JOIA DA COLINA
Embora esteja sempre relembrando os craques do passado, o Museu da Pelada não pode deixar de lado as promessas que têm um futuro brilhante pela frente. Durante a pelada de fim de ano do volante Michel, do Grêmio, na favela da Kelson’s, conhecemos o menino Léo Araújo, joia da base do Vasco.
Com apenas dez anos de idade, o lateral-direito do sub-10 da Colina já acumula diversos títulos com a camisa cruzmaltina, sobretudo contra o Flamengo.
– Já joguei três finais contra o Flamengo e ganhamos todas! Eles secam a gente porque sabem que na final eles perdem sempre!
Vale destacar que Léo faz parte das equipes de futebol de salão e de campo do Vasco da Gama e, por isso, precisa de muita organização para conciliar as atividades com os estudos na Escola Municipal Cantor e Compositor Gonzaguinha, onde cursa o quarto ano do Ensino Fundamental.
Antes de chegar ao Vasco, no entanto, o garoto jogava futebol de salão pelo Clube Vital, em Quintino. Durante um duelo contra o cruzmaltino, no ano passado, comeu a bola e foi convidado para treinar em São Januário.
– Me sinto muito feliz em estar vestindo a camisa do Vasco da Gama e conquistando vários títulos. Enquanto houver um coração infantil o Vasco será imortal! – disse o jovem cheio de personalidade.
Ao ser perguntado sobre qual era o seu maior sonho e quem era a grande inspiração no futebol, o lateral não titubeou:
– Me inspiro no Daniel Alves e no Michel, que é aqui da comunidade. Sonho em jogar no Real Madrid e conseguir ajudar a minha família.
A torcida do Museu da Pelada é que o sonho desse jovem se torne realidade e que ele continue com alegria nas pernas para resgatar a poesia perdida do futebol brasileiro!
Festa do Areia Leme
festa do AREIA LEmE
texto: André Mendonça | fotos: Daniel Planel | vídeo e edição: Daniel Planel
Poucas coisas são tão certas quanto a presença do Museu da Pelada na tradicionalíssima festa de fim de ano do Areia Leme, um dos maiores times de futebol de praia da história! Contamos os dias para chegar dezembro e receber o convite do zagueirão Dime Cordeiro.
Esse ano não foi diferente e, mesmo em meio a tantos compromissos de fim de ano, sempre arranjamos um jeitinho de participar dessa resenha.
– A gente já faz essa festa há 20 anos. Antes a pelada rolava no campo de 11, mas estamos ficando mais velhos e a tendência é o campo ir diminuindo! – revelou Dime.
Com mais de 50 anos de existência, é natural que muitos craques tenham vestido a mais tradicional camisa roxa e preta do Leme. Por isso, a pelada de fim de ano é uma das mais concorridas e reúne diversas personalidades:
= Teve uma vez que o Ronaldo Fenômeno veio prestigiar a gente e teve que ficar no banco. Eram tantos craques juntos, que ele só entrou no segundo tempo! – lembrou o zagueiro.
Quem também não perde uma edição da festa é o parceiro Sergio Sapo. Mesmo machucado e sem poder entrar em campo, o craque fez questão de comparecer e incendiar as resenhas.
– O Dime era o terror das “garotinhas” aqui no Leme. Ele jogava muito e era o terror delas!
À medida que a resenha rolava, os boleiros iam chegando e o carinho de todos pelo Areia Leme impressionava. Júnior, Benjamim, Gilmar Popoca e até mesmo o técnico Jair Ventura… para qualquer lado que olhávamos, víamos um craque. Sem contar o trio Dime, Neymar e Neyvaldo, que mandam e desmandam na região.
– É sempre um luxo estar nas areias do Leme! – comemorou Sylvinho Blau-Blau.
Que venha 2018 e comece a contagem regressiva para mais uma festa de fim de ano do Areia!
MALANDROS E O ROBÔ
por Rubens Lemos
A cabeleira de Dé, o Aranha, incorporação do malandro adequado aos sambas de Bezerra e Moreira da Silva, atiçava galeras, desafiava estruturas concretas do Maracanã. O povo amava o estilo black power de uma tendência febril entre os craques de talento e cobertura vasta acima do pescoço. Uma sílaba e futebol de pelada pura, Dé, sempre foi fácil de pronunciar, difícil de prever e certeza de golear.
Dé é uma imagem multiplicada em tantos craques irreverentes, machos ao encarar sem tremer, multidões de 150 mil pessoas no Maracanã, sutis no toque em que a bola não recebia agressões ou patadas. Carícias e trivelas no corte da ginga e do balanço afro de um Geraldo Assobiador, de um PC Cajú, de um Pintinho, de um Adílio em gestação. Suingue de escape musical e background de fintas desconcertantes.
Nas veias do boleiro no tempo do meu tempo que é o tempo do Museu da Pelada pulsava humanismo. Tomava cerveja em botecos, frequentava puteiros, inventava modas berrantes, colecionava chacretes, pagava em fascínios no quadrilátero em relva. Caneta, elástico, um-dois, toca e passa, vocabulário ritmado por chuteiras e estéticas berrantes e psicodélicas. Jogador espelhava o sonho do geraldino de Trem da Central.
O oposto ortodoxo de um tempo em VHS, é o androide Cristiano Ronaldo. É um momunento à safra jovem de pernas de pau acomodada em sofás convidativos ao sexo ao sono, eles, os babacas, jogando videogame ou o que seja em enlatado futebolês, babando o greco-português de mármore, um atacante sem tempero e um metrossexual cultuado por marmanjos de barba, pança e netos.
Cristiano Ronaldo é o artificialismo inimigo de todo saudosista. Nunca será Romário feiticeiro, Bebeto engomadinho e habilidoso, Careca destruidor técnico, Reinaldo, a graça humilhante e frágil. CR7 pode ser tudo em Euros, menos em paixão. Desde o dia em que deu cotovelada Odvaniana em uma fã que o filmava no celular, carimbou o símbolo do mercenário vilão de filme de 007. O Gajo é lindo? Elas decidem.
Belo mesmo seria vê-lo de bobo numa roda com Romário, PC Caju, Djalminha e Rivelino. E Dé, de black power, com areia na mão, para enfiar nos olhos de um ídolo de barro. Craque e criança formam a simbiose do amor à bola. CR7 idolatra o bolso e tomaria um fado elétrico dos malandros do Brasil.
O ENTORTADOR
por Eliezer Cunha
Um time: Flamengo. Um elenco: Zico e mais 10. Um enigma: Júlio César ou quem preferir; Uri Geller apelido dado a ele que lembrava o paranormal israelense que fazia muito sucesso na época como entortador de talheres. Zico e mais dez já não eram mais os ovacionados, queríamos ele, que a bola simplesmente chegasse a ele. O entortador de zagueiros.
Jogo fácil ele brincava com os adversários, jogo difícil era ele a esperança de furar e desmontar qualquer bloqueio. “Passa a bola para o o Uri Geller”, gritava a torcida, levantávamos a todo passe para ele dado, a esperança de gol aumentava consideravelmente.
Por que tanta esperança em um menino de pernas tortas franzino que acabava de chegar do time do Remo, esquecido por todos, diretoria, jogadores, torcida e imprensa? Aliás para quem tem Zico e mais 10 não precisávamos mais de nada. Então eis que surge ele, o Uri Geller, e rouba as cenas das tardes de domingo.
Quanto aos zagueiros e principalmente os laterais, restavam a apreensão dos vestiários “Ele joga?”, perguntavam os zagueiros e os treinadores. “Quantos na sobra?”, perguntam os cabeças de área. “Um, dois, três?”, respondiam os treinadores. Sacrificavam quase o meio de campo todo para barrarem o Uri Geller.
Escutávamos gritos de desespero dos laterais: “Volta para marcar ponta desgraçado…”. Víamos a reedição de nosso moleque travesso Garrincha, nossa esperança nas cores vermelho e preto. Deixarmos para trás, enfim, nossos traumas em preto e branco, parodiando Chico Buarque. Não existe mais esquemas, táticas, treinos, retrancas …. passa a bola para o Uri que ele resolve.
A alegria enfim voltou as campos brasileiros, a várzea triunfará novamente e nos redimirá do óbvio e do taticamente correto, sob o comando de um menino franzino e esquecido num canto do país.
QUEREMOS ALMA!
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Sinceramente não consigo entender toda essa ira por parte da torcida do Flamengo. Esse time deveria estar sendo exaltado por ter chegado aonde chegou. Foi longe demais!!!!
Há tempos venho chamando a atenção para a péssima qualidade do futebol carioca e o Flamengo está incluído nisso. O Flamengo terminou o Brasileiro com o mesmo número de pontos do Vasco, não se esqueçam disso.
Se ganhasse a Sul-Americana, esse torneio fraco que reúne os times que ficaram no meio da tabela em seus campeonatos regionais, estaria iludindo a torcida e daria chance à diretoria de gabar-se, de vir com esse discursinho de dever cumprido. A mim nunca enganaram! Time fraco, gerente de futebol fraco, técnico fraco. E pelo amor de Deus, o Independiente foi melhor do que o Flamengo e ponto!
Lembrem-se que o rubro-negro classificou-se para a próxima Libertadores com um gol de pênalti, no último minuto, contra um Vitória que lutava contra o rebaixamento. Não se iludam, esse time não os representa. Assim como os vascaínos não devem se enganar achando que esse grupo, sem contratações, irá muito longe. E não me venham com essa conversa mole de cansaço porque time bom ganha todos os torneios, inclusive os caça níqueis.
O Cruzeiro não ganhou a Tríplice Coroa com aquele timaço? O Real Madrid ganhou todos os torneios nesse ano, inclusive esse em cima de um Grêmio sem alma. O problema é que o melhor jogador do São Paulo é o Cuevas, o melhor chutador do Brasil é o Otero, o Flamengo se encheu de argentinos, peruanos e colombianos e nosso futebol vive uma esquizofrenia.
Sou a favor do intercâmbio, sim, mas de profissionais que venham nos acrescentar algo. O Vasco já anunciou um novo argentino e o Rueda se diz aluno do Parreira, esquece….. reparem que não sou eu quem bate na mesma tecla, mas o nosso futebol é que não sai da lugar.
Ganhamos sem convencer e até a Olimpíada foi nos pênaltis. Os argentinos também vivem uma péssima fase e só vejo Paulo Dybala como um destaque dessa nova geração, mas eles não perderam a alma, são mais nacionalistas do que nós, se entregam, jogam com brilho nos olhos, e a torcida reconhece. Nosso problema é que o futebol foi para o fundo do poço e arrastou a alma com ele.