contou nos momentos mais difíceis da carreira.

Mas Catimba é sinônimo de festa. Com seu estilo incomparável, escreveu sua brilhante trajetória com a bola. Sempre muito bem humorado, nos áureos tempos de jogador, costumava rir às gargalhadas sobre sua fama de “bandido” da bola. “Será pela minha cara? Não pode ser. Minhas crianças, quando me vêem, vêm correndo me beijar”.

André, que também era chamado pelos colegas de “Jacaré”, porque o sorriso ia de orelha a orelha, foi, inegavelmente, um piadista da bola. Não era, reconheçamos, nenhum parâmetro de beleza, mas, justiça seja feita ao cara: Catimba foi bom jogador e ídolo de muitos torcedores dos clubes que defendeu. Um camarada com muito bom senso, acima de tudo: “Para mim, Deus não se mete em futebol. Acredito em Deus. Mas ele só mostra o caminho. Por exemplo: ele me mostra o caminho de casa, mas se saio do treino e vou para outro lugar, é comigo, e não com ele. Futebol é um negócio sujo, meu nego. Tira Deus dessa. Começa que corre dinheiro. Depois, lá dentro, é aquela guerra. Os beques batendo, judiando, enfiando o dedo. Se o cara quer sobreviver [no futebol, evidentemente, com mais malícia e menos ingenuidade], tem de ser mau também. Eu já fui bonzinho, sabia?”.

***

A biografia completa do André Catimba consta do I volume (a Letra “A”) de “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, com lançamento em dezembro. A enciclopédia, que consiste em 18 volumes, está sob a edição do querido Cesar Oliveira.

MEMÓRIAS DE UM PONTA

Quem acompanha o Museu da Pelada tem o prazer de ser brindado com belas crônicas de Zé Roberto Padilha, ex-ponta da Máquina Tricolor, Flamengo, Bonsucesso, Itabuna, entre outros. Politizado desde os tempos de jogador, o craque se formou em Jornalismo e decidiu reunir todas as suas crônicas no livro “Memórias de um ponta à esquerda”, lançado na última semana, na histórica Livraria Folha Seca, no Centro do Rio de Janeiro.


Assim como a equipe do Museu da Pelada, Zé Roberto chegou com muita antecedência. O ex-ponta trouxe de Três Rios, na mala do carro, as camisas dos clubes por onde passou e, com a ajuda de Rodrigo Ferrari, da Folha Seca, fez questão de estendê-las em um varal improvisado na Rua do Ouvidor, dando ainda mais charme para a livraria.

Com o prefácio escrito por nosso capitão Sergio Pugliese, o livro reúne 42 crônicas muito bem escritas e variadas, sobre os tempos de jogador e assuntos atuais.

– O único problema é que o torcedor não consegue separar as coisas. A capa sou eu com a camisa do Flamengo e, por isso, tenho certeza que muitos tricolores ficaram na bronca e vão boicotar o livro – lamentou o ex-jogador.


Iata Anderson, Zé Mário e Zé Roberto

Craques como Júnior e Zé Mário fizeram questão de marcar presença no lançamento e promoveram uma resenha divertidíssima na livraria. Em um determinado momento, Zé Roberto relembrou um samba que criaram em “homenagem” a Merica, o “misterioso monstro que veio de Alagoinhas, transformando o local em uma verdadeira roda de samba. As gargalhadas foram inevitáveis.

– Você tá mais maluco do que já era, né? – cornetou Júnior.

No fim da resenha, um dos maiores “carrapatos” da história do futebol brasileiro, Zé Mário não escondeu o orgulho por fazer parte daquela geração.

– Jogamos na melhor época de todo futebol mundial. Joguei contra e a favor dos melhores do mundo. Não vai existir outra geração como aquela.

 

ALMIR PERNAMBUQUINHO

por André Felipe de Lima


Poucos jogadores da história do futebol brasileiro renderam tantas crônicas quanto Almir Moraes de Albuquerque, ou simplesmente “Almir Pernambuquinho”. Heleno de Freitas [ex-Botafogo e Vasco] talvez rivalize com ele em polêmicas dentro e fora dos gramados, mas Almir teve um percurso incomum a ponto de promover um cisma na crônica esportiva. De um lado, como fã de sua alma digna de uma tragédia grega, Nelson Rodrigues o definia como “o divino delinquente”. Armando Nogueira, outro expoente do jornalismo, não media o verbo em relação ao ex-centroavante do Sport, Vasco e Santos. “Almir”, escreveu Nogueira, “era um caso de polícia”. O cronista chegou ao extremo de exigir em sua coluna de imprensa a prisão ou internação do atleta.

Almir era assim… Deus e o diabo encarnados em um só homem.

Restava aos adversários que se preparassem antes de enfrentá-lo, pois lá estava um guerreiro enfurecido a espera deles. Pobres daqueles que o marcavam com pontapés. O troco não saía barato. E os cartolas não ficaram fora da lista de desafetos do Pernambuquinho. Calotes e safadezas eram respondidos com furiosos desabafos.

Impulsivo. Agressivo. Era “pau puro”, como o próprio dizia. No Flamengo, a torcida o apelidou de “Almir-Raça”. Não era para menos. Um Almir tal e qual a um anjo pornográfico, como escreveu Nelson Rodrigues, seu “advogado” mais eloquente, em edição da Manchete Esportiva de 7 de março de 1959, na qual definia Almir como o “Pelé branco”: “Em tudo que se diz sobre Almir, já é difícil discriminar o que é verdade e o que é folclore. Por exemplo: — contam que Almir xinga os adversários. Então pergunto: — será o primeiro? Não me parece. O futebol jamais foi mudo, jamais exigiu do craque um silêncio de Sarcófago. Direi mais, se me permitem: — o futebol é o mais falado e o mais pornográfico dos esportes. Durante os noventa minutos, tanto os craques em campo como o torcedor nas arquibancadas rugem os palavrões mais resplandecentes do idioma. Dir-se-ia que tanto o público como o craque têm, no berro pornográfico, um estímulo vital, precioso e irresistível. E se o meu personagem xinga os adversários, não faz outra coisa senão insistir num hábito que data dos nautas camonianos.”

Ódio, amor, paixão, respeito, revolta, indiferença, companheirismo e por aí vai. Tudo da alma humana cabia quando fosse Almir a pauta. Uns o desejavam, outros o repeliam.

Prestes a chegar ao Flamengo, muitos não o queriam, mas o diretor Flávio Soares de Moura, confiando piamente na “alma” de Almir, arriscou sua própria reputação: “Eu comprei você e seu barulho, Almir. Por tudo o que você fizer vão botar a culpa em mim. Mas eu topo a parada”. Flávio, que se tornou grande amigo de Almir, nunca se arrependeu, nem mesmo após a pancadaria na final do Campeonato Carioca de 1966, contra o Bangu.

Mas houve outro jogo contra o Alvirrubro suburbano, realizado no dia 30 de outubro de 1966, em que a virilidade de Almir escoou de forma positiva. Para o gol adversário, com tudo o que tinha de direito. Inclusive lama, suor e lágrimas.

O público presente nem era tão grande. Mas os 34 mil que estiveram no Maracanã presenciaram aquele que talvez tenha sido o gol mais incrível da história do estádio. E foi de Almir, como o próprio descreveu: “Esse gol foi o mais espetacular que fiz em toda a minha carreira e mereceu até a capa dupla de um jornal francês, o ‘France Football’; foi um gol que fiz arrastando a cara na lama, me arranhando todo, num dia chuvoso no Maracanã […] A coisa começou com a cobrança de uma falta pelo nosso lateral direito, Murilo, na altura da intermediária do Bangu, quando o jogo estava 1 a 1 e devia faltar uns dez minutos para acabar. Não me lembro se quem cabeceou primeiro foi Silva ou se fui eu mesmo, mas o fato é que, após o lançamento, um de nós dois cabeceou e o goleiro Ubirajara rebateu. Acho que fui eu mesmo, porque sei que estava caído quando via bola a mais ou menos meio metro de distância e o goleiro Ubirajara, também caído, a se esticar todo para tentar agarrá-la. […] ‘ Tenho que alcançar essa bola de qualquer maneira, nem que me estraçalhe todo aqui’, pensei. […] À proporção que eu sentia a mão de Ubirajara mais perto, crescia a minha determinação. O chão se tornava mais áspero, rompia a minha carne; mas eu não podia desistir, tinha que alcançar a bola, tinha de ser mais eu. […] Com os olhos empapados de lama, a pele toda cortada pelo atrito com a terra, nem pude ver a bola ir para as redes […] a torcida do Flamengo rugiu no estádio com o grito de gol, meus companheiros de time caíram sobre mim a me abraçar e me beijar. […] Até hoje Ubirajara jura que eu só levei vantagem sobre ele porque teria tocado a bola com a mão e não com a cabeça. É desculpa de mau perdedor […] Se tivesse feito com a mão e o juiz tivesse validado o gol, eu confessaria francamente, até mesmo para gozar o Bira. Mas não houve nada disso do que ele alega: fiz aquele gol com a cabeça e o coração.”

Chovia muito naquele dia e o cronômetro já marcava 40 minutos do segundo tempo, quando Almir atirou-se de peixinho na pequena área e cabeceou com força. Caído no chão, arrastava o rosto no gramado enlameado, empurrando a bola para dentro do gol. “Almir não queria saber se o zagueiro Mario Tito, que estava chegando, iria chutar sua cabeça, com bola e tudo — só o gol lhe interessava. A foto desse gol foi parar na capa do jornal France Football”, escreveu Ruy Castro.

Almir não temperou os gramados apenas com brigas, foi, sobretudo, um vencedor. Por onde passou, conquistou títulos. Com o Vasco, um Carioca e o Rio-São Paulo, ambos em 58, pelo Santos, o bi da Taça Brasil [1963 e 64], o Paulista de 64, a Taça Libertadores da América e o Mundial Interclubes, ambos em 63.

Almir nunca se incomodou com o que publicavam ou falavam dele fora dos campos de futebol. Tinha uma contumaz dificuldade em ser comandado. Peitou técnicos “gente-boa”, como Armando Renganeschi, de quem gostava muito, e “casca-grossa”, como Yustrich. Travou diálogos nosense, alguns deles publicados pela revista Placar e em sua auto-biografia:

“— Você está bebendo, Almir? Não acha que isso pode te prejudicar no jogo de amanhã?

“Eu percebi que ele tinha chegado como amigo, fui franco:

— Olha, seu Renga, uma cervejinha me faz muito bem. Eu sinto que vou render mais quando posso tomar minha cervejinha à vontade, sem precisar esconder nada.”

Restou a Renganeschi achar graça da conversa e dar um tapinha nas costas de Almir. Já com Yustrich, um “alemão” que também gostava de bate-boca, Almir não deixou barato e sua personalidade forte intimidou o treinador.

“Nesta época eu já morava em Copacabana [na rua Leopoldo Miguez], com Belini [o dono do apartamento], Delém, Écio, Orlando. Durante a preleção, Yustrich se dirigiu a cada um dos jogadores, ora dando conselhos, ora ditando normas de comportamento. Quando chegou a minha vez, ele engrossou:

— Olha, Almir, você escolhe ou o Vasco ou Copacabana.

“Eu já estava invocado com aquela história de ele nos ter proibido de comer e beber, respondi na bucha, sem vacilar:


— Olha, seu Yustrich, já escolhi desde agora. O Vasco pra mim não existe, eu escolhi Copacabana”.

Ele era assim, duro na queda. Dizem, na malandragem carioca [a “das antigas”], que gente assim “canta pra subir” mais cedo. A velha máxima popular foi infalível para Almir, ou há melhor definição que o título da reportagem de O Estado de S.Paulo “Um tiro no bar, e Almir não briga mais”?

Morreu assassinado poucos anos após deixar os gramados, em uma briga no bar Rio-Jerez, na Galeria Alaska, em Copacabana, na madrugada do dia 6 de fevereiro de 1973, após um bate-boca [o definitivo] com o português Artur Garcia Soares. O tiro atingiu a cabeça de Pernambuquinho.

Hoje, igualmente ao contemporâneo Garrincha, o irascível craque faria anos. Faria 80 anos.

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A MAIS COMPLETA REPORTAGEM SOBRE ALMIR/ APRESENTAÇÃO HELVÍDIO MATTOS
PARTE 1/ https://www.youtube.com/watch?v=1nQL_71mC00
PARTE 2/ https://www.youtube.com/watch?v=sb6ijpJ4g9g
PARTE 3/ https://www.youtube.com/watch?v=qaQNC7eXaVo
PARTE 4/ https://www.youtube.com/watch?v=TaDlTOYh0-o
PARTE 5/ https://www.youtube.com/watch?v=cBz47DRKqmo

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A biografia completa do Almir Pernambuquinho consta do I volume (a Letra “A”) de “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, com lançamento em dezembro. A enciclopédia, que consiste em 18 volumes, está sob a edição do querido Cesar Oliveira.

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